Esta é a reação do Sindicato
Nacional dos Jornalistas moçambicanos ao incêndio que deflagrou, no domingo, os
escritórios do semanário Canal de Moçambique, em Maputo. Sociedade
civil e a oposição também se manifestaram.
O editor do jornal Canal de
Moçambique não tem duvidas: o incêndio
que destruiu os escritórios do Canal de Moçambique, na noite deste domingo
(23.08), em Maputo, é mão criminosa.
Em entrevista à DW África, esta
segunda-feira, Matias Guente relatou que os autores deste incidente arrombaram
as portas e, com recurso a uma bomba artesanal, incendiaram a redação e outros
compartimentos.
"Após terem arrombado
a porta, introduziram lá bombas artesanais e recipientes de combustíveis. Ou
seja, regaram todo o escritório com combustível e quando entras lá dentro tudo
exala a combustível", contou.
Ameaça aos jornalistas
Para o editor-executivo do Canal
de Moçambique, pelas circunstâncias em que ocorreu o incêndio,
trata-se de uma ameaça ao trabalho dos jornalistas. "Para qualquer leigo,
este é um atentado terrorista contra a liberdade de expressão e de imprensa,
porque nunca vimos na história deste país que tenham queimado os jornais".
Matias Guente considerou ainda
que o incêndio corresponde a uma "sequência lógica": "uns
são raptados,
outros são partidos pernas e outros são intimidados. Isto está dentro de uma
cadeia que agora provavelmente tenham elevado o nível de ameaças".
Todo o material de trabalho do
jornal ficou reduzido a cinzas mas a publicação vai sair nesta quarta-feira,
garantiu Matias Guente. No entanto, agora a preocupação é com a sua segurança.
"Estamos preocupados, mas
não vergamos a estes ataques cobardes e continuamos a fazer o nosso trabalho
normal. Há preocupação e muita pressão psicológica, porque entendemos o meio em
que estamos a funcionar e não sabemos porque ontem foi atacado o editor, hoje
incendiaram os escritórios e não sabemos o próximo passo".
Sindicato exige
investigação
O Sindicato Nacional dos
Jornalistas de Moçambique (SNJ) reagiu a este incidente, tendo o
secretário-geral, Eduardo Constantino, exigido uma investigação para
identificar os autores deste crime.
"Pedimos que os autores
sejam identificados, julgados, condenados a indemnizar o Canal de Moçambique
pelos prejuízos causados", apelou Constantino.
O secretário-geral do SNJ
mostrou-se agastado com os cenários de intimidação de jornalistas em
Moçambique, não só sobre este último incidente, mas também sobre o que esta a
acontecer com os que estão a trabalhar em Cabo Delgado.
"Sobre os atentados à
liberdade de expressão e de imprensa em Moçambique neste ano, este não é o
primeiro. E já houve tantos outros e de fato temos problemas de de impedimento
de jornalistas de realizarem os seus trabalhos, isso é um atentado",
denunciou o representante sindical dos jornalistas.
O jornal Canal de Moçambique vai
temporariamente funcionar embaixo de uma tenda improvisada no pátio do prédio
onde estão localizados.
Organizações condenam ataque ao
jornal
Entretanto, o Instituto para a
Comunicação Social da África Austral - MISA Moçambique condenou esta
segunda-feira (24.08) o incêndio que destruiu a redação do semanário
moçambicano, classificando-o como "bárbaro e cobarde".
"O MISA Moçambique lamenta
profundamente que atos atentatórios contra a liberdade de expressão e contra a
liberdade de imprensa aconteçam no país com regularidade, sem que os seus
autores e promotores sejam responsabilizados", frisou o instituto através
de um comunicado.
Outras organizações da sociedade
civil, individualidades e políticos solidarizam-se com a publicação pelo
incidente, através de comunicados ou pela presença física. A embaixada
norte-americana em Maputo disse que "os danos aparentemente intencionais e
extensivos nos escritórios de uma respeitada instituição de meios de
comunicação social têm impacto no estado da liberdade de expressão e da
liberdade de imprensa em Moçambique".
Presidente defende investigação
séria
O Presidente Filipe Nyusi também
condenou o ataque e avançou que as autoridades foram instruídas para investigar
e trazer os autores à "barra da justiça".
"Condeno veementemente os
ataques ao Canal de Moçambique. A Liberdade de Imprensa é um pilar da
democracia e conquista dos moçambicanos que deve ser protegida", disse o
chefe de Estado moçambicano, numa breve nota divulgada esta segunda-feira na
sua página do Facebook.
Por seu turno, o presidente
da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição,
considerou que o incêndio ao jornal é um "grave ferimento à democracia e
ao Estado de Direito". Numa mensagem partilhada na sua página no Facebook,
Ossufo Momade disse que "os autores desse crime não devem ficar impunes
como sempre".
#Artigo atualizado às 18h06 do
Tempo Universal Coordenado
Romeu da Silva (Maputo), Agência
Lusa | Deutsche Welle
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