DGS diz que vacinação deve ir até aos 40 anos para haver maior segurança
Grande Lisboa mantém tendência decrescente, mas alguns concelhos registam crescimentos. Variante britânica com prevalência de 73,3% em Lisboa e Vale do Tejo. Reunião que junta peritos e políticos decorreu nesta terça-feira.
No arranque da reunião entre peritos e políticos na sede do Infarmed, sobre a situação epidemiológica no país, André Peralta Santos, da Direcção-Geral da Saúde, destacou que, em relação à incidência cumulativa a 14 dias da covid-19 em Portugal por data de notificação, “houve uma manutenção da tendência de descida”, tendo-se fixado em 79 casos por 100 mil habitantes. Já sobre a variação da incidência da covid-19 por grupos etários, verificou-se, frisou, uma “diminuição generalizada, mas há uma mudança de padrão que se iniciou no início de Março e que revela que a população activa voltou a ser o grupo com maior incidência”. O especialista também defendeu que a faixa etária a vacinar deverá abranger pessoas entre os 40 e 60 anos. Na sessão, também o epidemiologista Baltazar Nunes afirmou que a maior incidência da doença tem acontecido na faixa etária entre os 20 e os 30 anos.
“Em comparação com a reunião anterior, houve uma diminuição por todo o território da incidência”, disse André Peralta Santos, sinalizando que “já são poucos os municípios” com uma incidência superior ao limite estabelecido pelo Governo de 120 casos por 100 mil habitantes. Os concelhos acima deste limite estão “dispersos por todo o território, mas são áreas sem grande densidade populacional”.
André Peralta Santos sublinhou
que, no que diz respeito à variação da incidência na última semana, entre 14 e
20 de Março, “na região da Grande Lisboa mantém-se uma tendência decrescente,
mas já com alguns municípios com variações positivas, com um crescimento
superior a
Sobre a variação da incidência da covid-19 por grupos etários, verificou-se uma “diminuição generalizada, mas há uma mudança de padrão que se iniciou no início de Março e que revela que a população activa voltou a ser o grupo com maior incidência”.
Já no grupo etário das pessoas com mais de 80 anos, a incidência é inferior à média nacional, o que André Peralta Santos classifica como um “aspecto bastante positivo”. Significa isto que “a população protegida se mantém bastante protegida e abaixo da média nacional”.
Faixa etária a vacinar terá de abranger pessoas entre os 40 e 60 anos
Segundo André Peralta Santos, as hospitalizações em unidades de cuidados intensivos (UCI) estão “abaixo do indicador de ocupação de 245 camas em todo o território”. Em enfermaria, há também uma “manutenção da descida e uma descida muito expressiva no grupo das pessoas com mais de 60 anos”.
Em UCI, verificou-se também uma “descida muito expressiva num grupo mais jovem” dos 50 aos 79 anos.
André Peralta Santos apresentou
também um gráfico que representa as hospitalizações em UCI em termos
cumulativos. “A mensagem a passar é que num cenário de grande incidência, como
tivemos em Janeiro e que depois se repercutiu nas hospitalizações até ao mês de
Fevereiro, só as hospitalizações na faixa etária dos 40 aos 60 anos são
suficientes para ultrapassar o indicador de 245 camas
Variante britânica com prevalência de 73,3% em Lisboa e Vale do Tejo
Em termos de mortalidade, “também houve uma manutenção da descida bastante pronunciada”. Estes são “indicadores muito positivos e já muito próximos do limiar de segurança do ECDC em termos de mortalidade cumulativa a 14 dias por milhão de habitantes”, explicou André Peralta Santos.
O especialista apresentou um outro gráfico que mostra a letalidade por grupo etário, nas semanas oito e nove do ano. “A letalidade, no fundo, são as mortes por covid-19 divididas pelo número de infectados por data de notificação.”
“Aquilo que observamos não é nada
de novo. Sabemos que a letalidade desta doença aumenta com a idade,
especialmente a partir dos 60 anos”, disse. Na semana de
Quanto à variante do SARS-CoV-2 identificada originalmente no Reino Unido, André Peralta Santos explicou que “houve um aumento, como seria de esperar, com uma prevalência estimada para Lisboa e Vale do Tejo de 73,3% e à volta dos 60/65% no Norte e Centro. No Algarve e Alentejo, onde existem menos dados, as estimativas têm uma maior incerteza, mas a prevalência ronda os 30% no Alentejo e 70% no Algarve”, acrescentou.
Positividade acima de 4% apenas nalguns concelhos
André Peralta Santos apresentou um mapa que replica os mapas do ECDC sobre a taxa de positividade e a taxa de testagem por 100 mil habitantes para a semana que terminou no passado domingo. “Aquilo que vemos é uma intensidade de testagem bastante considerável, dispersa por todo o território nacional, e uma positividade acima de 4% — que é o indicador de referência — só nalguns concelhos”, disse.
Quanto à testagem por idade, verifica-se uma alteração de padrão na semana que findou no domingo, com um aumento da testagem na população acima dos 18-20 anos, “fruto das actividades de rastreio”.
Ainda sobre a positividade (indicador que relaciona todos os testes realizados e o número de positivos) por idade, na semana que findou no domingo verificou-se que a positividade na maioria da população com mais de 20 anos ficou abaixo do indicador de referência (de 4%).
“A população um pouco mais jovem tem, de facto, uma positividade ligeiramente superior, mas é também uma população que tradicionalmente tem uma incidência menor, que está mais protegida, e em que a realização do teste pode ser um pouco mais complicada”, explicou.
Por último, André Peralta Santos apresentou um gráfico que mostra que “houve uma melhoria do desempenho da rapidez da notificação laboratorial ao longo dos últimos meses e até durante os meses de maior intensidade epidémica”. A tendência deste indicador já está abaixo dos 10%, “o que quer dizer que, em média, para um determinado dia, só em 10% dos resultados positivos é que a notificação é realizada com atraso”, sendo considerado que a notificação tem atraso quando esta não é realizada no dia da colheita nem no dia seguinte.
Uma das conclusões a tirar é que, “mesmo com um aumento da intensidade de testagem, houve uma manutenção da tendência decrescente da incidência, o que quer dizer que, em princípio, não temos doença desconhecida na comunidade”.
Maior aumento de incidência ocorreu na faixa etária entre 20 e 30 anos
Na apresentação que fez, Baltazar Nunes, epidemiologista do Instituto Ricardo Jorge, também apresentou os dados sobre a incidência e transmissibilidade no âmbito da pandemia e salientou que a maior incidência da doença tem ocorrido na faixa etária entre os 20 e os 30 anos. Disse, também, que os contactos na faixa etária de 70 anos ou mais têm aumentado nas últimas semanas. Isso pode dever-se à “percepção da confiança na vacinação” ou à própria deslocação aos locais de vacinação, avançou o especialista.
De acordo com Baltazar Nunes, o valor do número reprodução efectivo (Rt) é de 0,89 (de acordo com a média de cinco dias). Na última reunião no Infarmed, era 0,74, o que denota um crescimento. E de facto esse valor “tem vindo a aumentar de forma linear”. Estes dados ainda não têm em conta as primeiras medidas de desconfinamento aplicadas, mas “é natural” que a velocidade de decréscimo abrande.
Todas as regiões do continente estão a verde na matriz de risco. Todas elas estão com um Rt inferior a 1, com excepção dos Açores. Na Madeira, ainda não é possível fazer essa estimativa.
Olhando para a incidência nas diferentes faixas etárias, nota-se uma alteração: a faixa com maior incidência é agora entre os 20 e os 30 anos, quando antes era no grupo com mais de 80 anos. Houve uma “redução acentuada no grupo da população mais sénior”, afirma. É um “sinal positivo” porque a redução é maior à medida que a idade aumenta e isso pode significar um “peso da doença” menor em termos populacionais.
Ainda com foco nas diferentes faixas etárias, e observando as matrizes de contacto, que reflectem o número médio de contactos que cada indivíduo de cada grupo etário tem com indivíduos de outros grupos, percebe-se que as medidas de confinamento resultaram em menos contactos intergeracionais, reduzindo “o potencial de transmissão da infecção”.
Contudo, verificou-se um aumento no número de contactos na faixa etária com mais de 70 anos.
Decorreu nesta terça-feira mais
uma reunião sobre a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal,
que juntou políticos e peritos na sede do Infarmed,
Filipa Almeida Mendes e Inês Chaíça | Público
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