terça-feira, 15 de novembro de 2022

Taiwan. Biden critica a China e Xi avisa EUA para que não cruzem "linha vermelha"

Os presidentes dos EUA e da China estiveram reunidos esta segunda-feira em Bali, na Indónesia, no primeiro encontro bilateral presencial desde que Joe Biden assumiu o cargo. O presidente norte-americano criticou as "ações cada vez mais agressivas" da China em relação a Taiwan e Xi Jinping enfatizou que essa questão "é a primeira linha vermelha que não deve ser cruzada" nas relações entre os EUA e a China. Apesar disso, Biden acredita que "não há qualquer tentativa iminente" por parte da China de invadir Taiwan e defende que "não é preciso haver uma Guerra Fria" entre Washington e Pequim.

A questão de Taiwan foi um dos temas mais controversos a ser debatido no primeiro encontro pessoal entre Joe Biden e Xi Jinping.

De acordo com um comunicado da Casa Branca, o presidente norte-americano “levantou objeções às ações coercivas cada vez mais agressivas” da China em relação a Taiwan, “que prejudicam a paz e a estabilidade em todo o Estreito de Taiwan e na região mais ampla e comprometem a prosperidade global”.

Por sua vez, o presidente chinês Xi Jinping advertiu que “a resolução da questão de Taiwan é da competência dos chineses” e que esta “é a primeira linha vermelha que não deve ser cruzada” nas relações entre os EUA e a China.

“A questão de Taiwan está no cerne dos interesses centrais da China, a base da fundação política das relações sino-americanas, e é a primeira linha vermelha a não ser cruzada nas relações sino-americanas”, alertou Xi Jinping.

“Qualquer pessoa que procure separar Taiwan da China estará a violar os interesses fundamentais da China e o povo chinês nunca o permitirá. Esperamos ver paz e estabilidade no Estreito de Taiwan, mas a paz e a 'independência' de Taiwan são irreconciliáveis”, acrescentou. A ilha e o continente são governados separadamente desde 1949, mas a República Popular da China reivindica soberania sobre Taiwan.

O líder chinês disse esperar que Washington “honre a sua palavra” e “respeite a política de uma só China e os três comunicados conjuntos assinados” pelas duas partes. “São a base das relações entre os nossos dois países”, insistiu Xi Jinping.

Na conferência de imprensa após o encontro desta segunda-feira, Biden disse aos jornalistas que “deixou claro” a Xi Jinping que a política norte-americana em Taiwan “não mudou em nada”.

"Deixei claro que queremos ver as questões relativamente ao Estreito de Taiwan resolvidas pacificamente”, sublinhou o presidente dos EUA.

A política de uma só China dos EUA reconhece a posição de Pequim de que Taiwan faz parte da China, mas não aceita a sua reivindicação de soberania sobre a ilha autónoma. Os Estados Unidos, que são o principal fornecedor de armas de Taiwan, têm declarado que estarão do lado de Taipé em caso de um conflito militar com a China.

As tensões entre Pequim e Washington agravaram-se em agosto, após uma visita à ilha por parte da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi. A visita irritou Pequim, que desencadeou exercícios militares junto a Taiwan.

Apesar das crescentes ameaças, Biden disse acreditar que “não há qualquer tentativa iminente” por parte da China de invadir Taiwan.

“Não é preciso haver uma nova Guerra Fria”

Para além da questão de Taiwan, os dois líderes discutiram ainda as tensões sobre o comércio, que levaram as relações sino-americanas ao nível mais baixo em décadas.

Em comunicado, a Casa Branca anunciou que Biden disse a Xi Jinping que os EUA “continuarão a competir vigorosamente” com a China, mas que “essa competição não se deve se transformar em conflito”.

“Acredito absolutamente que não é preciso haver uma nova Guerra Fria”, disse o presidente norte-americano no final do encontro, que durou mais de três horas.

“Como líderes das duas nações, partilhamos a responsabilidade, na minha opinião, de mostrar que a China e os Estados Unidos podem gerir as suas diferenças, impedir que a concorrência se aproxime de um conflito e encontrar maneiras de trabalhar juntos em questões globais urgentes que exigem nossa cooperação mútua", disse Biden na abertura da reunião.

Por sua vez, numa aparente tentativa de abordar as preocupações dos EUA sobre as ambições da China, Xi Jinping disse ao seu homólogo norte-americano que “a China não procura mudar a ordem internacional existente ou interferir nos assuntos internos dos Estados Unidos e não tem intenção de desafiar ou afastar os Estados Unidos."

Durante o encontro, que antecedeu à cimeira do G20 que decorre em Bali, os dois líderes também discutiram a invasão russa da Ucrânia e as crescentes ameaças nucleares por parte de Moscovo.

“O presidente Biden e o presidente Xi reiteraram o seu acordo de que uma guerra nuclear nunca deve ser travada e nunca pode ser vencida e destacaram a sua oposição ao uso ou ameaça de uso de armas nucleares na Ucrânia”, lê-se no comunicado da Casa Branca.

Xi Jinping disse que a China está "altamente preocupada" com a situação atual na Ucrânia e sublinhou que Pequim "sempre esteve do lado da paz e continuará a encorajar as negociações de paz”.

Biden anunciou ainda que ambas as partes estabeleceram mecanismos para manter as comunicações bilaterais e que o secretário de Estado Antony Blinken viajará para a China para acompanhar as discussões. "Acho que nos entendemos", concluiu Biden.

RTP c/agências | Imagem: Kevin Lamarque - Reuters

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