terça-feira, 31 de agosto de 2021

Críticas ao PR de Timor-Leste devido à pobreza e desigualdade

Críticas ao Presidente de Timor-Leste devido à crescente pobreza e desigualdade

M. Azancot de Menezes*

O Povo de Timor-Leste “sente-se hoje abandonado e desiludido!”. Quem assume este pensamento é a União dos Movimentos Democráticos e Patrióticos (UMDP), em Carta Aberta remetida ao Presidente de Timor-Leste, em 30 de Agosto de 2021, por ocasião do 22º aniversário do referendo em Timor-Leste.

As fortes críticas dirigidas a Francisco Guterres (Lu´Olo) justificam-se pela sua “passividade”, enquanto Chefe de Estado, face ao impasse político existente desde 2017, caracterizado por “uma desmedida luta pelo poder político ”tendo por base “uma errada interpretação das normas constitucionais”, pode ler-se no documento.

A indignação da UMDP, pode inferir-se pelo teor da Carta Aberta, reside no facto do impasse político ter contribuído de forma drástica para o declínio acentuado da situação económica e social no país, pois, devido às deficientes políticas de âmbito económico e social, muitas empresas entraram em falência, muito antes da pandemia da Covid-19, havendo como consequência directa múltiplos despedimentos de chefes de família e o aumento da pobreza e da miséria em Timor-Leste.

O povo votou, porque acreditava na sua força de vencer. O povo votou, consentindo sacrifícios, porque sabia que com a libertação iria assumir as verdadeiras rédeas do destino da sua mãe Pátria, através duma verdadeira democracia a ser instalada na sociedade política…

O povo acreditou, mas sente-se hoje abandonado e desiludido! Contudo, mais uma vez, cimentou sua esperança e está buscando novas formas de luta pela realização das suas mais elementares aspirações, uma delas encarnada na UMDP e outras virão para assumir as esperanças dum povo sofredor e abandonado pelos líderes em quem eles depositaram as suas mais sublimes aspirações!

(Extractos da Carta Aberta da UMDP)

Timor-Leste | Somotxo candidato à presidência da Fretilin

O deputado e veterano José Somotxo revelou que vai disputar a liderança da Fretilin, maior partido timorense, afirmando que o faz "por honra" e "procurando responder a um chamamento" de quadros e militantes do partido.

"Como em 1975 fui chamado para lutar em defesa da liberdade e da democracia em Timor-Leste, agora vários quadros e militantes consideram que ainda tenho alguma coisa a contribuir. Este é o chamamento que estou a receber dos quadros", disse.

Veterano de 24 anos de luta na frente armada - é o único a par do atual presidente da República, Francisco Guterres Lú-Olo, no Comité Central da Fretilin - Somotxo vai apresentar-se com Rui Araújo, ex-primeiro-ministro, num "pacote" de candidatura aos cargos de presidente e secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin).

"Em Timor-Leste parece que os militantes e quadros de todos os partidos confiam só em uma ou duas figuras políticas que repetidamente estão ali à frente. Da parte da Fretilin, é tempo para mudar", afirmou.

"Trata-se de levar o partido em frente porque se insistirmos sempre na mesma coisa estaremos a querer afundar e enterrar o partido. Em todas as revoluções tem que estar o rei para começar a revolução. Não começa só quando morre o rei", disse.

Dúvidas sobre papel de democratas nas eleições de Hong Kong

Analistas com muitas dúvidas sobre papel dos democratas nas eleições de Hong Kong

Em Hong Kong, as eleições para o Conselho Legislativo (LegCo) são a 19 de Dezembro e começa-se agora a tentar antecipar cenários sobre qual será o papel dos democratas. Serão desqualificados todos os candidatos democratas, como em Macau? Lo Kin Hei, presidente do Partido Democrata da região vizinha, diz acreditar que serão excluídos “apenas alguns candidatos”. Num ‘webinar’ promovido pela Hong Kong Democratic Foundation, os analistas concordaram que os democratas terão de se reinventar.

André Vinagre | Ponto Final (mo) | opinião

A Hong Kong Democratic Foundation organizou ontem um ‘webinar’ sobre as eleições legislativas da região vizinha, que se realizam a 19 de Dezembro. Paul Zimmerman, presidente da organização, foi o moderador e, entre os convidados, estiveram o politólogo Sonny Lo e os professores universitários John Burns e Jean-Pierre Cabestan.

Lo Kin Hei, presidente do Partido Democrata de Hong Kong, também participou no debate. Cabestan acabou por perguntar-lhe se acreditava que as autoridades poderiam vir a desqualificar todos os candidatos democratas, como fizeram em Macau. “Se Pequim seguir o mesmo percurso de Macau e desqualificar democratas moderados por alegadamente não serem patriotas, isso poderá ser uma grande barreira para os democratas [de Hong Kong]”, afirmou o professor da Universidade Baptista de Hong Kong.

O presidente do Partido Democrata assumiu que não sabe, ainda assim, disse: “Diria que Pequim não vai dizer que todo o partido democrata não vai poder concorrer, mas vai excluir alguns candidatos”. “Ainda há muitos pontos de interrogação quanto ao Partido Democrata nas eleições”, completou Cabestan.

China quer acabar com a cultura de trabalho excessivo no país

# Publicado em português do Brasil

Justiça citou vários exemplos de empresas em uma série de setores que violaram as regras trabalhistas, incluindo uma empresa de entregas não identificada

China está notificando as empresas que sobrecarregam seus funcionários.

O tribunal superior do país emitiu na quinta-feira (26) uma longa condenação ao que é comumente conhecido na China como “996”, a prática de trabalhar das 9h às 21h seis dias por semana, considerada comum entre as grandes empresas de tecnologia do país, startups e outras empresas privadas.

“Recentemente, o trabalho extraordinário em algumas indústrias tem recebido atenção generalizada”, escreveu o Supremo Tribunal Popular em sua declaração, emitida junto ao Ministério de Recursos Humanos e Previdência Social. Os trabalhadores merecem direitos de “descanso e férias”, acrescentando que “aderir ao sistema nacional de horas de trabalho é obrigação legal dos empregadores”, escreveu o tribunal.

O órgão citou vários exemplos de empresas em uma série de setores que violaram as regras trabalhistas, incluindo uma empresa de entregas não identificada que disse aos funcionários que trabalhassem no modelo 996. Dizer aos funcionários que trabalhem tanto “violou gravemente a lei sobre a extensão do limite máximo da jornada de trabalho e deve ser considerado inválido”, disse o tribunal.

A reação pública contra a cultura do trabalho excessivo não é nova. O co-fundador do Alibaba (BABA), Jack Ma, por exemplo, foi fortemente criticado na China dois anos atrás, após chamar a cultura 996 de “uma grande bênção”. E a lei trabalhista chinesa já proíbe os funcionários de trabalhar por tanto tempo.

Jill Disis | CNN Business | Imagem: Marko Lovric / Pixabay

Da rua do meio ao meio da rua

Afonso Camões* | Diário de Notícias | opinião

A moral e a ética que inventámos dependem muito do exato lugar que cada um ocupa. Por vezes, até, falamos de ricos e pobres com as mesmas letrinhas, quando um mora na rua do meio e o outro no meio da rua. Vinte meses e 4,5 milhões de mortes depois do maior desafio global que enfrentámos, a pandemia, a resposta à crise revela que aprendemos pouco: em vez de um mundo mais coeso e solidário, vemo-lo mais orientado por interesses nacionais e em que as desigualdades entre os países se acentuam e consolidam.

O debate agora aberto sobre a necessidade de uma terceira dose da vacina anticovid em países mais ricos representa não só um enorme fracasso moral para o Ocidente, mas também a confirmação de que não existe uma visão global para mitigar as desigualdades agravadas pela pandemia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), enquanto menos de 2% da população dos países mais pobres está protegida contra a doença, vários países entre os mais ricos preparam-se para destinar centenas de milhões de vacinas a uma terceira dose.

"Valeu de tudo no Porto para correr com moradores...

... Receamos o que aí vem"

ENTREVISTA

Ilda Figueiredo, candidata pela CDU à Câmara do Porto nas eleições autárquicas deste ano, é a entrevistada de hoje do Vozes ao Minuto.

Ilda Figueiredo é, pela segunda vez consecutiva, a candidata do CDU à Câmara do Porto. Uma aposta que leva em conta a forma como a candidata defende os valores do partido e que a própria diz ser o resultado de um trabalho de proximidade que pretende dar voz aos cidadãos da cidade do Porto.

Aos 72 anos, a antiga eurodeputada candidata-se com um programa que promete dar continuidade às propostas apresentadas em 2017 e que pretende dotar a cidade de uma nova gestão municipal, onde a habitação volte a ser uma prioridade.

Trazer as pessoas de volta ao Porto, dando-lhes condições de habitabilidade que estão ao seu alcance financeiro, é o principal objetivo da vereadora, que não poupa críticas a Rui Moreira pela especulação imobiliária na cidade. 

Ilda Figueiredo considera que a pandemia “veio tornar mais claro que as propostas que a CDU tem vindo a fazer para o Porto são ainda mais urgentes” e que “exige uma outra dinâmica e uma gestão alternativa da cidade”. 

Sem querer fazer prognósticos sobre aquele que será o resultado das eleições no próximo dia 26 de setembro, Ilda Figueiredo assume que um “resultado ótimo” para o partido seria vencer a liderança da autarquia. Não acontecendo, recorda que a presença da CDU na cidade é essencial.

Confira na entrevista que se segue a visão da candidata do PCP à Câmara da Invicta, as suas propostas e a forma como analisa o trabalho que foi desenvolvido na cidade nos últimos anos.

Portugal | Confundir Cultura

Mariana Mortágua* | Jornal de Notícias | opinião

O Garantir Cultura foi lançado pelo Governo para financiar a criação e programação culturais. Pela primeira vez, todos (ou quase todos) os projetos elegíveis tiveram direito ao apoio. Para muitos milhares de trabalhadores das artes, este pode ser mesmo o rendimento que faz a diferença depois de uma prolongada paralisação das atividades culturais.

Segundo as regras destas linhas de financiamento, estão previstas duas formas de participação: uma para empresas e outra para entidades singulares e coletivas que não prossigam atividade de natureza empresarial. Segundo o regulamento trata-se, em ambos os casos, de um apoio a fundo perdido. Na verdade, é um financiamento para a realização de atividades, atribuído perante a justificação das despesas efetuadas.

O processo de candidatura foi atribulado nos prazos, mas relativamente simples nos procedimentos, tal como os primeiros recebimentos. Tudo corria estranhamente bem, num Ministério habituado a ligar o complicómetro e dificultar a vida a quem já lida com o caos burocrático que vem com a precariedade específica do setor. Tudo corria bem até os beneficiários do financiamento começarem a ser confrontados com um conjunto de exigências ausentes do regulamento.

Afeganistão, eletricidade é ouro, e no roubar é que está o ganho

Bom dia este é o seu Expresso Curto

O novo estado da luz

Pedro Candeias | Expresso

Bom dia, Afeganistão.
Vinte anos depois do início e vinte quatro horas antes do fim anunciado, os EUA retiraram-se oficialmente do Afeganistão que é novamente um estado independente. Para trás ficaram duas décadas de presença militarizada, diplomática e política num país longínquo que disseram querer consertar e proteger logo que o expurgassem dos seus dois males: a Al-Qaeda de Osama Bin Laden e os talibãs que o escondiam.

Na mais longa guerra, despejaram incontáveis centenas de milhões de euros e combateram e enxotaram os talibãs, que nunca foram derrotados; encontraram e mataram Bin Laden no Paquistão e vingaram o 11 de Setembro; assumiram o poder e por ele ficaram lá até ao último dia de agosto de 2021: em menos de 15 dias, 123 mil pessoas deixaram Cabul.

E como noutras histórias de invasões, algumas delas neste mesmo território, o final desta foi caótico e violento: houve mortes, informações contraditórias, acusações, novas alianças e novas promessas, um atentado suicida e o surgimento de uma estirpe de um vírus antigo chamado ISIS-K que não agrada a invasores nem a invadidos.

O último dos cinco C-17 norte-americano levantou voo no frenético aeroporto de Cabul sob ameaças do Daesh e disparos de armas em jeito de celebração talibã, levando dentro dele o embaixador dos EUA e o general. Em terra ficaram muitos afegãos colaboracionistas e umas centenas de americanos – e ainda mais dúvidas sobre a real influência da todo-poderosa nação naquele lugar.

Pois os talibãs reconquistaram o terreno perdido e a capital num blitz, e trouxeram com eles, de novo, a versão mais extremista da sharia, montados não só em pickups e armas ultrapassadas, mas também com equipamentos americanos de última geração arrebatados aos militares afegãos.

Tudo demasiado estranho e estranhamente distópico, que impossibilita qualquer transição suave, o que, na verdade, nunca esteve no topo da lista das preocupações de Joe Biden. Parece claro que, para o presidente dos EUA, o que realmente importava agora era tirar os seus de lá, rapidamente e em segurança: “Esta retirada foi uma opinião unânime entre as chefias militares. Terminar a nossa missão militar era a melhor forma de proteger a vida dos nossos soldados e assegurar a saída para os civis que querem deixar o Afeganistão”.

Depois disto, virá o tempo da política, para mascarar esta derrota histórica em algo menos dramático, e a seguir os tempos diplomacia e das negociações para ajudar quem ainda não saiu e encontrar alternativas dignas para os refugiados. A Europa, que se viu arrastada pelos EUA neste abandono apressado, tem algumas ideias que envolvem dinheiro e botas no terreno.

Até que o último saia e apague a luz. E que cheguem as trevas.

Moçambique | Guebuza (filho) desrespeita Tribunal e MP

Dívidas ocultas: Ndambi Guebuza desrespeita Tribunal e Ministério Público

No sexto dia do julgamento, houve momentos de tensão entre Ndambi Guebuza e a magistrada do Ministério Público, Ana Sheila Marrengula. O filho do ex-Presidente Armando Guebuza desrepeitou a magistrada do MP e o tribunal.

Ndambi Guebuza, o filho do antigo Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, negou em tribunal ter recebido dinheiro da Prinvinvest, na esteira do julgamento das dívidas ocultas.

O Tribunal exibiu vários e-mails em que o outro co-réu, Teófilo Nhangumele, e Jean Boustani, negociador da Privinvest, falavam em divergências na divisão dos 50 milhões de dólares entre Teófilo, Ndambi Guebuza e Bruno Langa.

Numa das conversas, Nhangumele queixava-se a Jean Boustani do fato de Ndambi Guebuza ter recebido 33 milhões de dólares e os outros companheiros, Bruno Langa e Teógilo Nhangumele, terem recebido 8,5 milhões cada.

"Acordou com os seus amigos Bruno e Teófilo em dividir uma quantia de 50 milhões de dólares. Tiveram uma conversa, um acordo nesse sentido?", questionou o juiz.

"Nunca tive esse tipo de conversa com eles de 50 milhões de dólares para dividir, nunca tive essa conversa”, respondeu o réu. 

Angola | Desunião da oposição pode ajudar a perpetuar MPLA

Desunião da oposição pode ajudar a perpetuar MPLA no poder em Angola

Líder da CASA-CE minimiza aspirações da Frente Patriótica nas próximas eleições em Angola. Mas se a oposição não se unir, será "completamente impossível" desalojar MPLA do poder, diz analista. "Estes flancos não ajudam."

O presidente da coligação angolana Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE), Manuel Fernandes, desvalorizou nesta segunda-feira (30.08) as pretensões da Frente Patriótica Unida, bloco político na oposição que se propõe a tirar o MPLA do poder, considerando que "a verdadeira frente" é o seu partido, que diz estar muito compacto e coeso.

Em entrevista à DW África, o analista político angolano Olívio Kilumbo considera que as declarações de Manuel Fernandes revelam que em Angola há dois blocos da oposição política e essa desunião da oposição pode contribuir para ajudar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) a perpetuar-se no poder.

Luanda: Polícia impede manifestação sobre lei eleitoral

Manifestantes queixam-se de terem sido impedidos pela polícia de se concentrarem hoje defronte à Assembleia Nacional, em Luanda. Jovens pretendiam "exigir justiça e transparência" no debate sobre o pacote eleitoral.

Mais de 20 jovens ativistas dizem que não lhes foi permitido chegar junto do portão sul da Assembleia Nacional, a entrada principal, onde pretendiam concentrar-se esta segunda-feira (30.08) em protesto contra o diploma eleitoral em discussão pelas comissões de especialidade.

Hoje, contrariamente aos dias anteriores, a polícia nacional montou um extenso cordão de segurança em todo o perímetro da Assembleia Nacional e locais adjacentes, incluindo efetivos da brigada de cavalaria e agentes à paisana.

A duzentos metros da entrada principal da sede da Assembleia Nacional, em Luanda, os órgãos de informação presenciaram a detenção de várias pessoas e ações de revistas e interpelações, sobretudo de jovens que ali circulavam.

Cidadãos que por ali passavam lamentaram as detenções de vários ativistas considerando que a corporação estava a passar uma "imagem muito feia" à sociedade.

O Taleban não é anti-indiano, é a Índia que é anti-Taliban...


 ...e esse é o problema

# Publicado em português do Brasil

Andrew Korybko* | OneWorld

Se a Rússia conseguir fazer com que a Índia perceba que o Taleban não é uma ameaça à segurança nem são "representantes paquistaneses", então pode facilmente ajudar os dois a se conectarem, fazendo uso de seus laços estreitos com cada um.

A Índia ficou abruptamente sem nenhuma influência no Afeganistão desde que a tomada do país pelo Taleban o levou a evacuar todos os seus diplomatas. Nova Delhi se recusa a negociar publicamente com o Taleban, que ele e muitos outros países como a Rússia ainda consideram um grupo terrorista, o que o torna inelegível para participar da Troika Estendida. O estado do sul da Ásia investiu mais de US $ 3 bilhões em projetos de desenvolvimento nas últimas duas décadas, então certamente tem interesse em restaurar sua influência no Afeganistão, mas isso exigirá que engaje pragmaticamente o Taleban, assim como a Rússia está fazendo , embora Nova Delhi tenha feito isso até agora se recusou a fazê-lo.

A razão oficial é que o Taleban é terrorista, mas isso não impediu outros países como a China e até mesmo os Estados Unidos de interagir com ele, especialmente depois que se tornaram líderes de fato do Afeganistão. Extraoficialmente, o governo nacionalista hindu da Índia pode temer a ótica de falar com um movimento islâmico. Isso não só pode prejudicar seu apelo de soft power em casa, mas alguns podem temer que isso inspire outros movimentos islâmicos em outras partes do país, como em Jammu e Caxemira. Seja como for, a Índia já tem sua parte desse território disputado quase inteiramente sob seu controle, apesar de algumas preocupações estrangeiras sobre os direitos humanos dos locais supostamente violados como resultado, então realmente não tem muito a temer ao falar com os Talibã.

A prerrogativa está inteiramente do lado da Índia para restaurar as relações bilaterais com o Afeganistão liderado pelo Talibã, uma vez que esse grupo não é anti-indiano, mas é a Índia que é anti-Talibã. O Taleban não tem nenhuma intenção expansionista estrangeira, nem planeja hospedar nenhuma organização terrorista estrangeira como parte de seu acordo de paz de fevereiro de 2020 com os EUA. De fato, um de seus porta-vozes chegou a dizer que aspiram a ter relações positivas com todos os países, inclusive a Índia. O problema, entretanto, é que a Índia não quer ter relações positivas com o Afeganistão liderado pelo Taleban. Isso é visto com mais clareza pelo primeiro-ministro Modi, que os descreve como um "império do terror", ao qual o Talibã respondeu prometendo que o mundo logo verá como ele governará “suavemente”.

Após 20 anos de guerra os EUA só causaram morte e destruição

A crise afegã deve acabar com o império de guerra, corrupção e pobreza

# Publicado em português do Brasil

Medea Benjamin e Nicolas JS Davies * | Dissidente Voice

Os americanos ficaram chocados com vídeos de milhares de afegãos arriscando suas vidas para fugir do retorno do Taleban ao poder em seu país - e depois com um atentado suicida no Estado Islâmico e o massacre subsequente pelas forças dos EUA que juntos mataram pelo menos 170 pessoas, incluindo 13 soldados americanos .

Mesmo com asagências da ONU alertando sobre uma crise humanitária iminente no Afeganistão, o Tesouro dos EUA  congelou quase todas as reservas de moeda estrangeira de US $ 9,4 bilhões do Banco Central Afegão, privando o novo governo de fundos de que precisará desesperadamente nos próximos meses para alimentar seu pessoas e fornecer serviços básicos.

Sob pressão do governo Biden, o Fundo Monetário Internacional decidiu não liberar US $ 450 milhões em fundos que deveriam ser enviados ao Afeganistão para ajudar o país a lidar com a pandemia do coronavírus.

Os EUA e outros países ocidentais também suspenderam a ajuda humanitária ao Afeganistão. Depois de presidir uma cúpula do G7 sobre o Afeganistão em 24 de agosto, o primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson disse que negar ajuda e reconhecimento lhes deu "uma influência muito considerável - econômica, diplomática e política" sobre o Taleban.

Os políticos ocidentais expressam essa influência em termos de direitos humanos, mas estão claramente tentando garantir que seus aliados afegãos mantenham algum poder no novo governo e que a influência e os interesses ocidentais no Afeganistão não acabem com o retorno do Taleban. Essa vantagem está sendo exercida em dólares, libras e euros, mas será paga em vidas afegãs.

Para ler ou ouvir analistas ocidentais, alguém poderia pensar que a guerra de 20 anos dos Estados Unidos e seus aliados foi um esforço benigno e benéfico para modernizar o país, libertar as mulheres afegãs e fornecer saúde, educação e bons empregos, e que isso tem tudo agora foi varrido pela capitulação ao Talibã.

A realidade é bem diferente e não é tão difícil de entender. Os Estados Unidos gastaram  US$ 2,26 trilhões em sua guerra no Afeganistão. Gastar esse tipo de dinheiro em qualquer país deveria ter tirado a maioria das pessoas da pobreza. Mas a grande maioria desses fundos, cerca de US $ 1,5 trilhão, foi para gastos militares absurdos e estratosféricos para manter a ocupação militar dos EUA, lançar  mais de 80.000 bombas e mísseis sobre os afegãos, pagar empreiteiros privados e transportar tropas, armas e equipamentos militares de um lado para outro em todo o mundo há 20 anos.

Último avião militar dos EUA deixa Cabul após duas décadas

Vinte anos depois, EUA deixam o Afeganistão de novo na mão dos talibãs

Norte-americanos dão por encerrado o ciclo de 20 anos de presença militar no Afeganistão, com a retirada do último avião. "Não retirámos toda a gente que queríamos", admite o Pentágono

s militares norte-americanos anunciaram esta segunda-feira a saída dos últimos soldados dos Estados Unidos do Afeganistão, encerrando assim um conflito de 20 anos e que terminou com o assalto dos talibãs ao poder no pais asiático.

"Estou aqui para anunciar a conclusão de nossa retirada do Afeganistão", disse o comandante do Comando Central, general Kenneth McKenzie.

O comandante das forças militares americanas no Afeganistão e o embaixador de Washington foram os últimos a embarcar no último avião norte-americano a retirar-se de Cabul. "No último avião a sair estava o general Chris Donahue, comandante da 82ª Divisão Aerotransportada e meu comandante de força terrestre lá, acompanhado pelo embaixador Ross Wilson", afirmou.

Na capital do Afeganistão, ouviram-se tiros comemorativos vindos de vários pontos de controlo dos talibãs, bem como aplausos dos combatentes que comandavam os postos de segurança. "À meia-noite, hora do Afeganistão, as tropas americanas que restavam no país deixaram o aeroporto de Cabul e o nosso país ganhou independência total", escreveu o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, no Twitter.

O Grande Jogo de Esmagar Nações

John Pilger*

Há mais de uma geração o Afeganistão conquistou a sua liberdade. Os EUA, a Grã-Bretanha e os seus “aliados” destruíram-na. Eis a realidade que os responsáveis e os seus papagaios mediáticos procuram elidir, enquanto choram lágrimas de crocodilo pela caótica situação que geraram. Aqueles que mobilizaram o mais fanático obscurantismo contra o governo progressista do PDPA estavam conscientes de que, ao fazê-lo, sacrificavam as reformas sociais e económicas no Afeganistão. E, muito mais do que os fundamentalistas islâmicos, foram os EUA/NATO quem as arrasou.

Enquanto um tsunami de lágrimas de crocodilo engolfa os políticos ocidentais, a história é suprimida. Há mais de uma geração o Afeganistão conquistou a sua liberdade, que os EUA, a Grã-Bretanha e os seus “aliados” destruíram.

Em 1978, um movimento de libertação liderado pelo Partido Democrático Popular do Afeganistão (PDPA) derrubou a ditadura de Mohammad Dawd, primo do rei Zahir Shah. Foi uma revolução imensamente popular que apanhou de surpresa ingleses e norte-americanos.

Jornalistas estrangeiros em Cabul, relatou o The New York Times, ficaram surpresos ao descobrir que “quase todos os afegãos que entrevistavam diziam [estar] encantados com o golpe”. O Wall Street Journal relatou que “150.000 pessoas … marcharam em homenagem à nova bandeira … os participantes pareciam genuinamente entusiasmados.”

O Washington Post relatou que “a lealdade afegã ao governo dificilmente pode ser questionada”. Secular, modernista e, em grau considerável, socialista, o governo declarou um programa de reformas visionárias que incluía direitos iguais para mulheres e minorias. Os presos políticos foram libertados e os arquivos da polícia queimados publicamente.

Sob a monarquia, a esperança de vida era de 35; 1 em cada 3 crianças morria na infância. Noventa por cento da população era analfabeta. O novo governo introduziu cuidados médicos gratuitos. Foi lançada uma campanha de alfabetização em massa.

Para as mulheres, os ganhos não tinham precedentes; no final da década de 1980, metade dos estudantes universitários eram mulheres, e as mulheres representavam 40% dos médicos do Afeganistão, 70% dos professores e 30% dos funcionários públicos.

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