Ricardo Costa, diretor de informação da SIC, é o mordomo de serviço a oferecer a cafeína do Expresso Curto que pode ler aqui em baixo, já a seguir por via do clique da ordem. Ricardo abre com a pandemia e o Infarmed. Deixa perceber nas suas palavras que uma pandemia é sempre algo muito pouco ou nada de cumprir previsões. Foi sempre assim ao longo da história universal.
Certo é que para além desta pandemia covid-19 há muitas mais pandemias. Uma delas é a pobreza extrema a que muitos cidadãos estão expostos após terem sido empurrados para ela - que os recebeu de braços abertos. Falamos da pobreza pandémica em Portugal. É deste país à beira-mar plantado que falamos.
Haverá consciência por parte do governo e instituições, que badalam tanto acerca da pobreza em Portugal, da gravidade da situação? E o presidente-espetáculo, Marcelo, que tanto fala da pobreza e se passeia por entre as suas alas sempre com um sorriso e uma palavra boazinha e cristã, terá consciência da realidade? Pelo dizer até parece que tem essa consciência, provavelmente até o valor dos mega-números, mas na realidade, dali, de Belém, não sai nada para combater a pobreza causada, agora, pela pandemia covid-19. E o governo tem demonstrado possuir a consciência e a ação para a realidade de mais de dois milhões de portugueses a afogarem-se na pobreza e a sucumbirem? Não. Na realidade, na prática, o combate à pobreza quase não existe, o que aumentou foi a burocracia e os blás-blás estéreis de políticos e outros ditos entendidos sobre a pobreza. A opção nesse combate tem sido esmolas cristãs a uns quantos, para enganar o pagode.
Assim, com tais lábias, qualquer um podia ser presidente-espectáculo ou primeiro-ministro-socialista (que fechou de vez o socialismo na gaveta). De lamentar que no jornalismo nacional não existam os que publiquem preto no branco os casos e os mega-números que cada vez mais aumentam as situações de pobreza extrema dos cidadãos portugueses ou estrangeiros a viverem em Portugal. Com denodo e muita dedicação, com objetividade, sem papas nas línguas, nem nos teclados ou nas imagens, a comunicação social devia fazer e mostrar o "filme" da realidade portuguesa sobre a pandemia da pobreza. A gerada e mantida desde sempre pelos afetos às caridadezinhas (negócio para alguns). Assim como aquela pobreza empurrada implicitamente pelo covid-19. Que agravou tudo ainda mais, sem que as respostas dos políticos governantes e dos que agem às suas ilhargas contemplem a atenção e o combate devido e efetivo, sem espetáculos enganadores, sem conversas da treta, sem sorrisos de bons cristãos cujas "boas ações" dão em nada e transparecem a branqueamento dos colarinhos, da coloração das gravatas e da hipocrisia estampada nas palavras e nos rostos. Depois... nada ou quase nada.
Afinal tudo e todos são boa gente, condoídos e bons cristãos... Pois.
Bom dia, se acaso tiverem essa oportunidade. Saiba que em Lisboa não está céu de sol e o azul deu lugar ao cinzento. Mas não falta covid-19... nem pobreza à escancaras e/ou escondida.
Velhice e pobreza mais atacada pelo covid-19, governo assobia para o lado. E Marcelo? Afinal este vírus não é democrático, como tantos "profetas de barriga-cheia" falsamente propalaram.
Leia o Curto, a seguir.
MM ! PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Até
para o ano, no Infarmed!
Ricardo
Costa | Expresso
No
princípio da pandemia, quando tudo parecia seguir uma ordem fácil de
acompanhar, muitos (Expresso incluído) dedicaram-se a analogias com guerras e
chefes políticos do séc. XX. A precipitação tem destas coisas: tivessem recuado
mais um pouco, a Atenas ou a Roma, e teriam percebido que a verdadeira analogia
de uma pandemia é… uma pandemia.
Simplificando, vivemos num contexto de total incerteza, com um vírus novo e de comportamento imprevisível, por tempo indeterminado. Nada é mais terrível para os políticos, os que dirigem e os outros. Falar é quase sempre falar cedo demais. Declarar vitória é dar tempo à derrota na curva seguinte. Afirmar é fazer figas. Orientar é tentar manter as coisas a andar.
As reuniões do Infarmed foram o exemplo máximo disso. Começaram como um encontro raro da política e da ciência e acabaram como normalmente acontece à política e à ciência, coisas com tempos e critérios diferentes: foi cada uma à sua vida.
Marcelo, que durante algumas semanas exerceu o cargo de epidemiologista-mor do Reino no final dessas reuniões, anunciou que ontem tinha sido a última, para poucas horas depois o primeiro-ministro dizer que não é bem assim. As reuniões hão de voltar, quando forem necessárias. Parece que coordenaram o tema mas que improvisaram no anúncio. Nada de novo. Os cientistas foram os últimos a saber. Também, nada de novo.
O Expresso exarou assim a declaração de óbito: “Quando, na semana passada, Rui Rio defendeu que estas reuniões entre políticos e epidemiologistas tinham perdido utilidade e deviam acabar, Marcelo achou que a sugestão do líder do PSD devia ser ponderada e ligou ao primeiro-ministro. António Costa achou bem, com uma ressalva: deviam esperar para ver como corria a reunião de hoje”. Pensado, dito e feito.
Depois disto, os políticos podem começar a despedir-se como os judeus fizeram durante séculos: até para o ano, no Infarmed!. A terra prometida da união e da concórdia é agora uma miragem. Resta a pandemia, o seu lento dia a dia e a sucessão de notícias, dúvidas e incertezas.
Simplificando, vivemos num contexto de total incerteza, com um vírus novo e de comportamento imprevisível, por tempo indeterminado. Nada é mais terrível para os políticos, os que dirigem e os outros. Falar é quase sempre falar cedo demais. Declarar vitória é dar tempo à derrota na curva seguinte. Afirmar é fazer figas. Orientar é tentar manter as coisas a andar.
As reuniões do Infarmed foram o exemplo máximo disso. Começaram como um encontro raro da política e da ciência e acabaram como normalmente acontece à política e à ciência, coisas com tempos e critérios diferentes: foi cada uma à sua vida.
Marcelo, que durante algumas semanas exerceu o cargo de epidemiologista-mor do Reino no final dessas reuniões, anunciou que ontem tinha sido a última, para poucas horas depois o primeiro-ministro dizer que não é bem assim. As reuniões hão de voltar, quando forem necessárias. Parece que coordenaram o tema mas que improvisaram no anúncio. Nada de novo. Os cientistas foram os últimos a saber. Também, nada de novo.
O Expresso exarou assim a declaração de óbito: “Quando, na semana passada, Rui Rio defendeu que estas reuniões entre políticos e epidemiologistas tinham perdido utilidade e deviam acabar, Marcelo achou que a sugestão do líder do PSD devia ser ponderada e ligou ao primeiro-ministro. António Costa achou bem, com uma ressalva: deviam esperar para ver como corria a reunião de hoje”. Pensado, dito e feito.
Depois disto, os políticos podem começar a despedir-se como os judeus fizeram durante séculos: até para o ano, no Infarmed!. A terra prometida da união e da concórdia é agora uma miragem. Resta a pandemia, o seu lento dia a dia e a sucessão de notícias, dúvidas e incertezas.
OUTRAS
NOTÍCIAS
Primeiro uma sucessão de dados para ver que não estamos sozinhos no mundo:
- Os EUA registaram ontem 62 mil novos casos, ultrapassando o recorde diário de 57 mil estabelecido na passada sexta
- O recorde estadual aconteceu ontem na Califórnia, com 11 mil casos
- A Nova Zelândia, que não registava novos há algumas semanas, detetou 3 infeções novas em pessoas que viajaram do estrangeiro
- A Austrália, outro caso de sucesso, mantém o estado de Vitória fechado devido a centenas de novos casos
- A Grécia, que também geriu muito bem a pandemia, já registou 100 casos em turistas desde que reabriu as fronteiras
- Tóquio bateu hoje o recorde diário com 224 casos novos
- Os casos oficiais em todo o mundo ultrapassaram hoje os 12 milhões. São 12.007.327 casos e 548.799 mortes oficiais
Enquanto isto, a batalha pelos turistas continua, com Portugal a ver sucessivas cancelas a fecharem-se. Augusto Santos Silva, o D. Quixote das Necessidades, brame adjetivos e anuncia desforras sem resultados aparentes.
“Não há qualquer problema com Marcelo Rebelo de Sousa mas eu sou socialista", respondeu ao fim de largos minutos a dizer que "nunca" votaria "num candidato da direita". É assim que começa a notícia do Expresso sobre a entrevista à RTP onde Pedro Nuno Santos descola da liderança socialista e defende que o PS tem de ir a jogo nas eleições presidenciais do próximo ano. Se tal não acontecer votará num candidato do BE ou do PCP.
A escolha da ex-deputada do PCP, Rita Rato, para dirigir o Museu da Resistência do Aljube continua a ser contestada. Depois da intervenção pública de António Araújo, agora é a vez da historiadora e Prémio Pessoa, Irene Pimentel - autora de livros sobre a Pide, a Mocidade Portuguesa Feminina ou os judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial -, não compreender a escolha de alguém sem experiência em História ou Museologia e com frases célebres sobre o gulag, entre outras coisas da história recente que ignorava.
Mário Centeno preside hoje à última reunião do Eurogrupo, onde chegou a ter a tal alcunha de Ronaldo mas agora é apenas mais um que vai arrumar as botas e rumar para o clube de origem. Ontem esteve no Parlamento e ficou claro que a simpatia pela sua escolha não é muita. Sim, transitar diretamente das Finanças para o BdP não é ilegal e, sim, o currículo é impecável, mas, sim, é um problema.
Entre muitas críticas ficou-se a saber que a Iniciativa Liberal vai interpor uma providência cautelar para tentar impedir a indigitação de Mário Centeno, enquanto há legislação sobre essa mesma forma de indigitação (e impedimentos, claro) em debate no Parlamento. É um recurso inabitual, que impede antecipar a decisão de acolhimento ou recusa de um assunto destes na justiça.
Hoje, o Público escreve que os quatro conselheiros independentes nomeados por Centeno para o órgão consultivo do BdP – João Talone, Francisco Louçã, Murteira Nabo e Luís Nazaré – colocaram os seus lugares à disposição do novo ministro.
Morreu o João Araújo, um dos defensores do ex-primeiro-ministro José Sócrates no processo Operação Marquês. Araújo foi um importante advogado, mas grande parte do país só o conheceu neste processo mediático, onde o seu sentido de humor e frases desconcertantes o tornaram célebre e figura assídua nas televisões.
Por que fechou o Hospital do SAMS no inicio da pandemia? Sim, um hospital novo e funcional encerrou portas numa altura crítica, deixando muita gente estupefacta, sobretudo os bancários que todos os meses pagam as suas quotas. Se vir esta reportagem do Pedro Coelho na SIC ficará ainda mais perplexo com esta originalidade nacional.
Aqui ao lado, a monarquia espanhola abana novamente com os pormenores dos €65 milhões que Juan Carlos colocou na Suíça numa fundação de que ele e a amante seriam beneficiários futuros, excluindo de forma expressa os seus herdeiros. O El Español divulgou esta manhã os documentos confidenciais dão acordo escrito com Corina Larsen, um escândalo que levou Felipe VI a cortar com o pai.
O campeão da I Liga de Futebol pode ser encontrado esta noite. O F.C. Porto joga a partir das 19h15 em Tondela (15.º classificado) e se ganhar terá que ficar à espera do fim do jogo do Benfica em Famalicão (5.º lugar na tabela), que só deve terminar pelas 23h15. Em caso de vitória do Porto e derrota do Benfica, está encontrado o campeão desta estranha época. Caso contrário, o Porto fica apenas a precisar de mais uma vitória.
No Benfica, tudo gira à volta de Jorge Jesus, o treinador que saltou a segunda circular e depois o atlântico. Uma novela sem fim.
Entretanto, o clube encarnado reforçou a sua emissão obrigacionista em curso de 35 para 50 milhões de euros, para se precaver contra uma muito provável quebra do mercado de transferências e de receitas na próxima época.
FRASES
“Se não houver candidato do PS voto num do BE ou do PCP”. Pedro Nuno Santos numa entrevista à RTP
“(Os candidatos à liderança do PS) vão ter de esperar um bocado de tempo”. Carlos César, em entrevista ao Público e à RR
“Sempre que Marcelo Rebelo de Sousa entra em pânico, exagera. E então enfrenta em excesso os medos sucessivos e não a raiz deles”. José Miguel Júdice no seu comentário na SIC Notícias (texto disponível no Expresso).
O QUE EU ANDO A LER
Como muitos, achei que a pandemia me ia dar tempo de sobra para ler. Como muitos, acabei atulhado em textos sobre o vírus e todas suas declinações, sociais, políticas, económicas, tudo matérias que já estafam o leitor. Deixo assim duas rápidas recomendações:
Falar com Desconhecidos, o mais recente livro de Malcolm Gladwell. A receita do jornalista americano é sempre a mesma. Pegar numa série de casos isolados e ligá-los num misto de história, sociologia, antropologia e estatística. Mas, sendo a mesma receita, continua a funcionar muito bem. Neste caso, tudo gira à volta dos erros que cometemos quando falamos com pessoas que não conhecemos. Os casos, que vão de Hitler a Sylvia Plath até uma operação Stop que corre mal ou a Madoff, são uma espantosa lição sobre os erros básicos que cometemos quando nos cruzamos com estranhos.
A Torre da Barbela, de Ruben A., reeditado nos Livros do Brasil (a edição original é de 1965), por ocasião do que seria o centenário do autor. Só conhecia Caranguejo, um magistral livro às avessas. Mas este é um portento de imaginação e de bom português. Roubo as palavras de Pedro Mexia, que o recenseou na Revista E do Expresso, dia 23 de maio: “É uma féerie histórico-linguística, uma paródia regionalista e portuguesinha, sobre a fronteira entre estar vivo e estar morto. E é uma das obras-primas de Ruben A., que faria cem anos”.
Os volumes autobiográficos de Ruben A. levam o magnífico título “O mundo à minha procura”. Nos dias que correm, a nossa sina é inversa, procurarmos para onde vai o mundo, nem que seja apenas por uns escassos dias. Ler é, como em quase todos os casos, o melhor remédio. Já sabe, estamos cá para isso.
Sugira
o Expresso Curto a um/a amigo/a
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