quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Portugal | A direita cria mais riqueza do que a esquerda?

Pedro Tadeu* | Diário de Notícias | opinião

Frase da semana: "Se o Orçamento Geral do Estado não for aprovado, a culpa será do PCP e do Bloco."

Porquê?...

O eventual chumbo do OE não será, em primeiro lugar, culpa do governo, por não ter feito um documento que pudesse ser votado por algum dos outros partidos parlamentares? À esquerda ou à direita? Porque é que se fez um Orçamento que só agrada ao primeiro-ministro?

E o PSD, a IL, o CDS e o Chega também não são responsáveis perante o povo português? Ao votarem contra o Orçamento por mero posicionamento político, sem sequer discutirem seriamente o seu conteúdo, não são igualmente responsabilizáveis por esse chumbo?

E o PAN e os Verdes, se não votarem a favor do Orçamento, estão fora desta frase feita porquê?

Frase da quinzena: "Se o Orçamento Geral do Estado não for aprovado, haverá uma crise política e convocar-se-ão eleições."

Porquê?...

O chumbo de um Orçamento Geral do Estado implica, apenas, que a classe política que lidera o país trate de elaborar outro Orçamento. Para isso não precisa necessariamente de novo governo, nem de nova legislatura, nem de convocar eleições.

Caso o Orçamento chumbe o documento em debate, o que é que impede, no atual parlamento, antes de eventuais eleições antecipadas, promover-se uma nova negociação para um novo Orçamento ou até para um novo governo? Porque é preciso, a meio da legislatura, ir logo para novas eleições antes de se esgotarem outras possibilidades - ainda por cima correndo o sério risco de a relação de forças parlamentar, no essencial, após a votação popular, ficar na mesma?

Não é isso irresponsável e prejudicial para o país? Porque é que o Presidente da República prefere saltar logo para eleições?

Frase do mês: "A esquerda só sabe distribuir a riqueza do país, não sabe aumentar essa riqueza".

Porquê?...

Conto, desde os governos de Cavaco Silva (1985), os anos em que o crescimento do PIB de Portugal foi negativo: aconteceu em quatro anos de governo PSD e em três anos de governo PS (ver nota).

Nos 11 anos de Cavaco Silva a média anual de crescimento do PIB foi de 3,9%.

Na era Guterres foi de 3,3%.

Durão teve uma média de 0,43% e Santana Lopes 0,78%.

Sócrates teve um valor médio de crescimento do PIB de 0,23% e Passos de -0,6%.

António Costa tem um valor médio de crescimento do PIB de 0,4%, mas se tirarmos 2020, o ano da pandemia, a conta subiria para 2,76%.

Como se vê, não é por o PS ou o PSD estarem no poder que os valores de "criação da riqueza" diferem: quando havia muitos fundos europeus os valores foram quase sempre razoáveis. Mesmo assim, Cavaco Silva, o principal beneficiário dessa época, teve um ano com valor negativo.

Quando entrámos no euro (2002), os valores do PIB passaram a ser muito débeis e, pelo meio, houve a crise financeira, houve a troika, houve o aumento da dívida pública e houve as falências bancárias que estamos a pagar, o que só agravou o problema do fraco crescimento da nossa economia - mas isso deve-se a políticas ditas "de direita" que dominaram estes anos todos, e não a políticas de distribuição de riqueza, à moda da esquerda.

Por acaso os melhores valores do PIB português do pós-euro dão-se durante o período da geringonça. Por exemplo: o crescimento de 3,51% do PIB em 2017 é o melhor valor português desde o ano 2000, ainda governava Guterres e ainda havia escudos na rua.

Ou seja, é quando finalmente PCP e Bloco conseguem meter a mão no Orçamento Geral do Estado, quando impõem ao PS, por exemplo, medidas de distribuição de rendimentos, que a riqueza geral do país aumenta para lá dos habituais valores muito baixos dos últimos 20 anos: antes da pandemia, a média do PIB dos governos de Costa é a melhor desde 2002 e mesmo com a pandemia é melhor do que a média de Passos Coelho e de José Sócrates.

Como é que se pode dizer, face a esta estatística, que as políticas económicas da esquerda prejudicam o crescimento económico? E Costa, não percebe que este caminho orçamental, já testado, deve mesmo ser aprofundado e que boa parte das reivindicações de PCP e Bloco para o novo Orçamento são, afinal, medidas de bom senso, apoiadas numa experiência que deu sinais positivos?

Porque é que continuamos a ser acríticos a frases feitas?

Nota - Em 1993 o valor de crescimento do PIB português foi de -0,69% (Cavaco era primeiro-ministro - PSD). Em 2003 foi de -0,93% (Durão Barroso - PSD). Em 2009 foi de -3,12% (Sócrates - PS). Em 2011 foi -1,7% (Sócrates - PS). Em 2012, -4,06% (Passos Coelho - PSD). Em 2013 foi -0,92% (Passos Coelho - PSD). Prevê-se que em 2020 ronde os -8.9% (António Costa - PS).

*Jornalista

Sem comentários:

Mais lidas da semana