terça-feira, 8 de setembro de 2020

Angola | Pedinchões de rua


Luciano Rocha | Jornal de Angola | opinião

O número de crianças a pedinchar, na via pública, em Luanda, aumenta de forma assustadora sem que ninguém ponha cobro à situação que contraria todas as intenções anunciadas de defesa dos direitos que lhes assistem.

O assunto, por mais do que uma vez aflorado neste espaço e noutros deste jornal - na edição de sábado voltou a sê-lo, no “baixo”, da última página - deve preocupar o cidadão anónimo, mas, principalmente, quem, pelos cargos que ocupa, designadamente governativos e noutras instituições - políticas ou de outra qualquer índole -, tem obrigações de as defender, mas, pelos vistos, prima pela apatia.  As crianças que, de manhã à noite, pedincham pelas ruas de Luanda, por iniciativa própria ou a mando de alguém, em vez de estarem na escola - com merendas apropriadas sem terem de implorar para comer -, a aprender a escrever e ler, tal como em bibliotecas, a aperfeiçoarem formas de comunicar, mas, também, conhecerem os nossos heróis e mártires, dos quais nunca ouviram falar e correm o risco de jamais virem a saber quem foram. Igualmente, verem teatro, cinema, exposições de pintura e escultura, brincarem em espaços próprios, ouvirem, nem que seja em quintais de bairro, narrativas feitas na primeira pessoa por mais velhos, também eles, tantas vezes desaproveitados, tidos como algo sem préstimos, à espera da morte; em quadras desportivas para entenderem, quando ouvirem, no meio do turbilhão de multidões incaracterísticas pelas quais se movem, o que significa a máxima: “mente sã em corpo são”.  As crianças que, em Luanda se arrastam pela via pública, sujeitas a todos os perigos e vícios que as espreita, não podem continuar a ser ignoradas, têm direitos, como higiene pessoal, arma insubstituível no combate ao coronavírus que continua a fazer vítimas entre nós.Com crianças a passar o dia na rua a pedinchar, tanto como o presente, estamos a hipotecar, no mínimo a adiar, o futuro da Angola verdadeiramente independente, na autêntica acepção da palavra.

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