terça-feira, 10 de novembro de 2020

HABEMUS VACCINUM!

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Habemus Vaccinum!

Cristina Peres | Expresso

90%, retenha esta percentagem. “Um grande dia para a ciência e para a humanidade” foi como a Pfizer e a BioNTech o descreveram ao divulgarem os encorajantes ensaios preliminares da primeira vacina eficaz contra a covid-19 que promete 90% de proteção contra a doença. No momento em que o número mundial de casos de covid-19 ultrapassa os 50 milhões e que mais de 1,25 milhões de pessoas morreram da covid-19 o anúncio desta vacina, que foi testada em 43,500 pessoas em seis países diferentes sem questões de segurança, é tudo o que a humanidade quer ouvir. As bolsas dispararam em alta ficando aquém de um recorde por muito pouco.

Não há registo histórico de outra vacina que tenha passado de projeto a confirmada como altamente eficaz em tão curto período. Apesar de todo o caminho que ainda falta percorrer, os cientistas estão confiantes que o início de solução para a crise global sanitária que vivemos já estará ativo na próxima primavera. A Pfizer e a BioNTech pretendem candidatar-se a uma aprovação de emergência da vacina para que possa ser usada já no final deste mês de novembro.

“É fantástico”, diz o virologista Pedro Simas em entrevista ao Expresso. Se a eficácia se confirmar, a DGS garante que a vacina da Pfizer “será das melhores” a usar em Portugal. “Manobra de marketing” da Pfizer (até que resultados sejam publicados) chama-lhe o diretor do Centro de Estudos de Medicina baseados na Evidência da Universidade de Lisboa.

Os estudos mostram que são necessárias duas doses de vacina tomadas com três semanas de intervalo. Os testes nos EUA, Alemanha, Brasil, Argentina, África do Sul e Turquia concluem que se alcança 90% de proteção sete dias após a segunda toma. No entanto, estes dados baseiam-se em apenas 94 voluntários, o que significa quer dizer que a eficácia exata da vacina pode alterar-se quando se tiver acesso à análise do total dos resultados.

O início das campanhas de vacinação depende da aprovação da vacina. As duas farmacêuticas dizem poder fornecer 50 milhões de doses no final deste ano e cerca de 1,3 mil milhões no final de 2021.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou ontem que a União está em vias de assinar um contrato com a Pfizer e BioNTech para 300 milhões de doses da vacina experimental.

A decisão de quem vai receber a vacina em primeiro lugar caberá aos países já que nem toda a gente a receberá de imediato. Pessoal médico e de saúde estará certamente no topo da lista em virtude da exposição à doença que têm, bem como a população mais idosa, que corre mais riscos. É uma discussão que ainda nem terá começado em toda a parte.

Além de todos os procedimentos legais que ainda faltam para que a vacina seja produzida para aplicar à população, surge a nova ameaça do perigo da transmissão da doença entre humanos e animais. Seis países - Dinamarca, Itália, Espanha, Holanda, Suécia e Estados Unidos - encontraram coronavírus em criações de vison, conforme confirmou a Organização Mundial de Saúde (OMS). Até agora há registo de 200 infeções por este meio e temem-se futuras mutações do vírus. Pelo menos uma nova variante de coronavírus já infetou 12 pessoas.

Apesar de a notícia chegar demasiado tarde para ajudar a reeleição de Donald Trump, o seu vice, Mike Pence, tentou fazer constar que o programa americano Operation Warp Speed tinha ajudado ao desenvolvimento da vacina. A Pfizer negou de imediato.

OUTRAS NOTÍCIAS

O Presidente eleito dos Estados Unidos começou os preparativos para desfazer as políticas da administração Trump. Ações executivas permitir-lhe-ão regressar à OMS e ao Acordo do Clima de Paris no primeiro dia na Casa Branca, conforme prometeu na campanha. Joe Biden deu ontem início à formação de uma grupo de trabalho dedicado ao combate ao coronavírus nos Estados Unidos, país que tem 1/5 dos casos globais.

Donald Trump despediu o secretário da Defesa, Mark Esper, substituindo-o desde já por Christopher Miller, e mandou o porta-voz da sua campanha anunciar que planeia uma série de comícios para contestar os resultados eleitorais, aos quais se seguirão os processos judiciais. Soube-se ao final da tarde de ontem que o conselheiro legal do ainda Presidente dos EUA encarregue destes mesmos processos está infetado com coronavírus. A equipa de transição de Biden poderá vir a processar as agências federais para forçá-las a reconhecer a sua legitimidade depois de Mitch McConnell, líder do Partido Republicano no Senado, ter celebrado as vitórias republicanas em apoio à recusa de Trump de aceitar a derrota.

Na Estónia com Trump. O ministro dos Interior da Estónia demitiu-se depois de declarar o Deep State responsável pela vitória de Biden nas presidenciais americanas durante um programa de rádio. Mart Helme, do partido de extrema-direita EKRE, não mediu as palavras.

Dos memes nas redes sociais já Trump não se livra.

Acordo no Nagorno-Karabakh. O PM da Arménia, Nikol Pashinyan, assinou um “penoso” acordo com os líderes do Azerbaijão e da Rússia para pôr fim ao conflito por causa da região de Nagorno-Karabakh após mais de um mês de matança. O Azerbaijão assumiu ter abatido um helicóptero russo na Arménia por engano.

A contagem dos votos poderá levar dias a concluir, porém as eleições deste domingo no Myanmar registaram uma afluência superior ao previsto. O partido Liga Nacional para a Democracia, liderado por Aung San Suu Kyi, espera manter a maioria de dois terços.

Abiy Ahmed, o primeiro-ministro da Etiópia, substituiu o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, o chefe da Informação e o chefe do exército durante uma ofensiva militar contra a Frente de Libertação Popular do Tigrayan, o partido que lidera aquela província do norte da Etiópia. A ONU avisou que o conflito poderá obrigar a deslocar nove milhões de pessoas.

Conselho Constitucional da Costa do Marfim validou oficialmente a vitória do Presidente Alessane Ouattara nas eleições de outubro. Segue-se um terceiro mandato consecutivo.

“Financiador” do genocídio de 1994 no Ruanda enfrenta o Tribunal de Haia. Félicien Kabuga, em tempos o homem mais rico do país, é acusado de ter ajudado a criar uma milícia hutu e de incitar à morte através da rádio.

As mortes por coronavírus em Portugal ultrapassaram ontem pela primeira vez as seis dezenas. Veja a evolução em gráficos e mapas. E aqui como evolui a doença no resto do mundo.

O vírus aterrou nas manchetes nacionais: “Medicina legal faz autópsias virtuais a corpos infetados cujas mortes são suspeitas”, DN; “Covid-19: país ema recolher obrigatório após duas semanas em que morreram, em média, 43 pessoas por dia”, Público; “Legionela mata cinco pessoas na Póvoa, Vila do Conde e Matosinhos”, JN; “Forças Armadas em estado de prontidão: segundo despacho do ministério da Defesa ‘os ramos da FA contribuirão com recursos humanos e materiais que se revelem necessários para apoiar as entidades competentes’ no combate à pandemia”, Destak; “Erro informático ‘retira’ milhares de euros a restaurantes”, i. António Costa anunciou apoios específicos para os restaurantes que registarem perdas nos próximos fins de semana.

Confira aqui 16 perguntas e repostas sobre o estado de emergência.

FRASES

“O SNS não falhou em nada”, António Costa, primeiro-ministro em entrevista à TVI garantindo estar atualmente a “metade da capacidade das camas alocadas à covid”

“Não há nenhum acordo nacional com o Chega”, Rui Rio, líder do PSD

“Ele tem de declarar que perdeu. Mas ele detesta perder, disso tenho a certeza… mas se perde, perde. Ele tem imenso dinheiro, lugares para onde ir morar e gozar a vida”, Ivana Trump, primeira mulher de Donald e mãe dos três filhos mais velhos do ainda Presidente dos EUA, em declarações à People Magazine

“Quem quer que seja eleito e na altura certa”, é quem e quando Jair Bolsonaro, o Presidente do Brasil, também conhecido por “Trump tropical”, irá congratular quando terminar a contagem eleitoral nos EUA

O QUE ANDO A LER E A OUVIR

Regresso à espionagem com uma encomenda esquecida à Book Depository, que me surpreendeu ao chegar a tempo do fim de semana. Uma mulher nascida em 1907, numa abastada família judia de esquerda berlinense, espiou toda a vida para os russos sem nunca ter sido apanhada. Chamava-se Ursula Maria Kuczynski, a segunda de seis irmãos, e desde os 16 anos, momento em que foi vergastada pela polícia numa manifestação comunista em Berlim, que sonhou servir o paraíso russo. A vida “normal” foi-se interponto e Ursula foi habilmente integrando os elementos da “normalidade”, do casamento à maternidade, no serviço à causa. Teve importância, sim, já que mudou parcialmente o curso da história ao contribuir para que os russos tivessem a bomba atómica. É “Agent Sonya” do insuperável-na-matéria Ben Macintyre (Penguin Viking). Devo ter uma inveja primária reprimida destas vidas arriscadas que promovem uma produção anormal de adrenalina e Macintyre (que foi entrevistado pelo Paulo Anunciação para a Revista E do Expresso em outubro) tem todo o mérito em vender milhões de livros traduzidos em dezenas de línguas. Ben Macintyre, que classifica James Bond como “assassino”, é o maior competidor da Netflix e de todos esses produtores e divulgadores de streaming, que apenas dependem de carregar no enter nestes tempos em que temos de ficar em casa. I r r e s i s t í v e l.

Ando a ouvir podcasts, hábito que se instala assim que se começa a praticar e recomendo o o quinto episódio (ainda morno) do África Agora, o podcast da secção de Internacional do Expresso exclusivamente dedicado a África. Neste episódio “fomos” a Luanda falar com a ativista Laura Macedo, que nos explicou que a relação com o poder e a atitude da polícia não mudou “nada” desde o governo anterior. Ora oiça lá aqui.

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