Duas
missões católicas foram alvos recentes dos
ataques de insurgentes em Cabo Delgado , no norte de Moçambique.
Mas Dom Luiz Fernando Lisboa, bispo de Pemba, descarta um ataque
premeditado à Igreja Católica.
Em
menos de dois meses, duas missões da Igreja Católica foram atacadas pelos insurgentes
em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. A primeira, no
período da Páscoa (abril) e a segunda, na terça-feira passada
(12.05): os atacantes destruíram a casa de uma missão de monges beneditinos.
Contudo,
o bispo de Pemba não acredita em ataques calculados contra as missões
católicas, pois outros alvos próximos são igualmente atacados,
argumenta em entrevista à DW África.
Segundo
Dom Luiz Fernando Lisboa, o ataque é mais uma prova do agravamento da
insegurança na província de Cabo Delgado, onde operam
as multinacionais do gás natural. Em dois anos e meio de violência, os
insurgentes mataram pelo menos 550 pessoas. Dezenas de milhares de pessoas
foram afetadas. O bispo de Pemba diz que a Igreja Católica está a ajudar os
deslocados.
DW
África: Como foi o ataque à vossa missão na última semana, em Cabo Delgado ?
Dom
Luís Fernando Lisboa (LFL): Entraram na casa da missão dos beneditinos -
religiosos tanzanianos que trabalham na nossa diocese - no bairro Auasse,
em Mocímboa da Praia. Vandalizaram a casa e levaram pertences dos monges,
inclusive o carro. Também queimaram um hospital que estava a ser construído ali
por eles.
DW
África: Face ao intensificar dos ataques de insurgentes contra as missões
católicas, acredita na possibilidade de a Igreja Católica encerrar as suas
missões na província?
LFL: Eu
não diria que há um ataque calculado contra as missões católicas. Eu penso que
atacaram o bairro, não apenas a missão. Quando eles atacam, atacam sempre
outras casas, comércio, etc. Não sei se sabiam que ali havia uma missão
católica. Os monges conseguiram fugir, ficaram dois dias no mato. Nenhum deles
ficou ferido. O pior é quando se tiram vidas. Neste dia, muitas pessoas
morreram ou desapareceram. Isso deixa-nos sempre muito tristes. Os bens,
prédios e carros, perdem-se. Mas o pior de tudo é a perda de vidas
humanas.
DW
África: Fala-se sobre a fome, as dificuldades, a pobreza que se está a tornar
extrema e a situação humanitária que se está a deteriorar. Como é feita a
assistência à população carenciada?
LFL: O
Governo tem procurado, de alguma forma, fazer a sua parte. As Forças Armadas
foram reforçadas recentemente. Mas os atacantes mudaram de tática - passaram a
atacar as aldeias simultaneamente, como aconteceu há pouco tempo. E [a
situação] acaba por ficar muito mais difícil. Agora, há uma forte crise
humanitária: há fome, porque são mais de 200 mil deslocados. Só de Quissanga,
um dos alvos dos ataques, vieram milhares de pessoas que estão aqui no distrito
vizinho de Pemba, chamado Metuge. Estão aqui vários acampamentos de pessoas que
vieram de Quissanga. Sem contar os deslocados que se espalharam pela província,
em todos os distritos, e inclusive na capital, Pemba. Isso torna o atendimento
muito difícil. Muitas pessoas saem de casa sem nada ou com poucos pertences.
Chegam sem comida. E atender a todas essas pessoas, nesta situação, não é uma
tarefa fácil. No entanto, há organizações internacionais, como a Cáritas, a
ajudar. Temos um esquema de entrega de alimentação para essas pessoas.
Nádia
Issufo | Deutsche Welle
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