General Moracén herói da
libertação
Artur
Queiroz*, Luanda
“O Presidente José Eduardo dos
Santos é o engenheiro da paz e da unidade dos angolanos”.
“A Independência Nacional foi um
sonho que realizei e ainda me parece irreal”.
Estas palavras são de Humberto
Macedo, angolano nascido na Chibia no ano de 1939 mas cresceu em Fernão do Pó,
um território na costa de África onde se falava espanhol. Chegou a Cabinda em
1965 para fazer a luta armada de libertação nacional. Foi companheiro de Hoji
ya Henda, Iko Carreira, Kiluanji, Pedalé, Dibala, Ingo, Bula Matadi e outros
comandantes da guerrilha. Um dia partiu para um lugar de lado nenhum.
Reapareceu em 1975 para ajudar a subir a Bandeira Nacional no dia 11 de
Novembro. É um dos heróis da Grande Batalha do Ntó, em Cabinda. Hoje
“Macedo” é o general Moracén, adido militar de Cuba em Angola e antigo
combatente da Sierra Maestra.
Um homem que fez a guerrilha em
1965 como vê a Independência Nacional?
Com muita emoção, para mim é um sonho realizado, mas como ando sempre a pé
pelas ruas de Luanda dou comigo a pensar que ainda estou a viver um sonho. E
interrogo-me se é mesmo verdade. Mas a realidade está aí.
É um dos construtores dessa
realidade, que significado tem para si?
Sinto um orgulho imenso. Trabalhei com Agostinho Neto e aprendi tanto com ele!
Fui companheiro de Hoji ya Henda, Iko Carreira, que na altura era o comandante
das forças armadas revolucionárias, Pedalé, Kiluanji, Ingo, Dibala, Ludi, Xyetu
e muitos outros. Convivi com essa figura ímpar que é Lúcio Lara. A
independência é obra de todos essas companheiros, mas esta Angola de hoje e da
qual me orgulho é filha do génio de José Eduardo dos Santos.
Está a falar da paz e da
reconciliação nacional?
José Eduardo dos Santos é o engenheiro da paz e da unidade. Sem paz nada pode
avançar. Sem a unidade e uma consciência nacional forte nem sequer podemos
falar de um país. O Presidente José Eduardo conquistou a paz e a unidade.
Dedicou toda a sua vida a esta causa. Costumo dizer aos meus amigos que
antigamente eu era mais velho do que ele, mas agora depois de tanto esforço,
ele ficou mais velho do que eu.
É a opinião do general Moracén ou
do angolano Humberto, da Chibia?
É a opinião dos dois. Eu costumo dizer que o povo angolano teve muita sorte com
os seus líderes. Primeiro, Agostinho Neto, o pai da independência, que foi
incansável na luta contra o colonialismo, o racismo e o tribalismo. Foi ele que
criou a consciência nacional. Depois José Eduardo dos Santos, o engenheiro
presidente, que anda há 35 anos a lutar pela paz e a unidade. Ganhou a guerra e
agora está a ganhar a batalha do desenvolvimento. É preciso que se mantenha
forte e sempre jovem para aguentar os desafios que os angolanos ainda têm pela
frente.
Que aspectos destaca no seu
percurso?
Tudo merece destaque. Chegou à Presidência em 1979 e teve de dirigir o povo na
guerra contra as agressões estrangeiras. Mas foi ele que fez os acordos de Nova
Iorque e o acordo de Bicesse, mudando profundamente a sociedade angolana. Temos
as eleições de 1992 e aquela vitória estrondosa. Quando Savimbi regressou à
guerra, criou condições para que os deputados eleitos da UNITA continuassem a
trabalhar no parlamento. Arquitectou o Governo de Unidade e Reconciliação
Nacional com ministros de todos os partidos da oposição. Voltou a ganhar
eleições. Está a dirigir o país numa conjuntura internacional desfavorável.
Quais são os efeitos da crise em
Angola?
A crise que rebentou há três anos afectou todo o mundo. Mas os seus efeitos em
Angola mal se sentem. José Eduardo dos Santos é um líder extraordinário e o
mundo de hoje precisa dele. Desejo que cumpra muitos anos de vida para que
continue a unir os angolanos, a consolidar a paz e a promover o desenvolvimento
social de uma forma harmoniosa. Angola, o continente africano e o mundo não
podem dispensar um líder que conhece todos os caminhos que vão dar à paz.
Vamos voltar a Humberto Macedo,
em 1965, na região de Cabinda. Qual era a sua missão?
Fidel Castro escolheu um grupo de seis revolucionários do Exército Rebelde para
vir combater em Angola, na sequência da reunião que Che Guevara teve com
Agostinho Neto, em
Brazzaville. Eu fui nomeado o chefe do grupo. Viemos como
instrutores, mas também participei nos combates. Estive dois anos no maquis e
organizei as colunas Cienfuegos, Camy e Bomboko, que partiram para a I Região.
Depois parti para outras missões e só voltei em 1975.
Para participar na Grande Batalha
do Ntó?
Sim, estive nessa batalha. O inimigo foi derrotado quando pensava que tinha
caminho aberto para tomar a cidade de Cabinda. Eles diziam que a província por
ali era indefensável. Mas nós cavámos quilómetros de trincheiras, acomodámos as
tropas e quando eles entraram com todas as suas forças, foram esmagados. A
batalha durou três dias e foi uma coisa heróica. O batalhão angolano era
comandado por Max Merengue. Entre os oficiais cubanos estava o próprio
comandante Espinoza.
Quem eram os dirigentes do MPLA que em 1965 conduziam a luta armada de
libertação nacional?
Em Brazzaville encontrei na direcção política Agostinho Neto, o reverendo
Silva, Lúcio Lara, Azevedo e o comandante das forças revolucionárias, Iko
Carreira.
Participou em muitos combates?
Entrei em todos os que pude. Nessa altura os combatentes andavam sempre a
dizer: a luta é longa! Um dia fomos atacar o quartel das tropas portuguesas em Buco Zau. Eu propus
abrirmos fogo mas havia camaradas que não queriam, até porque estávamos muito
longe e as balas nem chegavam lá. Mas mesmo assim decidi fazer umas rajadas em
direcção ao quartel. Um minuto depois comecei a ouvir um tiroteio tremendo,
explosões de granadas, um pandemónio. E nós lá do alto a vermos tudo. Virei-me
para os companheiros e disse-lhes: afinal a luta é mesmo longa!
Humberto Macedo já foi à Chibia?
Tenho percorrido o país todo e o que vejo é extraordinário. Por todos os lados
nascem escolas, centros de saúde, estradas, casas. Mais uma vez tenho que
referir o génio de José Eduardo dos Santos. O mundo mergulhado numa crise
tremenda e em Angola o Estado Social continua forte e em expansão. Claro
que existem dificuldades, sobretudo no mundo rural, onde falta quase tudo. Mas
a economia está a crescer e o país melhora a olhos vistos. O que mais me agrada
é que vejo os angolanos felizes. Por isso digo que José Eduardo dos Santos faz
muita falta a Angola. Os problemas ainda não estão todos resolvidos.
O que pensa da Oposição?
Os partidos da Oposição fazem o seu papel e eu penso que estão a trabalhar bem.
Mas sinto uma grande decepção quando leio nos jornais de fim-de-semana aqueles
artigos contra os angolanos ricos, ou novos-ricos como eles lhes chamam. Fico
triste porque me dá a ideia que eles querem o regresso dos ricos colonialistas
e daqueles estrangeiros que durante séculos escravizaram o povo angolano e
roubaram as riquezas de Angola.
Tem alguma relação pessoal com o
Presidente José Eduardo?
Quando chegou à Presidência trabalhei com ele algum tempo, sou fundador daquela
que é hoje a Unidade da Guarda Presidencial. No meu regresso a Angola, como
adido militar de Cuba, teve a gentileza de me receber. Tenho pelo Presidente
José Eduardo um grande carinho, consideração e respeito.
Como define o político José Eduardo?
Um homem de paz e o construtor da unidade dos angolanos. Ele sabe que sem
unidade nada se consegue. Quando cheguei à guerrilha, em 1965, nem sequer
existia uma consciência nacional. Hoje Angola não tem problemas de racismo nem
de tribalismo. A valentia de José Eduardo dos Santos vê-se na nomeação do
general Nunda para comandante das Forças Armadas. Todos sabemos que é um
oficial oriundo das forças da UNITA. Mas o Presidente da República confiou-lhe
o cargo sem hesitar. Os angolanos devem a paz e a unidade a José Eduardo dos
Santos.
Conhece exemplos idênticos em
África?
Não há nada igual em África ou no mundo. O que José Eduardo dos Santos
fez em Angola é único. Conheço muitos países africanos que são independentes há
mais de 50 anos e não têm uma estrada que ligue o país de Norte a Sul. Angola
tem as capitais provinciais ligadas com estradas asfaltadas.
Rafael Moracén Limonta aliás
Humberto Macedo
O general Rafael Moracén Limonta
entrou muito jovem para o Exército Rebelde que na Sierra Maestra combatia pela
libertação de Cuba. Fazia parte da Terceira Frente, comandada pelo mítico
comandante Juan Almeida.
Fez parte de um grupo de combatentes que foi treinado para combater com Che
Guevara em África. Quando “El Che” esteve em Brazzaville a conferenciar com
Agostinho Neto, recomendou a Fidel que seleccionasse um grupo de combatentes
para dar instrução militar aos guerrilheiros angolanos. Moracén foi nomeado o chefe do grupo.
Para que não acusassem Agostinho Neto de estar a recrutar estrangeiros para a
luta de libertação, Moracén foi “nacionalizado”. O seu cartão de membro do MPLA
diz que é Humberto Macedo, natural da Chibia. Se fosse feito prisioneiro tinha
uma desculpa para não falar português: “Fui muito novo para Fernão do Pó onde
só se fala espanhol. Quando soube que havia uma luta revolucionária para a
libertação de Angola, juntei-me à guerrilha”.
Chegou a Cabinda com 26 anos. Hoje tem 72 e é general das Forças Armadas
Revolucionárias Cubanas, desempenhado o cargo de adido militar na embaixada do
seu país em Luanda.
*Jornalista