Líder da auto-proclamada Junta Militar da RENAMO, Mariano Nhongo (foto), suspendeu as hostilidades no centro de Moçambique. Mas as autoridades continuam no seu encalço, mesmo depois de iniciar conversações com enviado da ONU.
Numa conversa telefónica com a DW África a partir do seu esconderijo, o líder da Junta Militar e dissidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Mariano Nhongo, garantiu que os seus homens já silenciaram as armas no centro do país:
"Sou presidente da Junta Militar e já paralisei os meus homens para não fazerem mais nenhuma ação", começou por dizer. "Estou a apelar a todo o povo moçambicano e também ao Governo para que não pensem que com a força das armas vão fazer Moçambique ter paz", asseverou.
"Não quero mais matar moçambicanos... Não quero mais ser um moçambicano a morrer com uma arma, por isso é que estou a apelar ao Governo a terminar com a guerra e a entrarmos nas negociações para o povo moçambicano andar livre", acrescentou.
A posição de Mariano Nhongo é expressa dias depois de uma conversa com Mirko Manzoni, representante pessoal do secretário-geral da ONU em Moçambique, no domingo (20.12).
Os partidos políticos moçambicanos já se tinham manifestado sobre a abertura de Nhongo para negociar, frisando que o diálogo é a melhor solução para a paz.
Mudança de ideias
Mariano Nhongo, que até há pouco tempo se recusava a negociar com o Governo, mudou de ideias e já escolheu cinco homens da Junta Militar que se sentarão à mesa de negociações com o Executivo de Maputo.
O dissidente da RENAMO acredita que um diálogo pode efetivar-se já na próxima semana, daí a cessação da violência.
"Já organizei a minha comissão, cinco homens estão preparados, só o que falta é ouvir o Governo e a embaixada", disse ainda.
"Para mim já terminei com a guerra. Vou enviar os meus homens a partir de segunda, terça e quarta-feira... Nestes três dias, caso o Governo me dê garantias, caso a embaixada me dê o endereço onde eles vão chegar [para as negociações], estou pronto para enviar esses homens", sublinhou.
Junta Militar alvo de ameaças e perseguição
Justamente pela sua abertura ao diálogo, Mariano Nhongo diz, no entanto, não entender a razão das perseguições contra a Junta Militar, nem das ameaças e raptos dos seus simpatizantes.
"Hoje estão a ligar-me ali de Boza, em Nhamatanda, a falar-me que o avião está a rodear à procura da Junta Militar, quando eu acabei de conversar com Mirko Manzoni", lamenta.
A Junta Militar da RENAMO é acusada de protagonizar ataques armados contra civis e forças governamentais em estradas e povoações das províncias de Sofala e Manica, centro de Moçambique, incursões que já provocaram a morte de, pelo menos, 30 pessoas desde agosto de 2019.
O grupo de Nhongo exige melhores condições de reintegração, a renegociação do acordo de paz de 2019, entre o Governo e a RENAMO, e a demissão do atual líder partido, Ossufo Momade, acusando-o de ter desviado o processo negocial dos ideais do seu antecessor, Afonso Dhlakama, líder histórico que morreu em maio de 2018.
Arcénio Sebastião (Beira) | Deutsche Welle
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