Na Cimeira do clima realizada na estância de luxo de Sharm El-Sheikh há mais lobistas das indústrias fósseis do que representantes das dez nações mais afetadas pelas alterações climáticas neste momento. Uma presença de largas centenas a que se somam ainda outros lóbis poluidores.
A cada Cimeira das Nações Unidas sobre o clima, a presença dos lóbis das indústrias fósseis é reforçada. Na COP 27, há 636 lobistas destes grupos económicos, um aumento de 25% desde a cimeira passada, ocorrida em Glasgow, revelam a Global Witness, a Corporate Accountability e o Corporate Europe Observatory a partir da análise das listas provisórias de presenças divulgadas pela ONU.
Isto significa, dizem estas Organizações Não Governamentais, que há na presente edição da COP mais defensores dos interesses das indústrias fósseis do que representantes das dez nações mais afetadas pelas alterações climáticas neste momento, a saber Porto Rico, Myanmar, Haiti, Filipinas, Moçambique, Bahamas, Bangladesh, Paquistão, Tailândia e Nepal. E também que a chamada “COP da África” tem mais lobistas do que qualquer uma das delegações nacionais dos países deste continente e que estes são, aliás, mais do que qualquer um das delegações nacionais, tirando os Emirados Árabes Unidos que decidiram levar 1.070 delegados em comparação com os 176 do ano passado.
Esta delegação nacional é também “campeã” do número de lobistas, integrando 70 deles. A seguir, o país mais elementos que defendem os interesses das indústrias fósseis é a Rússia com 33. Ao todo, há 29 países que integram lobistas do fóssil nas suas delegações nacionais.
Para as organizações que monitorizam como estes interesses atuam, não se trata apenas de números mas de um “aumento da influência da indústria dos combustíveis fósseis nos debates” numas negociações climáticas que “já estavam repletas de acusações de censura da sociedade civil e influência corporativa”.
Ao mesmo tempo, denuncia-se, ativistas do Sul Global, comunidades indígenas e outros defensores do clima dos países que mais sofrem com as alterações climáticas “foram efetivamente excluídos das negociações devido aos altos custos, à contestação de vistos e às ações repressivas do país anfitrião”.
Pascoe Sabido, do Corporate Europe Observatory, defende que “com o tempo a esgotar-se para evitar o desastre climático, negociações importantes como a COP27 devem absolutamente avançar para ação concreta de forma a impedir as práticas tóxicas da indústria dos combustíveis fósseis que está a causar mais estragos para o clima do que qualquer outra”. A “extraordinária presença” destes lobistas é “uma piada de mau gosto à custa dos povos e do planeta” num momento em que “pessoas de todo o mundo sofrem dificuldades económicas causadas pelos altos preços da energia e milhões mais sofrem com o impacto desastroso da crise climática”.
Para ele, isto faz com que a COP27 pareça “um festival dos combustíveis fósseis e dos seus amigos poluidores, incentivados pelos recentes lucros excessivos”. O dirigente associativo lembra que “lobistas do tabaco não seriam bem-vindos em conferências sobre saúde, negociantes de armas não poderiam ir promover o seu negócio em conferências” e, por isso, “àqueles que perpetuam a dependência do mundo dos combustíveis fósseis não lhes deveria ser permito entrar na conferência do clima”.
Mais, do que isso, lembram os grupos que escrutinam as grandes empresas mundiais, convém ter em conta que estes não são os únicos lobistas presentes: “outras indústrias profundamente implicadas na crise climática, com os grupos financeiros, o agronegócio e o setor dos transportes também estão presentes”. Pede-se assim que os representantes e defensores dos interesses dos grandes poluidores sejam expulsos de cimeiras climáticas.
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