sábado, 3 de dezembro de 2022

Angola | PAZ DE NOVEMBRO AMPUTADA DA DIGNIDADE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Neste Novembro da Independência Nacional que hoje termina, a liberdade perdeu força e está em perigo. A dignidade bazou. Todos somos convocados a reflectir sobre o papel que cabe a cada um, neste presente cheio de ameaças e incertezas a nível planetário, mas também em Angola. O mundo é um imenso palco, onde estão a ser representadas tragédias, que põem em causa valores pelos quais nos batemos com heroísmo. Direitos que os povos tinham como adquiridos e resultaram de séculos de luta pela dignidade humana, esfumaram-se. Em Angola já fizemos o caminho inverso daquele que é percorrido no chamado mundo ocidental. Agora estamos na mesma rota.

Somos um país jovem e de jovens. Foi a juventude angolana que criou esta ditosa Pátria, que a libertou da ocupação e opressão estrangeira, que a manteve intacta face às investidas de forças poderosas, apostadas em submeter os angolanos ao servilismo. Os que têm a idade da Independência Nacional, ao mesmo tempo que repousavam no seio materno a sua inocência, aprenderam a verdade que nesses anos de brasa a todos guiava: Ao inimigo, nem um palmo de terra! Agora estamos a entregar tudo aos estrangeiros.

Enquanto as nossas crianças cresciam, nesse ambiente de agressão e violência contra o povo e o solo pátrio, os seus adultos, mulheres e homens, batiam-se até à última gota de sangue nas trincheiras da liberdade. Este foi o nosso passado e nesses anos de angústia e sofrimento traçámos o destino. Hoje a rota foi mudada sem mandato do Povo Angolano e, acredito, à revelia da maioria dos dirigentes e militantes do MPLA.

No passado, as dificuldades que pareciam intransponíveis, foram resolvidas pela coragem e generosidade dos jovens. Hoje a juventude é de novo convocada a participar nesta missão exaltante de curar todas as feridas que sobraram dos anos de guerra, remover os escombros das destruições de décadas, reconstruir um país que tem tudo para ser grande e onde todos, sem excepção, têm condições ímpares para ser felizes. 

Angola produz mais cereais do que a Noruega. Mas fomos a Oslo pedir apoio para aumentarmos a produção agrícola nessa área. Pedimos aos noruegueses para virem buscar as nossas riquezas minerais. Fomos buscar aos seus covis de ladrões a Anglo American, a The Beers e uma multinacional canadiana que é das mais poluidoras do mundo. Estão na exploração de diamantes. Vão comer outras riquezas minerais. A De Beeers moveu vários processos judiciais ao Estado Angolano e agora voltou como se nada tivesse acontecido. Ninguém explica porquê e ninguém exige explicações.

O rumo foi traçado e mantido, com grandes sacrifícios, desde 11 de Novembro de 1975. Nos anos de paz, após 2002, ficou comprovado que os dirigentes angolanos escolheram bem o caminho. Os desafios que hoje temos pela frente não dizem respeito apenas ao timoneiro e aos que governam o barco. Todos estamos convocados para fazer de Angola um grande país e dar ao Povo Angolano a paz, a abundância e a felicidade que merece.

Na primeira linha, mais uma vez, têm que estar os jovens, ainda que alguns pensem que declarada a paz, chegou o tempo do repouso dos guerreiros. Quem assim pensa está a cometer um erro. E se muitos assim pensarem e agirem, a nossa querida Pátria vai cair nos mesmos abismos em que já caíram os EUA e os povos da Europa, estejam ou não na Zona Euro. Bem vistas as coisas, já caiu. Estamos na vanguarda do liberalismo, que se alimenta dos nossos recursos naturais, das nossas vidas, das nossas liberdades.

Todos reconhecemos o papel ímpar da juventude na construção da Pátria. Angola deve estar reconhecida aos antigos combatentes que se bateram em todas as trincheiras. Isso não se vê da parte do Executivo. À frente de todos vão os que arrotam milhões, mesmo aqueles que tudo fizeram, pela força das armas, para impedirem este Novembro da Independência Nacional. Os problemas dos angolanos só aos angolanos dizem respeito. Mas ninguém ouve um clamor contra a submissão a interesses estrangeiros espúrios. Contra a perseguição a angolanos que criam riqueza e geram postos de trabalho.

Temos que estudar. Ninguém pode aprender por nós. Temos que investigar. Não há desenvolvimento sem investigação. Temos de aprofundar o Estado Social para que ninguém fique para trás.  Para todos terem acesso aos serviços básicos, à Educação, à Saúde, à Habitação, ao Emprego, é preciso criar riqueza. Se nada existe para distribuir, só podemos reproduzir a pobreza. Se produzirmos pouco, os serviços básicos vão ser sempre medíocres. Se as nossas empresas não criarem riqueza, vamos ser sempre pobres, mesmo os que se julgam ricos, meros comissionistas de migalhas.

O Estado Social é uma construção permanente e exige o esforço e a contribuição de todos. A democracia não consente que fiquem cidadãos ou grupos sociais para trás. Mas se nos demitirmos das tarefas que nos são incumbidas, se não melhorarmos a assiduidade e os índices de produtividade, não há recursos para garantir a todos as condições que dão sentido à liberdade: saúde, educação, trabalho e habitação. 

Hoje mais do que nunca Angola precisa de todos os seus filhos para que a crise planetária não ponha em causa o percurso já caminhado e lance obstáculos intransponíveis no caminho que ainda falta percorrer. O caminho que vínhamos seguindo estava certo e era invejado por muitos líderes mundiais. Foi posto de parte e escolhemos amos em vez de parceiros. Suseranos em vez companheiros de jornada.

 Enquanto os governos de países desenvolvidos punham em causa o Estado Social abandonando milhões de seres humanos à sua sorte, o Executivo Angolano reforçava as contribuições sociais. Enquanto EUA e Europa, símbolos do bem-estar social, dos direitos, liberdades e garantias, são fustigados por milhões e milhões de desempregados, Angola criava todos os dias milhares de empregos. Enquanto as economias dos países mais desenvolvidos entravam em recessão ou tinham um crescimento anémico, o nosso crescimento económico, entre 2000 e 2010 era dos mais elevados do mundo. Enquanto a violência tomava conta das ruas das grandes cidades da Europa e dos EUA, Angola aprofundava o processo de paz para que a reconciliação nacional fosse uma realidade indesmentível. Hoje foi tudo posto entre parêntesis. Ou abandonado.

Neste Novembro de paz que hoje termina é o momento certo para todos nos mobilizarmos com mais emergia do que nunca, para construirmos o que ainda falta construir e remover todos os obstáculos que ainda temos pela frente. Um deles é o regresso dos exploradores de sempre, dos colonialistas de sempre, dos genocidas de sempre. Há que dizer não ao retrocesso. Ao regresso a um passado de servidão. A juventude, hoje como ontem, tem um papel imprescindível. E vai responder à chamada. Angola precisa de todos para ser um grande país, reconciliado com o passado e onde todos damos as mãos na construção do futuro.    

*Jornalista

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