O autoproclamado presidente
Sissoco Embaló demitiu o primeiro-ministro em funções e nomeou outro político
para o cargo. Militares tomaram conta da rádio e televisão públicas,
suspendendo as emissões. Portugueses aconselhados a restringirem circulação em
Bissau.
Militares guineenses retiraram
esta sexta-feira os funcionários da rádio e da televisão públicas da
Guiné-Bissau e ordenaram a suspensão das emissões, disse à Lusa um jornalista.
Esta ação dos militares acontece depois de o autoproclamado Presidente Sissoco
Embaló ter demitido Aristides Gomes do cargo de primeiro-ministro e de ter
nomeado Nuno Nabian para o substituir.
A situação na capital guineense é
calma, verificando-se apenas a presença de alguns militares junto a algumas
instituições do Estado como o Palácio do Governo, o Supremo Tribunal de Justiça
ou os os ministérios das Finanças, da Justiça e Pescas, estes três na mesma
avenida no centro de Bissau.
No parlamento não há presença de
militares. E o presidente do Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau,
Cipriano Cassamá, acabou por tomar posse como Presidente interino, numa sessão
no parlamento. A posse foi conferida pela deputada Dan Ialá, primeira
secretária da mesa do parlamento, invocando o n.º 2 do artigo 71 da
Constituição guineense, que prevê que, havendo vacatura na chefia do Estado, o
cargo é ocupado pelo presidente da Assembleia Nacional Popular, segunda figura
do Estado.
Esta cerimónia, em que estiveram
presentes 52 deputados, acontece assim depois de o autoproclamado Presidente da
Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, ter demitido Aristides Gomes do cargo de
primeiro-ministro e nomeado Nuno Nabian para o substituir, num decreto
presidencial divulgado à imprensa.
O primeiro-ministro agora
indigitado é o líder da Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da
Guiné-Bissau (APU-PDGB), que fazia parte da coligação do Governo, mas que
apoiou Sissoco Embaló na segunda volta das presidenciais.
Esta sexta-feira Sissoco Embaló
publicou na sua conta de Twitter o decreto de nomeação de Nuno Nabian.
Nabian é também primeiro
vice-presidente da Assembleia Nacional Popular e foi nessa qualidade que
indigitou simbolicamente Sissoco Embaló como Presidente na quinta-feira, numa
cerimónia realizada num hotel da capital guineense, qualificada como
"golpe de Estado" pelo Governo guineense.
Embaló demitiu Aristides Gomes do
cargo de primeiro-ministro, justificou a demissão de Aristides Gomes com a sua
"atuação grave e inapropriada" por convocar o corpo diplomático
presente no país, induzindo-o a não comparecer na tomada de posse e a
"apelar à guerra e sublevação em caso da investidura do chefe de Estado,
que considera um golpe de Estado".
Nas redes sociais, Aristides
Gomes afirmou que as instituições do Estado estão a ser invadidas por
militares, num claro "ato de consumação do golpe de Estado".
"Há cerca de meia hora, as
instituições de Estado estão a ser invadidas por militares, num claro ato de
consumação do golpe de Estado iniciado ontem (quinta-feira) com a investidura,
de um candidato às eleições presidenciais", refere Aristides Gomes na sua
página oficial no Facebook.
Umaro Sissoco Embaló, candidato
às presidenciais dado como vencedor pela Comissão Nacional de Eleições da
Guiné-Bissau e que na quinta-feira tomou simbolicamente posse como Presidente
do país, demitiu hoje o primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes.
Num decreto presidencial,
divulgado à imprensa, é referido que "é exonerado o primeiro-ministro, Sr.
Aristides Gomes".
O decreto, assinado por Umaro
Sissoco Embaló, refere que a demissão de Aristides Gomes se justifica, tendo em
conta a sua "atuação grave e inapropriada" por convocar o corpo
diplomático presente no país, induzindo-o a não comparecer na tomada de posse e
a "apelar à guerra e sublevação em caso da investidura do chefe de Estado,
que considera um golpe de Estado".
O decreto refere também que a demissão
do primeiro-ministro teve em conta a "crise artificial pós-eleitoral
criada pelo partido PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e
Cabo Verde) e o seu candidato às eleições presidenciais, que põe em causa o
normal funcionamento das instituições da República, consubstanciada nas
declarações públicas de desacato e não reconhecimento da legitimidade e
autoridade" do chefe de Estado "eleito democraticamente, por sufrágio
livre, universal, secreto, considerado pelo conjunto de observadores internacionais
livre, justo e transparente e confirmado quatro vezes pela Comissão Nacional de
Eleições".
Umaro Sissoco Embaló tomou
simbolicamente posse numa cerimónia marcada pela ausência do Governo, partidos
da maioria parlamentar e principais parceiros internacionais do país.
A cerimónia terminou com a
assinatura do termo de passagem de poderes entre o Presidente cessante, José
Mário Vaz, e Umaro Sissoco Embaló.
O Governo da Guiné-Bissau
considerou o ato como um "golpe de Estado" e "uma atitude de
guerra" e acusou o Presidente cessante de se auto-destituir e as Forças
Armadas de "cumplicidade".
Portugueses aconselhados
A embaixada de Portugal em Bissau
aconselhou os portugueses que vivem na Guiné-Bissau a restringirem a
circulação, após movimentações militares depois da exoneração do
primeiro-ministro pelo autoproclamado Presidente guineense.
"Na sequência de
movimentações militares que tiveram lugar esta tarde e um eventual aumento da
tensão, com possíveis reflexos ao nível da segurança, aconselha-se, por
precaução, a comunidade portuguesa na Guiné-Bissau, particularmente em Bissau,
a restringir a circulação ao estritamente necessário até que a situação se
encontre normalizada", refere a embaixada, na rede social Facebook.
Na mensagem, a embaixada
acrescenta que "continuará a acompanhar a situação", referindo que em
caso de urgência os portugueses poderão contactar o Gabinete de Emergência
Consular através dos números 961 706 472 e 217 929 714 e dos endereços de e-mail
gec@mne.pt e bissau@mne.pt.
Costa e Marcelo receberam Embaló
Em janeiro, no dia 19, o
primeiro-ministro e o presidente da República receberam Sissico Embaló. O
candidato era na altura dado como vencedor das Presidenciais da Guiné-Bissau
mas já havia dúvidas se iria ter condições para tomar posse.
Para os seus adversários,
trata-se de encontros de carácter privado, não houve nem honras de Estado. Para
Embaló foram reuniões oficiais onde se discutiu o futuro das relações entre
Bissau e Lisboa.
Na sua conta pessoal na rede
social Twitter, o primeiro-ministro português, António Costa, escreveu que
reencontrou Umaro Sissoco Embaló, um velho conhecido, com quem almoçou, abordou
as recentes eleições presidenciais guineenses e ainda o futuro das relações
entre os dois países.
Com o presidente, a única nota
foi que Umaro Sissoco Embaló convidou então Marcelo Rebelo de Sousa para estar
presente na cerimónia de tomada de posse que dizia ir ocorrer no dia 19 de
fevereiro. Acabou por tomar posse quinta-feira, dia 27, sem a presença de
qualquer representante internacional.
Diário de Notícias | Lusa |
Imagens: EPA / António Amaral
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O ministro dos Negócios
Estrangeiros de Portugal apelou a todos os portugueses residentes na
Guiné-Bissau para restringirem "a circulação ao estritamente
necessário", depois de movimentações militares na sequência da exoneração
do primeiro-ministro guineense pelo autoproclamado Presidente da República.
Umaro Sissoco Embaló, dado como
vencedor das eleições presidenciais da Guiné-Bissau, pela Comissão Nacional de
Eleições, avisou esta quinta-feira que vai mandar prender o embaixador do país
que acatar a ordem de substituição da chefe da diplomacia, anunciada pelo
primeiro-ministro.