quinta-feira, 9 de abril de 2020

A VULNERABILIDADE CRÓNICA E GEOESTRATÉGICA DA RDC

Martinho Júnior, Luanda 

De há muito que venho chamando a atenção no sentido urgente dos africanos se voltarem sobre si próprios, redescobrirem o chão onde vivem e redescobrirem-se a si próprios de forma científica, pondo de lado o que foi sobre África imposto e convencionado por aqueles que desde o exterior só dimensionaram o continente em função do egoísmo, da ganância, do lucro, da corrupção e da especulação desenfreada sobre a escandalosa oferta de matérias-primas a partir dum corpo deliberadamente tornado inerte e à mercê dos abutres, na vigência da última palavra neocolonial!

O renascimento de África só o será se for conseguido numa via de civilização, de redescobrimento, de renascimento e de vida, jamais em função da secular barbárie, não só a endémica de natureza antropológica, mas a que outros fizeram recair sobre o continente-berço da humanidade só para melhor explorar, a baixo-preço e com mão-de-obra tanto quanto o possível escrava! (https://frenteantiimperialista.org/blog/2019/04/28/africa-da-inercia-a-catastrofe/).

A lógica com sentido de vida inspirada no sentido histórico e antropológico do movimento de libertação em África, obrigou-me a assumir essa advocacia “sobre brasas e sobre o arame”, numa altura em que o neoliberalismo galopante votou ao desdém as minhas intervenções, como havia votado ao desdém enterrando-me em vida no seio duma comunidade temperada na luta mas deliberadamente votada à marginalização, ao ostracismo e a uma intestina guerra psicológica, que só por via da traição intestinal a corruptela de civilização tornada barbárie foi tentando enfraquecer, diluir, hostilizar e vencer!... (http://paginaglobal.blogspot.com/2017/02/angola-todos-os-saiagos-do-meu-pais.htmlhttp://paginaglobal.blogspot.com/2017/02/angola-provas-de-vida-nao-reconhecidas.htmlhttp://paginaglobal.blogspot.com/2018/04/angola-construir-paz-social.html).

Aquele MPLA que tanto significava de esperança entre 1961 e 1986, foi desde os últimos dias de Agostinho Neto tomado por dentro por vírus paridos de fora do continente que conduziram ao estado de prostração e putrefacção em que se encontra, de descaracterização em descaracterização… e se num movimento como o MPLA assim aconteceu, o que não vai por África fora, o que não vai pelo Congo, essa placa central subsaariana, uma autêntica âncora que impede o navio da vida alguma vez rebentar amarras e ver-se livre do porto de morte onde foi encalhado?

Desde a passagem do Che pelo Congo, o que tem sido essa placa central subsaariana, que tem fronteiras com 9 outros países quase tão transversalmente inertes como ela? (http://paginaglobal.blogspot.com/2012/05/ainda-o-sonho-africano-do-che.htmlhttp://paginaglobal.blogspot.com/p/blog-page.html).

De crise em crise, mais cedo que tarde o peso das minhas intervenções haveria que se fazer sentir por que o ciclo de traumas se adivinhava do próprio apodrecimento da mente humana parida da inconsistência neoliberal, no estertor do vírus mortal do capitalismo… (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/04/angola-uma-mao-lava-outra.html).

Recomecemos de novo pelo Congo, pela República Democrática do Congo, porque todos os males de África foram sendo por lá semeados, geridos e levados exponencialmente até ao estado de exaustão, pelo império da hegemonia unipolar! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/08/os-conflitos-contemporaneos-na-africa.html).



01- No preciso momento em que se dava por fim a epidemia da ébola que custou tanto a vencer, chegava ao subdesenvolvido e extremamente vulnerável Congo a importada pandemia do Covid-19, envolvendo e esbatendo o abismo da crise global que não pode restaurar mais o capitalismo tal como ele foi concebido e orquestrado ao longo dos últimos séculos, desde o século XVI de tão má memória para África… (https://www.radiookapi.net/2020/04/02/actualite/revue-de-presse/mediacongonet-covid-19-vidiye-tshimanga-relate-limpreparation;  https://www.jeuneafrique.com/906301/societe/ebola-en-rdc-si-tout-se-passe-bien-nous-pourrons-declarer-la-fin-de-lepidemie-le-12-avril/).

A República Democrática do Congo jamais se preparou de forma suficiente para fazer frente a epidemias autóctones, quantas delas oficialmente desconhecidas ainda hoje e, em relação a uma pandemia como a Covid-19, a sua preparação corresponde ao lugar que ocupa na cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano, vulnerável, subdesenvolvido e minado pela miséria, pelas guerrilhas endémicas sem fim, pelo paludismo, pela subnutrição, pela fome e pela morte prematura, sem melhor perspectiva a prazo curto, ou seja, sem outra espectativa de vida humana para além da fasquia dos 45 anos! (https://www.medecinssansfrontieres.ca/r%C3%A9publique-d%C3%A9mocratique-du-congohttps://www.radiookapi.net/2020/04/02/actualite/revue-de-presse/mediacongonet-covid-19-vidiye-tshimanga-relate-limpreparation).

O ritmo da expansão do Novo Coronavírus é geometricamente superior à capacidade de resposta instalada em precária resistência ou defesa, pelo que em relação à placa central subsaariana da bacia de 3.700.000 km2 do poderoso rio Congo, há que esperar os cenários mais pessimistas, se não houver o recurso humanista próprio dos que de há décadas lutam heroicamente contra todas as adversidades contemporâneas e uma mudança radical de paradigma dos africanos para consigo próprios! (https://www.ft.com/content/c12a09c8-6db6-11ea-89df-41bea055720b).

Cuba tem uma palavra a dizer no Congo relembrando o humanismo do Che e por tabela também Angola, apesar da devassa neoliberal que tornou a saúde do país num mercenarismo selvagem em nome do mercado: não haverá resposta sobre a pandemia em Angola, se não houver uma acção comum recíproca ao longo da vasta fronteira, com um modelo para gerar! (http://www.afrique-asie.fr/muchas-gracias-cuba/;  https://www.digitalcongo.net/article/5e88944dea3f03000461ffe3/https://www.fort-russ.com/2020/03/cuba-leads-by-revolutionary-example-in-covid-19-fight/).

É que Angola tem 2.511 km de fronteira com a RDC e agora, tudo o que se fizer na trilha da lógica com sentido de vida dentro do seu próprio território, não há volta a dar, deve-se inexoravelmente fazer reflectir e esbater no outro lado em benefício do povo congolês, cuja vulnerabilidade é ainda maior do que a vulnerabilidade dos angolanos, um problema quase insolúvel perante este tipo de vírus! (https://www.digitalcongo.net/article/5b531f5b6fd5c000047d7b99/https://fr.wikipedia.org/wiki/Fronti%C3%A8res_de_la_R%C3%A9publique_d%C3%A9mocratique_du_Congohttps://www.radiookapi.net/actualite/2012/10/13/francois-hollande-les-frontieres-de-la-rdc-sont-intangibles-elles-doivent-etre-respectees;  https://www.congo-autrement.com/page/renseignements-rd-congo/rdc-liste-de-165-postes-frontieres-et-frontaliers-de-la-republique-democratique-du-congo.html).

Não é por acaso que a revista Jeune Afrique indica já em relação a Angola, um número de casos muito superior ao oficialmente confirmado!... – (https://www.jeuneafrique.com/910230/societe/coronavirus-en-afrique-une-carte-pour-suivre-au-jour-le-jour-lavancee-de-lepidemie/). 


02- Mudança de paradigma é o que se pede para uma crise que, desde o fim do socialismo na Europa (fim da URSS, colapso do socialismo leste da Europa e destruição da Jugoslávia) passou a ser existencialista por imposição do neoliberalismo por parte do exercício do império da hegemonia unipolar! (http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/12/angola-incontornavel-memoria-do-dia-11.html).

“Há uma espécie em perigo: o homem!”, apontava com clarividência Fidel na Conferência sobre o clima na cidade do Rio de Janeiro em 1992, mas enquanto Cuba acordava apesar dos terríveis constrangimentos, o resto da humanidade continuava a afundar-se na direcção da barbárie e do abismo! (https://www.youtube.com/watch?v=JF67BSRjTYchttp://www.cuba.cu/gobierno/discursos/1992/esp/f120692e.html).

Como o que se continuou a fazer foi precisamente o contrário do alerta-recomendação de Fidel, Angola e RDC pouco a pouco foram engolidas pela infecta goela neoliberal! (http://pagina--um.blogspot.com/2010/10/congo-acabar-com-chaga-imensa-que.html;  http://www.afrique-asie.fr/pandemie-et-socialisme-une-magistrale-lecon-politique/).

Mesmo assim, a 22 de Agosto de 1998, através do relatório sob o título “A necessidade de definição dum bom plano táctico-operativo para a RDC, envolvendo várias componentes”, um dos muitos relatórios preparados em suporte do Estado-Maior das FAA na altura sob comando do general João de Matos, eu considerava no que dizia respeito a “CRITÉRIOS DE INTERVENÇÃO A ESTABELECER COM AS NOSSAS FROÇAS NA RDC” um conjunto de medidas adaptadas ao tempo de guerra, que relembro 21 anos depois dada a sua pertinência nesta emergência comum que impõe o controlo da pandemia Covid-19…

“As NOSSAS FORÇAS devem desencadear um conjunto de acções que prevêem na RDC, um desenvolvimento sincronizado de meios político-diplomáticos, de INTELIGÊNCIA e CONTRA INTELIGÊNCIA, bem como MILITARES, nas suas várias componentes.

Em relação à manobra político – diplomática, deverá privilegiar o quadro da nossa Embaixada em KINSHASA, de forma a estabelecer condições para a instalação de todos os nossos dispositivos, mantendo o melhor relacionamento possível com o mais ALTO NÍVEL do Governo de KABILA.

Deve também, em função das várias componentes e ajudas no quadro da SADC, privilegiar o relacionamento com as representações diplomáticas daqueles Países da SADC que estiverem motivados na ajuda ao Governo de KABILA.

Tendo em conta a vastidão das fronteiras comuns com a RDC e a tipologia dos problemas existentes, deve melhor preparar, num regime de reciprocidade nas afectações, a instalação de várias repartições Consulares Angolanas em povoações do CONGO, que possam simultaneamente influenciar na recolha de informação sobre os movimentos da UNITA, das FLEC, dos traficantes de fronteira (em particular de diamantes) e de outros movimentos clandestinos (por exemplo migratórios), como por exemplo: TSHELA, BOMA, MATADI ou INKISI (no BAS CONGO); KIKWIT, POPO KABACA ou KASSANDO LUNDA (no BANDUNDU); TCHIKAPA, KANANGA ou MBUGI MAYI (nos CASSAI); DILOLO, SANDOA, KAMINA ou KOLWEZI (no SHABA).

Esse esforço deverá criar todas as condições para a instalação das nossas possibilidades de INTELIGÊNCIA, com vista a filtrar toda a movimentação nas suas jurisdições, podendo sofrer adaptações e uma melhor definição das ORDENS DE MISSÃO, tendo em conta o meio e os objectivos que preconizamos em termos de INTELIGÊNCIA.

A implementação dessas medidas deve acompanhar a progressão das NOSSAS FORÇAS, após o início do seu movimento em direcção ao interior de ANGOLA, de acordo com a ORDEM DE MISSÃO militar para cada Unidade e/ou coluna, mas pode não ser totalmente determinante para as ORDENS DE MISSÃO de INTELIGÊNCIA, (há a possibilidade de se usarem outras coberturas para os nossos Oficiais e Agentes).

A nossa Representação Diplomática em BRAZZAVILLE deve estabelecer acordos em várias disciplinas com a de KINSHASA, tendo em conta a reciprocidade de movimentos e apoios, assim como as trocas de INFORMAÇÃO e coordenação das acções das várias componentes da nossa articulação na REGIÃO (não devemos esquecer que BRAZZAVILLE e KINSHASA são, à escala MUNDIAL, as duas Capitais de Países que ficam mais próximo uma da outra).

Em relação às componentes de INTELIGÊNCIA, há fundamentalmente duas linhas de interesse:

A que deve trabalhar na direcção do estreitamento das relações com a RDC, envolvendo os aspectos políticos, económicos, sociais e militares, entre outros, (principalmente na Capital e Províncias de maior representatividade).

A que deve trabalhar na direcção de detectar, de acompanhar e/ou de neutralizar as acções clandestinas e operativas de Organizações Armadas (como a UNITA, ou algumas das FLEC), que pode desdobrar-se em vários aspectos–sistemas logísticos de apoio desses agrupamentos, movimentos de pessoal (incluindo militares afectos), “bases”, coordenações e ligações com similares da RDC, traficantes de fronteira afectos (tendo em vista os diamantes principalmente), etc.

Os sistemas de INTELIGÊNCIA poderão ser desenvolvidos, na sua fase de instalação, tirando partido da ORDEM DE MISSÃO MILITAR, mas também poderão ser instalados à posteriori, se atendermos às várias formas de cobertura que se podem preparar, ou aos Acordos de reciprocidade de âmbito Consular.

A vantagem de eles tirarem partido da ORDEM DE MISSÃO MILITAR, está no facto de melhor podermos controlar o movimento de elementos afectos às Organizações Armadas Angolanas, imediatamente após a passagem das nossas colunas e Unidades militares e tendo em conta que elas não poderão permanecer nos lugares, em posição de quadrícula.

Em relação às componentes de CONTRA INTELIGÊNCIA, devem ser elaboradas ORDENS DE MISSÃO para todas as Províncias com limites com a RDC, tendo em conta as iniciativas de INTELIGÊNCIA, de forma a realizar, no interior do nosso território, um trabalho similar de detecção, acompanhamento e/ou neutralização, em relação aos elementos afectos às Organizações Armadas, tendo em conta os aspectos de interesse enumerados e o facto das operações militares gerarem movimentos adaptados às situações que se irão desenrolar.

Deve-se ter em conta que os nossos centros de CONTRA INTELIGÊNCIA devem ser agrupados, para dar resposta à clandestinidade típica dos dispositivos das Organizações Armadas Angolanas, assim como o ambiente com que eles contam nos dois lados da fronteira, por exemplo:

- O agrupamento dos meios de CI das Províncias de  CABINDA–ZAIRE, tendo em vista o empenhamento das Organizações Armadas principalmente a partir do BAS CONGO e a necessária ligação aos nossos meios de INTELIGÊNCIA, se for estabelecida a base legal dos Consulados, dentro da RDC.

- O agrupamento dos meios de CI, das Províncias de MALANGE – LUNDA NORTE – LUNDA SUL, tendo em conta o empenhamento da UNITA nos CASSAI, assim como os dispositivos de INTELIGÊNCIA naquelas zonas da RDC (dando especial relevo à situação corrente das migrações ilegais, devido aos tráficos de fronteira, principalmente o de diamantes).

Em relação às componentes militares, devem-se estabelecer fundamentalmente dois planos, para o curto prazo:

- A ORDEM DE MISSÃO inicial (1ª fase), de forma a proteger o Governo de KABILA e a cidade Capital, KINSHASA e garantir a preparação logística e táctico operativa das ORDENS DE MISSÃO posteriores, (incluindo com reconhecimentos em profundidade para averiguar não só os agrupamentos inimigos, mas melhor definir trajectos, obstáculos, ambiente natural e humano, etc.).

- A ORDEM DE MISSÃO de movimento e intervenção (2ª fase), de forma a que, ao mesmo tempo que se dá combate às Unidades rebeldes da FRENTE OESTE, se possa ajudar na instalação das Unidades das FAC nas localidades de quadrícula de destino e dar combate aos sectores de apoio, ou mesmo de agrupamentos, das Organizações Armadas Angolanas, da periferia para o interior do nosso País (principal objectivo para os reconhecimentos em profundidade, quando se der início à 2ª fase).

Publico esse extracto do Relatório por várias razões:


- O impacto neoliberal já se fazia sentir sobre o Estado-Maior Geral da época por via de portugueses que passaram a explorar os “bons ofícios” do Acordo de Bicesse (31 de Maio de 1991) como Jaime Nogueira Pinto, Nuno Rogeiro e outros (“Le Cercle” ou “Bilderbergers”), que vieram a Angola explorando nexos de inteligência e, cinicamente, “troca de experiências” (pode-se publicamente constatar no livro “Jogos Africanos” da autoria do 1º); (http://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/em-angola-ha-20-anos-ii.htmlhttps://www.publico.pt/2008/12/22/culturaipsilon/noticia/jaime-nogueira-pinto-no-teatro-africano-da-guerra-fria-219199);

- Por que apesar da emergência da guerra há 22/21/20 anos, todos os meus Relatórios terem sido votados ao desprezo desde Março de 2000, quando foi ordenado o abrupto fecho do mecanismo de apoio ao Estado-Maior das FAA, (contentor instalado na WAPO, próximo do Palácio Presidencial); essa é uma das razões que considero que fui “enterrado vivo” no quadro das medidas e impactos neoliberais que têm sido desde 1986 aplicadas sobre as instituições da Segurança do Estado de Angola, também com amplas responsabilidades dos que tomaram por dentro o MPLA, quantas vezes visando a sua formatação de modo mais que oportunista; (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/11/em-angola-ha-20-anos-iii.html);

- Por que essa ordem não levou em conta, muito pelo contrário, o patriotismo dos protagonistas do que foi aplicado em suporte das acções do camarada general Simeone Mukuni até à sua morte por accionamento duma mina antitanque na pista do Andulo, nem de muitas outras missões, entre elas o que se produziu para a formulação, conceito e prática da Operação Restauro, que acabou com a presença de Savimbi numa das suas posições mais decisivas na região central e fulcral das grandes nascentes; (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/12/em-angola-ha-20-anos-iv.html);

- Por que sendo necessário “honrar o passado e a nossa história”, é meu especial dever lembrar a memória de combatentes como os camaradas Simeone Mukuni, José Herculano Pires, “Revolução” e Alberto José Barros Antunes Baptista, “Kipaka”, para que a verdade histórica prevaleça sobre as estórias da conveniência e ocasião ultraneoliberal; (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/02/18-anos-de-excremento-do-diabo.html);

- Por finalmente trazer ensinamentos que podem ser reconvertidos para, em regime de reciprocidade, estabelecerem-se nexos a três níveis com a RDC – Ao Mais Alto Mando (Presidências dos dois países), ao nível de Províncias de fronteira (a RDC tem 7 Províncias nevrálgicas contíguas às fronteiras das Províncias angolanas como Cabinda, Zaire, Uíge, Malange, Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico); as 7 Províncias da RDC são o Kongo Central, Kinshasa (distrito capital), Kwango, Kassai, Kassai Central, Lualaba e Haut-Katanga), por fim ao nível das principais municipalidades de fronteira. (https://www.digitalcongo.net/article/5e89c5530bb92e00044a46c6/).


03- Foi nessa base que há poucos dias fiz propostas de acção, das quais realço: (https://www.digitalcongo.net/article/5e8b187e6a764500040f15eb/).

“A- Em regime de reciprocidade com cada um dos países vizinhos, devem ser criados pequenos postos consulares em locais estratégicos a definir, tendo em conta raios de acção de proximidade das fronteiras (50 km para cada um);

B- Esses postos consulares devem estar preparados para funções múltiplas, para além da gestão recíproca do controlo e gestão de fronteiras (seres humanos e mercadorias);

C- Entre as funções múltiplas e neste caso de emergência, devem ser instalados postos de acção fitossanitária que correspondam às medidas acordadas pelos dois países e aplicáveis entre os dois países mediante prévio acordo; 

D- A medida é aconselhável a fim de melhorar os relacionamentos em torno das fronteiras de Angola entre os governos centrais e provinciais e pode servir de modelo para os países do interior (por exemplo Congo, RDC e Zâmbia) aplicarem noutras suas fronteiras com outros países, de forma a melhorarem suas performances fitossanitárias e contribuírem para dispositivos de enfrentamento às ameaças na África Central, Grandes Lagos, Golfo da Guiné e África Austral;

E- É aconselhável o recurso a dispositivos fitossanitários das FAA, ou pelo menos inicialmente controlados pelos dispositivos militares, tendo em conta a necessidade de organização, disciplina, logística e mobilidade;

F- As razões fitossanitárias aconselham que na periferia externa das nossas fronteiras os SAMM (Serviços de Assistência Médica Militar) devam adoptar módulos instalados numa frota de camiões todo-o-terreno adaptados, com processamentos de energia adequados e apoiados por outra frota de camiões de apoio logístico afins ao que for instalado no terreno para o enfrentamento;

G- Desse modo é criado progressivamente um cordão de isolamento fitossanitário ao longo das fronteiras e numa profundidade abrangente a 50km de cada lado, capaz de contribuir para uma leitura comum de informações, contribuindo simultaneamente para a melhoria das leituras internas de cada um”…

O tema não se esgota aí, pois há considerações adicionais a fazer de alcance geoestratégico:

- Se houver aplicação do que proponho para a fronteira comum Angola-RDC há a possibilidade de criar um modelo a partir desse contencioso;

- Mesmo que isso não se venha a acontecer, em Angola deve ser criado um plantão especial de pesquisa de informação sobre a evolução do Covid-19 na RDC, recolhendo dados oficiais e públicos, a fim de melhorar o conhecimento da evolução da situação no outro lado dos 2.511 km de fronteira comum;

- O modelo que proponho deveria reverter em benefício da RDC nos relacionamentos com cada um dos 8 outros países vizinhos, com Angola a exercer, com base nessa experiência, toda a sua capacidade de influência no quadro das organizações dos Grandes Lagos, África Central e Golfo da Guiné, reforçando os mecanismos de paz já em curso;

- Um contencioso cada vez mais alargado dessa natureza, pode servir de campo experimental mais alargado em benefício de todo o continente e poderá providenciar a ajuda externa como a de Cuba, da República Popular da China e de outros estados solidários, para um outro patamar mais compatível para se fazer frente a desafios desta natureza em África;

- Para Angola, de acordo com as devidas trilhas de lógica com sentido de vida, deve-se ao longo do século XXI compendiar após o final de cada experiência traumática (estou-me também a lembrar da seca no sul do país) como os desafios foram enfrentados, o que foi alcançado, quais foram as insuficiências, onde não houve a hipótese de encontrar soluções (e por quê), que conclusões e propostas advêm dos “dossiers” acumulados, etc., pois as profundas alterações climático-ambientais trarão muito mais consequências em termos de ameaças, riscos e desafios para a humanidade, para todos os povos africanos e para com uma gestão planetária de respeito para com a Mãe Terra!


04- A luta numa trilha civilizacional de lógica com sentido de vida, tornou-se imperativa e inadiável, apanhando de forma premente toda a humanidade, numa multiplicidade de transversalidades que até agora eram manipuladas pela barbárie neoliberal ou proteccionista (“the americans first”)…

Guerras, bloqueios, sanções, medidas de busca de domínio de toda a ordem (o império da hegemonia unipolar não desarma) continuam a ocorrer quando uma ameaça como esta pandemia atinge a esmagadora maioria dos povos da Terra, sem que neste momento haja capacidade de acabar com o vírus.

A tantas outras barbaridades que decorrem desde o passado, o império não parou, mesmo com a pandemia, de fabricar ainda mais barbaridades, pelo que ao mesmo tempo que se combate o vírus, devem-se alargar inexoravelmente as frentes anti imperialistas, mobilizando as vocações saudáveis da racionalidade humana e não de sua irracionalidade feudal quase sem limites!

Isso é tanto mais importante, quanto em África com na América, como no Médio Oriente Alargado, (em África enquanto agravada ultraperiferia económica global), se continua a disseminar o domínio neocolonial expansionista, a concomitante jihad islâmica wahabita/sunita irracionalmente radicalizada, a miséria, a fome e a morte, ao invés de trazer outros horizontes para a paz, para a justiça social, para a lógica cm sentido de vida!... (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/03/onde-se-esvai-parte-do-caos-e-do.html;

Combater a pandemia na RDC e em toda a África, impõe outra consciência renascentista para África, pelo que os desafios que se colocam às lideranças vão muito para além da ameaça do Covid-19… (http://paginaglobal.blogspot.pt/2012/07/pelo-renascimento-africano-i.html;  http://paginaglobal.blogspot.com/2012/07/pelo-renascimento-africano-ii.html).

Estarão os lideres africanos ao nível de, numa via de lógica com sentido de vida, poder corresponder à mudança radical dos parâmetros da própria civilização humana, algo que já está em curso? (https://www.fort-russ.com/2020/04/the-political-economy-of-coronaviruscovid-19-in-africa/).

Constatem no que diz Daniel Estulin, um dos mas fundamentados críticos contemporâneos ao elitismo à Bilderberg: (http://novaresistencia.org/2020/03/30/coronavirus-estamos-diante-do-fim-da-classe-media/).

“O que está por vir é uma crise de uma magnitude que só vimos duas vezes nos últimos dois mil anos.

O primeiro foi entre os séculos IV e VI, quando surgiu o feudalismo.

E o segundo momento veio com o nascimento do capitalismo, a partir do século XVI.

O que estamos vivendo agora é o fim do capitalismo como o conhecemos, uma crise sistêmica planetária.

O capitalismo precisa de expansão contínua, abrindo novos mercados, porque sem novos mercados o capitalismo morre.

Isto é o que Karl Marx e Adam Smith disseram.

O coronavírus está sendo usado como desculpa para procurar uma explicação para o colapso dos mercados planetários, quando isto é algo que começou muito antes.

A Itália também é fácil de explicar.

114 bancos na Itália estão falidos.

Ter um coronavírus é fantástico porque eles podem parar de pagar e botar a culpa pela falência no vírus”…

Martinho Júnior -- Luanda, 6 de Abril de 2020

Imagens:
01- Divisão administrativa territorial da República Democrática do Congo; 
03- Le directeur général de l’OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus – https://www.digitalcongo.net/article/5e8c361a38d038000468a421/;   
04- Coronavirus en RDC : 180 contaminés, 18 décès et 9 malades guéris – https://www.digitalcongo.net/article/5e8c355a38d038000468a420/
05- COVID-19 en RDC – https://www.unicef.org/drcongo/coronavirus.

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