Rafael Barbosa |
Jornal de Notícias | opinião
A macroeconomia é um conceito
distante, quase sempre ilustrado com previsões, percentagens e valores fora da
nossa compreensão.
A vida da maioria das pessoas
faz-se de microeconomia: saber se o salário chega ao fim do mês; se há dinheiro
para uns dias de descanso; se a fatura da luz está a crescer; como acomodar o
imposto do carro; se a pensão dá para os medicamentos que o médico receitou.
Ainda assim, quando chega um
alerta como o da Comissão Europeia, que prevê, para Portugal, uma recessão
superior ao da Grande Depressão do início do século XX, vale a pena um esforço
acrescido para perceber o que isso quer dizer (e dar uma espreitadela aos
manuais de história ou à wikipédia). Uma perda de 10% no PIB (na riqueza do
país) é uma catástrofe. Entre outras razões, porque a pancada se fará sentir,
como sempre, de forma desigual.
Não vamos ficar todos 10% mais
pobres. Alguns até ficarão mais ricos: por exemplo os grandes acionistas da
EDP, cujo valor em Bolsa cresceu 200 milhões de euros, mesmo com a suspeita de
corrupção a bater à porta com estrondo.
Outros ficarão um pouco menos folgados,
mas não o suficiente para o sentirem na carne. Mas outros ainda ficarão 100%
mais pobres: já não terão sequer o miserável salário de antes.
Superado o abalo inicial, a Galp,
a Autoeuropa ou a Continental continuarão a exportar gasolina, carros e pneus,
e ainda bem. Mas vão aumentar as falências no têxtil e no calçado. E centenas
de restaurantes e lojas vão fechar. Arrastando pequenos empresários e os seus
trabalhadores desqualificados e/ou envelhecidos para uma pobreza ainda maior.
Asseguram-nos que vêm aí milhares
de milhões da União Europeia. Como nunca se viu. Mas como os vamos gastar? Será
desta que os decisores políticos percebem que é preciso reequilibrar o país? E
reduzir as desigualdades? Será desta que percebem que para ter um país mais
rico é preciso pensar mais na periferia que no centro, mais no interior do que
no litoral, mais na paisagem do que na capital?
Não é uma pergunta para quem está
confortavelmente instalado no Terreiro do Paço. Na verdade é um desafio para
quem está fora dos círculos privilegiados da corte política, económica e
financeira. E a resposta, no fundo, até é simples: ou vai ou racha.
*Chefe de Redação
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