quarta-feira, 19 de maio de 2021

"Rei" Obiang prepara a sua sucessão: O filho, Teodorin, será o novo ditador "democrático"

Ativista da Guiné Equatorial denuncia "debate monárquico" sobre sucessão de Obiang

A advogada e ativista da Guiné Equatorial Maria Jesús Bikene denunciou, em entrevista à agência Lusa, o que considera um "debate monárquico" da sucessão de Teodoro Obiang por um dos seus filhos e reclamou eleições livres, democráticas e transparentes.

Teodoro Nguema Obiang Mbasogo, 78 anos e no poder há mais de 40, foi reeleito em 2016 para um novo mandato de sete anos, mas os recorrentes rumores sobre o seu estado de saúde alimentam o debate sobre a sua sucessão para a qual estará alegadamente a preparar o filho e atual vice-presidente, Teodoro Nguema Obiang Mangue, conhecido como `Teodorin`.

Nesta equação tem surgido igualmente o outro filho e atual ministro das Minas e Hidrocarbonetos, Gabriel Obiang, cuja discrição contrasta com a vida excêntrica do irmão - alvo de processos judiciais por alegado desvio de bens públicos - mas que recentemente viu o seu nome envolvido num alegado esquema de corrupção denunciado numa investigação do jornal Expresso com o consórcio OCCRP (Organized Crime and Corruption Reporting Project).

"Isto não é nada normal. Isto não é uma monarquia, por favor! Isto é uma república", insurgiu-se Maria Jesús Bikene, em declarações à agência Lusa.

"O que queremos é que haja eleições livres, democráticas, transparentes e que o povo possa livremente eleger o candidato que mais os convença. Isto é o que desejamos nestes país e não que o poder passe de pai para filho", reclamou

Nas últimas eleições, Teodoro Obiang, que liderou uma coligação de 10 partidos, incluindo o Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE), de que é fundador, foi eleito com 90% dos votos.

"Esta coligação de partiditos satélites são chamados de oposição, mas apoiam e fazem as mesmas políticas do PDGE", afirmou.

A Convergência para a Democracia Social (CPDS, centro-esquerda), outra das principais força opositoras não tem representação no Parlamento, nem em qualquer estrutura de poder a nível local.

O partido Cidadãos para a Inovação (CI), um dos principais da oposição e o único que na atual legislatura conquistou um assento na Câmara dos Deputados, teve as suas atividades suspensas em fevereiro de 2018.

Por isso, Maria Jesús Bikene não alimenta expectativas de mudança política no país num futuro próximo.

"Parece que cada vez mais o regime se radicaliza", disse.

Num regime, classificado pelas organizações de direitos humanos como dos mais repressivos do mundo, Maria Jesús Birkene assinala o facto de, neste momento, não existirem ativistas detidos.

"As pessoas ao se moverem menos [por causa da pandemia] repercute no facto de não haver tantas detenções, mas não creio que seja porque se respeitem mais os direitos", considerou.

Maria Jesús Bikene denunciou, por outro lado, a grande concentração de riqueza e propriedades nas mãos de Obiang e da sua família, em particular na capital Malabo.

"Ou é do filho, ou da mamã ou do próprio Obiang ou de algum sobrinho ou da irmã. A empresa da `Santíssima Trindade`[Obiang, mulher e filho] é sócia em quase todas as empresas, incluindo estrangeiras", referiu.

Segundo a advogada e ativista, é muito difícil que um negócio estrangeiro se instale e prospere no país sem que a família do Presidente esteja envolvida.

Neste contexto, assinalou a recente cimeira de negócios da Confederação Empresarial da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP), que decorreu no início do mês em Malabo, considerando que "não passou de uma distração" promovida pelo regime.

"Aqui não há segurança jurídica. Se num país te dizem que para que instales um negócio, um parente do Presidente tem de ser sócio ou te pedem alguma coisa, se és bom empresário tens de saber que há algo" que não está bem, disse.

Por isso, acredita, que se atrairá apenas aqueles que querem "ganhar dinheiro e ir embora", e nunca empresários dispostos a investir o seu capital no desenvolvimento do país.

A cimeira de negócios da Confederação de Empresários da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CE-CPLP) reuniu cerca de 250 empresários de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde na Guiné Equatorial, durante três dias, e terminou com uma mensagem de abertura das autoridades para os investimentos e o turismo proveniente dos parceiros lusófonos.

A Guiné Equatorial tornou-se, em 2014, o nono país-membro da CPLP, juntando-se a Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

RTP | Lusa

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