sábado, 17 de setembro de 2022

Angola | O IRMÃO GÉMEO DO MANINHO KWACHA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Eu tive sempre um irmão gémeo para o qual atirava todas as culpas quando era apanhado a fazer asneira da grossa. A senhora professora acusava-me de ter partido o tinteiro embutido no tampo da carteira e eu dizia-lhe, muito despachado, que tinha sido o meu irmão gémeo. Ia à granja do chede de posto roubar fruta, sobretudo pitangas e morangos. Quando era apanhado, fugia para os “carneiros”, nome dado à captação de água que depois era bombeada para um depósito ao lado da administração. Levantava os braços e berrava: Rendo-me. Mas não fui eu, foi o meu irmão gémeo. 

No liceu, quando o Pires, chefe dos contínuos, me apanhava a roubar os pontos que ele policopiava numa velha máquina, no cubículo ao lado da cantina, eu dizia-lhe que o ladrão era o meu irmão gémeo. Um dia fui com Carmencita de Sevilha para o hotel Universo. Antes do nascer do sol, fugimos sem pagar o quarto. Fui apanhado já na rua. Disse aos meus captores que só gostava de meninos. Quem leva meninas para os hotéis é o meu irmão gémeo. 

O meu irmão gémeo não existia. Mas tive um irmão que foi treinado na especialidade de sapador, nas tropas especiais, em Lamego. Aprendeu tão bem a mexer nos explosivos que ficou lá a dar instrução. Quando o mandaram para casa aderiu a uma organização armada enquanto estudava Agronomia. 

Destruiu à bomba 17 helicópteros na base aérea de Tancos que iam para a guerra colonial. Um dia antes da sua inauguração, destruiu o quartel da OTAN (ou NATO) em Oeiras, arredores de Lisboa. Ia albergar o comando ibérico da pacífica instituição. Um dia antes de partir para Bissau com tropas, pôs uma bomba no casco do navio Niassa. Viagem acabada, antes de começar. Quando foi apanhado, disse aos seus captores e torturadores, que o bombista era o seu irmão gémeo. Não acreditaram. Otelo Saraiva de Carvalho libertou-o com o 25 de Abril. Depois de ser condenado a uma carrada de anos na prisão, mais medidas administrativas.

Adalberto da Costa Júnior, desde que chegou à liderança da UNITA, diz que há fraude eleitoral. Fraude, fraude, fraude. Denunciou que estavam a construir um túnel secreto entre as instalações da Comissão Nacional Eleitoral e o Palácio da Cidade Alta, para a fraude eleitoral. Os votos estavam a ser contados e ele denunciava fraude eleitoral. Hoje foi ocupar o seu lugar de deputado e disse aos jornalistas, sem o menor pudor: “Eu nunca disse que houve fraude eleitoral”. Mais um que atira com os seus actos para o irmão gémeo.

Os “revus” gritam desalmadamente que os seus irmãos gémeos da UNITA são uns traidores ignóbeis. Os deputados eleitos nas suas listas não deviam ocupar os seus lugares na Assembleia Nacional. Os generais Wambu e Apolo fazem festa todos os dias, nas casas de suas ajudantes de cama. O verme gorducho Chico Viana, que transpira banha de porco por todos os poros e pelo hálito, está a gastar por conta, como sempre fez. O Adalberto está milionário e os votos que se lixem. O Chivukuvuku vai construir mais um prédio de dez andares. E os maluquinhos da revolução queriam que eles não comessem o banquete. Tuhima! Nunca mais ganham juízo.

  O senhor Presidente da República disse no seu discurso de posse que é necessário reformar o Conselho de Segurança da ONU. Washington não gostou nada. EUA, Federação Russa, França, Reino Unido e República Popular da China são os membros permanentes. Ninguém percebe o que estão lá a fazer franceses e britânicos. A desculpa é que foram potências vencedoras da II Guerra Mundial. O que não é verdade. 

A França estava ocupada pelos nazis e o Reino Unido pouco mais fez do que defender-se como pôde. É altura de saltarem. Porque na verdade estão no Conselho de Segurança porque em 1945 eram as mais importantes potências coloniais. Tinham a missão de defender o colonialismo. Para os seus lugares têm de ir o Brasil e a Índia.

Quando o Conselho de Segurança foi criado, em 1945, África estava ocupada por potências estrangeiras. Hoje a situação é totalmente diferente, O Continente Africano tem de ser representado pela sua maior potência, a África do Sul. E por Angola, que libertou África e o Mundo do regime racista de Pretória. 

Em vez de cinco, o Conselho de Segurança deve ter sete membros permanentes. E todos com direito de veto. Ou então, nenhum.

Esta é a única reforma possível. E assim sendo, o Conselho de Segurança passa a ser uma fortíssima delegação dos BRICS: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Os EUA ficam sozinhos. Isto dando de barato que Angola quer continuar a ser uma potência emergente e não um país vassalo do estado terrorista mais perigoso do mundo. 

O quadro de hoje não pode continuar, A Europa tem dois membros permanentes (França e Reino Unido) mais a Irlanda, Albânia (uma base militar dos EUA) e Noruega. E ainda a parte europeia da Federação Russa!

África tem apenas Gabão, Gana e Quénia como membros não permanentes, até 2023. Os estados americanos têm um membro não permanente: o México. Venha daí essa reforma. Mas à minha maneira. Porque se é para desvalorizar ainda mais o continente africano e valorizar a falida e decrépita Europa, deixem estar como está. 

A Assembleia Nacional está em plenas funções sob a presidência de Carolina Cerqueira. Já temos o executivo em funções. E os governadores provinciais. Angola é imparável. A partir de hoje, os nossos sonhos não mais serão adiados. Confiemos nos órgãos de soberania e nos seus titulares. Mas todos temos que fazer coragem! Um país não se constrói com conversa fiada e irmãos gémeos que não existem. E na não podermos contar com os maninhos kwachas. Eles só sabem matar, destruir e trair.

*Jornalismo

Sem comentários:

Mais lidas da semana