sábado, 28 de agosto de 2021

A ditadura da Pfizer

José Goulão* | opinião

Comissão Europeia e os governos que se entregaram nas mãos do gigante farmacêutico Pfizer para administrar a vacina contra a Covid-19 produzida segundo métodos de manipulação genética nunca experimentados antes em animais e seres humanos aceitaram expressamente que os cidadãos sejam tratados como cobaias em relação a um produto sujeito «a riscos e incertezas significativas».

Nos termos dos acordos confidenciais estabelecidos entre os governos e os fabricantes – neste caso a Pfizer, a BioNTech e as suas filiais – os governos e as pessoas inoculadas estão completamente indefesas em todas as situações em que o processo de vacinação corra mal. Isso é válido tanto em relação à saúde dos vacinados, que não podem processar o fabricante no caso de se registarem efeitos nefastos após o tratamento, como aos preços e gestão dos prazos de entrega praticados pela Pfizer.

Os contratos não são mais que uma lista de exigências apresentadas pela Pfizer, a que a Comissão Europeia e os governos compradores anuíram sem o menor sentido de dignidade e de defesa dos cidadãos num caso de tão elevada sensibilidade como é a saúde pública. Um dos aspectos mais graves desta situação é o facto de os governos esconderem as condições dos contratos aos próprios utentes das vacinas através de acordos de confidencialidade com a duração de dez anos. São condições impostas pelos fabricantes e a que os compradores, obedecendo às regras gerais da operação, se sujeitam, além de aceitarem ser responsabilizados pelo gigante farmacêutico no caso de haver fugas de informação.

Apesar disso, felizmente há fugas. Um acordo de promessa de compra e venda, remetendo para o acordo definitivo, entre o governo da República Dominicana e a Pfizer chegou ao domínio público. E partes do acordo definitivo entre o governo da Albânia e a Pfizer passaram fugazmente pelo Twitter, onde rapidamente foram declaradas «indisponíveis», demonstrando a eficácia censória da rede social. Tudo leva a crer que os articulados conhecidos sejam extensíveis a todos os contratos, pois traduzem um padrão de comportamento da Pfizer abrangendo os temas em que considere necessário defender-se e ficar a salvo de qualquer protesto ou indemnização: efeitos das vacinas, preços e prazos de entrega e responsabilidades nulas pelo que correr mal. Além disso, na altura em que a Comissão Europeia decidiu autoritariamente assumir o controlo da vacinação na União Europeia, de modo a entregar o monopólio do processo a alguns gigantes do Big Pharma, circularam informações sobre o tipo de contratos estabelecidos que se enquadram nos termos agora conhecidos através das fugas de informação.

Portugal | Veto de Marcelo incide sobre as populações

Consequências do veto de Marcelo incidem sobretudo sobre as populações

Alterações ao Programa de Apoio à Economia Local (PAEL), aprovadas pelo PS e pelo PCP, permitiriam que autarquias deixassem de ser obrigadas a cobrar taxas nos valores máximos, nos seus concelhos

O PAEL foi instituído pelo governo PSD/CDS-PP, liderado por Pedro Passos Coelho, supostamente como um instrumento para apoiar municípios em graves dificuldades financeiras, ajudando-os a «regularizar o pagamento de dívidas dos municípios a fornecedores, vencidas há mais de 90 dias», através de empréstimos.

Em contrapartida, qualquer município que requeresse o apoio do PAEL tinha de adoptar um conjunto de medidas lesivas para as suas populações, tais como a «fixação dos preços cobrados pelo município nos sectores do saneamento, água e resíduos», a aplicação da taxa máxima de IMI ou a priorização à cobrança de taxas e aplicação de processos de execução fiscal.

A proposta apresentada pelo PS no dia 22 de Julho de 2021 não pretendia acabar com o programa em si, mas tão somente remover as sanções forçosamente aplicadas a qualquer município que se recusasse a aplicar as medidas altamente prejudiciais para as suas populações. 

Sucessão? "Acabo de ser reeleito e vou cumprir o mandato"

António Costa garantiu que a questão em torno da sua sucessão "não existe" e que o PS está focado em responder ao país neste momento difícil.

António Costa rejeitou, este sábado, a ideia de que falta pluralidade no Partido Socialista. "Se há coisa que não falta no PS desde a sua fundação é muita pluralidade. Mas também há momentos de unidade", respondeu aos jornalistas na entrada para o 23.º Congresso do partido, que se realiza este fim de semana em Portimão. 

À imagem do que fizeram outros socialistas, o primeiro-ministro focou que o PS está concentrado em responder aos portugueses neste momento "tão exigente da vida do país", marcado pela  luta contra a pandemia, pelo relançamento da economia, aproveitando "esta oportunidade extraordinária de transformação da sociedade que os novos recursos proporcionam". 

Na ótica de António Costa, "é natural que o PS esteja unido, mobilizado e cheio de energia neste combate". 

Grupo de 37 afegãos chegou hoje a Portugal

Um grupo de 37 refugiados afegãos, retirados de Cabul nos últimos dias, chegou hoje a Lisboa, disse à Lusa fonte do Ministério da Defesa Nacional.

Um primeiro grupo, de 18 pessoas, chegou ao aeroporto de Lisboa durante a madrugada em voo fretado e o segundo, de 19, aterrou em Lisboa, já hoje de manhã, num avião C295 da Força Aérea, acrescentou a mesma fonte.

Estes grupos juntam-se a um outro de 24 cidadãos afegãos, e suas famílias, que colaboraram com as forças portuguesas que nos últimos anos estiveram em missão no Afeganistão, no aeroporto da capital.

No total, Portugal recebeu, até agora, 61 refugiados afegãos.

A retirada deste grupo de afegãos segue-se à tomada do poder, em Cabul, dos talibãs, que levou milhares de pessoas a aglomerar-se no aeroporto para tentar deixar o país.

Os 24 cidadãos afegãos que trabalharam com as Forças Nacionais Destacadas portuguesas para o Afeganistão, assim como os seus familiares, chegaram na sexta-feira, por volta das 21:15, ao aeroporto de Lisboa, em resultado de uma missão de resgate feita por quatro militares portugueses que estiveram em Cabul.

No total, segundo o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, terão sido retirados 58 cidadãos afegãos, que chegam a Portugal entre hoje e domingo.

Os verdes estão à beira do poder na Grã-Bretanha

Os verdes estão à beira do poder - é mais do que uma falha política?

# Publicado em português do Brasil

Andy Beckett* | The Guardian | opinião

O partido está definido para se tornar um parceiro do SNP. No entanto, embora as preocupações com o clima estejam crescendo, ela enfrenta uma série de novos desafios

A política green na Grã-Bretanha sempre teve problemas com escala. A disparidade entre os danos que estão sendo causados ​​ao planeta e as forças mobilizadas contra ele, na política eleitoral e nas ruas, tem sido dolorosamente gritante.

O primeiro Partido Verde britânico (originalmente chamado de Partido do Povo) foi fundado no início dos anos 1970, quando a preocupação com o meio ambiente era quase tão generalizada quanto agora. Seu manifesto eleitoral inicial foi baseado em A Blueprint for Survival - um livro best-seller que advertia sobre “o colapso da sociedade e a ruptura irreversível dos sistemas de suporte de vida neste planeta” se o status quo econômico continuasse. No entanto, demorou outros 37 anos, até 2010, para a Grã-Bretanha eleger sua primeira parlamentar verde, Caroline Lucas. O representante do Brighton Pavilion ainda é o único Verde na Câmara dos Comuns.

A hostilidade de nosso sistema eleitoral aos novos partidos obviamente manteve o
Verdes de volta. Mas também tem a tendência das emergências ambientais de deixar os eleitores se sentindo oprimidos e paralisados, ou em negação. Enquanto isso, na política de protesto, mesmo a clareza e a engenhosidade de grupos como o Extinction Rebellion muitas vezes parecem ter apenas um impacto passageiro. Quando as barreiras do centro da cidade foram removidas, o trânsito usual e o consumismo voltam, quase como se nada tivesse acontecido. A política verde, de alguma forma grande e pequena demais para ganhar atenção sustentada da corrente dominante, parece presa em seu nicho.

Mas há sinais de que isso finalmente pode estar mudando. Na semana passada, os verdes escoceses anunciaram um acordo de divisão de podercom o partido nacional escocês. Se for aceito em uma reunião de membros no sábado, os verdes escoceses se tornarão o primeiro partido verde britânico a entrar no governo.

Quem? Extrema direita significa mais ricos e proprietários

A extrema direita da Europa significa proprietários de empresas, não trabalhadores

# Publicado em português do Brasil

Partidos de extrema direita, como o Rassemblement National de Marine Le Pen, reivindicam proteger os trabalhadores. Mas, apesar de toda sua retórica populista, suas propostas econômicas reduziriam os serviços públicos e destruiriam os direitos dos trabalhadores.

Àngel Ferrero | Jacobin

Para Miguel Urbán - um membro do Parlamento Europeu para os Anticapitalistas da Espanha - a cobertura da mídia da extrema direita é fascinada por suas “propostas mais 'chamativas', 'excêntricas' ou autoritárias”. O que falta nisso é a agenda econômica desses partidos - e a dimensão de classe de suas reivindicações. Do Alternative für Deutschland da Alemanha ao Rassemblement National da França, o racismo, a xenofobia, os ataques a pessoas LGBT e o antifeminismo desses partidos frequentemente chegam às manchetes. Mas, escreve Urbán, seu “populismo” econômico afirmado em voz alta muitas vezes é simplesmente considerado pelo valor de face.

Buscando examinar mais de perto o que esses partidos realmente representam, o gabinete de Urbán publicou em maio deste ano um relatório sobre os programas econômicos dos partidos de extrema direita em toda a União Europeia. Com a coautoria do contribuinte jacobino Àngel Ferrero e do economista Ivan Gordillo, o relatório destaca como as propostas econômicas desses partidos são contraditórias - e por que eles não atendem aos trabalhadores. O texto completo (em espanhol) pode ser baixado aqui . Abaixo publicamos o texto de apresentação do relatório da Ferrero, ligeiramente editado para maior clareza.

Fábricas, trabalhadores, professores, agricultura, artesãos, agora são representados pela Liga”, afirmou o líder italiano de extrema direita Matteo Salvini em junho passado. Do outro lado dos Alpes, Marine Le Pen há muito insiste que ela assumiu o lugar da esquerda: “Eu protejo [os trabalhadores franceses] ao me opor à imigração. . . [O líder comunista] Georges Marchais costumava dizer o que estou dizendo hoje. ” Neste primeiro de maio na Espanha, o líder do partido franco-nostálgico Vox, Santiago Abascal , insistiu: “Os sindicatos se venderam e deixaram os trabalhadores sozinhos”. E de acordo com o parlamentar alemão Jürgen Pohl, “Alternative für Deutschland é o novo partido dos trabalhadores”.

A lista poderia continuar: como mostram essas citações, os líderes da extrema direita em toda a Europa afirmam defender os trabalhadores abandonados pela esquerda, ou mesmo defender parte do antigo programa da esquerda. No entanto, nosso relatório sobre os programas econômicos desses partidos mostra que a realidade é bem diferente de tais slogans. Na verdade, seus programas se caracterizam não por uma defesa dos trabalhadores, mas por uma mistura contraditória de medidas protecionistas e liberalizantes. Isso ocorre porque seus programas econômicos refletem sua estratégia eleitoral entre classes. Em suma, procuram atrair eleitores das classes populares, ao mesmo tempo que defendem os pequenos proprietários e mesmo os mais ricos.

EUA lançam ataque contra Daesh-K no Afeganistão

Exército norte-americano diz que foi morto um dos elementos do Daesh-K que planeou o atentado ao aeroporto de Cabul

Os Estados Unidos realizaram um ataque contra "um organizador" do grupo extremista Estado Islâmico (EI) no Afeganistão, que reivindicou o atentado terrorista no aeroporto de Cabul, anunciaram as forças armadas norte-americanas.

"O ataque aéreo sem piloto ocorreu na província afegã de Nangarhar [leste]. De acordo com as primeiras indicações, matámos o alvo", afirmou na sexta-feira o comandante Bill Urban, do comando central.

No mesmo comunicado, o responsável adiantou desconhecer a existência "de qualquer vítima civil" no ataque realizado com 'drone'.

A China está conduzindo uma nova corrida armamentista?

# Publicado em português do Brasil

Se a China carregasse todos os seus silos com mísseis, potencialmente carregaria mais de 875 ogivas

Por décadas, parecia que a China não estava investindo em uma construção nuclear maciça porque seus líderes políticos acreditavam que o país tinha outras prioridades mais importantes - especialmente em um momento em que a China não percebia nenhuma ameaça externa imediata.

Com o presidente Xi Jinping no comando, essa era acabou.

As evidências da “fuga” nuclear da China são impressionantes e aterrorizantes.

Seis novos submarinos de mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro lançados do ar, um sistema de comando e controle nuclear aprimorado, sistemas de lançamento para diferentes domínios, sistemas de defesa antimísseis atualizados e doutrina alterada para o uso dessas armas.

E, ao contrário dos Estados Unidos e da Rússia, a China não é limitada por tratados relativos às suas forças nucleares.

De acordo com o alto oficial do Comando Estratégico dos EUA (STRATCOM), almirante Charles Richard, a China está rapidamente utilizando uma variedade de armas estratégicas, informou o USNI News .

Falando em um fórum online do Instituto Hudson, Richard disse que a recente explosão de forças nucleares, esforços espaciais e cibernéticos da China e sistemas hipersônicos acrescenta uma nova urgência à necessidade dos Estados Unidos de garantir que seus sistemas de dissuasão sejam mantidos.

Aliança Quad, liderada pelos EUA iniciam exercício no Pacífico

Navios da aliança Quad liderada pelos EUA iniciam exercício no Pacífico em meio a tensões com China

# Publicado em português do Brasil

Na quinta-feira (26) começou o exercício naval Malabar-21 de quatro dias no oceano Pacífico entre as Marinhas dos países do Quad (Estados Unidos, Índia, Austrália e Japão).

As manobras navais contarão com a participação de destróieres, fragatas, corvetas, submarinos, helicópteros e aeronaves de patrulha marítima de longo alcance.

"No Malabar-21 serão realizados treinamentos complexos, incluindo manobras de combate antissuperfície, antiaéreas e antissubmarino e outras manobras e exercícios táticos. O treinamento proporcionará às marinhas participantes uma oportunidade de beneficiarem das competências e experiências de cada uma", informou a Marinha indiana.

Os países integrantes do Quad têm conduzido treinamentos em meio à crescente convergência de interesses no domínio marítimo ante a crescente presença da China nos oceanos Pacífico e Índico.

Afeganistão: 'Teremos que voltar' e tratar do Daesh e Al-Qaeda

Afeganistão: 'Teremos que voltar' e tratar do Daesh e Al-Qaeda, diz ex-secretário de Defesa dos EUA

# Publicado em português do Brasil

Leon Panetta afirmou que Joe Biden estava certo ao prometer retaliar as pessoas que orquestraram os atentados no aeroporto de Cabul, e essa promessa pode exigir que o presidente norte-americano aja contra o plano de retirada.

O ex-secretário de Estado dos EUA durante o governo de Obama, Leon Panetta, afirma que o presidente Joe Biden vai ter que "voltar" para cumprir a promessa de vingar as mortes de soldados em Cabul. Panetta chefiou a Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) entre 2009 e 2011 antes de assumir o comando do Pentágono.

"Eu entendo que estamos tentando tirar nossas tropas de lá. Mas o ponto principal é que podemos deixar um campo de batalha, mas não podemos deixar a guerra contra o terrorismo, que ainda é uma ameaça à nossa segurança", disse em entrevista à emissora CNN na quinta-feira (26).

BIDEN E O TERRORISMO

O presidente Biden anunciou ao mundo que irá "caçar" os terroristas do ISIS-K responsáveis pelo atentado de Cabul, que provocou dezenas de mortes.

Esqueceu-se de dizer que os mesmos vieram de Idlib (Síria) e foram transportados para o Afeganistão graças aos bons ofícios da CIA.

Após o seu fracasso, o império quer desestabilizar (ainda mais) o Afeganistão. A utilização de activos da CIA como o ISIS-K e os seus homens no vale do Panjshir fazem parte desse jogo sujo.

Resistir.info | 27.08.2021

Angola | Jornalistas denunciam perseguição pré-eleitoral

Cerca de dez jornalistas angolanos estão sob investigação, cinco foram constituídos arguidos. Profissionais temem pela própria vida.

Na sua maioria, os processos contra os pouco mais de dez jornalistas angolanos foram movidos por figuras afetas ao aparelho do Estado, incluindo o Presidente João Lourenço e o vice-Procurador-Geral da República, Luís de Assunção Pedro da Mouta Liz. Cinco profissionais foram inclusive constituídos arguidos.

Na terça-feira (24.08), o jornalista e diretor do semanário "O Crime", Mariano Brás, compareceu às instalações do Serviço de Investigação Criminal (SIC), em Luanda, para ser ouvido num caso em que é acusado de "ultraje ao Estado".  

Os instrutores do processo alegaram que o jornalista desrespeitou os símbolos nacionais e os órgãos de soberania da República de Angola. Mas Mariano Brás refuta as acusações.

"Em momento algum, no texto [que escrevemos], fizemos qualquer referência ao Estado", esclarece.

"Nós fizemos uma avaliação do desempenho do Presidente da República durante os três anos de mandato, em que o Presidente fez algumas promessas no período de campanha eleitoral e de investidura. E, na nossa perspetiva, [as promessas] não foram cumpridas. Foi por isso que foi eleito a pior figura de 2020", relata.

Angola | Generais acusados de exploração ilegal de madeira

Cuando Cubango

Entre 2015 e 2017, generais afetos à Casa de Segurança da Presidência da República terão estado envolvidos na exploração ilegal de madeira no Cuando Cubango. A denúncia é feita pelas próprias autoridades da província.

A comunidade do Caiundo, a 135 quilómetros da cidade de Menongue, está preocupada com a devastação das florestas na região e decidiu pôr fim a anos de silêncio.

Segundo Fernando Dumbo, chefe do posto fluvial da capitania no Caiundo, em 2015, grupos estrangeiros vieram para a região e começaram a cortar madeira de forma descontrolada, alegadamente com a anuência de militares angolanos de alta patente.

Logo à partida "houve um erro em relação à exploração de madeira neste território", afirma Fernando Dumbo. "O erro foi do próprio Estado. Faltou o controlo."

Durante dois anos, "nem os administradores tinham poderes para reclamarem. Quando mandavam parar [os camiões], para identificar [a mercadoria], eles não aceitavam porque [a carga] era do general fulano."

Brasil | A ameaça de golpe no sete de setembro e além

# Publicado em português do Brasil

Jean Marc von der Weid* | Carta Maior

Não acredito no golpe agora, mas acredito que estamos, possivelmente, em um ensaio geral. Desde meados de 2019 que venho escrevendo sobre a ameaça de golpe por Bolsonaro. No início fui tratado como um alarmista inveterado, fora da realidade. O tempo se encarregou de mostrar que eu tinha razões de sobra para estar apreensivo.

Que fez Bolsonaro desde que chegou à presidência? Ele não se preocupou muito com a sua popularidade medida em pesquisas de opinião. Governou para uma fração dos que votaram nele, propondo, e muitas vezes aprovando, leis e decretos que a beneficiaram. Policiais, militares das forças armadas, grileiros, madeireiros, garimpeiros, caminhoneiros, grandes fazendeiros, milicianos, todos foram contemplados por intenções, gestos e discursos. Não por acaso, esta minoria é a mais belicosa e, infelizmente, a que tem armas para intervir na política. Descobri que a lógica de Bolsonaro é maoísta: “o poder está na ponta do fuzil”. A medida em que Bolsonaro se afastava de uma boa parte do seu eleitorado, ele foi radicalizando e fidelizando esta base de forma consistente. Os que achavam que ele era um paradigma de honestidade, o supremo lutador contra a corrupção foram perdendo a fé com as múltiplas denúncias que vão mostrando as entranhas da famiglia. Mas não importa ao candidato a déspota esta perda de apoio. Ele está armando os seus seguidores e eles estão se organizando nos clubes de tiro. Os que acreditavam no seu liberalismo econômico logo se deram conta de que o famoso posto Ipiranga não era mais do que uma marionete de circo mambembe apenas distraindo os desavisados. Os que acreditavam no anti-política velha, no anti-sistema, viram o mito se dobrar ao tão condenado Centrão e também se decepcionaram. Não importa, enquanto ele ganha espaço no seu bloco radical e o insufla, sua aposta fica de pé.

Bolsonaro aposta na ruptura da democracia e vem consistentemente desagregando as instituições da república. O país está entregue a um total desgoverno, com a pandemia descontrolada (apesar das aparências recentes), a fome em expansão atingindo quase metade da população entre os que comem pouco e os que comem mal, o desemprego, subemprego e o desalento atingindo a metade da força de trabalho, o meio ambiente literalmente em chamas, a educação em pleno desastre de total abandono, a ciência com financiamentos em queda livre, a economia prometendo inflação crescente (já estamos em 9,3% a/a) e o PIB com um crescimento ridículo de 1,5% (e caindo a cada avaliação) para o ano que vem. A lista é grande e será sempre incompleta porque o desgoverno atinge todos os setores da economia, da sociedade, da cultura, da ciência, da saúde e da educação, e um grande etcetera. Nada disso importa para Bolsonaro, se os garimpeiros, madeireiros, fazendeiros, policiais, soldados, milicianos, etc. estão satisfeitos e querendo mais.

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