segunda-feira, 25 de maio de 2020

Portugal | Curados da Covid-19 continuaram internados por falta de respostas sociais


Quase 20% dos doentes curados ficaram a ocupar uma cama, sem necessidade, durante cerca de duas semanas.

A conclusão é do barómetro especial sobre internamentos sociais, da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH). Realizado anualmente, o estudo inclui, na 4.ª edição, um levantamento feito em Maio sobre os doentes com Covid-19. Esse barómetro especial revela que 18% dos doentes curados continuaram internados, em média 16,5 dias, por "falta de capacidade de familiares ou cuidadores", incapacidade dos lares em "garantir condições apropriadas de isolamento" ou por estarem a "aguardar por um teste negativo para poderem ser admitidos" na Rede de Cuidados Continuados. Destes internamentos inapropriados, a maioria (73%) estava na região Norte e tinha idade igual ou superior a 70 anos (77%).

O presidente da APAH, Alexandre Lourenço, sublinha que "deveria ter havido respostas sociais para os doentes com Covid-19 que não necessitam de cuidados hospitalares", defendendo que "para segundas ou terceiras vagas, é preciso planear este tipo de resposta de cuidados continuados ou de natureza social".

Na avaliação global, destaca-se um aumento de 87% do número de internamentos sociais, em comparação com 2019. No entanto, a subida dos números pode estar relacionada com um maior número de hospitais analisados (mais sete). O certo é que, à data do barómetro, eram 1551 os casos sociais, a maioria idosos com mais de 65 anos, internados em unidades de Lisboa e Vale do Tejo e no Norte do país.

Alexandre Lourenço realça que a área de Lisboa é a que tem carências mais graves. "O número de respostas é muito reduzido, com processos do século passado." O responsável da APAH considera que "é preciso reduzir a burocracia de acesso à rede, com processos mais ágeis e automatizados", para que as autorizações sejam mais rápidas.

Em média, os idosos em internamento social ficaram dois meses e meio a aguardar uma solução, mas, no caso mais difícil, um doente com alta teve de esperar 220 dias - mais de sete meses - até poder sair do hospital.

Alexandre Lourenço recorda que os riscos aumentam "por cada dia a mais que o doente está internado".

Pelas contas da APAH, os internamentos sociais vão custar ao Estado, só este ano, 184 milhões de euros.

O barómetro vai ser apresentado esta segunda-feira, numa iniciativa conjunta da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, da EY e da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.​

Cristina Lai Men | TSF

* a autora não segue o Acordo Ortográfico de 1990

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