sábado, 26 de novembro de 2022

UNITED COLORS OF PORTUGAL

Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

A constatação não espantará ninguém, em particular aqueles que vivem nos grandes aglomerados urbanos: há estrangeiros a servir à mesa, na advocacia, a abrir negócios locais, a dar aulas, a conduzir TVDE, na construção civil, ao balcão das farmácias, a tratar doentes nas urgências hospitalares e na caixa do supermercado. A profunda alteração demográfica que tem ocorrido em Portugal nos últimos anos acontece, curiosamente, em sentido contrário à ascensão de um pensamento político radicalizado que ostraciza tudo o que vem de fora. E por isso a realidade do acolhimento entre nós traduz um comportamento social que mostra resistência a nacionalismos bacocos. Os estrangeiros têm hoje praticamente presença em todas as áreas vitais da economia.

O mais recente retrato do país servido pelo Censos é um abanão: um quinto da população vive em apenas 1% do território. Somos menos, fazemos menos filhos, estamos mais velhos, concentramo-nos numa pequena faixa do litoral, estamos mais sozinhos e as famílias monoparentais aumentaram consideravelmente. Os divorciados suplantam já os viúvos. Porém, no meio deste quadro enegrecido, há um dado positivo: só não somos muito menos graças ao crescimento da população estrangeira, que ultrapassa já meio milhão de pessoas (o que equivale, grosso modo, ao dobro dos habitantes que perdemos numa década). Felizmente que apenas uma parte singela de nós ainda acredita que os estrangeiros vieram para cá roubar-nos os empregos e os rendimentos. Portugal é hoje um país multicultural e multiétnico. E essa pegada é quase transversal ao território.

Aliás, os números só não são mais expressivos - e olhando concretamente para o decréscimo dos imigrantes africanos - porque entretanto alguns adquiriram a cidadania portuguesa, cumprindo, dessa forma, uma integração plena no país que agora é o deles. Por isso, da próxima vez que escutarem um pistoleiro político a diabolizar a imigração, lembrem-se de que, se não fossem os estrangeiros, o país demográfico que segue à deriva seria já um navio naufragado no fundo do mar.

*Diretor-adjunto

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