Juntamente com o suspeito detido
em Pemba, foram apreendidas armas e uniformes militares. SERNIC acredita que
insurgentes "fazem adiantar o equipamento" para depois atacar.
O Serviço Nacional de
Investigação Criminal (SERNIC) na província moçambicana de Cabo
Delgado apresentou à imprensa, na quinta-feia (27.08), um suposto
integrante do grupo de insurgentes que ataca aquela região do país desde
2017.
A neutralização do supeito pelo
SERNIC, ocorreu no passado dia 12 de agosto, numa paragem de autocarros em
Pemba.
Na posse do homem estavam duas
pastas contendo cinco armas de fogo, 10 carregadores (sete dos quais contendo
munições e três vazios), seis pares de fardamento militar, quatro camisolas
militares e um par de botas, informou o SERNIC.
A encomenda contendo o material
bélico saía do distrito de Mueda - a mais 300 quilómetros de
Pemba e a cerca de 100
quilómetros de Mocímboa da Praia - e deveria ser
entregue a uma cidadã em Pemba, relatou o indivíduo.
O diretor do Serviço Nacional de
Investigação Criminal, em
Cabo Delgado , Ntego Crisanto Ntego, não tem dúvidas: trata-se
de uma operação que visava movimentar armamento para Pemba pelo grupo armado,
que tem feito ataques naquela região de Moçambique.
"A história nos diz que os
insurgentes, quando estão para entrar num território, primeiro fazem adiantar o
equipamento e depois é que eles vêm [vestidos] à civil. Portanto, nós
entendemos que isso fosse o 'modus operandi' dos insurgentes,"
descreveu.
Suspeito coloca a culpa em
um primo militar
Detido em Pemba, o indivíduo
justifica que foi apenas cumprir o pedido de um primo seu, que é militar e que
terá solicitado para recuperar uma pasta esquecida por este num autocarro. A
pasta deveria ser, depois, entregue à mãe do referido militar, residente no
bairro do Alto Gingone, em
Pemba. O indiciado diz que não conhecia o conteúdo da
encomenda.
"Sendo meu primo, eu
considerei isso [laços de parentesco]. Saí às 16 horas de casa para a estação,
onde tive de esperar até às 18 horas - até a chegada do referido autocarro que
transportava a pasta. Quando o Nagi [autocarro] chegou, dei sinal ao meu primo
para perguntar como iríamos receber uma encomenda sem ter o número da pessoa
que a transportava? Então, o meu primo fornece-me o número do cobrador e o acento
onde tinham sentado antes de esquecer a pasta," relatou.
O homem diz ainda que, logo
depois de receber as duas pastas do cobrador do autocarro, foi surpreendido
pelos agentes do Serviço Nacional de Investigação Criminal que o detiveram em
seguida.
"Levaram-me ao posto deles
[do SERNIC] e começaram a abrir. Depois de terem aberto as pastas e visto tudo
o que havia lá dentro, perguntaram-me: 'Quem te mandou para ir receber a
pasta?' ao que respondi que a pessoa que me mandou abrir a pasta é um militar
de nome Amar Mateus. Dali, levaram-me e deixaram-me na 3ª
Esquadra," acrescentou.
O suspeito foi apresentado ao
juiz de instrução criminal, que legalizou e manteve a sua detenção.
Entrada de armas em Pemba
Ntego Crisanto receia que este
não seja o primeiro caso de tentativa de entrada de armamento na capital de
Cabo Delgado pelas mãos de suspeitos de pertencerem ao grupo de insurgentes.
"Estamos já com receio de
que possam ter entrado outras armas e também pode não ter entrado outras armas.
O que se coloca é que, por se tratar de arma e ele sendo arguido, pode mentir,
dizer que quem me deu a arma é tal fulano enquanto não é verdade. O circuito
que se usou até chegar em Pemba é muito estranho. Vale a pena se fosse um
militar a receber as armas, mas estamos a falar de um
civil," ponderou.
A instituição trabalha agora para
apurar a proveniência real, o destino e a causa da movimentação do armamento.
Delfim Anacleto (Pemba) |
Deutsche Welle
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