Marcelo conta história de D. Pedro a Bolsonaro em encontro de 20 minutos
PR português garantiu que na reunião com o seu homólogo não se falou de política nem das eleições presidenciais do Brasil marcadas para outubro.
O chefe de Estado português, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou esta terça-feira que aproveitou um encontro com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, de cerca de 20 minutos, para contar a história da vida de D. Pedro.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, a reunião bilateral, que decorreu no Palácio Itamaraty, em Brasília, "correu muito bem, à medida dos 200 anos de História do Brasil", e não se falou da campanha para a Presidência da República do Brasil.
"Eu aproveitei para contar a história de D. Pedro, a vida de D. Pedro. Isso foi um grande ponto de partida", declarou aos jornalistas.
Depois da reunião com Bolsonaro, o Presidente português visitou no Itamaraty o espaço onde está exposto o coração de D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, conservado em formol e guardado numa cápsula de vidro, que foi trazido de Portugal para as comemorações do bicentenário da independência do Brasil.
A seguir, antes de deixar o Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Marcelo Rebelo de Sousa prestou declarações à comunicação social.
O Presidente português referiu ter contado a Bolsonaro que D. Pedro, "com menos de 35 anos tinha nascido e morrido no mesmo quarto do Palácio de Queluz, atravessado o Atlântico mais de uma vez, sido imperador do Brasil, sido rei de Portugal, vencido uma guerra civil e depois, com o trono nas mãos de sua filha, morrendo de tuberculose, logo a seguir a essa vitória".
De acordo com Marcelo Rebelo de Sousa, no encontrou falou-se sobre "como o Brasil se foi afirmando ao longo dos 200 anos e a projeção hoje".
"E falei obviamente, tinha de falar, do peso dos brasileiros em Portugal, que vão a caminho dos 250 mil -- o que, para 10 milhões de habitantes, é um peso muito apreciável", acrescentou.
Questionado se não conversaram acerca da campanha eleitoral em curso no Brasil, à qual são candidatos, entre outros, Jair Bolsonaro e Lula da Silva, o chefe de Estado português respondeu: "Não, não se falou. Estava ali um Presidente da República com outro Presidente da República e, portanto, não se ia falar de problemas internos nem de um Estado nem do outro".
"Seria incompreensível" não estar nas celebrações dos 200 anos do Brasil
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que "seria incompreensível" não estar nas celebrações dos 200 anos da independência do Brasil e rejeitou a possibilidade de ficar associado à campanha eleitoral brasileira.
"São duas coisas completamente separadas", sustentou o Presidente português, em declarações aos jornalistas, no Palácio Itamaraty, em Brasília, onde se encontrou durante 20 minutos com o seu homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, "seria incompreensível que Portugal não estivesse representado ao mais alto nível naquilo que é um momento histórico único na vida do Brasil e de Portugal".
"Não tem nada a ver com que o que se passa na vida interna dos países, como já não teve quando há cem anos o Presidente [da República Portuguesa] António José de Almeida aqui veio [por ocasião dos cem anos da independência do Brasil], num momento difícil da vida política portuguesa e da vida política brasileira", prosseguiu o chefe de Estado.
Marcelo Rebelo de Sousa enquadrou a sua presença "no plano do Estado", que distinguiu da "vivência própria dos regimes políticos e dos sistemas políticos em cada momento".
Por outro lado, assinalou que também estão em Brasília para as comemorações do bicentenário da independência do Brasil os chefes de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e de Cabo Verde, José Maria Neves, que foram igualmente recebidos por Bolsonaro no Palácio Itamaraty.
No seu entender, seria "uma ironia do destino" que estivessem esses representantes "de Estados que nasceram também a partir também do império colonial português" nas comemorações dos 200 anos do Brasil "e não estivesse o Presidente da República do país que mais ligado estava a este facto".
"Portugal, que teve um domínio colonial sobre o Brasil no tempo do império, tendo sido, por coincidência única na História do mundo, o filho do rei de Portugal a declarar a independência do Brasil e a dotar o Brasil de uma Constituição, coisa rara naquela altura", referiu.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou como motivo adicional para a sua presença a vinda do coração de D. Pedro I do Brasil e IV de Portugal especialmente para estas comemorações, "um gesto simbólico que é único".
Relação entre Portugal e Brasil "é sempre excecional"
Antes, à entrada para a reunião com Bolsonaro, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que a relação entre Portugal e o Brasil "é sempre excecional".
À chegada ao Palácio Itamaraty, em Brasília, Marcelo Rebelo de Sousa dirigiu-se por breves instantes à comunicação social. Questionado sobre o que esperava da reunião com Bolsonaro, respondeu: "São sempre boas, [a relação entre] Portugal e Brasil é sempre excecional".
O encontro entre os dois chefes de Estado, que estava marcado para as 18:30 locais (22:30 em Lisboa) começou com cerca de uma hora de atraso.
Jair Bolsonaro só chegou ao Palácio Itamaraty pelas 18:50 locais e antes de Marcelo Rebelo de Sousa recebeu os outros dois chefes de Estado de países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) presentes em Brasília para estas comemorações do 7 de setembro, Umaro Sissoco Embaló, da Guiné-Bissau, e José Maria Neves, de Cabo Verde.
O Presidente da República vai participar nas comemorações do bicentenário da independência do Brasil, onde estará entre terça e sexta-feira, com programa em Brasília e no Rio de Janeiro.
Augusto Santos Silva, a segunda figura do Estado português, estará igualmente em Brasília para as comemorações do bicentenário da independência do Brasil, a convite do presidente do Senado Federal brasileiro, Rodrigo Pacheco.
Estas comemorações acontecem quando está em curso a campanha oficial para a eleição do Presidente da República Federativa do Brasil, marcada para 02 de outubro, com uma eventual segunda volta em 30 de outubro, a que se candidatam, entre outros, Jair Bolsonaro e Lula da Silva.
Marcelo Rebelo de Sousa esteve no Brasil há dois meses, entre 02 e 04 de julho, com passagens pelo Rio de Janeiro, onde assinalou o centenário da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, e por São Paulo, para a inauguração da Bienal do Livro, que na edição deste ano teve Portugal como país homenageado.
Estava previsto encerrar essa
visita em Brasília, com um almoço com o Presidente do Brasil, mas Jair
Bolsonaro fez saber pela comunicação social que já não o iria receber, decisão
que justificou com o facto de Marcelo Rebelo de Sousa se encontrar antes com o
antigo chefe de Estado brasileiro Lula da Silva
Face à atitude de Bolsonaro, Marcelo Rebelo de Sousa começou por manter o seu programa, aguardando uma comunicação por escrito, e depois desistiu de ir a Brasília, mas sempre desdramatizando este episódio e o seu impacto nas relações bilaterais.
Ao mesmo tempo, deu como certo o seu regresso ao Brasil em setembro para as comemorações dos 200 anos da independência: "O Senado já convidou para eu ser o orador convidado. Mas vem comigo o presidente do parlamento português [Augusto Santos Silva], e virá comigo o Governo, para mostrar que os órgãos de soberania todos cá estarão nesse momento fundamental", declarou na altura.
Diário de Notícias | Lusa | Imagem: © EPA/Manuel De Almeida
*Título PG
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