*Escrito e publicado em português do Brasil
A
“Big Pharma” ganha nas pandemias. Imunizantes, que eram produtos marginais,
agora geram lucros e valorizações fantásticos. EUA e Inglaterra já anunciaram: não venderão
a preço de custo. E mais: as sequelas cardíacas da covid-19
Maíra Mathias e Raquel Torres* | Outras Palavras
DE
VENTO EM POPA
Não
sabemos quais vacinas vão se mostrar seguras e eficazes contra o coronavírus,
nem quando. Mas a pandemia começou a turbinar as contas dos executivos e
investidores das empresas envolvidas com a pesquisa muito cedo, bem antes que
qualquer pessoa possa pensar em tomar uma dose: bastam as boas notícias sobre
os resultados dos estudos, ainda que incipientes. Nos Estados Unidos, ser
selecionada para a Operação Warp Speed (um programa de investimentos do governo
federal para desenvolver imunizantes rapidamente) pode ser um verdadeiro
passaporte para grandes lucros. E algumas companhias – muitas vezes pequenas,
dependentes de apenas um medicamento – estão experimentando uma valorização
inédita.
Em
um grupo de 11 delas, a venda de ações já rendeu mais de US$ 1 bilhão desde março, segundo
uma matéria do New York Times comentada na revista Época. Um
exemplo é a Vaxart, que tem apenas 15 funcionários e jamais produziu uma vacina
que tenha chegado ao mercado. Desde janeiro, quando começou a trabalhar em um
imunizante contra covid-19, sua valorização foi de mais de 3.600%. No fim
de junho, ela anunciou ter sido contemplada pela Operação Warp Speed. Em dois
dias, as ações cresceram 300%. O valor do prêmio dos seus executivos subiu nada
menos do que seis vezes, e o fundo multimercado que controla a maior parte
de suas ações lucrou mais de US$ 200 milhões no ato. O mais interessante é que
o investimento do governo americano nem foi tão significativo assim – a candidata
a vacina da Vaxart foi apenas incluída em um ensaio clínico de uma agência
federal, mas não houve apoio financeiro para produzir milhões de doses, com
temos visto acontecer com empresas como Moderna e AstraZeneca. Mesmo assim, a
manchete do comunicado à imprensa da companhia (“Vacina da Vaxart selecionada
para a Operação Warp Speed do governo dos EUA”) teve grandes efeitos.
A história se repete com outras empresas. As ações da Moderna mais do que triplicaram desde que sua vacina começou a ter resultados na fase 1 (agora que os ensaios de fase 3 estão começando, subiram mais 11% em um dia). A Novavax, que divulgou resultados preliminares de sua vacina e um acordo de US$ 1,6 bilhão com o governo Trump, viu o valor de suas ações pular de US$ 24 para mais de US$ 130.