O Presidente moçambicano, Filipe
Nyusi, disse há dias que há bombas de combustível no país usadas para financiar
o terrorismo
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, fez a denúncia há uma semana, durante uma sessão com os membros do governo provincial de Sofala, centro do país.
Na sua declaração, o estadista foi incisivo: "Em Sofala, bombas é o que há demais, com todo o tipo de nomes. Temos informações de pessoas que usam estes meios para subsidiar os terroristas", revelou.
Insulto aos empresários
Não é a primeira vez que Nyusi aponta
o dedo para Sofala. Em 2019, também de visita à província, disse que havia
empresários beirenses que apoiavam o terrorismo
"Quando a gente diz que a madeira agora tem de ser feita assim, ele fica zangado e vai ficar no mato", indicou Nyusi na altura.
Em agosto de 2020, o chefe de
Estado voltou a lançar uma "bomba" contra o mesmo alvo. No
lançamento da Agência do Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN)
Para o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a terceira força política no país, Lutero Simango, as declarações de Filipe Nyusi são um "insulto". Dizer que há bombas de gasolina que servem para financiar o terrorismo sem apresentar nomes, nem provas, é colocar "sob suspeita" todos os que trabalham nestes locais.
"Nós não vamos admitir que venha aqui em Sofala ou outras províncias para insultar os empresários moçambicanos", defendeu Simago, acrescentando que "o problema de Moçambique é a FRELIMO, que não sabe governar".
Afugentar os suspeitos?
O sociólogo João Feijó diz que não cabe ao chefe de Estado fazer estas denúncias. Mas, segundo Feijó, isso acontece devido à inoperância do Ministério Público, que é quem deve investigar e chamar os suspeitos à Justiça.
"Se a Justiça fosse forte, o chefe de Estado não iria para a comunicação social dar estes recados para afugentar os potenciais suspeitos", diz Feijó.
No país, há muito que são denunciados casos de redes de negócios obscuros com supostas ligações à elite política nacional. João Feijó acha que talvez seja por isso que Nyusi prefere "disparar" para o ar sem avançar nomes: "Ele tem que mandar este tipo de indireta e mandar as pessoas fugirem de forma a que saiam e não incriminem a ninguém", diz o sociólogo moçambicano e pesquisador no Observatório do Meio Rural.
Desconfianças mútuas
Para a ativista social Quitéria Guiringane, as palavras de Filipe Nyusi são fruto de despreparo discursivo. E "deveriam merecer antes uma análise para evitar a sua banalização pública".
Guiringane diz que, ao fazer estes pronunciamentos públicos, Nyusi está a fazer soar falsos alarmes, além de "comprometer ações de inteligência que deveriam neutralizar os agentes".
Ao fazer denúncias generalistas, Nyusi está também a prejudicar o setor empresarial, acrescenta a ativista. "Porque o setor empresarial começa a desconfiar mutuamente. Ninguém consegue fazer negócios com o outro para não estar relacionado com o financiamento ao terrorismo".
Para Quitéria Guiringane, esta postura de Nyusi é contraproducente.
Inimigos da FRELIMO?
Ainda na semana passada, durante
uma reunião com quadros da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO),
Filipe Nyusi disse que os cabecilhas do terrorismo
Guiringane critica Nyusi: "Não me parece que seja esse o papel do Presidente da República, criar esse ambiente que não ajuda no combate ao terrorismo. Até os próprios deslocados todos os dias são desconfiados de serem eles os terroristas e sofrem sevícias".
Desde junho que o Ministério dos Recursos Minerais e Energia interditou a construção de bombas de combustível nas capitais provinciais e na circular de Maputo. De acordo com as autoridades, a medida visa garantir a segurança das pessoas e bens e a proteção do meio ambiente.
Amós Fernando | Deutsche Welle
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