Trump anunciou a suspensão de
pagamentos à Organização Mundial da Saúde devido à resposta à pandemia de
coronavírus. Quais são as motivações do presidente americano e que impacto sua
decisão pode ter sobre a OMS?
O presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, anunciou a suspensão, pelo menos temporariamente, das
contribuições de seu país à Organização Mundial da Saúde (OMS), acusando a
entidade de "encobrir" a pandemia de coronavírus e de responder de
forma inadequada à propagação da doença.
"Ordeno ao meu governo que
suspenda as contribuições para a OMS enquanto revejo sua conduta, para
determinar seu papel e sua grave má gestão e encobrimento da propagação do
coronavírus", anunciou Trump em entrevista coletiva na Casa Branca nesta
terça-feira (14/04).
Segundo o líder americano, o
mundo depende da OMS para garantir que informações precisas sobre ameaças à
saúde sejam compartilhadas em tempo hábil, mas acabou recebendo "muitas
informações falsas sobre a transmissão e a mortalidade" da doença covid-19.
A entidade "fracassou em seu dever básico e deve ser
responsabilizada", acrescentou.
Por que Donald Trump quer
suspender a contribuição dos Estados Unidos à OMS?
Segundo vários veículos de
imprensa americanos, o presidente quer desviar a atenção do próprio
fracasso na gestão da crise do coronavírus Sars-Cov-2 – de fevereiro a meados
de março, Trump negou os riscos da pandemia. Com isso, o mandatário estaria
buscando um novo inimigo na política externa com a China. Especula-se que sua
aversão ao multilateralismo e a organizações internacionais também desempenhem
um papel.
Trump já havaia ameaçado
anteriormente suspender o financiamento americano à Organização das Nações
Unidas, à qual a OMS é subordinada, e a deixar a Otan. Além disso, o Wall
Street Journal suspeita de que haja uma tentativa permanente do governo
Trump de aumentar o número de funcionários americanos nas organizações
internacionais que os EUA financiariam.
A OMS terá que encerrar suas
atividades por causa do anúncio de Trump?
É improvável que o anúncio da
suspensão do financiamento da OMS pelos Estados Unidos tenha efeito imediato no
trabalho da instituição. A contribuição dos países-membros é paga sempre
no dia 1º de janeiro, e a dos EUA já teria, portanto, sido quitada.
Não está claro o que acontecerá
com as contribuições voluntárias para 2020. Porém, deveria ser possível tapar
um buraco temporário com uma ação emergencial financiada por doadores privados
e estatais devido à crise do coronavírus.
Como a OMS é financiada?
A OMS é financiada por
contribuições obrigatórias dos países-membros, calculados com base no PIB. Além
disso, recebe dinheiro de contribuições voluntárias e doações de empresas ou de
organizações não governamentais. Apenas 20% do orçamento são financiados pelas
contribuições vinculativas – e, na prática, esses pagamentos estão congelados
por não serem corrigidos pela inflação há anos.
Para 2020, o orçamento total da
OMS é de 4,4 bilhões de dólares – o equivalente ao orçamento da clínica
universitária da cidade de Genebra, sede da OMS. Há pelo menos 20
anos existem críticas de que o órgão sofre de falta permanente de
financiamento.
As contribuições voluntárias
respondem por 80% do orçamento da OMS. Um dos maiores doadores privados, com
8%, é a Fundação Bill e Melinda Gates. Entre os países-membros, quem mais
contribui é o Reino Unido, seguido da União Europeia (6%) e da Alemanha (5%).
Esses pagamentos somam 3,4 bilhões do orçamento da OMS.
Os EUA sempre são citados como o
maior contribuinte. De fato, o país responde por 10% do orçamento do órgão,
pagando um montante de 235 bilhões de dólares de taxa obrigatória e 200 milhões
em auxílio voluntário.
Por outro lado, essas somas são
relativamente baixas para uma organização com tarefas tão abrangentes. A China,
por sua vez, paga 86 milhões de dólares à OMS em contribuições
obrigatórias, e 10 milhões voluntariamente. Talvez, essa discrepância tenha
inflamado a raiva de Trump.
Quais são, afinal, as tarefas da
OMS?
A OMS é responsável por uma ampla
lista de problemas e medidas relacionadas à saúde mundial, como:
- observação de patógenos resistentes a antibióticos;
- saúde da mulher, a exemplo da mortalidade materna em países em desenvolvimento;
- campanhas de vacinação (a erradicação da poliomielite é uma de suas histórias de sucesso);
- combate a doenças crônicas;
- reação a crises causadas pela eclosão de doenças;
- combate a pandemias;
- regras gerais para uma vida saudável;
- recomendações para sistemas de saúde.
- Há anos, critica-se que a OMS cuida de problemas individuais demais e que, em vez disso, deveria se concentrar numa série de tarefas mais centrais, além da divulgação de diretrizes e princípios. Por outro lado, parece impossível haver consenso entre os 194 países-membros sobre como e onde essa ênfase deveria ser aplicada.
Críticas à OMS
As críticas à OMS são tão antigas
quanto a própria organização, fundada em 1948, e dizem respeito a todos os
aspectos do seu trabalho, des seus diretores-gerais, passando pelo leque
confuso de suas tarefas, até a falta de transparência nos seus orçamentos e a
acusação de influência política.
Um exemplo das críticas atuais
vem de François Godement, especialista asiático do think tank francês
Montaigne. Ele acusa o director-geral da OMS, Tedros Ghebrayesus, de ter
aceitado as declarações e os dados chineses sobre o coronavírus de forma
demasiado acrítica no início e, por conseguinte, de ter reagido demasiado
tarde. Há vozes semelhantes em várias instituições de pesquisa.
A OMS depende da cooperação
voluntária de seus países-membros, que incluem a China. Somente em 12 de
fevereiro seus peritos foram autorizados a deslocar-se a Wuhan, epicentro do
surto de coronavírus no país asiático, para estudar a propagação da doença no
local. Até então, a organização estava de fato dependente de informações de
Pequim.
Barbara Wesel (rk) | Deutsche
Welle
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