sexta-feira, 26 de junho de 2020

Angola | Covid-19: Cerca sanitária renovada em Luanda mas violações persistem


O Governo angolano decidiu manter a cerca sanitária em Luanda, a província com o maior número de casos positivos de Covid-19. Mas muitos populares continuam a tentar entrar e sair da região através de vias clandestinas.

É no período da noite que muitos aproveitam para tentar "romper" a cerca sanitária. Nicleth Solange, uma jovem comerciante de legumes, confessou à DW que mentiu às autoridades para deixar o Bengo e entrar em Luanda.

"Passamos domingo [21.06] às duas horas da manhã. Aproveitamos o momento em que a polícia controlava os carros. Quando fomos interpeladas, explicamos que estávamos a ir ao óbito de um familiar. Sabemos que não podemos sair. Mentimos só para conseguir o pão das crianças", admitiu a jovem.

Até à última semana, Luanda era a única entre as 18 províncias de Angola com os pontos de entrada fechados. Mas, entretanto, as autoridades fecharam também o Kwanza Norte. A província está sob cordão sanitário há uma semana, depois da entrada clandestina de um indivíduo com a doença - que segundo as autoridades "fugiu" do Hoji-ya-Henda, um dos bairros de Luanda com maior número de vítimas de Covid-19.




Polícia deteta irregularidades

Efetivos da Polícia Nacional (PN) e das Forças Armadas Angolanas (FAA) estão destacados nas principais entradas e saídas das duas províncias. Ainda assim, as violações são constantes.

Na zona do Kifangondo em Cacuaco, onde está a divisão entre Luanda e Bengo, a polícia e as FAA aconselham os cidadãos a acatar as orientações, observou no local a DW.

"Estamos a evitar que as pessoas saiam de Luanda. Só entram os que estão credenciados: os médicos e os enfermeiros, mas estes têm hora para o fazerem. Na semana passada detivemos três cidadãos que estavam a falsificar credenciais no Panguila para as pessoas estarem a circular", explicou um oficial da Polícia Nacional.

Motoristas pagos para transgredir

Na província de Benguela várias pessoas foram detidas e encaminhadas ao Ministério Público por saírem de Luanda sem autorização. À imprensa, a polícia também apresentou motoristas credenciados que, em troca de dinheiro, facilitaram a viagem dos mesmos indivíduos.

Negócios e problemas familiares são as principais razões das viagens não autorizadas, justificam os infratores. "Pedi por favor ao motorista para que me levasse até à minha província. Vou lá ver a família. Não posso ficar em Luanda sem trabalho", disse um dos detidos.

Punições severas

Entretanto, o Governo angolano anunciou o prolongamento da cerca sanitária em Luanda até 10 de julho. A ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, garantiu que os cidadãos que estão a violar as normas vão ser punidas de forma "severa”.

"Não vamos aceitar que as pessoas furem a cerca sanitária. Este é o primeiro ponto assente. As pessoas vão ser punidas severamente. Se tiverem diagnóstico positivo, vão ser tratadas, mas serão punidas de acordo com a lei. Ninguém vai ficar impune se for apanhado a furar a cerca sanitária", ameaça a ministra.

Borralho Ndomba (Luanda) | Deutsche Welle

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