Luciano Rocha | Jornal de Angola | opinião
O número de crianças a pedinchar,
na via pública, em Luanda, aumenta de forma assustadora sem que ninguém ponha
cobro à situação que contraria todas as intenções anunciadas de defesa dos
direitos que lhes assistem.
O assunto, por mais do que uma
vez aflorado neste espaço e noutros deste jornal - na edição de sábado voltou a
sê-lo, no “baixo”, da última página - deve preocupar o cidadão anónimo, mas,
principalmente, quem, pelos cargos que ocupa, designadamente governativos e
noutras instituições - políticas ou de outra qualquer índole -, tem obrigações
de as defender, mas, pelos vistos, prima pela apatia. As crianças
que, de manhã à noite, pedincham pelas ruas de Luanda, por iniciativa própria
ou a mando de alguém, em vez de estarem na escola - com merendas apropriadas
sem terem de implorar para comer -, a aprender a escrever e ler, tal como em
bibliotecas, a aperfeiçoarem formas de comunicar, mas, também, conhecerem os
nossos heróis e mártires, dos quais nunca ouviram falar e correm o risco de
jamais virem a saber quem foram. Igualmente, verem teatro, cinema,
exposições de pintura e escultura, brincarem em espaços próprios, ouvirem,
nem que seja em quintais de bairro, narrativas feitas na primeira pessoa por
mais velhos, também eles, tantas vezes desaproveitados, tidos como algo sem
préstimos, à espera da morte; em quadras desportivas para entenderem, quando
ouvirem, no meio do turbilhão de multidões incaracterísticas pelas quais se
movem, o que significa a máxima: “mente sã em corpo são”. As
crianças que, em Luanda se arrastam pela via pública, sujeitas a todos os
perigos e vícios que as espreita, não podem continuar a ser ignoradas, têm
direitos, como higiene pessoal, arma insubstituível no combate ao coronavírus
que continua a fazer vítimas entre nós.Com crianças a passar o dia na rua a
pedinchar, tanto como o presente, estamos a hipotecar, no mínimo a adiar, o
futuro da Angola verdadeiramente independente, na autêntica acepção da palavra.
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