Paulo Baldaia* | TSF | opinião
Um dia lá se fará verdade aquilo em que acreditava Rui Rio, de que o poder lhe cairia no colo por cansaço dos eleitores em relação ao poder socialista. Desta vez, podemos dizer com absoluta certeza que os eleitores se cansaram mais rapidamente da ideia de ter o Chega no poder ou, pelo menos, com capacidade de o influenciar a nível nacional, como já acontece nos Açores.
No arquipélago, os que agora não querem sentar-se ao lado do Chega (por falar nisso, quanto não dava o CDS para ficar mesmo a lado dos deputados de André Ventura?), a direita que se afirma do centro e está desejosa por se encostar ao PS, dizia eu, está muito tranquila com a dependência que tem nos Açores do líder político condenado por discriminação racista.
Nos Açores, nem Rui Rio, nem João Cotrim Figueiredo, se mostraram muito incomodados com a existência de um acordo que estigmatiza os pobres que, de tão pobres que são, precisam do Rendimento Social de Inserção para terem uma vida com o mínimo dos mínimos de dignidade. Não se incomodaram nunca com a falácia dos beneficiários do RSI com Mercedes à porta, nem nunca lhes faltaram sorrisos quando se cruzaram com André Ventura.
E, no entanto, pasme-se, ninguém quer ficar ao lado do Chega no Parlamento. Esta é a direita que acredita que no centro é que está a virtude, mas está disponível para votar em deputados de um partido de extrema-direita. Devem pensar que os eleitores do centro não percebem quem quer fazer caminho com pecados privados e públicas virtudes.
Desenganem-se, o problema dos deputados do Chega não é ter sarna, que contagia por contacto físico. É bem mais grave e exige do PSD e da Iniciativa Liberal que se libertem da ideia dos gurus alinhados com o trumpismo e que se limitam a somar votos para voltar ao poder. As eleições do mês passado mostraram que o poder se continua a ganhar ao centro, mas não chega dizer e, menos ainda, não chega estar ao centro no hemiciclo. É preciso dizer não à extrema-direita, é preciso dizer não ao racismo, é preciso dizer não à desumanização da política. É assim tão difícil de perceber? O que contagia são as ideias extremistas, não é a sarna, que essa não existe no hemiciclo.
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