quarta-feira, 2 de março de 2022

ATÉ ONDE CHEGOU A OCUPAÇÃO DO PORTUGAL QUE FALTA DESCOLONIZAR!

Martinho Júnior, Luanda

Desde que Gorbatchov foi ludibriado pelo império aspirante a “hegemon” unipolar, que a russofobia começou a ser paulatinamente fermentada, desde logo na própria Rússia, aproveitando “intestinamente” a ascensão de Boris Yeltsin, tal o estado de rendição neoliberal que significou sua passagem pelo poder!...

… “No aproveitamento era onde estava o ganho” e esse (re)aproveitamento era proverbial!...

Essa manifestação radicalizou-se particularmente no Cáucaso, na Chechénia (sob Yeltsin a Rússia perdeu duas guerras na Chechénia, uma entre 11 de Dezembro de 1994 e 31 de Agosto de 1996 e a segunda entre 26 de Agosto de 1995 e 31 de Maio de 2000), assistindo, na continuidade da vulnerabilização de suas fronteiras, à “revolução das rosas” na Geórgia que se consumou entre 3 a 23 de Novembro de 2003! 

A “revolução das rosas” antecipou o primeiro ensaio na Ucrânia: a “revolução laranja” que eclodiu em 2004 e 2005, já com o fermento da russofobia instalado!

De facto a expansão do híbrido UE-NATO, começa a sua primeira vaga desde 1999, explorando o ataque e dissolução da Jugoslávia e integrando paulatinamente países que haviam pertencido ao Pacto de Varsóvia!

A pedra basilar foi mesmo a exploração do êxito da reunificação da Alemanha, assim como o estilhaçar da Jugoslávia, entrosada com a emanação das “revoluções coloridas” (de facto práticas de conspiração contra revolucionária)!

Esse produto tóxico serviu, além do mais, para trabalhar os conteúdos ideológicos que estão na forja da superestrutura mental dos novos poderes adquiridos por via da expansão da NATO e da própria UE-NATO, modelando a psicologia de cada um, ou seja, fazendo com que a russofobia subtilmente se estabelecesse em crescendo e radicalizando-se cada vez mais!

Essa fase inicial de expansão ocorreu nos governos de Yeltsin, que perduraram até 31 de Dezembro de 1999 e já no novo século elas continuaram, ao integrarem alguns dos componentes da ex-União Soviética, como os Países Bálticos, numa russofobia operativa que se aproximava do “apartheid” cuja marca inicial, em jeito de cisma, é a “primavera” da Praça Maidan, em Kiev, (de 21 de Novembro de 2013 a 23 de Fevereiro de 2014)!

O geógrafo analista Manlio Dinucci cujos textos são reproduzidos muitas vezes no Voltairenet, explica com incisiva síntese como foi levado a cabo toda essa “metamorfose” do híbrido!

A Praça Maidan entretanto, foi o berço-símbolo dos “batalhões Bandera” (o de Azov e o do Sector da Direita, entre outros), intensificando o nexo neonazi para dentro da linha ideológica da russofobia que derivou para o “apartheid”, desde o momento em que, a leste, foram proclamadas as Repúblicas Populares, dos que não aceitaram o golpe de estado da Praça Maidan, em Donetsk e em Lugansk!

Sendo um expediente com a pedra de toque ucraniana, o produto sulfuroso alargou a superestrutura ideológica da russofobia cada vez mais conforme ao “apartheid” (leste do híbrido UE-NATO) desde os países recém-integrados à superestrutura ideológica dos poderes do “hegemon” unipolar e dos seus vassalos e fantoches zombis, numa perfeita simbiose!

Foi portanto, a partir da expansão da UE-NATO, que se chegou à recuperação do neofascismo e do neonazismo que estão a constituir a “espinha dorsal” do actual “apartheid” em jeito de Nova Guerra Fria (dividir para melhor reinar), facto que se repercutiu também imediatamente no espectro sociopolítico no ocidente europeu!

Em Portugal foi mesmo muito significativo e reflectiu-se nas sensibilidades das últimas eleições para a Assembleia da República: o partido CDS que era uma sequela salazarenta “representativo” (é mesmo um teatro) da presença do colonial-fascismo português enquanto componente fundador da NATO (e partícipe do Pacto Ibérico), desapareceu como por encanto da Assembleia e, em seu lugar está o neofascista, ou o neonazi, como quiseram, CHEGA!      

Era preciso revigorar as fileiras na superestrutura ideológica!

É evidente que Portugal, país ocupado pela NATO, as coisas foram modeladas apesar do contratempo que foi o 25 de Abril de 1974, que foi neutralizado progressivamente por via do “verão quente” que acabaria por culminar no golpe do 25 de Novembro de 1975, o golpe instalador da democracia burguesa, ou seja a “democracia representativa” de autoria e de feição do híbrido UE-NATO!

A experiência talvez mais marcante pelo carácter dos vínculos da trajectória portuguesa, é a do enlace simbolizado pelo tandem Carlucci-Soares (“Contos Proibidos”), um êxito que foi alargado na direcção da ingerência e manipulação nos assuntos angolanos com o tandem Soares-Savimbi, de tal modo que, os que foram forjados para serem passados de mão em mão em Angola (UNITA) são hoje agentes-pródigos do “apartheid” reformulado da UE-NATO em Angola, a coberto da moldagem da “democracia representativa” angolana parida desde o 31 de Maio de 1991 em Bicesse!...

Duma só cajadada o tandem Carlucci-Soares fazia o reaproveitamento do Exercício Alcora, com os papéis definidos para o “apartheid” da irmandade afrikander e para uma sequela comum como a UNITA, ao serviço do império em via de se transformar em “hegemon” unipolar, mentor de russofobia galopante e forjador do “novo apartheid” que constitui o termo, desde logo ideológico, dos pressupostos da definição desde o berço da Nova Guerra Fria (que conceito mais sulfuroso)!…

… As coisas hoje em dia estão de tal forma evocadas e reaproveitadas desde o passado que em Portugal de facto vigora um rebigorado “regime de Marcelos” (simbiose do padrinho Caetano, já desaparecido, com o afilhado Rebelo de Sousa, bem vívido)!...

É para isso que servem os híbridos e, com todas as ambiguidades e ambivalências, com todas as hipocrisias e cinismos, com tanta falta de descolonização mental, é fácil à actual geração da UNITA ter vocação, de mão em mão, duma autêntica 5ª coluna!

…“Heróis do mar” esses “fieis bailundos”!

Tudo isto é condimento para o jogo atracção-repulsão dos media e das vocações sociopolíticas contemporâneas!

Martinho Júnior, 2 de Março de 2022

Imagem: Adalberto da Costa Júnior, o presidente português da UNITA que se vai candidatar a presidente da República de Angola, com as cores que jamais deixaram de fazer parte do simbolismo colonial em Angola, o verde e o vermelho com um galo da pinta de Barcelos para disfarçar – “Adalberto da Costa Júnior já escolheu os nomes para a cúpula da UNITA”, noticia o bom do “Observador” – https://observador.pt/2019/11/17/adalberto-da-costa-junior-ja-escolheu-nomes-para-a-cupula-da-unita/  

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