domingo, 27 de setembro de 2020

Cabo Delgado: Detidos supostos informantes e recrutadores de insurgentes

MOÇAMBIQUE

Missão dos dois homens, de acordo com a polícia, era controlar a movimentação das Forças de Defesa e Segurança e transmitir a informação aos terroristas. Para as autoridades, atuavam também no recrutamento de jovens.

Assane C., de 38 anos de idade, e Manel D., de 42, encontram-se detidos - acusados de pertencer ao grupo de terroristas que cria instabilidade em alguns distritos da província de Cabo Delgado, em Moçambique. 

Manel D., natural do distrito de Memba em Nampula e residente em Montepuez, diz que o seu cunhado solicitava tais informações através de chamadas telefônicas. Informações essas que garante ter recusado a fornecer, mesmo depois de várias insistências.

"Recebi a segunda chamada do aluno do mesmo [cunhado], perguntando-me qual era a movimentação na vila de Montepuez. Respondi que não trabalhava para o Estado e que não seria capaz de dizer qual era o plano do Estado: 'Isso aí você deve perguntar à pessoa que está integrada lá no Estado," relata.

Recrutamento de jovens

Manuel diz também que o referido indivíduo terá lhe questionado sobre a existência de jovens que estariam interessados em aderir ao movimento dos terroristas que ataca o norte de Cabo Delgado.

"Perguntou-me se conhecia jovens que querem se juntar à Al-Shabaab. Eu disse que não conhecia ninguém. Eu fui detido por me comunicar com bandidos," argumenta.

Assane C., comerciante que exercia as suas funções entre a cidade de Pemba e a vila de Mocímboa da Praia, estaria ligado aos insurgentes através de um cidadão tanzaniano, que o propôs integrar as fileiras com promessas de riqueza. Entretanto, também afirma ter recusado tais propostas. 

"Ele perguntou-me: 'porque está a sofrer a ir às ilhas [fazer comércio]? Será que você não quer dinheiro? Se você quer dinheiro, deve entrar neste grupo," diz o suspeito.

Movimentação das FDS

Assane C. reconhece ter partilhado informações sobre a movimentação dos militares ao cidadão tanzaniano, alegado membro do grupo terrorista.

"Ligou e perguntou-me se em Metuge havia militares, ao que respondi que sim, estavam lá soldados. Outro dia, ligou-me para perguntar-me se teria visto helicópteros a sobrevoar. Eu disse: 'sim, vi dois helicópteros a passar," admite.

A polícia não tem dúvidas sobre o envolvendo dos dois indivíduos e diz que a neutralização dos supostos colaboradores de terroristas resultou de um trabalho operativo que contou com a colaboração da população.

"Um é detido na cidade de Pemba e o outro em Montepuez. Nesses pontos, cada um tinha a tarefa de dar informações em relação ao posicionamento e à movimentação das nossas Forças de Defesa e Segurança - para alimentar aos terroristas com vista a levar a cabo as suas incursões - bem como no processo de recrutamento de mais jovens para engrossar as fileiras dos terroristas," afirma o porta-vos da Polícia da Repúbica de Moçambique em Cabo Delgado, Ernesto Mudungue.

Outros distritos em risco?

A detenção de informantes em Pemba e Montepuez seria sinal de que os dois distritos estariam na mira dos insurgentes? Foi pergunta colocada às autoridades policiais. 

"Não descartamos a possibilidade que eles têm feito de tudo para buscar informações em todos os pontos, com vista a desestabilizar a nossa província," avalia Mudungue.

"O que nós temos feito é não minimizar nenhum distrito. Procuramos fazer de tudo, no sentido de garantirmos a segurança em toda a extensão da nossa província," acrescenta.

Instado a comentar sobre a situação atual de Mocímboa da Praia, Ernesto Mudungue diz que:  "Neste momento, temos lá a movimentação das nossas forças com vista a voltarmos àquilo que é a normalidade para as nossas populações," finaliza.

Delfim Anacleto | Deutsche Welle

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