sábado, 15 de agosto de 2020

Angola | METEÓRICAS FAPLA 3


EM SAUDAÇÃO AO 1º DE AGOSTO DE 1974

Martinho Júnior, Luanda 

“Continuai o combate pela preservação das conquistas, pela libertação completa da Pátria, pela defesa dos interesses das camadas mais exploradas, por um regime democrático, popular e progressista, pela Nação una e indivisível, pela integridade territorial, pela participação independente e soberana, no concerto livre das nações” (excerto da Proclamação das FAPLA) – http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1700:2019-08-05-12-24-28&catid=37:noticias&Itemid=206

Se avisadamente Angola desse continuidade à aliança cívico-militar com que substantivamente se deu vida e corpo à República Popular de Angola, adaptando-a aos esforços de paz e desenvolvimento sustentável, abrindo-a à perenidade da democracia sem romper com a inspiração histórica do MPLA, uma inspiração apta para a luta pela autodeterminação, independência e soberania e esclarecida sobre a natureza do império, o homem continuaria a ser o centro de todas as atenções e, face aos riscos e ameaças contemporâneas, grande parte deles de natureza planetária, a sociedade angolana estaria muito mais preparada, enérgica, prevenida, protegida e participativa!

Os desequilíbrios globais da década de 90 do século XX, editados na direcção de Angola que levou ao Acordo de Bicesse de 31 de Maio de 1991, reduziram a democracia ao imposto “diktat” duma “ementa multi-partidarista” que, de representatividade, em representatividade, se foi minguando, quase se reduzindo por fim ao labiríntico esgoto duma asfixiante corrupção sem fronteiras, injectada pelos estímulos que foram chegando de fora, por via do engenho e da arte do capitalismo neoliberal…

Dos subterrâneos próprios e próximos todavia, é ainda das FAPLA que emerge a geração dos homens que, sendo na 1ª pessoa soldados do MPLA, alçam África a levantar-se do chão e a emergir do plasma das conjugações de factores tão bárbaros que ainda hoje, em pleno século XXI, continuam a tentar reduzir o continente, por inteiro, a “um corpo inerte onde cada abutre vem depenicar o seu pedaço”…

A democracia para o ser, não se pode tornar redutora, antes integradora, pelo que lhe falta a aliança cívico-militar indispensável para a luta contra o subdesenvolvimento, um motivo mas que suficiente para unir todas as forças e sensibilidades!…

A democracia representativa injectada, retalha os poderes do estado e atira para as calendas gregas a capacidade de mobilização integradora e participativa a fim de enfrentar os desafios próprios dos imensos resgates que há a realizar e, no meio desse retalhar, na superestrutura ideológica as religiões, compondo o leque de ilusões e alienações manipuladas pelo poder dominante externo, fazem o resto!

Tem deliberadamente faltado alcançar-se o filosófico-patamar da síntese-analítica, poderosa e substantiva, decorrente dessa experiência cívico-militar da RPA, uma experiência que apenas durou 16 anos, uma experiência que se trouxe, pela via armada, vitórias tão importantes para o contexto africano e sobretudo para a África Austral, deveria ter merecido a oportunidade de transposição para a paz, por que sua força era feita de lógica com sentido de vida, testada a quente nos mais diversos campos de luta que houve que travar!...

Hoje, no início da 2ª década do século XXI, quando se constata que a espécie humana está em perigo em função das transformações climático-ambientais provocadas pela irracionalidade humana, particularmente depois da invenção da “revolução industrial”, a força do MPLA no rumo da lógica com sentido de vida segundo seu percurso de décadas, sobressai inspirador nas aplicações de paz tão necessária e legitimamente renascidas! (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/03/a-afirmacao-do-circulo-4f.html).




09- Na Zâmbia, onde os enlaces globais não queriam que se rompesse a madrugada popular para Angola, a 1 de Agosto de 1974, um punhado de bravos, 32 Comandantes de Coluna e 51 Comandantes de Esquadrão, muitos deles experimentados guerrilheiros, em torno do Presidente António Agostinho Neto ousaram a visionária Proclamação das FAPLA.

As FAPLA eram já, não só uma resposta de luta do MPLA face à rápida evolução conjuntural dos anos de 1974 e 1975, mas também uma projecção para depois de alcançada a independência e a soberania, sabendo-se na altura que o “apartheid”, presente em Angola desde 1966, seria o inimigo principal a combater, em substituição gradual do colonial-fascismo português, que acabando com o 25 de Abril de 1974, deu oportunidade à fase acelerada da descolonização institucional. (http://jornalcultura.sapo.ao/historia/a-mao-sul-africana-de-miguel-junior/fotos).

Com essa Proclamação a vanguarda de luta tornou-se ainda mais substantiva n quadr da aliança cívico-militar, pronta a romper caminho na direcção do futuro! (https://imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/1612216137_destaque.pdf).

As FAPLA foram concebidas em função dum processo abrangente de luta num âmbito de Não Alinhamento (pro)activo, com conceitos que nada tinham a ver com os conceitos de guerra da NATO, que aliás foram aplicados pelos componentes do Exercício Alcora e posteriormente pelas South Africa Defence Forces às ordens do “apartheid”.

Há muitas leituras hoje, filiadas nas escolas da NATO, que demonstram a sua inaptidão para a destrinça entre conceitos de luta popular e de guerra de contrainsurgência, por razões inerentes à superstrutura ideológica que “ilumina” os intérpretes da hist´ria, alguns deles catedráticos prfessores…

Etno-nacionalismo algum poderia alguma vez alcançar esse cume, por que os etno-nacinalismos foram forjados com objectivos neocoloniais, sob a fluida conveniência colonal-fascista, não com a sublimação ética e moral inerente à essência filosófica da libertação segundo as linhas (pro)activas da luta popular: a lógica com sentido de vida! (https://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/angola-um-so-povo-uma-so-nacao-ii.html).

Recordar o início da saga das FAPLA conduz-nos ao encontro duma história que se projectou imparável e apesar das contradições externas e internas, durante 16 anos intrépidos e heróicos, nos caboucos duma Angola livre, independente e soberana, ao dispor e em proveito duma autodeterminação que socorre nossos contemporâneos dias, já com a IVª República em vigor… (http://aveiro123.blogspot.com/2017/06/uma-longa-luta-em-africa-vi.html).

É esta a substância que marcou o parto das horas decisivas:

“PROCLAMAÇÃO DAS FAPLA.

Ao Povo Angolano combatente

Aos guerrilheiros do MPLA

Aos soldados de Angola libertada

O Povo Angolano combatente acaba de conquistar uma vitória decisiva.

O país encontra-se no limiar do objectivo pelo qual, durante treze anos, combatestes, pelo qual meio milhão de patriotas tombou e centenas de milhares ficaram mutilados.

SOLDADOS PATRIOTAS!

Nas chanas, nas matas, nas cidades, nas prisões fostes, durante esta longa marcha, o factor determinante da vitória.

COMBATENTES DO POVO!

Nesta hora em que o Povo é chamado a assumir as suas responsabilidades históricas numa Angola independente, interesses inconfessáveis agitam-se procurando desvirtuar aquilo por que lutastes durante treze anos.

CAMARADAS!

Com a mesma decisão e firmeza demonstradas nos momentos mais convulsos do combate libertador, assumi as vossas responsabilidades actuais.

SOLDADOS COMANDANTES!

Sobre as ruínas de Karipande e de Miconje, reflectindo a vontade manifesta de todos os que lutaram de armas na mão, fiéis à memória dos nossos mortos, de acordo com o estipulado na Lei reguladora dos organismos militares,

PROCLAMAMOS:

A constituição das FORÇAS ARMADAS POPULARES DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (F.A.P.L.A.) como instituição autónoma subordinada à direcção política do M.P.L.A.

A integração nas F.A.P.L.A. de todas as forças militares, militarizadas e de defesa popular.

A decisão inabalável de prosseguir o combate, por todos os meios, pelos objectivos que nos propusemos.

GLÓRIA ÀS F.A.P.L.A.

VIVA O M.P.L.A.

A VITÓRIA É CERTA!



10- Sendo as FAPLA desde a sua Proclamação, abertas à perspectiva da aliança cívico-militar, multiplicaram-se até à independência as iniciativas de abertura humana do próprio MPLA especialmente em Luanda, quando foi historicamente preciso disputar a capital por via duma guerrilha urbana de baixa intensidade, preparando a Proclamação da Independência da República Popular de Angola.

O termo (P)opular era inerente às siglas M(P)LA e FA(P)LA e esse conceito era-o de luta e não de guerra, obrigando à essencial mobilização de todas as forças patrióticas, sem privilegiar secundárias e/ou desagregadoras distinções. (http://jornalcultura.sapo.ao/historia/o-comandante-a-guerrilha-e-a-formacao-do-exercito/fotos).

A guerrilha urbana de baixa intensidade, nunca antes foi levada a cabo nos termos em que ela ocorreu em 1975, enquanto se teve de enfrentar os famigerados dispositivos repressivos colonial-fascistas de antes do 25 de Abril de 1974.

O Presidente Agostinho Neto não quis sacrificar inutilmente a vida dos militantes da clandestinidade e dos combatentes, para além do que está historicamente conhecido em relação ao período anterior ao 25 de Abril de 1974, mas desde a chegada do MPLA a Luanda, com a aproximação da acção do MPLA ao MFA após a derrota do spinolismo, essa guerrilha de baixa intensidade teve de ser travada a fim de preparar o berço da República Popular de Angola face às múltiplas ameaças neocoloniais que disputavam a própria independência na capital do país que iria nascer.

Esse processo ocorreu portanto numa relativa osmose de “geometria variável” com o processo da evolução do próprio Movimento das Forças Armadas (Portuguesas), no intenso plasma da descolonização e houve uma inter-relação nos fluxos dos sistemas de transvases, uma relação que ocorreu num regime de reciprocidade entre Lisboa e Luanda em 1974 e 1975.

Havia que optar dialeticamente, entre o movimento de libertação (MPLA) e os etno-nacionalismos (FNLA e UNITA), com uma especial atenção sobre os contrastantes sistemas de alianças de cada um dos intervenientes, mais expostos quando cresceu a intensidade da luta com a aproximação da data decisiva de 11 de Novembro de 1975. (http://www.novojornal.co.ao/sociedade/interior/brasil-entrou-na-guerra-civil-em-angola-ao-lado-da-fnla-de-holden-roberto-contra-o-mpla-de-agostinho-neto---investigacao-71090.html).

Luanda assistiu à saída dos substractos sociais que potencialmente poderiam ser mobilizados para aplicar uma ementa similar à da Rodésia, a ponto de por exemplo, ser o MPLA a começar a combater o tráfico de diamantes quando se estabeleceu a ponte aérea dos “retornados”…

Os diamantes, até nossos dias, explicam em parte o vai-e-vem das caravelas, pois Angola continua a ser para os traficantes e mercenários de todos os tempos, “as minas de Salomão”!

Isso ocorreu em simultâneo com o enfrentamento à ameaça neocolonial com o rótulo da FNLA que já tinha integrado o fraccionista Daniel Chipenda e jogado com ele na sua própria aproximação ao “apartheid” na frente sul, para além do suporte de Mobutu e, através dele, da própria CIA que, às ordens de Henry Kissnger, levaria a cabo a Operação Iafeature, a Operação da CIA contra Angola. (https://www.cia.gov/library/readingroom/docs/CIA-RDP91-00587R000201100014-5.pdf).

A Operação da CIA contra Angola só foi tão limitada por que a derrota no Vietname das forças do Pentágono foi de tal ordem que o eleitorado estado-unidense não queria mais aventuras de guerra pelo que, com esse contencioso de pressão, os Estados Unidos estavam a ser obrigados a condicionar-se ao início da saga do recrutamento de organizações mercenárias quando ainda para tal estavam pouco preparados, ao contrário dos britânicos e franceses, cada um a seu modo, mas seus mestres nesse tipo de iniciativas!

A Operação da CIA contra Angola teve esses condimentos!

…Assim, os grupos que pretendiam um levantamento similar à ementa da Rodésia, ou se volatilizaram, como a Frente Revolucionária Armada, FRA (com o seu “projectista”, Jaime Nogueira Pinto, a fugir de Angola), ou ficando, integraram-se em duas direcções óbvias: (https://research.unl.pt/ws/portalfiles/portal/2327094/O_Imp_rio_e_Jaime_Nogueira_Pinto._As_Direitas_Radicais_e_a_Descoloniza_o_em_frica.pdfhttps://paginaglobal.blogspot.com/p/25-anos-depois.htmlhttps://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/25-anos-depois-ii.html).

- Procuraram integrar as fileiras da FNLA, como uma parte dos fazendeiros de café do norte, que acompanharam a deriva principal do Exército de Libertação de Portugal, ELP, mobilizado pelo coronel Santos e Castro, ele próprio interconectado a esses interesses particularmente em função do seu exercício como governador do distrito do Quanza Norte, durante a última fase do colonialismo imediatamente antes do 25 de Abril de 1974; (https://jornalf8.net/2017/nao-conquistamos-luanda/https://www.facebook.com/jornalfolha8/posts/1155449361222158).

- Procuraram integrar as fileiras da UNITA, ou mesmo do regime do “apartheid” (incluindo as South Africa Defence Forces), acompanhando aliás a saída duma parte dos membros da PIDE/DGS e de outras autoridades coloniais não afectas à descolonização para a Namíbia ocupada e a África do Sul. (http://www.cd25a.uc.pt/media/pdf/Biblioteca%20digital/Artigos/Ex-secreta%20portugues%20revela%20verdades%20contra%20UNITA_JambaKiaxi.pdfhttps://paginaglobal.blogspot.com/2019/05/angola-confirmado-acordo-de-treguas-em.html).

Em qualquer dos casos a parte mais radical dos substractos sociais mais reaccionários (autores de colonialismo), pegaram em armas em África, integrados nesses agrupamentos etno-nacionalistas, para além das actividades de inteligência que muitos deles preferiram passar a desenvolver contra o MPLA, contra as FAPLA e contra a República Popular de Angola, em função de sua mobilização através de muito diversificados interesses e vias. (https://paginaglobal.blogspot.com/2017/01/programa-soft-power-da-cia-contra.html).

Impedir que a reacção de pendor colonialista ganhasse corpo e se organizasse foi importante para que a 1ª fase das iniciativas do MPLA em Luanda resultasse na sua rápida instalação, organização, mobilização e recrutamento de efectivos para os fins em vista: alcançar a independência com a República Popular de Angola e salvaguardar os primeiros dias da existência da RPA.


11- O intenso processo sociopolítico da luta armada de libertação pela independência nacional nos parâmetros do MPLA, era um muito exigente processo dialético e por isso a figura do líder era imprescindível para a consolidação da leitura e afirmação Não-Alinhada activa, melhor, proactiva!

Quando ocorreu o 25 de Abril de 1974, o MPLA sob a direcção do Presidente António Agostinho Neto, entendia todas as frentes em que estava empenhado em termos dialéticos profundamente inteligentes, avaliando a emergência das contradições no campo colonial-fascista e as suas próprias contradições internas e a prova disso está na oportuna Proclamação das FAPLA, a 1 de Agosto de 1974!

Reflexivamente o MPLA avaliou sempre a composição de suas fileiras pois para a luta armada implicava uma larga mobilização do campesinato, numa perspectiva dialética e em torno dum líder que respeitava o empenhamento obrigando-se ao seu próprio exemplo.

Eram expedientes complexos, muito sensíveis e carregados de meandros em estado fluido e por isso as decisões do líder haviam que ser tomadas em situações de equilíbrio instável, sobre o arame, mas animadas do espírito que caracterizava a “renúncia impossível” que foi amadurecendo praticamente desde as origens do MPLA.

As frentes internas, em regime de luta clandestina por imposição das conjunturas de opressão e de repressão colonial-fascista, não fugiam a essa regra geral, contendo contraditórios acerca dos quais muito pouca luz se tem feito, apesar de eles serem tão decisivos na última fase da vida do líder, entre o 25 d Abril de 1974 e a data da sua morte, a 10 de Setembro de 1979 (pouco mais de 5 anos) e os reflexos que tiveram nas FAPLA. (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/09/o-primeiro-comandante-em-chefe-de.html).

É extremamente sensível e pertinente a abordagem desses contraditórios de luta clandestina dentro da Angola colonizada e debaixo duma inteligente repressão (do âmbito da contrainsurgência sob a batuta do general Costa Gomes), uma luta que se estendia ao carácter das próprias fileiras, onde era preciso quantas vezes “dançar com os lobos”!

Os dispositivos de inteligência policial e militar de contrainsurgência do colonial-fascismo em tempo do Exercício Alcora, (http://www.ipri.pt/images/publicacoes/revista_ri/pdf/ri38/n38a10.pdfhttps://www.dw.com/pt-002/portugal-pactuou-com-o-apartheid-contra-a-liberta%C3%A7%C3%A3o-de-angola-e-mo%C3%A7ambique/a-18965172) integravam a Informação Militar, a PIDE/DGS (Polícia Internacional de Defesa do Estado, transformada em Direcção Geral de Segurança), os Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Angola (SCCIA), o aparelho político-administrativo e agrupamentos auxiliares de largo espectro com missões bem definidas, como a Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil de Angola (OPVDCA), a Guarda Rural, os Grupos Especiais (GE), as Tropas Especiais (TE), os “Fieis” (“gendarmes” katangueses que estiveram ao serviço de Tshombé, refugiados em Angola), os “Leais” (refugiados zambianos da Frente Barotse, uma rebelião étnica que incidia na bacia do Zambeze, na asa oeste da Zâmbia, onde estavam instaladas as bases de rectaguarda do MPLA), os subordinados de Alexandre Tati subvertendo a Frente d Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) e os “Flechas” (os san com tradicionais capacidades de adaptação transfronteiriços que sendo “iniciados” pela PIDE/DGS, passariam depois para a manipulação do “apartheid” com a “integração” do Inspector Óscar Piçarra Cardoso, amigo de Mário Soares, nas South Africa Defence Forces). (https://observador.pt/especiais/os-flechas-o-exercito-secreto-da-pide-em-angola/https://paginaglobal.blogspot.com/2017/11/angola-11-de-novembro-de-1975-uma_19.html).

A luta clandestina nos termos dessa asfixiante conjuntura colonial-fascista duma contrainsurgência de largo espectro instalada com o Exercício Alcora, só permitia espaços de manobra sob múltiplas pressões, pelo que cresceu uma “zona cinzenta” onde não se sabia exactamente quem era quem e a respectiva capacidade de luta, em termos de vínculos, cumplicidades e projectos. (https://journals.openedition.org/cea/2561).

As células clandestinas do MPLA, uma grande parte delas de âmbito familiar, romperam muito pouco a sua projecção operativa para além das suas acções de mobilização e propaganda, acções quase todas a decorrer no “filtro” sociocultural, por que rompessem não sobreviveriam!

O Presidente António Agostinho Neto percebeu isso pelo que dava especial relevância à arma ideológica da libertação nacional, com reflexos sociopolíticos nos relacionamentos externos do MPLA e no carácter das próprias FAPLA na sua rápida evolução para futuro exército integrado na aliança cívico-militar depois da independência proclamada a 11de Novembro de 1975, daí o termo Popular, para definir a República. 


12- A plataforma sociocultural passou a ser, pouco a pouco, essa “zona cinzenta” tácita, onde a PIDE/DGS fez os seus recrutamentos, a tal ponto que começou a espelhar na comunicação pública da guerra psicológica da contrainsurgência, a amplitude de seus esforços e argumentos de “acção psicológica”…(http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=socguerr ).

Choveram iniciativas como a “Tribuna dos Musseques”, a “Parada da Alegria”, o “Chá das Seis”, para citar alguns e músicos de agrupamentos ou singulares, como o “Murimba Show”, os “Jovens do Prenda”, os “Kiezos”, o Dionísio Rocha, o Pedrito… (https://www.europeana.eu/pt/item/2022031/11002_fms_dc_86049https://jornalf8.net/2019/o-hino-o-mpla-e-a-pidehttp://www.embaixadadeangola.org/embaixador_adr.htm/http://jornaldeangola.sapo.ao/cultura/criadas_condicoes_tecnicas_para_reabilitar_os_imoveishttp://jornaldeangola.sapo.ao/cultura/musico_dionisio_rocha_negoleiro_emblematico).

O campo do desporto foi também atingido pela manobra “inteligente” da contrainsurgência colonial-fascista e enquanto o Clube Atlético de Luanda se tornou uma referência para os combatentes da luta clandestina, particularmente para os jovens, até torneios de futebol, como o Torneio Cuca, se fizeram sentir. (http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/n225a08.pdfhttp://jornaldosdesportos.sapo.ao/19/0/a_saudade_do_clube_atletico_de_loanda_(parte_ii)http://jornaldeangola.sapo.ao/desporto/o-capitao-que-ergueu-as-tres-primeiras-tacas-do-girabolahttp://joseagoncalves.blogspot.com/2013/11/torneio-cuca.html).

Hoje é importante lembrar isso em função do melhor aprofundamento das assimilações correntes e das manobras de propaganda indexadas à ruptura de 27 de Maio do 1977 levadas a cabo a partir de Portugal, uma ruptura que teve imediatamente a seguir à Proclamação da Independência, algumas implicações directas internas nas FAPLA.

A “zona cinzenta” tornou-se uma zona híbrida e os que tiveram que enfrentar resolutamente, em clandestinidade, essa situação de artificial síntese, tiveram que esmerar comportamentos, atitudes, regras e táticas de clandestinidade, a fim de procurar a todo o transe salvaguardar seu empenho, sua integridade a sua fidelidade ao líder.

Para a PIDE/DGS a “caça” passava para dentro dessa “zona cinzenta” de ambiente humano eminentemente sociocultural, tendo como alvos os que haviam conseguido, apesar de tantas pressões hostis, tornado irredutíveis as suas opções e práticas, por que faziam parte da “renúncia impossível”.

Martinho Júnior -- Luanda, 9 d Agosto de 2020

Imagens:
01- “A Província de Angola” com uma das primeiras notícias do 25 de Abril de 1974;

02- Acordo de cessar fogo entre o MPLA e o governo português nascido da “revolução dos cravos”, na chanas do Lunhameji, leste de Angola, a 21 de Outubro de 1974;

03- Lunhameji – Lucusse – Da direita para a esquerda - de pé = Iko Carreira » Major Pezarat Correia » Ludy Kissassunda » Hermínio Escórcio » António Augusto de Almeida » Joaquim Kapango » Comandante Leonel Cardoso » Agostinho Neto » Brigadeiro Ferreira de Macedo » RuY Filomeno de Sá “Dibala” » Major Emílio da Silva; da esquerda para a direita - à frente = Pedro Maria Tonha, Pedalé, Magalhães Paiva, NVunda, Jacob João Caetano, Monstro Imortal, Zacarias Pinto, Bolingó, Aristides Van Dúnem e Carlos Rocha, Dilolwa; na fot há 9 Comandantes das FAPLA, que assinaram a Proclamação de 1 de Agosto de 1974;

04- Mapa do funil da batalha de Quifangondo, que não faz referência à asa leste do dispositivo das FAPLA, nos Dembos que impedia a progressão da Operação Iafeature nos terrenos que o Coronel Santos e Castro, fundador do ELP, melhor conhecia;

05- Monumento à batalha de Quifangondo da autoria do escultor Rui de Matos, combatente da luta armada de libertação nacional e oficial general das FAPLA, já falecido; a figura principal, com a bandeira é a do Comandante NDozi, signatário da Proclamação das FAPLA a 1 de Agosto de 1974 e também já falecido; a batalha de Quifangondo foi uma das três batalhas decisivas que possibilitou a Proclamação da Independência que originou a República Popular de Angola, a 11 de Novembro de 1975, tornando possível o exercício da soberania em todo o espaço nacional, contra a vocação neocolonial do regime de Mobutu, contra a sujeição aos interesses do império (Henry Kissinger), na altura, por parte do regime de Kenneth Kaunda e contra o “apartheid” e sua linha de “bantustanização” da África Austral.

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