Cândido Ferreira* | Duas Linhas | opinião
Há muitos anos, que várias escolhas do Partido Socialista, com quem já colaborava antes do 25 de abril e onde ainda mantenho filiação, não cessam de me arrepiar. A recente expulsão do “histórico” Maximino Serra, um venerável ancião de 87 anos, é mais uma prova de que a atual família socialista se distancia progressivamente da herança moral e da declaração de princípios dos Fundadores do Partido.
Mas quem é Maximino Serra, porventura um desconhecido para a maioria dos leitores? Irmão mais novo do mítico Manuel Serra, sobre ele direi, simplesmente, que é talvez o maior herói da resistência antifascista ainda vivo. E que é, de certeza, um patriota com sólidas e íntegras credenciais, exibidas até à exaustão, durante mais de 70 (setenta!…) anos de luta tenaz e constante pelos valores da liberdade e da democracia.
Ainda jovem, Maximino Serra já se distinguia pela sua coragem e energia na luta contra a ditadura, tendo visto cair companheiros anónimos, a seu lado, durante o desastrado assalto de Varela Gomes ao Quartel de Beja, em 1961.
Referenciado pela PIDE e sem apoios logísticos, até mesmo traído por alguns infiltrados julgados seus amigos, ainda assim Maximino Serra logrou sair de Portugal para se abrigar onde conseguia sobreviver, passando as piores privações num conturbado desterro pelo Norte de África.
Antes e depois dessa ocorrência, acompanhou de perto Humberto Delgado, de quem se tornou íntimo e que só foi assassinado porque, em 1965, desprezou os seus repetidos avisos.
E, no entanto, embora a sua extraordinária “lenda” seja incontestável, nem assim evitou que fosse “expurgado” do PS, o seu Partido de sempre. Insisto na palavra “expurgo” porque, ao seu afastamento, dadas as circunstâncias em que decorreu o processo, nem sequer poderá ser atribuída a estatutária figura de “expulsão”.
Vale a pena debruçarmo-nos sobre o “crime lesa-PS” por que este militante socialista de sempre, foi condenado por ilustres desconhecidos de que nenhuma obra notável se conhece.
Homem de pensamento livre, e assumidamente rebelde que não se verga a desaforos nem se submete a tiranias, Maximino Serra entendeu inscrever o seu nome, como último suplente, numa lista candidata à Câmara de Alcobaça, integrando uma plataforma eleitoral independente que se apresentou sob a sigla “Nós Cidadãos”.
A razão dessa sua atitude baseou-se no apoio nunca negado a Rui Alexandre, ex-Presidente da Secção de Alcobaça do PS, e candidato já designado, mas que, por artes, foi afastado e humilhado pelas estruturas locais e regionais do PS, à última hora.
Quanto bastou para agora lhe ser movido um “processo de expulsão” que, de bem orquestrado pelos seus adversários internos, nem sequer teve conhecimento. Assim mesmo, Maximino Serra foi expulso de um partido dito democrático, sem que a Comissão de Jurisdição, ao contrário do que afirma, lhe tivesse, sequer, concedido o direito à defesa.
E ainda bem que assim aconteceu porque, conhecendo eu o meu amigo “Serrita”, como bem conheço, teria sido mais um “cabo dos trabalhos”, certamente com ele a responder em linguagem verbal, e gesticular, à medida daquela que os ucranianos usam contra Putin.
Filiado num Partido assente no sagrado princípio “unidade sim e unicidade não”, sempre reivindiquei o direito de, em eleições autárquicas, expressar o meu apoio a quem o entendesse, independentemente da cor política.
Ora, embora eu não tivesse integrado qualquer lista nas últimas eleições, e até tivesse expressado publicamente o meu apoio a algumas candidaturas do PS, ainda assim cometi uma exceção. Precisamente em Alcobaça, e na qualidade de ex-Presidente da Federação do PS de Leiria, aceitei o irrecusável convite do também meu querido amigo Rui Alexandre, de quem fui “mandatário de honra”.
O bom povo diz que tão ladrão é quem vai à vinha, como quem fica ao portão. Caso a Direção do PS não intervenha, e não ponha um fim neste disparate, mantendo a expulsão de Maximino Serra, exigirei no local próprio que também me seja movido um consequente processo de expulsão a que, a não ser sumário, tal como o de Maximino Serra, farei o possível por responder polidamente.
*Sobre Cândido Ferreira na Wikipédia, militante do PS:
Cândido Manuel Pereira Monteiro Ferreira (Cantanhede, 1949) é um médico e político português, que foi candidato a Presidente da República Portuguesa em 2016
Na sua juventude, opôs-se ao regime do Estado Novo, chegando a ser detido.[2]
Em 1974, após a Revolução dos Cravos, filiou-se no Partido Socialista de Mário Soares. Em 1976, foi mandatário-jovem da candidatura presidencial de Ramalho Eanes às presidenciais do mesmo ano, tendo-se desvinculado do Partido Socialista, para onde voltaria em 1982.[1]
Foi membro da Assembleia Municipal de Leiria, tendo sido o líder da bancada do PS entre 1985 e 1989. Chegou ainda a ser candidato a Presidente da Câmara Municipal, perdendo para o candidato social democrata.[1]
Foi Presidente da Federação Distrital do Partido Socialista em Leiria entre 1991 e 1995, sendo diretor de campanha local de Jorge Sampaio nas presidenciais de 1996.[1]
Foi ainda candidato à Assembleia da República pelo PS nas eleições legislativas de 2002, em lugar não elegível.[1]
Em 2011, candidatou-se à liderança do Partido Socialista contra o Primeiro Ministro José Sócrates.[3] Após ter sido derrotado por Sócrates, deixou o Partido Socialista, não chegando a tomar posse na comissão nacional.[1]
Em 2015, apresentou-se em Cantanhede como candidato às eleições presidenciais de 2016.[4] A sua candidatura presidencial foi marcada por um momento em que abandonou um debate presidencial com Marcelo Rebelo de Sousa, Jorge Sequeira e Vitorino Silva, por discordância com os tempos de antena dados a cada candidato.[2] Ficou na última posição entre 10 candidatos, com pouco mais de 10 mil votos, tornando-se o candidato presidencial que obteve o menor número de votos desde 1974.
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