terça-feira, 5 de maio de 2020

ANGOLA E A FASE 3 DO ESTADO DE EMERGÊNCIA

Martinho Júnior, Luanda 

A experiência angolana face aos riscos da pandemia Covid-19 numa época de crise capitalista que atinge o país em toda a linha, devolve Angola a uma situação similar à de 2002 quando, sem interferências externas, finalmente os angolanos conseguiram suspender as hostilidades e tentar partir para a reconstrução nacional, a reconciliação e a reinserção social em função da frágil plataforma de paz então alcançada.

Ao antes do mais contar humildemente com as suas próprias forças, animou-se o Estado de Emergência que está a proporcionar a oportunidade de colocar o homem no centro de todas as atenções, numa fórmula proactiva de segurança vital capaz de exercer com pedagogia as respostas à integral ameaça e fazendo com que desse modo se possa em muito “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”!

Colocar o homem no centro de todas as atenções, privilegiando no caso de Angola o sujeito angolano, tem sensibilidade à escala global apenas para alguns, para Cuba, para a China, para a Venezuela Bolivariana, pelo que o recurso à ajuda solidária dessas experiências, é logo à partida um sinal revitalizador de emergências!

Apesar disso, há que levar em conta os fundamentos de sérios argumentos que, pelo contrário, alertam para o reforço do neoliberalismo, tal como Michel Chossudovsky… (https://www.globalresearch.ca/towards-a-new-world-order-the-global-debt-crisis-and-the-privatization-of-the-state/5709755).

… Contudo, para alguma coisa de construtivo serve o facto de África ser a ultraperiferia económica global!...

As espectativas são por demais evidentes, pois admite-se que, em função da presente crise, o que se segue pode nada ter a ver com o que ficou temporalmente para trás… (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/martinho-junior-luanda-as-profundas.html).


01- Neste momento é um executivo que preenche os espaços de antena da Televisão Pública de Angola em fato de trabalho “todo-o-terreno”, de mangas arregaçadas, com um colete identificativo, desenvolto na comunicação e procurando assumir as decisões com sentido de responsabilidade e de forma pedagógica face aos desafios que tanto têm de desconhecido, que vêm de fora e se juntam ao acumular dos desafios de dentro!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/estado-de-emergencia-em-angola-no-15-dia.html).

Os fatos de cerimónia protocolar o executivo está só a reservar para os actos mais solenes, ao contrário dos tempos em que todos os dias desfilavam os “pimpolhos” de ocasião, cada qual com seu mais refinado fatinho que propositadamente defendia o estatuto do seu usuário, distanciando-o cada vez mais das comunidades, da sociedade e do povo angolano, acompanhando aliás a injecção progressiva das desigualdades forjadas ao longo de mais de três décadas como jamais deveriam ter sido fabricadas e sentidas. (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/angola-uma-mao-lava-outra.html).

Confirmando o que acima é realçado, está o comportamento da informação pública do próprio Estado: o canal 2 de TPA, que antes só servia para farra e alienação, alienação e farra inaugurou, entre outros programas, a telescola primária…(https://www.ongoma.news/artigo/canal-2-retorna-a-gestao-da-tpa-com-nova-grelha-de-programacao).

Quantos programas de formação escolar, profissional e técnica se poderão a partir de agora impulsionar, de forma a reforçar a aprendizagem e a mobilização multi sectorial do tecido humano juvenil e por tabela, do tecido produtivo?... (https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=30097:novo-presidente-cancela-contratos-do-canal-2-da-tpa-com-a-semba-comunicacoes&catid=41026&lang=pt&Itemid=1083http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/canal_2_ganha_outra_dimensao).

O canal 2 da TPA pode e deve tornar-se numa pedagógica telescola multi sectorial… alguém se lembra, por exemplo, da necessidade de alfabetização, inclusive em línguas nacionais?... (http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/tele-aulas-prendem-atencao-de-alunos-e-encarregados).

Para quando um programa mais alargado e investigativo de memórias de antigos combatentes, sabendo de antemão quanto eles têm que pedagigicamente lembrar em função da juventude, sobre a vida, sobre a antropologia e sobre a história deste país, contada na 1ª pessoa?... (http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/ministro-da-defesa-antigos-combatentes-vao-ter-tratamento-especial).

Este é um momento dialético propício ao não retorno e por isso é justo lembrar o que não se deve alguma vez mais repetir, abrindo as janelas dos caminhos a trilhar!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/quarentena-para-o-mpla.html).

O colectivo está a corresponder satisfatoriamente ao Estado de Emergência vocacionado para a crise, apesar da sociedade estar muito longe de estar preparada para situações desta natureza e o facto das medidas contra a pandemia terem sido tão oportunas quão sábias e rapidamente aplicadas (a ponto de só a 27 de Abril ter o corrido o 1º caso de contágio local, registado em Luanda), tem sido um importante incentivo para a massiva mobilização em curso, apesar da elasticidade das medidas edos imensos esforços que há a fazer para se seguirem pistas em cadeia no imenso espaço nacional. (https://www.ciam.gov.ao/noticia.php?cod=T1RJPQ==; http://jornaldeangola.sapo.ao/sociedade/covid-19-angola-regista-primeiro-caso-por-transmissao-local).



O petróleo, sua refinação e os combustíveis, deverão continuar a merecer sempre uma melhor atenção a fim de tornar mais criterioso o movimento dos transportes, sua funcionalidade, suas disponibilidades e seu uso… (http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/preco-do-barril-cai-para-22-dolareshttps://www.ciam.gov.ao/perguntas.php).

Há que priorizar urgentemente o transporte colectivo que a nível urbano está tão raquítico: as urbanizações com Luanda e a região Benguela-Catumbela-Lobito estão com níveis de poluição contraproducentes e insustentáveis pelo que nelas as medidas de ordenamento conjugadas às que se impõem aos transportes colectivos, devem ser imediatas, no seguimento do Estado de Emergência!... (http://jornaldeangola.sapo.ao/economia/covid-19-ministerio-dos-transportes-estabelece-servicos-minimoshttp://www.novojornal.co.ao/economia/interior/covid-19-covid-19-sector-dos-transportes-estima-uma-perda-de-13-mil-milhoes-de-dolares-87591.htmlhttp://www.governo.gov.ao/VerNoticia.aspx?id=49721).

02- Agora o Estado de Emergência, em ciclos de quinze dias adaptados à tipologia da pandemia, acaba de adoptar um terceiro figurino: (http://jornaldeangola.sapo.ao/politica/novo-decreto-presidencial-sobre-o-estado-de-emergenciahttps://www.dw.com/pt-002/angola-prolonga-estado-de-emerg%C3%AAncia/a-53225883).

- Mantêm-se todas as fronteiras nacionais do país fechadas ao trânsito de pessoas (terra, mar e ar), salvo ao que é considerado indispensável, mas sempre com um padrão de medidas rigorosas adequadas;

- Nas fronteiras apertou-se a vigilância para a circulação das mercadorias, o que também dá a oportunidade para melhor se detectarem os tráficos e trânsitos ilegais ou clandestinos de fronteira;

- Em relação às 18 Províncias, só Luanda está em cerco sanitário impedindo a circulação de pessoas para lá dos seus limites e reciprocamente, ao contrário das outras, todas elas aptas à circulação de pessoas desde que preencham as recomendações nos transportes colectivos (50% de sua ocupação) e nas obrigações pessoais diariamente definidas e publicitadas a nível nacional, provincial e local;

- O trânsito de mercadorias nos limites de Luanda está sob uma malha de vigilância mais apertada que nas outras Províncias, uma malha que se distende até aos mercados de maior concentração, onde se procura melhor definir a manobra por grosso e a manobra a retalho, tal como nas grandes superfícies comerciais.

- A gestão das quarentenas forçadas tem definido bem o patamar das institucionais, do patamar das domiciliárias, obrigando sempre ao desenrolar de pesquisas em torno de cada acontecimento mais crítico, algo que tem sido feito com um notável esforço das autoridades de competência (daí a detecção paulatina dos poucos casos que têm vindo a ser detectados desde o primeiro dia do Estado de Emergência).

- Em breve será inserido o sistema de prevenção em 164 municípios do país, com o reforço dos 256 profissionais cubanos de saúde acompanhados de 1500 profissionais angolanos que com eles farão escola; espera-se que a atenção incida não só sobre o fenómeno do Covid-19, mas sobre as razões causais das doenças típicas do subdesenvolvimento, dos climas tropicais, da sanidade pública, da pobreza, da subnutrição…


Para completar este quadro, urge encontrar com os países vizinhos, as fórmulas de gestão crítica de fronteiras que aliás teve-se já ocasião de antecipada e sucintamente voltar a abordar. (http://www.governo.gov.ao/VerNoticia.aspx?id=49500;  https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/a-vulnerabilidade-cronica-e.html).

Com a RDC deveria haver uma atenção muito especial que deveria servir de modelo para as outras 8 fronteiras daquele país tão sensível enquanto coração da África Central e dos Grandes Lagos (da África Tropical rica em água e fulcral para todo o continente).

Os povos valem o que conseguirem solidariamente realizar no colectivo e a União Africana deveria, em função da pandemia e com a Organização Mundial de Saúde, estimular as acções comuns entre Estados africanos ao longo de todas as suas fronteiras, para além das tímidas medidas que está a tomar!... (https://au.int/en/pressreleases/20200429/african-union-distribute-more-covid19-supplies-its-member-states-after).

03- A retoma progressiva da economia pode ser feita com outra sensibilidade e pertinência, particularmente nos imensos espaços rurais angolanos e por que a diversificação económica, que não foi feita em tempo útil, ter de ser feita agora sob intensa pressão. (https://www.dw.com/pt-002/covid-19-v%C3%AAm-a%C3%AD-mais-d%C3%ADvidas-para-angola/a-52965030).

A situação global reflectida em Angola, obriga que os angolanos partam à redescoberta do seu espaço físico-geográfico-ambiental e de si próprios, revitalizando e mobilizando suas próprias forças. (http://jornaldeangola.sapo.ao/opiniao/artigos/o-mundo-ja-espreita-a-era-pos-covid-19https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/martinho-junior-luanda-as-profundas.html).

Em Angola é necessário gerar consensos de natureza cada vez mais cientificada e alargada, com relevância para as questões de natureza ambiental e humana, de forma a gerar capacidades de mobilização adequadas, mas sobretudo vocacionados para a juventude e para o futuro. (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/acordar-o-homem-angolano.htmlhttp://paginaglobal.blogspot.pt/2018/04/colocar-nossas-pernas-titubeantes-no.html).

A antropologia cultural é fundamental por que todos os esforços desemboquem em alterações profundas no modo de pensar e agir adequadas aos parâmetros de desenvolvimento sustentável, a pista que urge seguir com muito mais empenho em relação ao controlo e gestão da água interior, sobretudo sobre a região central das grandes nascentes, num raio de 300km em torno do marco geodésico de Camacupa (símbolo do centro físico-geográfico do país).

A equação em termos de antropologia cultural, implica conhecimento e prática ambiental adequada às características das profundas alterações climáticas que se registam no século XXI, sendo urgente ajustar a resposta aos actuais desafios em função do risco Covid-19, mas sobretudo a partir dele, pelo que a actual situação é um processo de ignição em cadeia que se abre e não se pode desperdiçar, até por que empolga no sentido do angolano conhecer seu espaço ambiental e conhecer-se a si próprio, seguindo uma trilha de segurança vital de que não se poderá escapar neste e nos próximos séculos.

Por essa razão é necessário manterem-se sempre presentes os temas que mergulham:

. Nos conceitos de lógica com sentido de vida em função da própria essência antropológica e histórica que caracteriza o movimento de libertação em África (que por si foi extraordinariamente exigente em termos de sobrevivência e acção); (https://paginaglobal.blogspot.com/2019/06/angola-aprender-reinterpretando.html).

. Na geoestratégia de desenvolvimento sustentável que desde logo tem a ver com o controlo e a protecção das nascentes e cursos iniciais da rosa-dos-rios angolanos que correm desde o marco geodésico de Camacupa;

. Na ignição duma cultura de inteligência patriótica, em função das capacidades de investigação e aquisição de conhecimento científico que acompanhe as prioridades em que se inscrevem por exemplo, a luta contra o subdesenvolvimento e por um desenvolvimento sustentável, a educação massiva dos angolanos em relação ao que os cerca de modo a garantir segurança vital para todos, a incessante busca de justiça social aberta à solidariedade e à dignidade, a premente necessidade de diversificação produtiva, o combate a esta pandemia, o combate à seca…

04- Não é também por acaso que Luanda está sob cerco sanitário por que o casco urbano da cidade capital tem, sob o ponto de vista ambiental e humano, características distintas do resto do território, com agravantes fitossanitárias de vulto.

Neste período de Abril, épocas de chuvas intensas e uma humidade equatorial, a cidade de Luanda expôs uma vez mais as suas mais deficitárias heranças estruturais que têm enormes implicações na vida e no ambiente. (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/08/luanda-em-desastre-ambiental.html).

Os canais de escoamento de água residual e das chuvas além das insuficientes capacidades, demonstram que foram mal projectados em termos de geoestratégia: o grosso das águas com toda a espécie de resíduos desembocou na área de Benfica contaminando a baía do Mussulo, as praias da Corimba e Ilha Cabeleira, a costa da Ilha de Luanda, as bacias onde desaguam o Bengo e o Dange…

Na baía do Mussulo, o fenómeno não é novo nos meses de Março e Abril, os resíduos disseminaram-se ao sabor das marés, adensando os problemas de contaminação (fundos e correntes), precisamente na altura em que algumas instituições e entidades se regozijavam pela recuperação dos mangais junto à base do istmo, que está a conduzir ao regresso dos flamingos e à recuperação da flora e fauna típica e original. (https://www.angonoticias.com/Artigos/item/8976/crime-ambiental-em-luanda-o-lixo-chega-as-praias-pelas-valas-de-drenagem;  https://opais.co.ao/index.php/2019/02/04/chuva-arrasta-lixo-para-as-praias-do-mussulo/).

Com todas as situações a terem de ver com as questões ambientais e antropológicas, é ainda muito tímido o que se está a fazer em todas as frentes, mas a necessidade de mudança de paradigma é inquestionável, até por que na planificação geoestratégica o grande desafio é programar a vida a partir da região central das grandes nascentes e não com os olhos de quem chega pelo mar, quando a orla costeira, não só em Luanda, está a ser tão maltratada! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2018/01/luanda-442-anos.html).

A mudança de paradigma requer romper com as geoestratégias de origem colonial, herança que se mantém de forma tão perniciosa para a vida!

Para a mudança de paradigma apenas faltava um fenómeno como a pandemia Covid-19, sabendo de antemão que com as profundas alterações climático-ambientais por nefasta acção humana, outros mais fenómenos de natureza similar estão na calha e invadem os horizontes mais próximos.

A segurança vital está no centro das prioridades humanas numa lógica com sentido de vida que faz a leitura da antropologia cultural e do papel fulcral da água interior, que tão mal tem sido controlada e gerida em Angola, apesar dos alertas que de há anos bastantes temos tido a oportunidade de fazer!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/a-hora-do-grande-reset-castels.htmlhttps://paginaglobal.blogspot.com/2019/09/angola-ponte-genetica-martinho-junior.html).

Martinho Júnior -- Luanda, 2 de Maio de 2020


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