terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Portugal | A DIREITA PRESA NUMA FALÁCIA

Não se espere que a própria direita perceba o que aconteceu e se mostre interessada em corrigir a trajetória. Se a direita mais à direita está entre os vencedores destas eleições, é provável que olhe para a derrota do PSD como consequência desse partido se ter recentrado

Paulo Baldaia | Expresso | opinião

O Chega, a quem Rui Rio nunca foi verdadeiramente capaz de fechar a porta, quer agora assumir-se como a voz da direita no Parlamento. Uma voz que berra, que insulta, que discrimina, mas que não oferece uma única solução decente para os problemas do país. Nada, nem a maioria absoluta do PS, a enfraquece tanto como ter transformado o partido de André Ventura na terceira força política. Quando o país político se recentra, a direita radicaliza-se.

Não se espere que a própria direita perceba o que aconteceu e se mostre interessada em corrigir a trajetória. Se a direita mais à direita está entre os vencedores destas eleições, é provável que olhe para a derrota do PSD como consequência desse partido se ter recentrado. Uma enorme falácia, que permite perceber porque é que a direita, tendo reforçado a sua presença no Parlamento, sai enfraquecida destas eleições. A narrativa de Rui Rio, afirmando que o PSD não era do campo da direita, não teve correspondência com a ação política, mas permitiu que o espaço fosse ocupado pelas propostas económicas da Iniciativa Liberal e pelo extremismo de Ventura.

O PSD tem agora um problema sério para resolver, porque resulta destas eleições que deixou de ter espaço para crescer, tanto ao centro como à direita, de modo a ultrapassar com folga a barreira dos 30% dos votos e assim poder ganhar eleições. Nestas circunstâncias, a que acresce a maioria absoluta de António Costa, quem é o mártir que se oferece para o sacrifício? O mais provável é que se repita o que aconteceu com o PSD na primeira maioria absoluta do PS. Só à terceira tentativa os sociais-democratas acertaram em quem haveria de disputar umas legislativas contra José Sócrates. Pedro Santana Lopes caiu com a maioria, seguiu-se Luís Marques Mendes, de 2005 a 2007, Luís Filipe Menezes, em 2007 e 2008 e, finalmente, Manuela Ferreira Leite, em 2008 e 2009.

Miguel Pinto Luz correu a escrever um artigo no “Jornal de Notícias” a que deu o sugestivo nome de “Reconstruir uma alternativa”, tomando balanço para um passo que, pelo menos por agora, não deu. Acontece que Pinto Luz escreveu antes de se saber que o PS tinha conseguido uma maioria absoluta e, talvez por isso, viu uma derrota do centro, insistindo na falácia de que Rui Rio, só por se afirmar do centro, virou o PSD para o centro. A principal razão da dimensão da derrota do PSD, parece evidente, foi a perceção dos eleitores de que que existia o perigo de um qualquer acordo com a extrema-direita racista e xenófoba e isso não acontece com nenhum partido do centro, em lado nenhum do mundo. 

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