A possível origem do surto
epidémico provocado pelo novo tipo de coronavírus suscitou um debate mundial
sobre o consumo e venda de animais selvagens.
Albano Martins, presidente da
ANIMA, vê na proibição temporária do consumo e venda de animais selvagens na
China uma oportunidade para Pequim dar um exemplo ao mundo, mas Fátima Galvão,
chefe da Associação para os Cães de Rua e o Bem-Estar Animal em Macau (MASDAW),
mostrou-se mais céptica. Já José Tavares assinalou que o consumo de animais
selvagens em Macau decresceu nos últimos anos e que o surto epidémico poderá
acelerar esta tendência.
A proibição temporária da venda e
consumo de animais selvagens na China poderá abrir caminho a uma interdição
definitiva deste hábito após a pandemia mundial provocada pelo Covid-19,
afirmou Albano Martins, presidente da ANIMA, acrescentando que a comunidade
internacional “está à espera que a China tome essa medida”. Já Fátima Galvão,
presidente da Associação para os Cães de Rua e o Bem-Estar Animal em Macau,
mostrou-se mais céptica perante “uma mudança de hábitos culturais que levam
séculos a mudar”. José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos
Municipais (IAM), assinalou que o consumo de animais selvagens em Macau tem
decrescido muito nos últimos anos e que o Covid-19 poderá “acelerar” esta
tendência.
Apesar de haver dúvidas na
comunidade científica quanto à origem da pandemia provocada pelo Covid-19, o
Governo chinês proibiu, temporariamente, a venda e o consumo de animais
selvagens na China. “A questão está ao nível do Governo Central que, para já,
parou este tipo de actividades, mas a seguir provavelmente haverá um término
definitivo”, considera Albano Martins, indicando que a comunidade internacional
está muito atenta às medidas implementadas por Pequim. “Toda a gente a nível
mundial está à espera que a China tome essa medida de proibir definitivamente a
venda e o consumo de animais selvagens, e penso que, politicamente, seria
inteligente por parte da China tomar essa medida”, afirmou Albano Martins,
frisando que, “aos olhos do mundo”, o surto epidémico teve início na província
de Hubei.
“Os chineses vão ter de
demonstrar que, de facto, estão a tentar evitar que situações deste tipo possam
aparecer. É dever moral do Estado chinês impedir que situações deste tipo
voltem a acontecer, e se acontecerem uma vez, podem acontecer duas, três ou
quatro vezes. Portanto, têm que eliminar a fonte que provocou esse tipo de
problema”, reforçou o presidente da ANIMA, considerando que a decisão da China
poderá servir de exemplo a outros países asiáticos como a Indonésia e o
Vietname, que também têm hábitos de consumo de animais selvagens.
Na opinião de Fátima Galvão,
presidente da MASDAW, o surto epidémico suscitou algum debate sobre o consumo
de animais selvagens na China, mas defendeu que o tema “vai passar ao lado da
maioria da população” porque não é “uma prioridade para o Governo chinês travar
o consumo de animais selvagens”. “Estamos a falar de uma mudança de hábitos
culturais que levam séculos a mudar, não vai ser o Covid-19 que vai mudar a
mentalidade de ninguém a nível mundial”, frisou Fátima Galvão, acrescentando
que os maiores mercados para os caçadores ilegais de animais em África “são a
China e o Vietname, autênticos negócios milionários”.
Já José Tavares, garantiu que o
consumo de animais selvagens em Macau decresceu nos últimos 20 anos, e assumiu
que o surto epidémico até poderá acelerar esta tendência. O presidente do IAM
reforçou que há uma lei em vigor que proíbe o consumo de animais como o ‘Paguma
Larvata’ e que há um controlo apertado na alfândega para travar o contrabando
de animais selvagens. “O consumo de animais selvagens em Macau tem decrescido
porque as pessoas têm consciência de que não se deve consumir esse tipo de
animais, para além de haver uma lei para a protecção de certos animais. Ao logo
dos últimos anos, as pessoas têm muito cuidado com aquilo que consomem, já não
é como antigamente, há 20 ou 30 anos, em que comiam cão e gatos”, começou por
dizer José Tavares.
“Até a sopa de barbatana de
tubarão já não é servida nos hotéis. Isto é uma tendência. Creio que, com o
Covid-19, isto veio apressar mais esse decrescimento. Eu julgo, na minha
perspectiva, que isto é uma tendência para decrescer”, assinalou ainda o
presidente do IAM.
Mercados sem pessoal suficiente
para controlar os acessos
O presidente do IAM assumiu que a
falta de pessoal para controlar todos os acessos aos mercados de Macau poderá
ter levado à concentração de muitas pessoas em determinadas zonas de comércio e
frisou que as autoridades também estão dependentes do civismo das pessoas para
o cumprimento das regras. “Tentamos fazer o nosso melhor possível, porque
também contamos com os meios que temos. E cada mercado tem a sua tipologia
diferente. O Mercado Vermelho tem oito entradas, ou seis entradas, o Mercado de
Iao Hon tem mais do que isso. Cada mercado tem a sua tipologia. E para
controlar o acesso, nada é fácil. E temos tentado restringir acessos. Porque
não temos pessoal suficiente para controlar todos os acessos”, começou por
dizer José Tavares, quando questionado sobre uma situação presenciada pelo
PONTO FINAL no Mercado Municipal de São Lourenço, no fim-de-semana passado, em
que os seguranças não conseguiam efectuar correctamente os controlos de
temperatura devido à enorme afluência de pessoas ao local. “Há certas
afluências em certos pórticos onde há mais pessoas porque fechámos algumas e
daí que as pessoas concentram-se noutras. Peço alguma paciência e a
sensibilidade às pessoas no sentido de respeitar as normas. Têm de ter a
declaração antes da entrada para mostrar rapidamente ao controlo e respeitar as
regras da medição da temperatura. Isto tem de ser o próprio civismo das pessoas
para podermos fazer bem as nossas tarefas. Só a nossa parte é difícil sem
contar com a colaboração das pessoas”, afirmou Tavares.
Eduardo Santiago | Ponto Final (China - Macau) | Imagem: Eduardo Martins
Sem comentários:
Enviar um comentário