Os serviços de informações
destacam na sua análise das ameaças à segurança interna o risco de
radicalização violenta de jovens pela extrema-direita através da internet. Em 2020 a criminalidade registou
os valores mais baixos de sempre, em grande medida devido à pandemia.
um ano marcado pela pandemia e
pelo consequente confinamento, a utilização das plataformas digitais
tornaram-se palco preferencial também das organizações criminosas e dos
ativistas da extrema-direita.
Na análise que fazem no Relatório
de Segurança Interna (RASI), o Serviço de Informações de Segurança (SIS)
destaca a aproximação entre grupos de extrema-direita e "movimentos
sociais inorgânicos, designadamente os negacionistas da pandemia". As
secretas alertam para os "riscos de radicalização violenta online de
jovens portugueses, que poderão conduzir nos próximos anos ao agravamento"
desta ameaça.
Num ano em que se registou de uma subida de 60% dos crimes de discriminação religiosa e de 30%
nos crimes contra o Estado - contrariando uma tendência generalizada
da diminuição da criminalidade geral (menos 11%) e da violenta e grave (menos
13,4 %) a extrema-direita continuou a ser alvo de atenção especial das secretas
portuguesas.
"Nos extremismos políticos,
apesar de a pandemia ter obrigado ao cancelamento de muitas das atividades
tradicionais (reuniões, conferencias, concertos), o confinamento imposto
aumentou o tempo de exposição da sociedade em geral, e dos jovens em
particular, aos meios online e abriu um leque de oportunidades para que os
movimentos radicais de extrema-direita disseminassem conteúdos de propaganda e
desinformação digital, com vista a aumentar as suas bases de apoio, galvanizar
os sentimentos antissistema e a reforçar a radicalização com base xenófoba, recorrendo
ao discurso apelativo da violência e do ódio, num momento em que a sociedade
portuguesa é, também, confrontada com fenómenos de polarização ideológica",
assinalou o SIS na sua análise publicada no RASI.
Os serviços de informações
recordam que "em relação à militância de rua, há a registar o nascimento
de um novo grupo de extrema direita - Resistência Nacional - que
organizou uma ação junto ao SOS Racismo" e o caso das ameaças por email a deputadas, militantes antifascistas e
ativistas antirracistas por parte de outro grupo, a Ordem de Avis.
"A estas ações que atestara
um clima de tensão entre a extrema-direita e os seus adversários políticos,
acrescem, embora "numa dimensão inexpressiva quando comparada com outros
países europeus, os riscos de radicalização violenta online de jovens
portugueses, que poderão conduzir nos próximos anos ao agravamento da ameaça",
alertam os analistas do SIS.
Ainda sem qualquer decisão política em relação aos
familiares, principalmente as crianças, dos jihadistas portugueses (que
a secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Helena Fazenda, revelou recentemente serem 16 mulheres e 27
menores com ligações a Portugal), o SIS volta a insistir no risco do seu
retorno não controlado: "a permanência de indivíduos na região
sírio-iraquiana que mantêm vínculos a Portugal em diversas situações, continuou
a levantar preocupações quanto ao seu eventual regresso ao nosso país, pois a
verificar-se poderia contribuir para a emergência de fatores de risco, até
agora muito mitigados na realidade nacional, devido à complexidade de cada
situação individual".