Organizações internacionais são
acusadas de interferência nos assuntos internos da Guiné-Bissau. Analistas
admitem influência exagerada, mas destacam "cansaço" da comunidade
internacional com a crise política do país.
Mesmo com a mediação da
comunidade internacional, a Guiné-Bissau tem vivido longa e permanente
instabilidade política e governativa. Em fevereiro deste ano, o país mergulhou
numa nova crise depois das eleições presidenciais e com
a tomada de posse simbólica de Umaro Sissoco Embaló.
Em meio a um contencioso
eleitoral, o então candidato do Movimento para a Alternância Democrática (Madem
G-15) foi dado como vencedor da segunda volta do pleito pela Comissão Nacional
de Eleições (CNE).
A Comunidade Económica dos
Estados da África Ocidental (CEDEAO) - que tem mediado esta crise política
- é acusada de imparcialidade. O
Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) afirma que
alguns dos chefes de Estado da CEDEAO "tentam impor as suas agendas na
Guiné-Bissau contra a vontade do povo guineense".
O analista político Rui Landim
também considera que há "interferências externas" na Guiné-Bissau,
que resultam do "fracasso" da comunidade internacional na resolução
da crise política.
Quando há fracasso, entra a
interferência. Também há aproveitamento para alguém poder tomar conta da coisa.
Quando há fracasso [da comunidade internacional] de quem deve
organizar e [faz] entrar essa interferência com outras intenções, onde se
procura encontrar outros interesses obscuros e inconfessos", avalia Landim.
Agradar gregos e troianos
O professor de Relações
Internacionais Fernando Mandinga da Fonseca lembra que o Governo guineense foi
reconhecido pela CEDEAO embora continue a ser contestado pelos opositores que,
por sua vez, chamam a atenção para o facto de o contencioso eleitoral ainda não
ter sido resolvido.
Para Fonseca, a aceitação de
Sissoco Embaló como Presidente é um exemplo de interferência internacional nos
assuntos domésticos da Guiné-Bissau.
"Um dos candidatos decidiu
autoproclamar-se Presidente da República. Houve missões diplomáticas de alguns
países da nossa sub-região, que a priori legitimaram essa posição. Do ponto de
vista diplomático, isso é um equívoco. Porque há instituições democráticas que
têm a responsabilidade de decidir quem é ou não Presidente da República",
classifica.
Landim reconhece, por outro lado,
um certo cansaço da comunidade internacional na resolução das cíclicas crises
políticas guineenses.
"Aquilo que se vê é mais um
sinal de cansaço da comunidade internacional, que ao invés de enfrentar a
situação com realismo, trata de encontrar as soluções que sejam adequadas.
Optou-se sempre pelas soluções para agradar a gregos e a troianos, e estamos
nesta situação que estamos".
Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche
Welle
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