Lição da Ucrânia: quebrar promessas a países pequenos significa que eles nunca desistirão das armas nucleares
# Publicado em português do Brasil
Na década de 1990, as potências mundiais prometeram à Ucrânia que, se ela se desarmasse, não violaria sua segurança. Essa promessa foi quebrada.
A UCRÂNIA JÁ FOI o lar de
milhares de armas nucleares. As armas foram estacionadas lá pela União
Soviética e herdadas pela Ucrânia quando, ao final da Guerra Fria, se tornou
independente. Foi o terceiro maior arsenal nuclear da Terra. Durante
um momento otimista no início da década de
A decisão de desarmar foi retratada na época como um meio de garantir a segurança da Ucrânia por meio de acordos com a comunidade internacional – que estava exercendo pressão sobre o assunto – e não pelo caminho mais caro econômica e politicamente de manter seu próprio programa nuclear. Hoje, com a Ucrânia sendo cercada por tropas invasoras russas fortemente armadas e com poucas perspectivas de defesa de seus antigos amigos no exterior, essa decisão parece ruim.
A tragédia que agora se desenrola na Ucrânia está sublinhando um princípio mais amplo claramente visto em todo o mundo: as nações que sacrificam seus dissuasores nucleares em troca de promessas de boa vontade internacional muitas vezes assinam suas próprias sentenças de morte. Em um mundo repleto de armas com potencial para acabar com a civilização humana, a própria não proliferação é um objetivo moralmente valioso e até mesmo necessário. Mas a experiência de países que de fato se desarmaram provavelmente levará mais deles a concluir o contrário no futuro.
A traição dos ucranianos em particular não pode ser subestimada. Em 1994, o governo ucraniano assinou um memorando que trouxe seu país para o Tratado de Não-Proliferação Nuclear global, ao mesmo tempo em que renunciava formalmente ao seu status de estado nuclear. O texto desse acordo afirmava que, em troca da medida, a “Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam sua obrigação de abster-se da ameaça ou do uso da força contra a integridade territorial ou independência política da Ucrânia”.
A integridade territorial da Ucrânia não foi muito respeitada desde então. Após a anexação do território ucraniano da Crimeia pela Rússia em 2014 – que não trouxe uma resposta internacional séria – os líderes ucranianos já começaram a pensar duas vezes sobre as virtudes do acordo que haviam assinado apenas duas décadas antes. Hoje eles soam positivamente amargos sobre isso.
"Nós cedemos a capacidade por nada", disse Andriy Zahorodniuk, ex-ministro da Defesa da Ucrânia, neste mês sobre as antigas armas nucleares de seu país. “Agora, toda vez que alguém nos oferece para assinar uma tira de papel, a resposta é: 'Muito obrigado. Já tivemos um desses há algum tempo.'”