Chanceler federal alemã diz que,
em uma democracia, jornalistas devem poder confrontar governos com criticismo.
Sociedade precisa de informação confiável e ser capaz de distinguir a verdade
da mentira, afirma.
Merkel pede tolerância com
opiniões diferentes, mas também um olhar crítico para as próprias opiniões
A chanceler federal da Alemanha,
Angela Merkel, destacou neste sábado (16/05) a importância da liberdade de
imprensa – e de uma imprensa crítica – para o funcionamento da democracia,
especialmente nos tempos atuais, quando o mundo enfrenta uma pandemia.
"Os jornalistas devem poder
ter um olhar crítico sobre um governo e todos os atores políticos", disse
a chefe de governo em seu podcast em vídeo semanal, que neste sábado marca os
75 anos da publicação do primeiro jornal após o fim da Segunda Guerra Mundial e
do nazismo.
Segundo Merkel, uma democracia
"precisa de fatos e informação", "precisa ser capaz de
distinguir a verdade da mentira". Também exige uma "esfera pública em
que se possa argumentar e expressar diferentes opiniões, a fim de desenvolver
soluções conjuntas para problemas".
"Isso requer tolerância com
a opinião dos outros. Mas também requer a habilidade de olhar com criticismo
para as próprias opiniões", continuou a chanceler federal.
Ela afirmou que ser capaz de
observar a realidade a partir de diferentes perspectivas, e de formar opiniões
a partir delas, é crucial em tempos de crise de coronavírus. "Especialmente neste contexto, informação bem apurada é de grande
importância para todos nós."
Merkel ainda condenou
os ataques a jornalistas durante protestos contra o isolamento na
Alemanha. Segundo ela, o estado da liberdade de imprensa serve como "um
indicador do estado de nossa democracia como um todo". "Por isso é
ainda mais lamentável quando, mesmo aqui, em nossa sociedade democrática, repórteres
e jornalistas são atacados", afirmou. "O trabalho dos jornalistas
deve ser respeitado, valorizado e apoiado."
Os ataques a equipes de
reportagem de televisão em Berlim trouxeram preocupações sobre a liberdade de
imprensa na Alemanha. Grupos de extrema direita, teóricos da conspiração e
antivacina têm direcionado sua fúria ao que chamam de Lügenpresse ("imprensa
da mentira" – um termo usado desde os anos 1800, mas empregado com maior
destaque pelos nazistas), acusando os jornalistas de não cobrirem todo o
espectro de opiniões ao informar sobre a pandemia.
Em seu podcast, a chanceler
federal rejeitou essa crítica sobre a parcialidade da imprensa, afirmando
"não ver dessa forma, pelo contrário". "Aprendemos todos os
dias, especialmente sobre ciência, e ela nos fornece novos conhecimentos. É
absolutamente importante que entendamos isso e que muitas pessoas aprendam
sobre isso. As ofertas da mídia, tanto pública como privada, garantem
isso."
Ao lembrar os 75 anos do
surgimento da mídia livre após o fim da Segunda Guerra, Merkel observou
que apenas a Alemanha Ocidental se beneficiava da liberdade de imprensa.
"Não havia liberdade de
imprensa na RDA [República Democrática Alemã]", afirmou, acrescentando:
"Sabemos ainda hoje que, quando regimes autoritários chegam ao poder,
antes de tudo a liberdade de imprensa é suprimida, e o jornalismo livre não é
mais possível."
Deutsche Welle | EK/kna/dpa/afp
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