Rafael Barbosa* |
Jornal de Notícias | opinião
Em Braga, a Irmandade cobrava 40
mil euros aos idosos e suas famílias por um lugar no lar. Em Famalicão, 11
idosos viviam em "perigo iminente". Na Maia, 50 utentes viviam sem
aquecimento nem higiene.
A falta de higiene repetia-se em
Salvaterra de Magos, somando-se as denúncias de maus-tratos. De novo os
maus-tratos em Belmonte e Évora, com gente mal alimentada, em espaços
insalubres, sem eletricidade e com um idoso a dormir num sofá. Em Tomar, dez
viviam numa garagem. Em Portimão, 22 sobreviviam em deploráveis condições: no
dia em que alguém decidiu fazer alguma coisa só havia sopa e dois hambúrgueres
para os alimentar. Em Valpaços, divulgaram-se vídeos desumanos e sete
funcionários foram suspensos por suspeita de maus-tratos. Em Gaia, a
proprietária de um lar foi presa e acusada de maus-tratos e desobediência
(fechavam-lhe um lar, abria outro, com a impunidade habitual). Um dos idosos
estava desnutrido e desidratado. Ouvem-se responsáveis políticos a dizer por
estes dias que não se pode desvalorizar o caso de Reguengos de Monsaraz. Outros
pedem a presença da ministra no Parlamento e a divulgação de todos os
relatórios já produzidos. Não é rigorosa a afirmação do primeiro-ministro de
que estamos apenas perante "polémicas artificiais". Mas apetece perguntar
por onde têm andado os diferentes líderes políticos e governantes. Certamente
que não foram a nenhum dos lares (uns ilegais, outros legais, uns privados,
outros geridos por IPSS) que se enumera acima e que foram notícia, em escassos
meses, aqui no JN. Todos sabem que a maioria dos lares são depósitos de idosos
à espera da morte. E que muitos são apenas um negócio lucrativo (também para as
IPSS). E que há milhares de lares ilegais. Mas não há comissões de inquérito
nem pedidos de demissão de ministros a propósito de nada disso. A tática é
fazer aos idosos no fim da linha o mesmo que ao lixo: varre-se para debaixo do
tapete. E, de vez em quando, para limpar a consciência, uns rasgam as vestes,
outros anunciam milhões.
*Chefe de Redação
Leia opinião em Jornal de Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário