sexta-feira, 28 de maio de 2021

INGERÊNCIAS E MANIPULAÇÕES SEM FIM EM ANGOLA!

Martinho Júnior, Luanda | complementado com texto de Artur Queiroz

Agora tudo nos vai surgindo de forma convulsiva e em alguns casos até por vezes “aliciadora”, mas com um conta-quilómetros e um “timing” próprios, de forma aberta ou em circuito fechado, desde a propaganda sobre o 27 de Maio de 1977 indexada ao sopro inteligente dos do golpe de estado do 25 de Novembro de 1975 em Lisboa, até ao eco das vozes dos “queimadores de bruxas” nas fogueiras da Jamba de tão bárbara memória!

Os etno-nacionalismos e os seus mentores europeus estão a fazer tudo para cumprir a sua quota-parte diligente e velada nos “jogos africanos”, em mais uma cada vez mais indiciada tentativa de tomada de poder em Angola aproveitando as eleições gerais de 2022, enquanto a mão do “hegemon” continua, via RDC e aproveitando as antigas redes de tráfico semeadas por Mobutu e Savimbi, a instalar islâmicos por toda a imensa região dos diamantes aluviais do centro-nordeste (Kwanza, Cuango e Cassai), a maior a céu aberto do mundo, reforçando com isso o seu poderio em todos os circuitos comerciais locais (a nível de bairro, comunal, municipal e provincial).

A situação em Cafunfo, sob o rótulo do Movimento do Protectorado Português Lunda-Tchokwe é já uma emanação dessa tenebrosa articulação já antes alertada, que se está a paulatinamente a arquitectar no centro-nordeste, que surge em sintonia com o resto: desde o jogo de inteligência de potências coloniais europeias (particularmente o jogo que passa por Lisboa e Bruxelas), ao jogo dos “costas que estão a dar à costa” e ao dos “gatos” que se pretendem esconder quando todo o corpo está visível à luz do dia!

Foi para isto que serviu o 31 de Maio de 1991 em Bicesse, a outra face da moeda que pôs fim à República Popular de Angola, ao Partido do Trabalho, à convulsão intestina dentro da Segurança do Estado, às FAPLA… e é por isso que na “transversal” de algumas das instituições mais decisivas do próprio estado a atmosfera que se vai indiciando é de desagregação, por que muitos procuram dividir e dividir para alguma vez tentarem reinar, ou na aparência fazerem “terceiras bandeiras” reinar!

É próprio duma “democracia representativa e multipartidária” e do ambiente de capitalismo selvagem que se foi instalando quando penetrou depois do choque de 1992/2002, a terapia neoliberal!

Nesse aspecto há um condimento de vulto: repescam alguns, por exemplo Paulo Lukamba Gato, o saudosismo de Savimbi, por que têm saudades, tal como os do golpe do 25 de Novembro de 1975 em Portugal, do colonialismo e do “apartheid”!...

No chão dos países pobres, caem apenas as migalhas das mesas dos ricos (até com as vacinas para fazer face à pandemia isso se torna palpável) e quando os pobres se começam a dividir, a baralhar, ou a confundir entre si, é meio caminho andado para as migalhas e as instituições que as administram numa repartição impossível, acabarem em pó!

Uma vez mais devemo-nos socorrer de alguns dos escritos do jornalista-veterano Artur Queiroz que dissecou uma das vozes actualmente mais fluentes do etno-nacionalismo com acento Parlamentar que é a Unita!

É importante se aperceber disso, por que os indícios que se vão acumulando estão a conformar de onde, uma vez mais, vem a potencialidade dum golpe e os conteúdos que +pretendem passar a usar os que nunca abandonaram projectos de golpe em Angola!

Martinho Júnior, 24 de Maio de 2021

Imagens:

01- Angola: Plataforma 27 de Maio acusa Governo de "encenar homenagem" com fins de propaganda – Plataforma 27 de Maio, de sobreviventes e órfãos do alegado golpe de Estado, acusa o Governo angolano de "encenar" homenagem às vítimas com fins de propaganda, e anuncia desvinculação da Comissão de Reconciliação. – Numa carta endereçada ao presidente da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vitimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) e ao ministro da Justiça e Direitos Humanos, Francisco Queiroz, a Plataforma acusa a CIVICOP e o Governo de quererem "passar uma esponja sobre os massacres que vitimaram milhares de angolanos". Em causa está a cerimónia marcada para o próximo dia 27 de maio - em que pela primeira vez o governo angolano vai assinalar a data em que se deu uma alegada tentativa de golpe de Estado - que a Plataforma denuncia como "uma encenação". "Pretende-se, sobretudo, passar a imagem de que tudo ficará resolvido, a reconciliação será feita e o perdão concedido, não havendo responsáveis pelos crimes hediondos nem busca da Verdade Histórica", critica a Plataforma no documento a que a agênia de notícias Lusa teve acesso. – https://www.dw.com/pt-002/angola-plataforma-27-de-maio-acusa-governo-de-encenar-homenagem-com-fins-de-propaganda/a-57635094;

02- 27 de maio de 1977 visto por William Tonet – Em entrevista, Tonet fala sobre o seu livro, sem data prevista para o lançamento, onde se relata como, há 34 anos atrás, houve uma chacina em Angola, em resposta a uma tentativa de golpe de Estado contra Agostinho Neto. – https://www.dw.com/pt-002/27-de-maio-de-1977-visto-por-william-tonet/a-15112161;

03- O MPLA contra si mesmo: As "mentiras" do partido em livro - O antigo militante do MPLA e vice-presidente da Fundação 27 de Maio José Fragoso, lançou, este sábado, em Luanda, o livro "MPLA contra si mesmo. As mentiras que pareciam ser verdades" – https://www.dw.com/pt-002/o-mpla-contra-si-mesmo-as-mentiras-do-partido-em-livro/a-45410898;

(3 imagens recolhidas do “dossier 27 de Maio de 1977” da DW – 27 de maio de 1977

Dezenas de milhares de angolanos foram torturados, mandados para campos de concentração e fuzilados sem julgamento neste período negro da história angolana. No dia 27 de maio de 1977, houve manifestações em Luanda a favor de Nito Alves, na altura ministro da Administração Interna e membro do Comité Central do partido no governo MPLA. A seguir ao 27 de maio de 1977, os apoiantes de Nito Alves, o chamados "fraccionistas", são perseguidos pelo MPLA de Agostinho Neto, o primeiro presidente de Angola. – https://www.dw.com/pt-002/27-de-maio-de-1977/t-17408128;

04- LUKAMBA PAULO "GATO" – Grupo Parlamentar – UNITA – Gabinete Local – Círculo Eleitoral Nacional – Comissoes Parlamentares – 3.ª Comissão: Relações Exteriores, Cooperação Internacional e Comunidades Angolana no Estrangeiro – Habilitações Literárias Frequência Universitária no Curso de Relações InternacionaiS – Profissao Político – Cargos que Desempenha Deputado – Vice - Presidente da 3ª Comissão – Tomada de Posse: 28-09-2017 Cargos Exercidos1979: Secretário-Geral da Jura (Organização Juvenil do Partido UNITA) – 1979: Director do Gabinete do Presidente da UNITA e Membro do Comité Central do Bureau Politico e Comandante Operacional Estratégico – 1983: Representante da UNITA em França e Secretário Adjunto dos Negócios Estrangeiros – 2002: Coordenador da Comissão de Gestão da UNITA – Função: 2º Secretário – OBS: Reconduzido da III para a IV Legislatura – http://www.parlamento.ao/web/lukamba.paulo/perfil#http://www.parlamento.ao/glue/AN_Navigation.jsp?;  

05- A visão diplomática de Jonas Malheiro Savimbi (1966-2002) - Lukamba Paulo Gato – março 01, 2018 – Luanda - 1. Queria antes partilhar convosco a mais simples definição do conceito de diplomacia que encontrei: - A diplomacia e uma poderosa ferramenta dedicada a planear e executar a politica externa dos estados, sempre relacionada a questões de guerra e paz, comercio exterior, promoção cultural e tudo o que são os interesses dos estados e organizações politicas com características de Estado como foi o caso da UNITA. – Fonte: Club-k.net – https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=31172:a-visao-diplomatica-de-jonas-malheiro-savimbi-1966-2002-lukamba-paulo-gato&catid=9&Itemid=1078&lang=pt.

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O Tenente Sabino e um Gato Atrevido

Artur Queiroz, Luanda

O tenente Sabino andou na tropa portuguesa e depois aderiu à UNITA. No final dos anos 60 era o grande chefe militar da organização. O único conhecido e reconhecido em Luanda e nos grandes centros urbanos. Os madeireiros do Munhango consideravam-no um parceiro de grande valia, mesmo imprescindível, porque garantia total segurança no seu trabalho. Outra figura importante era o padre António Oliveira, que ia ao acampamento de Jonas Savimbi quando lhe apetecia.

Em Maio de 1974, o chefe do Galo Negro encenou um “cessar-fogo” com o coronel Passos Ramos, chefe dos serviços secretos na Zona Militar Leste. 

Desde então, a UNITA passou a ser o “partido dos brancos” e o seu líder, “Muata da Paz”.

Os meus familiares das Boas Águas, aprenderam à custa do luto e muita dor, que era tudo falso.

Uma trágica mentira que só terminou em Abril de 2002.

Já estavam todos mortos ou refugiados na Namíbia ocupada pela África do Sul, Rodésia de Ian Smith, Brasil e até na Alemanha.

Em 1992, entrevistei o general Petroff e já depois do trabalho, perguntei-lhe quais eram os obstáculos a um entendimento com a UNITA de Savimbi.

Ele nem hesitou: “Nunca sabemos se estão a mentir ou a falar verdade e ninguém sabe quem são os militares e os civis”.

Depois do tenente Sabino, em 1974, a UNITA inundou Angola de generais, antigos soldados das forças de defesa e segurança da África do Sul.

Uns destacaram-se pela cobardia e a traição.

Outros pelo extermínio de angolanos e a destruição de equipamentos sociais estratégicos, como pontes, barragens, aeroportos, escolas, hospitais, instalações do Estado, unidades económicas.

Minaram os trilhos de acesso às lavras.

Tornaram a vida impossível às populações, que foram sendo empurradas para Luanda, onde ainda se encontram vivendo nas condições que todos conhecemos mas que, apesar de tudo, são muito melhores do que nas suas terras de origem.

A concentração de milhões de pessoas em Luanda e a desertificação humana do interior do país são da exclusiva responsabilidade da UNITA e do regime racista de Pretória, que a organização serviu fielmente.

Dizem-me que Paulo Lukamba Gato é um “BRINDE” bom e está apostado na solução dos problemas insolúveis que o seu partido criou. Acreditei. Mas fui ver e há nele o mentiroso compulsivo que existe em todos os outros, salvo os que, cansados de tanta traição e mentira, abandonaram mesmo a seita.

O “general” estrelado pelos karkamanos publicou um texto no Club K que me deixou siderado. Porque Gato mistura aldrabice com falsificação, ao velho estilo do chefe Savimbi.

Escreveu o mentiroso retumbante: “Senão vejamos o que se passou em 1975 quando estava em causa o controlo da capital, à margem do que estava plasmado no Acordo de Alvor.

Nessa altura a FNLA de Holden Roberto era sem dúvidas o mais poderoso de entre os 3 Movimentos de Liberação acabados de chegar uns de Kinshasa, outros de Brazzaville e das matas do Leste. A estratégia para combater a FNLA foi com base na Rádio Nacional. A diabolização foi levada ao extremo. “Holden Roberto é zairense e come carne humana" .- repetia insistentemente a propaganda. "Samuel Abrigada (ministro das finanças pela FNLA no governo de transição) roubou cem mil contos”. 

Primeira aldrabice, em 1975 não existia a Rádio Nacional. Existia a Emissora Oficial de Angola, Rádio Clube de Angola, Rádio Clube Português e a Rádio Eclésia, que vendia tempo de antena a produtores independentes como eram os casos do Café da Noite (Sebastião Coelho) Equipa (Brandão Lucas) e Luanda (Zé Maria, o sonoplasta). Nunca em nenhuma destas estações ouvi alguém dizer (nem a brincar) que Holden Roberto era zairense e comia carne humana.

Quanto a Samuel Abrigada, ele era ministro da Saúde e não ministro das Finanças. Essa pasta era da parte portuguesa. No caso, faz toda a diferença. E sim, foram apresentadas provas em vários órgãos de comunicação social que ele desviou cem mil contos do seu Ministério.

Mas o pior foi quando as autoridades aduaneiras (eram os portugueses que tinham essa responsabilidade…) encontraram armas em grandes caixotes que chegaram ao aeroporto de Luanda, com o rótulo de medicamentos e equipamentos médicos para o Ministério da Saúde.

Os membros da FNLA e da UNITA abandonaram o Governo de Transição para darem lugar à invasão de Angola pelas tropas zairenses e sul-africanas.

Mas antes da debandada já Samuel Abrigada havia abandonado Luanda, com a família, indo viver na Alemanha.

Assim se furtou a explicar a “importação” de armas e o desvio de cem mil contos que naquele tempo era uma fortuna!

Imaginem que eu não tinha lido as aldrabices e falsificações do “general” Gato.

Como já existem poucos angolanos que tenham vivido esses acontecimentos (jornalistas só há dois…) os leitores seriam miseravelmente enganados pelo savimbista insanável.

Esta gente não merece o mínimo respeito. Porque uma coisa é ter opinião. Outra é mentir e falsificar.

Leiam mais esta parte do falsário e mentiroso: “Passados alguns anos, mais precisamente na década 90 do Séc passado, a UNITA cresce e desenvolve-se tornando-se no inimigo principal do poder e em consequência vimos todos como o seu leader Jonas Savimbi "foi combatido até à exaustão" 

Leram bem?

A direcção da UNITA rejeitou os resultados eleitorais e regressou à guerra, em 1992, porque em vez de desarmar e desmobilizar os seus homens, como se comprometeu em Bicesse, escondeu um numeroso exército em bases secretas no Cuando Cubango, numa operação logística organizada pelo chefe máximo dos serviços secretos do regime racista de Pretória.

O Gato mentiroso diz que na década de 90 a organização “cresce e desenvolve-se tornando-se no inimigo principal do poder”.

Os incautos são levados a pensar que na década de 90 a UNITA cresceu politicamente. Que respeitou as regras do Estado Democrático e de Direito. Mentira.

Os sicários do Galo Negro, capitaneados pelo criminoso de guerra Jonas Savimbi, nesse período mataram milhares de angolanos, partiram o país todo e ocuparam militarmente quase todas as províncias. Ao mesmo tempo os seus deputados estavam na Assembleia Nacional.

E em nome da paz e reconciliação nacional, o MPLA, que tinha maioria absoluta no Parlamento, aceitou fazer um Governo que incluiu ministros e secretários de Estado de todos os partidos que elegeram deputados. A UNITA até viu alguns dos seus dirigentes nomeados embaixadores, governadores provinciais e administradores municipais ou comunais.

Na década de 90 a ONU aplicou pesadas sanções aos dirigentes da UNITA. Contas congeladas e proibidos de circular. Foram impedidos de comercializar os diamantes (de sangue) roubados aos angolanos.

Quando Savimbi morreu, era uma organização pária que só voltou a contar porque o Governo Angolano pediu que as sanções fossem levantadas.

Hoje o Gato mentiroso diz que os salvadores do Galo Negro querem destruir o partido.

Em 1974, foi o MPLA que ajudou a UNITA a ser reconhecida como movimento de libertação pela Organização de Unidade Africana (hoje UA). Caso contrário, seria banida do processo de transição por colaboracionismo com o regime colonialista.

Em 1975, foi o MPLA que garantiu protagonismo à UNITA, na cimeira do Alvor. Depois da derrota do regime racista de Pretória foi o MPLA que aceitou reabilitar esses traidores de África e de Angola, em Bicesse.

Foi o MPLA que levou a UNITA para o Governo de Unidade e Reconciliação Nacional (GURN). E agora, como está muito assustado com Adalberto da Costa Júnior, quer deitar abaixo o artista.

Os mentirosos da UNITA estão irremediavelmente loucos.

* Jornalista

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