Martinho Júnior, Luanda
“Continuai o combate pela
preservação das conquistas, pela libertação completa da Pátria, pela defesa dos
interesses das camadas mais exploradas, por um regime democrático, popular e
progressista, pela Nação una e indivisível, pela integridade territorial, pela
participação independente e soberana, no concerto livre das nações” (excerto da
Proclamação das FAPLA) – http://www.agostinhoneto.org/index.php?option=com_content&view=article&id=1700:2019-08-05-12-24-28&catid=37:noticias&Itemid=206
Se avisadamente Angola desse
continuidade à aliança cívico-militar com que substantivamente se deu vida e
corpo à República Popular de Angola, adaptando-a aos esforços de paz e
desenvolvimento sustentável, abrindo-a à perenidade da democracia sem romper
com a inspiração histórica do MPLA, uma inspiração apta para a luta pela
autodeterminação, independência e soberania e esclarecida sobre a natureza do
império, o homem continuaria a ser o centro de todas as atenções e, face aos
riscos e ameaças contemporâneas, grande parte deles de natureza planetária, a
sociedade angolana estaria muito mais preparada, enérgica, prevenida, protegida
e participativa!
Os desequilíbrios globais da
década de 90 do século XX, editados na direcção de Angola que levou ao Acordo
de Bicesse de 31 de Maio de 1991, reduziram a democracia ao imposto “diktat” duma “ementa
multi-partidarista” que, de representatividade, em representatividade, se
foi minguando, quase se reduzindo por fim ao labiríntico esgoto duma asfixiante
corrupção sem fronteiras, injectada pelos estímulos que foram chegando de fora,
por via do engenho e da arte do capitalismo neoliberal…
Dos subterrâneos próprios e
próximos todavia, é ainda das FAPLA que emerge a geração dos homens que, sendo
na 1ª pessoa soldados do MPLA, alçam África a levantar-se do chão e a emergir
do plasma das conjugações de factores tão bárbaros que ainda hoje, em pleno
século XXI, continuam a tentar reduzir o continente, por inteiro, a “um
corpo inerte onde cada abutre vem depenicar o seu pedaço”…
A democracia para o ser, não se
pode tornar redutora, antes integradora, pelo que lhe falta a aliança
cívico-militar indispensável para a luta contra o subdesenvolvimento, um motivo
mas que suficiente para unir todas as forças e sensibilidades!…
A democracia representativa
injectada, retalha os poderes do estado e atira para as calendas gregas a
capacidade de mobilização integradora e participativa a fim de enfrentar os
desafios próprios dos imensos resgates que há a realizar e, no meio desse
retalhar, na superestrutura ideológica as religiões, compondo o leque de
ilusões e alienações manipuladas pelo poder dominante externo, fazem o resto!
Tem deliberadamente faltado
alcançar-se o filosófico-patamar da síntese-analítica, poderosa e substantiva,
decorrente dessa experiência cívico-militar da RPA, uma experiência que apenas
durou 16 anos, uma experiência que se trouxe, pela via armada, vitórias tão
importantes para o contexto africano e sobretudo para a África Austral, deveria
ter merecido a oportunidade de transposição para a paz, por que sua força era
feita de lógica com sentido de vida, testada a quente nos mais diversos campos
de luta que houve que travar!...
Hoje, no início da 2ª década do
século XXI, quando se constata que a espécie humana está em perigo em função
das transformações climático-ambientais provocadas pela irracionalidade humana,
particularmente depois da invenção da “revolução industrial”, a força do
MPLA no rumo da lógica com sentido de vida segundo seu percurso de décadas,
sobressai inspirador nas aplicações de paz tão necessária e legitimamente
renascidas! (https://paginaglobal.blogspot.com/2020/03/a-afirmacao-do-circulo-4f.html).
09- Na Zâmbia, onde os enlaces
globais não queriam que se rompesse a madrugada popular para Angola, a 1 de
Agosto de 1974, um punhado de bravos, 32 Comandantes de Coluna e 51 Comandantes
de Esquadrão, muitos deles experimentados guerrilheiros, em torno do Presidente
António Agostinho Neto ousaram a visionária Proclamação das FAPLA.
As FAPLA eram já, não só uma
resposta de luta do MPLA face à rápida evolução conjuntural dos anos de 1974 e
1975, mas também uma projecção para depois de alcançada a independência e a
soberania, sabendo-se na altura que o “apartheid”, presente em Angola
desde 1966, seria o inimigo principal a combater, em substituição gradual do
colonial-fascismo português, que acabando com o 25 de Abril de 1974, deu
oportunidade à fase acelerada da descolonização institucional. (http://jornalcultura.sapo.ao/historia/a-mao-sul-africana-de-miguel-junior/fotos).
Com essa Proclamação a vanguarda
de luta tornou-se ainda mais substantiva n quadr da aliança cívico-militar,
pronta a romper caminho na direcção do futuro! (https://imgs.sapo.pt/jornaldeangola/img/1612216137_destaque.pdf).
As FAPLA foram concebidas em função
dum processo abrangente de luta num âmbito de Não Alinhamento (pro)activo, com
conceitos que nada tinham a ver com os conceitos de guerra da NATO, que aliás
foram aplicados pelos componentes do Exercício Alcora e posteriormente pelas
South Africa Defence Forces às ordens do “apartheid”.
Há muitas leituras hoje, filiadas
nas escolas da NATO, que demonstram a sua inaptidão para a destrinça entre
conceitos de luta popular e de guerra de contrainsurgência, por razões
inerentes à superstrutura ideológica que “ilumina” os intérpretes da
hist´ria, alguns deles catedráticos prfessores…
Etno-nacionalismo algum poderia
alguma vez alcançar esse cume, por que os etno-nacinalismos foram forjados com
objectivos neocoloniais, sob a fluida conveniência colonal-fascista, não com a
sublimação ética e moral inerente à essência filosófica da libertação segundo
as linhas (pro)activas da luta popular: a lógica com sentido de vida! (https://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/angola-um-so-povo-uma-so-nacao-ii.html).
Recordar o início da saga das
FAPLA conduz-nos ao encontro duma história que se projectou imparável e apesar
das contradições externas e internas, durante 16 anos intrépidos e heróicos,
nos caboucos duma Angola livre, independente e soberana, ao dispor e em
proveito duma autodeterminação que socorre nossos contemporâneos dias, já com a
IVª República em vigor… (http://aveiro123.blogspot.com/2017/06/uma-longa-luta-em-africa-vi.html).
É esta a substância que marcou o
parto das horas decisivas:
“PROCLAMAÇÃO DAS FAPLA.
Ao Povo Angolano combatente
Aos guerrilheiros do MPLA
Aos soldados de Angola libertada
O Povo Angolano combatente acaba
de conquistar uma vitória decisiva.
O país encontra-se no limiar do
objectivo pelo qual, durante treze anos, combatestes, pelo qual meio milhão de
patriotas tombou e centenas de milhares ficaram mutilados.
SOLDADOS PATRIOTAS!
Nas chanas, nas matas, nas
cidades, nas prisões fostes, durante esta longa marcha, o factor determinante
da vitória.
COMBATENTES DO POVO!
Nesta hora em que o Povo é
chamado a assumir as suas responsabilidades históricas numa Angola
independente, interesses inconfessáveis agitam-se procurando desvirtuar aquilo
por que lutastes durante treze anos.
CAMARADAS!
Com a mesma decisão e firmeza
demonstradas nos momentos mais convulsos do combate libertador, assumi as
vossas responsabilidades actuais.
SOLDADOS COMANDANTES!
Sobre as ruínas de Karipande e de
Miconje, reflectindo a vontade manifesta de todos os que lutaram de armas na
mão, fiéis à memória dos nossos mortos, de acordo com o estipulado na Lei
reguladora dos organismos militares,
PROCLAMAMOS:
A constituição das FORÇAS ARMADAS
POPULARES DE LIBERTAÇÃO DE ANGOLA (F.A.P.L.A.) como instituição autónoma
subordinada à direcção política do M.P.L.A.
A integração nas F.A.P.L.A. de
todas as forças militares, militarizadas e de defesa popular.
A decisão inabalável de
prosseguir o combate, por todos os meios, pelos objectivos que nos propusemos.
GLÓRIA ÀS F.A.P.L.A.
VIVA O M.P.L.A.
A VITÓRIA É CERTA!
Angola, 1 de Agosto de
1974” (http://www.operacional.pt/fapla-baluarte-da-paz-em-angola/).
10- Sendo as FAPLA desde a sua
Proclamação, abertas à perspectiva da aliança cívico-militar, multiplicaram-se
até à independência as iniciativas de abertura humana do próprio MPLA
especialmente em Luanda, quando foi historicamente preciso disputar a capital
por via duma guerrilha urbana de baixa intensidade, preparando a Proclamação da
Independência da República Popular de Angola.
O termo (P)opular era inerente às
siglas M(P)LA e FA(P)LA e esse conceito era-o de luta e não de guerra,
obrigando à essencial mobilização de todas as forças patrióticas, sem
privilegiar secundárias e/ou desagregadoras distinções. (http://jornalcultura.sapo.ao/historia/o-comandante-a-guerrilha-e-a-formacao-do-exercito/fotos).
A guerrilha urbana de baixa
intensidade, nunca antes foi levada a cabo nos termos em que ela ocorreu em
1975, enquanto se teve de enfrentar os famigerados dispositivos repressivos
colonial-fascistas de antes do 25 de Abril de 1974.
O Presidente Agostinho Neto não
quis sacrificar inutilmente a vida dos militantes da clandestinidade e dos
combatentes, para além do que está historicamente conhecido em relação ao
período anterior ao 25 de Abril de 1974, mas desde a chegada do MPLA a Luanda,
com a aproximação da acção do MPLA ao MFA após a derrota do spinolismo, essa
guerrilha de baixa intensidade teve de ser travada a fim de preparar o berço da
República Popular de Angola face às múltiplas ameaças neocoloniais que
disputavam a própria independência na capital do país que iria nascer.
Esse processo ocorreu portanto
numa relativa osmose de “geometria variável” com o processo da
evolução do próprio Movimento das Forças Armadas (Portuguesas), no intenso
plasma da descolonização e houve uma inter-relação nos fluxos dos sistemas de
transvases, uma relação que ocorreu num regime de reciprocidade entre Lisboa e
Luanda em 1974 e 1975.
Havia que optar dialeticamente,
entre o movimento de libertação (MPLA) e os etno-nacionalismos (FNLA e UNITA),
com uma especial atenção sobre os contrastantes sistemas de alianças de cada um
dos intervenientes, mais expostos quando cresceu a intensidade da luta com a
aproximação da data decisiva de 11 de Novembro de 1975. (http://www.novojornal.co.ao/sociedade/interior/brasil-entrou-na-guerra-civil-em-angola-ao-lado-da-fnla-de-holden-roberto-contra-o-mpla-de-agostinho-neto---investigacao-71090.html).
Luanda assistiu à saída dos
substractos sociais que potencialmente poderiam ser mobilizados para aplicar
uma ementa similar à da Rodésia, a ponto de por exemplo, ser o MPLA a começar a
combater o tráfico de diamantes quando se estabeleceu a ponte aérea
dos “retornados”…
Os diamantes, até nossos dias,
explicam em parte o vai-e-vem das caravelas, pois Angola continua a ser para os
traficantes e mercenários de todos os tempos, “as minas de Salomão”!
Isso ocorreu em simultâneo com o
enfrentamento à ameaça neocolonial com o rótulo da FNLA que já tinha integrado
o fraccionista Daniel Chipenda e jogado com ele na sua própria aproximação
ao “apartheid” na frente sul, para além do suporte de Mobutu e,
através dele, da própria CIA que, às ordens de Henry Kissnger, levaria a cabo a
Operação Iafeature, a Operação da CIA contra Angola. (https://www.cia.gov/library/readingroom/docs/CIA-RDP91-00587R000201100014-5.pdf).
A Operação da CIA contra Angola
só foi tão limitada por que a derrota no Vietname das forças do Pentágono foi
de tal ordem que o eleitorado estado-unidense não queria mais aventuras de
guerra pelo que, com esse contencioso de pressão, os Estados Unidos estavam a
ser obrigados a condicionar-se ao início da saga do recrutamento de
organizações mercenárias quando ainda para tal estavam pouco preparados, ao
contrário dos britânicos e franceses, cada um a seu modo, mas seus mestres
nesse tipo de iniciativas!
A Operação da CIA contra Angola
teve esses condimentos!
…Assim, os grupos que pretendiam
um levantamento similar à ementa da Rodésia, ou se volatilizaram, como a Frente
Revolucionária Armada, FRA (com o seu “projectista”, Jaime Nogueira Pinto,
a fugir de Angola), ou ficando, integraram-se em duas direcções óbvias: (https://research.unl.pt/ws/portalfiles/portal/2327094/O_Imp_rio_e_Jaime_Nogueira_Pinto._As_Direitas_Radicais_e_a_Descoloniza_o_em_frica.pdf; https://paginaglobal.blogspot.com/p/25-anos-depois.html; https://paginaglobal.blogspot.com/2012/09/25-anos-depois-ii.html).
- Procuraram integrar as fileiras
da FNLA, como uma parte dos fazendeiros de café do norte, que acompanharam a
deriva principal do Exército de Libertação de Portugal, ELP, mobilizado pelo
coronel Santos e Castro, ele próprio interconectado a esses interesses
particularmente em função do seu exercício como governador do distrito do
Quanza Norte, durante a última fase do colonialismo imediatamente antes do 25
de Abril de 1974; (https://jornalf8.net/2017/nao-conquistamos-luanda/; https://www.facebook.com/jornalfolha8/posts/1155449361222158).
- Procuraram integrar as fileiras
da UNITA, ou mesmo do regime do “apartheid” (incluindo as South
Africa Defence Forces), acompanhando aliás a saída duma parte dos membros da
PIDE/DGS e de outras autoridades coloniais não afectas à descolonização para a
Namíbia ocupada e a África do Sul. (http://www.cd25a.uc.pt/media/pdf/Biblioteca%20digital/Artigos/Ex-secreta%20portugues%20revela%20verdades%20contra%20UNITA_JambaKiaxi.pdf; https://paginaglobal.blogspot.com/2019/05/angola-confirmado-acordo-de-treguas-em.html).
Em qualquer dos casos a parte
mais radical dos substractos sociais mais reaccionários (autores de
colonialismo), pegaram em armas em África, integrados nesses agrupamentos
etno-nacionalistas, para além das actividades de inteligência que muitos deles
preferiram passar a desenvolver contra o MPLA, contra as FAPLA e contra a República
Popular de Angola, em função de sua mobilização através de muito diversificados
interesses e vias. (https://paginaglobal.blogspot.com/2017/01/programa-soft-power-da-cia-contra.html).
Impedir que a reacção de pendor
colonialista ganhasse corpo e se organizasse foi importante para que a 1ª fase
das iniciativas do MPLA em Luanda resultasse na sua rápida instalação,
organização, mobilização e recrutamento de efectivos para os fins em vista:
alcançar a independência com a República Popular de Angola e salvaguardar os
primeiros dias da existência da RPA.
11- O intenso processo
sociopolítico da luta armada de libertação pela independência nacional nos
parâmetros do MPLA, era um muito exigente processo dialético e por isso a
figura do líder era imprescindível para a consolidação da leitura e afirmação
Não-Alinhada activa, melhor, proactiva!
Quando ocorreu o 25 de Abril de
1974, o MPLA sob a direcção do Presidente António Agostinho Neto, entendia
todas as frentes em que estava empenhado em termos dialéticos profundamente
inteligentes, avaliando a emergência das contradições no campo
colonial-fascista e as suas próprias contradições internas e a prova disso está
na oportuna Proclamação das FAPLA, a 1 de Agosto de 1974!
Reflexivamente o MPLA avaliou
sempre a composição de suas fileiras pois para a luta armada implicava uma
larga mobilização do campesinato, numa perspectiva dialética e em torno dum
líder que respeitava o empenhamento obrigando-se ao seu próprio exemplo.
Eram expedientes complexos, muito
sensíveis e carregados de meandros em estado fluido e por isso as decisões do
líder haviam que ser tomadas em situações de equilíbrio instável, sobre o
arame, mas animadas do espírito que caracterizava a “renúncia
impossível” que foi amadurecendo praticamente desde as origens do MPLA.
As frentes internas, em regime de
luta clandestina por imposição das conjunturas de opressão e de repressão
colonial-fascista, não fugiam a essa regra geral, contendo contraditórios
acerca dos quais muito pouca luz se tem feito, apesar de eles serem tão
decisivos na última fase da vida do líder, entre o 25 d Abril de 1974 e a data
da sua morte, a 10 de Setembro de 1979 (pouco mais de 5 anos) e os reflexos que
tiveram nas FAPLA. (https://paginaglobal.blogspot.com/2018/09/o-primeiro-comandante-em-chefe-de.html).
É extremamente sensível e
pertinente a abordagem desses contraditórios de luta clandestina dentro da
Angola colonizada e debaixo duma inteligente repressão (do âmbito da
contrainsurgência sob a batuta do general Costa Gomes), uma luta que se
estendia ao carácter das próprias fileiras, onde era preciso quantas
vezes “dançar com os lobos”!
Os dispositivos de inteligência
policial e militar de contrainsurgência do colonial-fascismo em tempo do
Exercício Alcora, (http://www.ipri.pt/images/publicacoes/revista_ri/pdf/ri38/n38a10.pdf; https://www.dw.com/pt-002/portugal-pactuou-com-o-apartheid-contra-a-liberta%C3%A7%C3%A3o-de-angola-e-mo%C3%A7ambique/a-18965172)
integravam a Informação Militar, a PIDE/DGS (Polícia Internacional de Defesa do
Estado, transformada em
Direcção Geral de Segurança), os Serviços de Centralização e
Coordenação de Informações de Angola (SCCIA), o aparelho
político-administrativo e agrupamentos auxiliares de largo espectro com missões
bem definidas, como a Organização Provincial de Voluntários e Defesa Civil de
Angola (OPVDCA), a Guarda Rural, os Grupos Especiais (GE), as Tropas Especiais
(TE), os “Fieis” (“gendarmes” katangueses que estiveram ao
serviço de Tshombé, refugiados em Angola), os “Leais” (refugiados
zambianos da Frente Barotse, uma rebelião étnica que incidia na bacia do
Zambeze, na asa oeste da Zâmbia, onde estavam instaladas as bases de
rectaguarda do MPLA), os subordinados de Alexandre Tati subvertendo a Frente d
Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) e os “Flechas” (os san com
tradicionais capacidades de adaptação transfronteiriços que
sendo “iniciados” pela PIDE/DGS, passariam depois para a manipulação
do “apartheid” com a “integração” do Inspector Óscar
Piçarra Cardoso, amigo de Mário Soares, nas South Africa Defence Forces). (https://observador.pt/especiais/os-flechas-o-exercito-secreto-da-pide-em-angola/; https://paginaglobal.blogspot.com/2017/11/angola-11-de-novembro-de-1975-uma_19.html).
A luta clandestina nos termos
dessa asfixiante conjuntura colonial-fascista duma contrainsurgência de largo
espectro instalada com o Exercício Alcora, só permitia espaços de manobra sob
múltiplas pressões, pelo que cresceu uma “zona cinzenta” onde não se
sabia exactamente quem era quem e a respectiva capacidade de luta, em termos de
vínculos, cumplicidades e projectos. (https://journals.openedition.org/cea/2561).
As células clandestinas do MPLA,
uma grande parte delas de âmbito familiar, romperam muito pouco a sua projecção
operativa para além das suas acções de mobilização e propaganda, acções quase
todas a decorrer no “filtro” sociocultural, por que rompessem não
sobreviveriam!
O Presidente António Agostinho
Neto percebeu isso pelo que dava especial relevância à arma ideológica da
libertação nacional, com reflexos sociopolíticos nos relacionamentos externos
do MPLA e no carácter das próprias FAPLA na sua rápida evolução para futuro
exército integrado na aliança cívico-militar depois da independência proclamada
a 11de Novembro de 1975, daí o termo Popular, para definir a República.
12- A plataforma sociocultural
passou a ser, pouco a pouco, essa “zona cinzenta” tácita, onde a
PIDE/DGS fez os seus recrutamentos, a tal ponto que começou a espelhar na
comunicação pública da guerra psicológica da contrainsurgência, a amplitude de
seus esforços e argumentos de “acção psicológica”…(http://www1.ci.uc.pt/cd25a/wikka.php?wakka=socguerr ).
Choveram iniciativas como
a “Tribuna dos Musseques”, a “Parada da Alegria”, o “Chá das
Seis”, para citar alguns e músicos de agrupamentos ou singulares, como
o “Murimba Show”, os “Jovens do Prenda”, os “Kiezos”, o Dionísio
Rocha, o Pedrito… (https://www.europeana.eu/pt/item/2022031/11002_fms_dc_86049; https://jornalf8.net/2019/o-hino-o-mpla-e-a-pide; http://www.embaixadadeangola.org/embaixador_adr.htm/; http://jornaldeangola.sapo.ao/cultura/criadas_condicoes_tecnicas_para_reabilitar_os_imoveis; http://jornaldeangola.sapo.ao/cultura/musico_dionisio_rocha_negoleiro_emblematico).
O campo do desporto foi também
atingido pela manobra “inteligente” da contrainsurgência
colonial-fascista e enquanto o Clube Atlético de Luanda se tornou uma
referência para os combatentes da luta clandestina, particularmente para os
jovens, até torneios de futebol, como o Torneio Cuca, se fizeram sentir. (http://analisesocial.ics.ul.pt/documentos/n225a08.pdf; http://jornaldosdesportos.sapo.ao/19/0/a_saudade_do_clube_atletico_de_loanda_(parte_ii); http://jornaldeangola.sapo.ao/desporto/o-capitao-que-ergueu-as-tres-primeiras-tacas-do-girabola; http://joseagoncalves.blogspot.com/2013/11/torneio-cuca.html).
Hoje é importante lembrar isso em
função do melhor aprofundamento das assimilações correntes e das manobras de
propaganda indexadas à ruptura de 27 de Maio do 1977 levadas a cabo a partir de
Portugal, uma ruptura que teve imediatamente a seguir à Proclamação da Independência,
algumas implicações directas internas nas FAPLA.
A “zona
cinzenta” tornou-se uma zona híbrida e os que tiveram que enfrentar
resolutamente, em clandestinidade, essa situação de artificial síntese, tiveram
que esmerar comportamentos, atitudes, regras e táticas de clandestinidade, a
fim de procurar a todo o transe salvaguardar seu empenho, sua integridade a sua
fidelidade ao líder.
Para a PIDE/DGS
a “caça” passava para dentro dessa “zona cinzenta” de
ambiente humano eminentemente sociocultural, tendo como alvos os que haviam
conseguido, apesar de tantas pressões hostis, tornado irredutíveis as suas
opções e práticas, por que faziam parte da “renúncia impossível”.
Martinho Júnior -- Luanda, 9 d Agosto de 2020
Imagens:
01- “A Província de Angola” com
uma das primeiras notícias do 25 de Abril de 1974;
02- Acordo de cessar fogo entre o
MPLA e o governo português nascido da “revolução dos cravos”, na chanas do
Lunhameji, leste de Angola, a 21 de Outubro de 1974;
03- Lunhameji – Lucusse – Da
direita para a esquerda - de pé = Iko Carreira » Major Pezarat Correia »
Ludy Kissassunda » Hermínio Escórcio » António Augusto de Almeida » Joaquim
Kapango » Comandante Leonel Cardoso » Agostinho Neto » Brigadeiro Ferreira de
Macedo » RuY Filomeno de Sá “Dibala” » Major Emílio da Silva; da esquerda para
a direita - à frente = Pedro Maria Tonha, Pedalé, Magalhães Paiva, NVunda,
Jacob João Caetano, Monstro Imortal, Zacarias Pinto, Bolingó, Aristides Van
Dúnem e Carlos Rocha, Dilolwa; na fot há 9 Comandantes das FAPLA, que assinaram
a Proclamação de 1 de Agosto de 1974;
04- Mapa do funil da batalha de
Quifangondo, que não faz referência à asa leste do dispositivo das FAPLA, nos
Dembos que impedia a progressão da Operação Iafeature nos terrenos que o Coronel
Santos e Castro, fundador do ELP, melhor conhecia;
05- Monumento à batalha de
Quifangondo da autoria do escultor Rui de Matos, combatente da luta armada de
libertação nacional e oficial general das FAPLA, já falecido; a figura
principal, com a bandeira é a do Comandante NDozi, signatário da Proclamação
das FAPLA a 1 de Agosto de 1974 e também já falecido; a batalha de Quifangondo
foi uma das três batalhas decisivas que possibilitou a Proclamação da
Independência que originou a República Popular de Angola, a 11 de Novembro de
1975, tornando possível o exercício da soberania em todo o espaço nacional,
contra a vocação neocolonial do regime de Mobutu, contra a sujeição aos
interesses do império (Henry Kissinger), na altura, por parte do regime de
Kenneth Kaunda e contra o “apartheid” e sua linha
de “bantustanização” da África Austral.
Anteriores:
- Meteóricas FAPLA 1 – https://paginaglobal.blogspot.com/2020/07/angola-meteoricas-fapla-1-em-saudacao.html:
- Meteóricas FAPLA 2 – https://paginaglobal.blogspot.com/2020/08/meteoricas-fapla-2.html.
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