terça-feira, 31 de agosto de 2021

Dúvidas sobre papel de democratas nas eleições de Hong Kong

Analistas com muitas dúvidas sobre papel dos democratas nas eleições de Hong Kong

Em Hong Kong, as eleições para o Conselho Legislativo (LegCo) são a 19 de Dezembro e começa-se agora a tentar antecipar cenários sobre qual será o papel dos democratas. Serão desqualificados todos os candidatos democratas, como em Macau? Lo Kin Hei, presidente do Partido Democrata da região vizinha, diz acreditar que serão excluídos “apenas alguns candidatos”. Num ‘webinar’ promovido pela Hong Kong Democratic Foundation, os analistas concordaram que os democratas terão de se reinventar.

André Vinagre | Ponto Final (mo) | opinião

A Hong Kong Democratic Foundation organizou ontem um ‘webinar’ sobre as eleições legislativas da região vizinha, que se realizam a 19 de Dezembro. Paul Zimmerman, presidente da organização, foi o moderador e, entre os convidados, estiveram o politólogo Sonny Lo e os professores universitários John Burns e Jean-Pierre Cabestan.

Lo Kin Hei, presidente do Partido Democrata de Hong Kong, também participou no debate. Cabestan acabou por perguntar-lhe se acreditava que as autoridades poderiam vir a desqualificar todos os candidatos democratas, como fizeram em Macau. “Se Pequim seguir o mesmo percurso de Macau e desqualificar democratas moderados por alegadamente não serem patriotas, isso poderá ser uma grande barreira para os democratas [de Hong Kong]”, afirmou o professor da Universidade Baptista de Hong Kong.

O presidente do Partido Democrata assumiu que não sabe, ainda assim, disse: “Diria que Pequim não vai dizer que todo o partido democrata não vai poder concorrer, mas vai excluir alguns candidatos”. “Ainda há muitos pontos de interrogação quanto ao Partido Democrata nas eleições”, completou Cabestan.

Já Sonny Lo previu que “alguns” democratas vão participar nas eleições para o LegCo, mas terão de se adaptar. O politólogo anteviu também que a taxa de abstenção será maior do que nos escrutínios do passado, uma vez que os eleitores democratas estarão mais apáticos. Sonny Lo acredita que poderão ser eleitos oito democratas para o LegCo.

John Burns concorda com Sonny Lo, dizendo que “muitos daqueles que votaram nos pan-democratas no passado vão ficar alienados” das eleições de Dezembro. Uma vez que muitas das antigas figuras do Partido Democrata estão agora presos ou fugiram para o estrangeiro, Burns diz que os futuros candidatos democratas terão dificuldade em serem reconhecidos como pan-democratas autênticos pelos eleitores dessa ala. Assim, o professor emérito da Universidade de Hong Kong previu que apenas sejam eleitos dois democratas nestas eleições.

Jean-Pierre Cabestan afirmou: “Acredito que é provável que o partido democrata coloque candidatos na corrida. Mas o partido tem de encontrar sangue novo. Será muito difícil para eles”. Por outro lado, caso o próprio Partido Democrata decida boicotar as eleições de Dezembro, “arrisca-se a ser marginalizado” e a “não sobreviver”. Por isso, indicou Cabestan, “é importante dar voz aos democratas moderados”. O professor da Universidade Baptista de Hong Kong é o mais optimista dos três e acredita que serão eleitos entre dez e 15 deputados democratas.

John Burns assumiu que em Hong Kong está instalado um sistema autoritário, mas sempre foi assim: “No LegCo [os democratas] podem continuar a questionar o Governo, mas temos de nos lembrar que isto não é um sistema semi-autoritário, é autoritário. Hong Kong foi sempre autoritário, de 1800 até hoje. Este é um novo autoritarismo”. O objectivo agora de Pequim é alinhar o poder legislativo de Hong Kong com o poder executivo, indicou o académico.

Recorde-se que, de acordo com a alteração promovida pela Assembleia Popular Nacional (APN), o sistema eleitoral da região vizinha foi alterado, com o número de assentos no LegCo a ser aumentado de 70 para 90. No entanto, o número de deputados eleitos directamente caiu de 35 para 20. As eleições estavam originalmente agendadas para Setembro de 2020, mas, sob o pretexto da pandemia, Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, adiou o escrutínio para Dezembro deste ano.

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