A Diretora-Geral de Saúde, Graça
Freitas, estima que o coronavírus poderá vir a infetar um milhão de
portugueses, no pior cenário. Destes, cerca de 200 mil, terão a doença com
gravidade.
"Estamos a fazer cenários
para uma taxa total de ataque de 10% [um milhão de portugueses] e assumindo que
vai haver uma propagação epidémica mais intensa durante, pelo menos, 12 a 14
semanas", afirmou Graça Freitas, em entrevista ao semanário Expresso,
publicada este sábado.
A diretora-geral da Saúde
explicou que os estudos realizados estimam que 80% do total de infetados pelo
novo coronavírus "vão ter doença ligeira a moderada", 20% terão
"doença mais grave" e apenas 5% uma "evolução crítica".
Neste cenário, a taxa de mortalidade "será à volta de 2,3% e 2,4%".
A responsável da Direção-Geral da
Saúde (DGS) acrescentou que "no cenário mais plausível" poderá haver
"cerca de 21 mil casos na semana mais crítica", dos quais 19 mil
poderão ter sintomas ligeiros, "como a gripe", e 1700 terão "de ser
internados, nem todos em cuidados intensivos".
Graça Freitas esclareceu que as
autoridades de saúde de Portugal construíram esta previsão tendo por base a
fórmula utilizada para a pandemia da Gripe A, em 2009.
"Estamos a trabalhar com
cenários para a taxa de ataque da doença, como fizemos com a pandemia de gripe,
em 2009. Na altura, pensávamos que podia ter uma taxa total de ataque de 10%:
um milhão de pessoas doentes ao longo de 12 semanas, mas não todas graves. Mas,
afinal, foram 7%, cerca de 700 mil pessoas no total da época gripal
2009/10", explicitou, adiantando que "uma epidemia depende da taxa de
ataque, da duração e da gravidade".
Contudo, no caso do Covid-19,
ainda não se sabe tudo para "fazer cenários tão bem feitos".
Se a doença progredir haverá
"isolamento por quartos e por enfermaria", por exemplo, para
"todas as pessoas que adoeceram no mesmo dia", referiu.
A diretora-geral da Saúde afirmou
também que "as notícias falsas e as redes sociais" são "um
grande problema" associado ao surto do novo coronavírus.
"O maior medo que tenho é do
comportamento humano, de informações virais [na internet] que podem ser
contraproducentes", sustentou Graça Freitas, acrescentando que o Covid-19
difere de outros surtos por ser "uma epidemia 'online' e um vírus"
sobre o qual não se sabe tudo.
A responsável da DGS considera
ainda que, dependendo da disseminação do Covid-19 em Portugal, poderá ser
decretada a quarentena obrigatória.
A revelação de Graça Feitas é
feita num avanço da entrevista que vai ser publicada este sábado naquele
semanário, um dia depois de a DGS ter revelado uma diminuição de casos
suspeitos em Portugal.
Dos 59 casos suspeitos de Covid-19, que o país registou desde o
início do surto originário da cidade chinesa de Wuhan, 57 tiveram resultado
negativo em Portugal. Dois casos estão neste momento em análise, segundo um
comunicado da Direção-Geral da Saúde (DGS), que situava, sexta-feira, o risco
para a saúde pública em Portugal como "moderado a elevado".
Até sexta-feira não havia
qualquer caso positivo confirmado de Covid-19 em Portugal. No entanto, dois
cidadãos portugueses, que fazem parte da tripulação do navio de cruzeiro
"Diamond Princess", estão internados no Japão por causas "relacionadas
com o coronavírus", segundo revelou o Ministério dos Negócios Estrangeiros
de Portugal.
Um dos pacientes não quis ser
identificado. O outro é Adriano Maranhão, que após três dias em isolamento numa
cabine do navio foi transferido para um hospital, no Japão.
AC | Jornal de Notícias | Imagem:
Tiago Petinga / Lusa
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