Tristeza, descrédito, declarações de apoio e exigência de justiça para as vítimas dominaram o debate nas redes sociais relativamente às acusações de abuso sexual de menores contra o ex-administrador apostólico de Díli, Ximenes Belo.
Depois de um silêncio inicial relativamente às notícias divulgadas pelo jornal holandês De Groene Amsterdammer, na quarta-feira, nas últimas 24 horas multiplicaram-se as publicações nas redes sociais sobre o caso.
Comentários e publicações que refletem as divisões no tratamento deste tema pela sociedade timorense, predominantemente conservadora, e que já se tinham evidenciado durante a investigação e julgamento do ex-padre norte-americano Richard Daschbach, condenado em dezembro a 12 anos de prisão por cinco crimes de abuso sexual de menores.
São várias as publicações em que são partilhadas notícias entretanto divulgadas sobre o assunto com a exigência de “justiça para as vítimas”.
A religião não é o problema, o problema são as pessoas que fazem o mal”, escreveu uma timorense no Facebook, a rede social mais usada no país.
Ao mesmo tempo, porém, são dominantes declarações de apoio “total” a Ximenes Belo e referências ao seu papel na luta pela independência de Timor-Leste, motivo pelo qual em 1996 lhe foi conferido o Prémio Nobel da Paz.
“Apoio sem reservas a Ximenes Belo”, escreveu uma timorense.
Inúmeros internautas, incluindo jornalistas timorenses, colocaram como foto de perfil uma imagem de Ximenes Belo, com muitos a questionarem a veracidade das notícias.
“Salvador e motivador do povo maubere na luta pela libertação da pátria. Respect”, escreveu um internauta.
“Coragem e força para o ‘Amo’ Carlos Filipe Ximenes Belo, que enfrenta agora uma situação difícil”, escreveu outro.
Muitos dos comentários sobre o caso questionam o facto de os alegados abusos só terem sido denunciados décadas depois de terem acontecido.
A maior parte dos comentários não faz qualquer referência às declarações entretanto proferidas pela hierarquia da Igreja, nomeadamente o anúncio da Santa Sé de ter imposto sanções disciplinares a Ximenes Belo nos últimos dois anos, após alegações de que o Nobel da Paz teria abusado sexualmente de menores em Timor-Leste nos anos 1990.
Em comunicado, o porta-voz do Vaticano disse que o gabinete que lida com casos de abuso sexual recebeu alegações “sobre o comportamento do bispo” em 2019 e, no prazo de um ano, tinha imposto sanções.
As sanções incluem limites aos movimentos do bispo e ao exercício do seu ministério, bem como a proibição de manter contactos voluntários com menores ou com Timor-Leste.
As medidas foram “modificadas e reforçadas” em novembro de 2021 e em ambas as ocasiões Ximenes Belo aceitou formalmente o castigo, acrescenta-se no comunicado, do porta-voz Matteo Bruni.
O assunto tem sido praticamente ignorado pela imprensa timorense, com os jornais em papel, portais online e a agência oficial timorense, Tatoli, sem publicar qualquer noticia sobre o assunto.
Destaca-se apenas a televisão GMN, que fez uma entrevista alargada com o representante máximo da Santa Sé em Díli, monsenhor Marco Sprizzi.
O quase silêncio da imprensa timorense prosseguiu na quinta-feira, quando o Presidente José Ramos-Horta proferiu comentários sobre o caso à chegada a Díli, numa conferência de imprensa com dezenas de jornalistas.
A imprensa publicou vários artigos sobre outros aspetos da conferência de imprensa, ignorando as declarações sobre o caso Ximenes Belo.
Observador | Lusa | Imagem: Hugo Delgado / Lusa
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