Artur Queiroz*, Luanda
A construção de um país é permanente ao longo da sua existência e envolve todas as gerações. Hoje estamos a construir a Angola dos nossos filhos ao mesmo tempo que mantemos vivo o presente, para que a felicidade entre em casa de cada angolano, seja rico ou pobre. A riqueza que criamos paga as nossas contas mas garante às futuras gerações um país mais justo e solidário. Amanhã os nossos filhos fazem o mesmo pelas suas famílias e de geração em geração vamos melhorando as nossas vidas.
O país que hoje temos foi construído por milhões de angolanos durante séculos. Nesta corrente patriótica existe um elo muito importante: A geração dos que nos anos 50 ousaram sonhar uma Angola livre e independente. São aqueles que enfrentaram mil perigos, os campos de concentração e as masmorras, a mais selvática repressão. Os que fizeram frente ao colonialismo, sempre apoiado pelas grandes potências ocidentais e particularmente pela OTAN, já que Portugal é um Estado membro daquele bloco militar ofensivo, agressivo e profundamente reaccionário.
Angola teve sempre na juventude a sua grande riqueza. Por isso o Povo Angolano hoje é livre e independente. Milhares de jovens ousaram fazer a guerra de guerrilhas para escorraçar os ocupantes e conquistar a liberdade. Sucessivas gerações foram obrigadas a consentir imensos sacrifícios para que Angola acedesse à Independência Nacional. Mas foi preciso ir ainda mais além e defender a soberania. Até que em 4 de Abril de 2002 chegou finalmente a paz. Tinha caído o pano sobre décadas de guerra, dor e luto.
A guerra, em todas as suas fases,
foi imposta por forças estrangeiras, com o estado terrorista mais perigoso do
mundo (EUA) ao comando. Não, nunca houve guerra civil
A paz é tão suave, que poucos se dão conta que já tem 20 anos. O maior troféu daqueles que tudo sacrificaram para hoje vivermos em paz, é termos uma geração que não sabe o que significa a guerra. Milhões de adolescentes e jovens angolanos nunca viram os deslocados que se refugiavam em Luanda e noutras cidades onde a guerra tinha ficado à porta. Temos uma geração que nunca ouviu troar os canhões.
Milhões de adolescentes e jovens angolanos não conheceram a penúria de bens alimentares, nunca ficaram à porta da sua escola destruída, não sofreram com a doença sem ninguém que lhes aliviasse o sofrimento ou sem medicamentos que os curassem. Nunca fugiram das suas casas e das suas terras, escorraçados por soldados armados sem bandeira nem pátria. Temos hoje milhões de adolescentes e jovens que não viram morrer ao seu lado, familiares e amigos. Esta vitória estrondosa não entra nas estatísticas dos ganhos da paz. Mas ela existe.
A paz que hoje temos tem mais de 20 anos. Para os ociosos, já foi há muito tempo. Para os que nunca viraram a cara à luta, foi há instantes. Os que não conseguem ver os ganhos da paz, 20 anos ou 20 horas é igual. Angola só está no bom caminho quando virem satisfeitas as suas ambições, sem que façam nada por isso. Mas os ganhos são tantos, as mudanças são tão grandes que é difícil enumerá-las todas.
Não vou cansar os leitores com números. Há vitórias que não se medem assim. Em 20 anos a esperança de vida aumentou em Angola como nunca antes tinha aumentado em qualquer parte do mundo. A vida não tem preço, nem para os que vivem do parasitismo e de expedientes políticos mais ou menos habilidosos. Quem ainda não viu os benefícios da paz, tem no aumento da esperança de vida um exemplo indesmentível.
Em 20 anos de paz, a mortalidade materna e infantil caiu muito. Os especialistas acham que estamos perante um caso de estudo. Uma criança que nasce, uma só, é a maior riqueza de Angola. É a maior riqueza de cada um de nós. E todos temos o dever de fazer com que essa riqueza se valorize. Cada criança que nos mais de 20 anos de paz ficou viva, está viva, pode vir a ser cientista, líder de excepção, artista que cria maravilhas, uma ou um pensador que encontra o caminho eterno da felicidade humana. Uma mãe que gera e educa um Cristo redentor.
Houve tempo em que tínhamos
escolas sem professores ou professores com escolas
Hoje os angolanos não morrem à porta de hospitais destruídos ou por falta de médicos e medicamentos. Angola nunca teve tantos técnicos de saúde. Em momento algum da nossa História existiram tantas unidades de saúde.
No mundo desenvolvido os governos constroem casas e bairros sociais. Nos 20 anos de paz estamos a construir grandes cidades. As Centralidades que nascem por todo o país, só por si, eram suficientes para dizermos que todos os anos de paz valeram a pena.
Mas ainda temos a registar o
aprofundamento da democracia, o crescimento económico apesar da crise
internacional e da COVI19, os milhares de postos de trabalho criados. Os
caminhos da paz correspondem a estabilidade política e social
*Jornalista
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