Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião
O nervosismo é mau conselheiro. E num momento em que aumenta o número diário de infeções por covid-19, o que se espera do primeiro-ministro e dos epidemiologistas é serenidade e prudência, ingredientes pouco usados nos últimos dias. Mas vamos aos factos.
A taxa de vacinação em Portugal, uma das melhores do Mundo, é elogiada um pouco por toda a Europa, havendo especialistas a antecipar o fim da pandemia na primavera do próximo ano. Isto ao mesmo tempo em que a Alemanha ou a Áustria se confrontam com milhares de novos casos e anunciam restrições.
Por cá, e face ao crescente número de infeções e da pressão que já se sente no Serviço Nacional de Saúde, a comunidade científica divide-se. Uns, como o virologista Pedro Simas, defendem que vivemos um tempo normal numa estação mais propensa a vários tipos de infeções respiratórias. Tempos de endemia e não de pandemia. Outros, como o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, pintam os dias de cores negras, dramatizando a possibilidade de termos uma quadra natalícia pior do que a do ano passado.
É aqui que entra o papel do poder político, que tem escudado as decisões nos pareceres dos técnicos. Espera-se por isso mais de António Costa do que um aumento de tensão ou de dramatização, mesmo que sejam fortes os receios de que se repita o Natal do ano passado, ou que uma eventual quinta vaga caia em cima das eleições.
Mostrar-se como o homem providencial, exagerando o momento difícil que atravessamos, terá o custo do castigo eleitoral, ou da desobediência coletiva. Depois da reunião desta sexta-feira no Infarmed, os portugueses perceberão que podem ser necessárias medidas pontuais que salvaguardem a capacidade instalada do SNS. Mas não entenderão decisões que coloquem em causa o regular funcionamento da atividade económica.
Cabe, aqui, e muito ao presidente da República o papel de desdramatizar e de apelar à calma. Cabe-nos perceber que a vacinação é a melhor arma que temos, que a comunidade científica está a desenvolver vacinas mais eficazes, mas sobretudo que não podemos descurar a proteção individual, como o uso de máscaras.
*Diretor-Geral Editorial
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