O
governo dos Estados Unidos financiou e realizou inúmeras experiências
psicológicas em seres humanos sem eles o saberem, especialmente durante a
Guerra Fria, talvez parcialmente para ajudar a desenvolver técnicas mais
eficientes de tortura e interrogatório para os militares dos EUA e para a CIA,
mas a extensão, o alcance e a duração quase inacreditáveis dessas actividades
ultrapassaram muito as possíveis aplicações em interrogatórios e parecem ter
sido realizadas a partir de uma desumanidade fundamental e monstruosa.
Ler apenas os resumos, mesmos sem mencionar os detalhes, é por si
só, quase traumatizante.
Em
estudos iniciados no final da década de 1940 e no início da década de 1950, o
Exército dos EUA começou a identificar e a testar soros da verdade, como
mescalina e escopolamina, em seres humanos, que invocaram ser de utilidade
durante os interrogatórios a espiões soviéticos. Esses programas acabaram por
se expandir num projecto de amplo campo de acção e enorme ambição, centralizado
sob a competência da CIA, no que viria a ser designado como Projecto
MK-ULTRA, uma importante colecção de projectos de interrogatório e controlo da
mente. Inspirada inicialmente pelas ilusões de um programa de lavagem
cerebral, a CIA iniciou milhares de experiências usando indivíduos
americanos e estrangeiros, muitas vezes sem o seu conhecimento ou contra a sua
vontade, destruindo inúmeras dezenas de milhares de vidas e causando muitas
mortes e suicídios. Financiada, em parte, pelas Fundações Rockefeller e
Ford e operada conjuntamente pela CIA, pelo FBI e pelas divisões de
inteligência (serviços secretos) de todos os grupos militares, essa pesquisa da
CIA, que durou décadas, constituiu uma imensa colecção de algumas das atrocidades
mais cruéis e desagradáveis que se possam imaginar, num esforço
determinado em desenvolver técnicas confiáveis de
controlo da mente humana.
Pelo
menos 200 notáveis investigadores científicos privados fizeram parte neste
programa, assim como muitos milhares de médicos, psiquiatras, psicólogos e
outros semelhantes. Muitas destas instituições e indivíduos receberam o seu
financiamento através das chamadas "bolsas" do que eram, nitidamente,
empresas de fachada da CIA.
O
MK-ULTRA foi algo que englobou um grande número de actividades clandestinas que
faziam parte da pesquisa e do desenvolvimento da CIA, sobre Guerra Psicológica,
consistindo em cerca de 150
projectos e subprojectos, muitos deles muito grandes por si só, com
pesquisa e experimentação humana a ocorrer em mais de 80 instituições que
incluíam cerca de 50 das faculdades e universidades mais conhecidas dos Estados
Unidos, 15 ou 20 grandes fundações de pesquisa, incluindo a Fundação
Rockefeller, dezenas de grandes hospitais, muitas prisões e instituições
mentais e muitas empresas químicas e farmacêuticas. Pelo menos, 200
pesquisadores científicos privados e bem conhecidos, fizeram parte deste
programa, assim como muitos milhares de médicos, psiquiatras, psicólogos e
outros semelhantes. Muitas dessas instituições e indivíduos receberam o seu
financiamento através dos chamados "subsídios" do que eram,
claramente, empresas de fachada da CIA.
Em
1994, uma subcomissão do Congresso revelou que cerca de 500.000 americanos, sem
terem qualquer conhecimento destes factos, foram ameaçados, danificados ou
destruídos pelos testes secretos da CIA e dos militares, entre 1940 e
1974. Dada a destruição deliberada de todos os registos, a verdade
completa sobre as vítimas do MK-ULTRA nunca será conhecida, como também não
será sabido o número de mortos. Como o Inspector Geral do Exército dos EUA
declarou posteriormente num relatório a uma comissão do Senado: "Nas
universidades, hospitais e instituições de pesquisa, um número desconhecido de
testes e experiências químicas ... foi realizado em adultos saudáveis, nos que
tinham doenças mentais e em indivíduos retidos na prisão". De acordo com
um relatório do governo," em 149 experiências separadas de controlo
da mente, sobre milhares de pessoas, os pesquisadores da CIA usaram a hipnose,
tratamentos com eletrochoques, LSD, marijuana, morfina, benzedrina, mescalina,
seconal, atropina e outras drogas". Os indivíduos que foram sujeitos
aos testes eram geralmente pessoas que não podiam objectar facilmente - prisioneiros,
pacientes mentais e membros de grupos minoritários - mas a agência também
realizou muitas experiências em civis normais e saudáveis, sem o seu conhecimento
ou sem o seu consentimento.
O
projecto estava sob o comando directo de um Dr.
Sidney Gottlieb e recebeu milhões de dólares não revelados mas quase
ilimitados, destinados a centenas de experiências em seres humanos, em centenas
de locais nos Estados Unidos, Canadá e Europa, tendo o orçamento eventual para
este programa, ao que tudo indica, ultrapassado 1 bilião de dólares por ano. O
mal que se encontra em alguns destes documentos MK-ULTRA é quase palpável, um
desses documentos de 1955, a
declarar abertamente uma procura de “substâncias que irão provocar danos
cerebrais (temporários ou) permanentes, bem como a perda de memória”. Parte da
intenção era desenvolver "técnicas que iriam esmagar a psique humana
ao ponto de admitir qualquer coisa". Num memorando do governo americano de
1952, um Director de programa perguntou: "Podemos conseguir o controlo de
um indivíduo ao ponto de ele fazer o que lhe ordenamos contra a sua vontade e
até contra leis fundamentais da natureza, como a auto preservação? Também
enumerou a grande variedade de abusos horrendos aos quais as vítimas estariam
sujeitas. Estas pessoas não eram relutantes quanto às suas intenções.
Os
mecanismos incluíam uma programação sexual primordial para as mulheres na
tentativa de eliminar as convicções morais aprendidas e estimular o instinto
sexual primitivo desprovido de inibições, para criar uma espécie de máquina
sexual - a prostituta fundamental para a espionagem diplomática. Vários
pesquisadores afirmaram que o apetite sexual dessas mulheres foi desenvolvido
em jovens, nos seus anos de formação, através de incesto constante com um
funcionário do governo que havia sido deliberadamente desenvolvido como figura
paterna dessas jovens. Em parte, estes programas envolviam condicionar a mente
humana através da tortura, com uma parte deste programa destinada a treinar
agentes especiais, para agirem como terroristas destemidos sem instintos de auto-preservação
e que se iriam suicidar de bom grado, se fossem apanhados. Até fizeram
experiências através de implantes electrónicos, sons inaudíveis, mensagens
embutidas na mente subconsciente, drogas para alterar a mente e muito mais. Uma
parte dessa extensa operação envolveu uma tentativa de criar um programa de
assassinos, torná-los capazes de raptar indivíduos de outros países,
submetê-los a hipnose e a outras técnicas e depois devolvê-los aos seus países
de origem, a fim de assassinarem as suas chefias.
Outra
parte do projecto do controlo mental da CIA tinha como objectivo encontrar um "soro
da verdade" para usar em espiões. Foi administrado aos indivíduos sujeitos
ao teste LSD e outras drogas, muitas vezes sem o seu conhecimento ou
consentimento, e alguns foram torturados. Muitas pessoas morreram - ou
foram mortas - como resultado destas experiências e um número desconhecido de
funcionários do governo, a trabalhar nestes projectos, foi assassinado com
receio de que contassem o que tinham visto, talvez o mais conhecido seja
Frank Olson, cuja morte descrevi noutro lugar. O projecto foi firmemente negado
tanto pelo governo como pela CIA, mas foi, finalmente, exposto após as
investigações da Comissão Rockefeller. Quando esta informação se tornou
conhecida, o governo dos EUA pagou muitos milhões de dólares para resolver as
centenas de reclamações e processos judiciais que resultaram. Existem
muitas provas de que estes programas nunca foram encerrados.
Foram
orientados pela Faculdade de Medicina da Universidade de Cornell, muitos
estudos iniciais de interrogatórios sob a direcção de um Dr.
Harold Wolff , que solicitou à CIA qualquer informação sobre "ameaças,
coerção, prisão, privação, humilhação, tortura, lavagem cerebral",
"psiquiatria negra" e hipnose, ou qualquer combinação destes, com ou
sem agentes químicos ". Segundo Wolff, a equipa de pesquisa iria então:
"... reunir, recolher, analisar e assimilar estas informações e irá
realizar investigações experimentais destinadas a desenvolver novas técnicas de
uso de inteligência ofensiva/defensiva ... Serão testadas, de maneira
semelhante, drogas secretas potencialmente úteis [e diversas procedimentos que
danifiquem o cérebro] para verificar o efeito fundamental sobre a função
cerebral humana e sobre o humor do sujeito ... ". Ele apontou ainda mais e
de maneira arrepiante: "Quando qualquer um dos estudos envolver possíveis
danos ao indivíduo, esperamos que a Agência disponibilize indivíduos e um local
adequado para a realização das experiências necessárias".
Entre
as múltiplas universidades e instituições de destaque a participar nesta farsa,
estava a Universidade de Tulane, onde tanto a CIA como as forças
armadas americanas tinham financiado em larga escala o que aparentava ser
programas de experiências de controlo da mente baseados em traumas aplicados em
crianças. Em 1955, o Exército dos EUA relatou estudos nos quais os
pesquisadores implantaram eléctrodos no cérebro de pacientes mentais para
avaliar os efeitos do LSD e de uma série de outras drogas não testadas. Foi
em Tulane que foram realizados alguns dos primeiros testes de privação
sensorial, isolando pessoas nessas câmaras onde teriam alucinações impotentes
durante uma semana de cada vez, enquanto eram injectadas com drogas e
bombardeadas com mensagens gravadas, para ver se poderiam ser "convertidas
a novas crenças". Todos estes indivíduos eram vítimas indefesas que
não tinham ideia do que lhes estava a acontecer. Há uma longa lista de outras
universidades e hospitais americanos famosos que participaram numa destruição
humana semelhante e todos eles ‘limparam’ cuidadosamente os seus registos.
Outra
operação da CIA designada como ‘Midnight Climax’ consistia numa rede de locais
da CIA, nos quais as prostitutas que faziam parte da folha de pagamento da
CIA, iriam atrair clientes onde eram clandestinamente envolvidos por uma
ampla gama de substâncias, incluindo LSD, e monitorados por trás de vidros de
visão unidireccional. Foram desenvolvidas neste teatro de operações,
várias técnicas operacionais significativas, incluindo uma extensa pesquisa
sobre chantagem sexual, tecnologia de vigilância e o uso possível de drogas que
alteram a mente em operações de campo. Na década de 1970, como sendo outra
parte do seu programa de controlo mental, a CIA conspirou com a Eli Lilly
and Company para produzir cem milhões de doses da droga ilegal LSD, quantidade
suficiente para enviar quase todo mundo nos Estados Unidos a fazer uma viagem. Nenhuma
explicação foi dada sobre o que a CIA fez com estes cem milhões de doses de
ácido, mas, como grande parte desta actividade foi exportada, rever os
acontecimentos políticos internacionais durante esse período pode trazer à
mente possibilidades interessantes.
Como
já acima observado, o projecto MK-ULTRA e os seus irmãos tiveram origem
na Operação
Paperclip, na qual mais de 10.000 japoneses e alguns cientistas
alemães de todas as faixas foram transportados clandestinamente para os EUA
após a Segunda Guerra Mundial, para fornecer ao governo informações sobre
técnicas de tortura e interrogatório. Não está muito divulgado, mas, como
parte da Operação Paperclip, a CIA recrutou para o MK-ULTRA, Shiro Ishii, o
responsável pela Unidade 731 do Japão que chefiou algumas das mais horrendas
atrocidades humanas da História, incluindo a vivissecção (dissecção executada
num animal vivo com fins experimentais) ao vivo em crianças. Ao mesmo
tempo, também importou pelo menos dez mil funcionários da Unidade 731,
alojou-os em bases militares dos EUA e deu-lhes total imunidade nos processos
judiciais pelos seus crimes de guerra e crimes contra a Humanidade. Por este
motivo é que nenhum japonês foi julgado pelos seus crimes: estavam todos na
América, a contribuir com as suas competências para o MK-ULTRA. A CIA também
trouxe do estrangeiro alguns alemães que tinham realizado experiências com
seres humanos. Também não é amplamente sabido, mas todo esse projecto
nasceu não nos EUA, mas no Instituto
Tavistock de Relações Humanas, no Reino Unido, um instituto com
um passado excepcionalmente a sangue-frio. Voltarei a Tavistock nos
próximos capítulos.
A
liderança da CIA estava preocupada com a descoberta do seu comportamento
contrário à ética e ilegal, como evidenciado no Relatório
Geral dos Inspectores de 1957, que afirmava: "Devem ser tomadas
precauções não apenas para proteger as operações da exposição às forças
inimigas, mas também para ocultar essas actividades dos americanos ao público, em geral. A noção de que a
agência está a realizar actividades anti-éticas e ilícitas teria sérias
repercussões nos círculos político e diplomático".
O
antigo funcionário da CIA Richard Helms (à
esquerda), com o Presidente Richard Nixon, em 1973, ajudou a lançar o programa
na década de 1950.
As
actividades MK-ULTRA da CIA continuaram até à década de 1970, quando o Director
da CIA, Richard
Helms, temendo ser exposto ao público, ordenou que o projecto fosse
encerrado e todos os arquivos destruídos. No entanto, um erro administrativo
tinha enviado muitos documentos para o departamento errado; portanto, quando os
funcionários da CIA estavam a destruir os arquivos, alguns deles permaneceram e
foram divulgados mais tarde perante uma solicitação da Lei de Liberdade de
Informação (FOIA) do jornalista e investigador John Marks. No entanto,
como quase todos os registos foram destruídos, os números e as identidades das
vítimas nunca serão conhecidos.
O
Instituto de Pesquisa Stanford (SRI) descreve a sua missão como sendo
"criar soluções que mudam o mundo para tornar as pessoas mais seguras,
saudáveis e produtivas". A Wikipedia diz-nos que os patronos da
Universidade de Stanford estabeleceram o SRI, em 1946, como sendo "um
centro de inovação para apoiar o desenvolvimento económico da região". Não
tenho provas de que o SRI tenha tornado alguém mais seguro ou mais produtivo e,
qualquer que seja o objectivo original desta instituição, não parecia estar
muito no topo da lista apoiar o desenvolvimento económico da região. De acordo
com a minha pesquisa, existem poucas instituições na América que tiveram as
suas histórias mais higienizadas e refeitas do que o ISR. Claro que todas as
referências à participação no MK-ULTRA da CIA e noutros projectos desumanos
desapareceram da narrativa. Em Agosto de 1977, o Washington Post divulgou
alguns destes projectos; provavelmente, havia muito mais.
Uma
das actividades anteriores do SRI envolvia contratos adjudicados pela CIA e
pela Marinha dos EUA para pesquisar e desenvolver o controlo mental a longa
distância usando ondas de rádio. A CIA já tinha financiado projectos
MK-ULTRA na Honeywell, a fim de obter "um método para penetrar na mente de
um ser humano e controlar as suas ondas cerebrais a longa distância". Na
década de 1960, o então Director da CIA, Richard Helms, estava empolgado com o
que foi chamado de "comunicação biológica por rádio", e o Washington
Post publicou provas concretas de que o controlo electrónico da mente era
um dos principais objectos de estudo da SRI na época. A teoria era de que
as ondas electromagnéticas de frequência extremamente baixa do cérebro podiam
ser usadas para controlar indivíduos, às vezes chamados de
"empáticos", muitos dos quais (inexplicavelmente) foram extraídos da
Igreja de Scientology de L. Ron Hubbard
De
acordo com os relatórios, a CIA estava tão entusiasmada com as possibilidades
destas experiências no SRI, que foram desviados muitos milhões de dólares para
estes projectos, aumentados com testes de parapsicologia realizados
simultaneamente em Fort
Meade , pela NSA. A supervisão médica para essa enorme
variedade de experiências estava sob o controle de outro pervertido da CIA,
Dr. Louis Jolyon West, então Professor de Psiquiatria da UCLA, um dos
mais notáveis especialistas da CIA, sobre controlo mental no país. É difícil
evitar a conclusão de que todas essas pessoas eram loucas, já que a CIA, a
NSA e até o INSCOM e a inteligência militar/serviços secretos militares (e,
claro, a Church of Scientology/Igreja de Scientology) cooperaram com o SRI
em pesquisas que incluíam cartas de tarô, canalização de espíritos, comungando
com demónios e muito mais.
Mas,
de acordo com o próprio SRI, o trabalho do Dr. West incluía não só ondas de
rádio e parapsicologia, mas a criação de personalidades dissociativas "que
permitiam que os indivíduos sujeitos ao condicionamento mental se adaptassem ao
trauma". West referiu-se a essas pessoas como “crianças trocadas”,
que produziam estados mentais alternativos alucinantes, mas na verdade
esquizofrénicos (personalidades múltiplas induzidas), para permitir que eles
lidassem com o que foi designado como “stress ambiental prolongado”, isto é,
injecções forçadas de drogas, abuso físico, mental e sexual e programação
psíquica, utilizando, geralmente, grandes doses de LSD, o produto químico
preferido de Gottlieb. Existe documentação adequada de que muitas pessoas que
foram submetidas a esta "pesquisa" patrocinada pela CIA,
desenvolveram várias personalidades, muitas das quais foram induzidas à força
desde tenra idade. Existem histórias documentadas de alguns sobreviventes
que falam de abusos enormes de todos os tipos, que lhes foram infligidos a
partir dos quatro ou cinco anos de idade e de ter que lidar com o terror do que
parecia ser muitas pessoas diferentes a viver dentro das suas mentes. O
Dr. Jolyon West tornou-se uma espécie de especialista em pesquisa nesses
estados dissociativos e grande parte de seu trabalho no programa MK-ULTRA da
CIA concentrou-se na sua criação. Os registos revelam êxito na criação de
amnésia, memórias falsas, personalidades alteradas, identidades falsas e muito
mais, todas horripilantes e trágicas para os indivíduos envolvidos, todas da
pesquisa de West com métodos para "interromper as funções que,
normalmente, integram a personalidade" e tornar as pessoas totalmente
sujeitas a um controlo remoto.
Quando
West morreu em 1999, o New York Times, novamente fiel à sua forma,
publicou um delicioso obituário escrito por Philip
J. Hilts, que descreveu West como "um líder carismático em
psiquiatria", um homem cujo trabalho " se centrava em pessoas que
foram levadas aos limites da experiência humana, “como prisioneiros de guerra
com lavagem cerebral”, vítimas de raptos e crianças abusadas”, sem se preocupar
em mencionar que o suposto foco de West nessas pessoas não significava que ele
estivesse a cuidar delas, mas que ele criou essas condições. West era, de
facto, o homem que fazia a lavagem cerebral e o abuso de crianças, e
não estava a cuidar dos seus males. Hilts disse-nos que West testemunhou
outrora uma execução e permaneceu, para sempre, contra a pena de morte para
prisioneiros. Parece lamentável que ele não seja contra a pena de morte das
suas próprias vítimas. O New York Times diz-nos que West era
"uma figura colorida, uma pessoa viva". Que bom. Todos os obituários
tendem a ser lisonjeiros quando são escritos por familiares ou amigos, embora
as necrologias destinadas somente a elogios sejam escritas pela comunicação
mediática principal que tem um efeito poderoso na história no branqueamento, no
arejo e na reescrita - o que certamente teria sido a intenção do New York
Times. Nada mais poderia explicar essa descrição brilhante.
Devo
discordar por um momento para discutir uma doença geralmente referida como
Transtorno de Personalidade Múltipla ou Transtorno Dissociativo da
Personalidade, uma condição na qual uma pessoa desenvolve várias 'personas' ou
personalidades distintas na sua mente, geralmente totalmente afastadas, umas
das outras e a maioria, frequentemente, criada como um mecanismo de defesa para
proteger uma mente vulnerável à destruição devido aos horrores que ela sofreu.
Em termos simples, uma mente torturada que testemunha e experimenta horrores
indescritíveis, eventos terríveis demais para conviver, criará uma
personalidade adicional na qual essa mente viverá, afastando a outra da
consciência. São os próprios horrores, que consistem em todo tipo de abuso
físico e sexual, tortura, tratamento com drogas e electrochoques, talvez testemunhando
as mortes ou assassinatos de outras crianças, que forçam a criação destas
múltiplas personalidades, aparentemente tão fácil de realizar quando feito
em crianças de tenra idade.
A
amnésia entre estas múltiplas personalidades é total: ao funcionar numa
personalidade, o indivíduo (neste caso, a criança) não tem conhecimento da
existência das outras e funciona como uma pessoa totalmente diferente. As
paredes entre estas várias personalidades são construídas em aço. O objectivo de criar
estas múltiplas personalidades é que o "médico" possa controlá-las,
evocar qualquer uma delas a qualquer momento e, em sentido real,
"desenhar" cada uma delas, criando para ela falsas lembranças,
histórias, atitudes, padrões de comportamento, lealdades, moralidades, tudo e,
especialmente, a obediência. Para compreender este processo, o leitor terá de
pensar, vagamente, numa pessoa hipnotizada, a encenar e a seguir à letra várias
sugestões pós-hipnóticas e, mais tarde, com amnésia total. Muitos psiquiatras
alegaram que, na prática, este objectivo não é muito difícil de ser conseguido;
a teoria e os métodos foram bem confirmados.
Na
realidade, um assunto que percorreu todas as facetas do programa MK-ULTRA de
Gottlieb, e que foi declarado, claramente, num documento MK-ULTRA de 1955, foi
a pesquisa detalhada e minuciosa de "substâncias que produzam amnésia
total e perda de memória [mesmo à custa de] dano cerebral permanente "em
indivíduos que foram condicionados por psiquiatras da CIA, a amnésia incluindo
não só as acções executadas pelas suas personalidades alternativas, mas também
o facto de terem sido programadas.
A
continuar
Tradutora:
Maria Luísa de Vasconcellos
Na
imagem: Director aposentado da CIA, Allen Dulles (no centro) com o Presidente
dos EUA, John F Kennedy, e o substituto da DIA na CIA, John A. McCone, em
Washington, DC. no início dos anos 1960.
Website: Moon of Shanghai
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