domingo, 24 de abril de 2022

O QUE É VIOLÊNCIA “INACREDITÁVEL”?

Heidi Morrisson*

“O tipo de violência que temo perpetuar é aquela que valoriza a vida de algumas crianças, nomeadamente as ucranianas, em detrimento das de outras, nomeadamente as mais de 450 milhões de outras crianças em todo o mundo que hoje vivem em zonas de conflito consideradas de pouco ou nenhum interesse para cobertura mediática.”   

Como académica cuja carreira se centra em escrever e ensinar sobre crianças e guerra, o último conflito na Ucrânia deveria ser-me tragicamente muito familiar. Mas, num sentido real, não é. E fiquei, por um breve período, sem palavras. O meu silêncio, porém, não foi por falta de compaixão pelas crianças da Ucrânia; é por medo de que eu possa de facto contribuir para perpetuar a violência.

O tipo de violência que temo perpetuar é aquela que valoriza a vida de algumas crianças, nomeadamente as ucranianas, em detrimento de outras, nomeadamente as mais de 450 milhões de outras crianças em todo o mundo que hoje vivem em zonas de conflito consideradas de pouco ou nenhum interesse para cobertura mediática. 

Há semanas, os meios de comunicação de massa omnipresentes imploraram-nos que reagíssemos – porque os acontecimentos em questão são mais do que trágicos: mais de cem crianças ucranianas mortas e 1,5 milhão a fugir para outros países. São mostradas imagens assombrosas: um memorial de carrinhos vazios em Lviv; uma “ponte de brinquedo” romena que se liga à Ucrânia.

Bem, dizer que o sofrimento das crianças ucranianas é terrível e inaceitável é um eufemismo. Mas também o é a insinuação predominante de que o seu sofrimento é excecionalmente horrível e, portanto, digno de cobertura mediática sem precedentes.

Por causa do meu papel de facilitar discussões abertas sobre o tema, posso testemunhar as consequências que chegam não apenas aos alunos, mas também aos colegas académicos. Ouvir um experiente erudito descrever o que está a acontecer na Ucrânia como “a pior catástrofe desde a Segunda Guerra Mundial” é chocante.

Fiquei totalmente confundida com a resposta a dar. Por um lado, o meu coração está com toda a Ucrânia e o seu povo, muitos dos quais sofreram imensamente; para não mencionar os 14.000 mortos no leste da Ucrânia antes de 2022, após o golpe de Maidan em 2014 que levou ao poder os aspirantes à  NATO Petro Poroshenko e agora Volodymyr Zelensky. Por outro lado, o que tem a perda de vidas ucranianas que a qualifica como um desastre pior do que o dos milhões que morreram no Vietname, Ruanda, Iraque, República do Congo ou em muitos outros lugares de conflitos evitáveis desde a Segunda Guerra Mundial?

Katharina Ritz, uma funcionária da Cruz Vermelha, lembra-nos: “Acho que não  se trata de saber se é ou não a Ucrânia. Agora é a Ucrânia, o Iémen, a Síria, o Iraque, o Congo e assim por diante… Temos de juntar a Ucrânia a todas as crises, mas não devemos substituí-la.”

Um académico informado disse que o que está a acontecer na Ucrânia é “incrivelmente violento”, mesmo quando comparado com guerras prolongadas noutros lugares. A guerra Irão-Iraque foi citada como uma época em que as crianças supostamente vivenciavam os bombardeamentos como um “momento divertido”, quando os pais as levavam para os abrigos. “Talvez a guerra Irão-Iraque não tenha sido tão violenta [como a atual guerra na Ucrânia]”, disseram-me.

Embora tenha relutância em comparar números, também não estou disposta a esquecer os factos: dois milhões de crianças foram mortas e outros quatro a cinco milhões ficaram gravemente feridas durante o conflito Irão-Iraque. As armas de destruição em massa foram usadas pelo então aliado dos EUA, Saddam Hussein, para aterrorizar as populações civis, sem qualquer condenação ou sanções que causassem danos económicos. Sobre o selvagem conflito Irão-Iraque de oito anos, o vencedor do Prémio Nobel da Paz e secretário de Estado Henry Kissinger comentou assustadoramente: “Espero que se matem uns aos outros”.

Outro respeitado estudioso confidencia que é difícil dormir à noite porque os recentes acontecimentos na Ucrânia evocam memórias traumáticas da participação dos seus antepassados na guerra com os russos. Como consolar alguém tão traumatizado? Embora o medo e a dor sejam reais, também o é a psicose generalizada de que a definição de violência “real” é condicionada pela relativa proximidade. Uma  injustiça num lugar é uma injustiça  em qualquer outro.

Que para a maioria das pessoas, a guerra evoca, com razão, a imagem de violência direta e tangível, como bombas caindo e ferimentos de balas, é compreensível. Igualmente prejudicial no conflito armado, no entanto, e ainda infelizmente ausente da consciência coletiva das ideias dominantes, é a violência cultural, especificamente o uso de normas sociais dominantes para justificar relações de poder hegemónicas, desiguais e desumanizantes. Os perpetradores da guerra racionalizam as suas ações através da crença de que o “inimigo” é moralmente inferior.

No caso da guerra na Ucrânia, uma norma social  transformada em arma, inconscientemente ou não, é que a vida de algumas crianças importa mais do que a de outras neste mundo. Quem pode esquecer as 500.000 crianças iraquianas cujas mortes foram diretamente devidas às sanções do presidente Clinton? Quem pode esquecer o comentário arrepiante feito pela então Secretária de Estado Madeline Albright: “Valeu a pena o preço”.

O que é violência “inacreditável”? Com a indústria de defesa norte-americana de quase meio bilião de dólares a fornecer silenciosamente armas e a obter enormes lucros; com as ações da gigante norte-americana Lockheed a subir cerca de 16% desde a invasão, contra uma queda de 1% no Standard & Poors 500 Index; e com a BAE Systems1 do Reino Unido, o maior negociante da Europa, com uma subida de 26%, alguém se atreve a dizer que violência inacreditável é aquela que poderia ter sido evitada com diplomacia? Ou as mortes em potência de crianças em todos os lugares agora são aceitáveis e valem a pena?

Nota:

1 -  É uma empresa multinacional britânica de armas, segurança e indústria aeroespacial com sede em Londres, Inglaterra. É a maior empresa de defesa da Europa.

*Heidi Morrison é Professora Associada de História na Universidade de Wisconsin, La Crosse. É autora de Global History of Childhood Reader [História global do leitor infantil] (Routledge, 2012) e Childhood and Colonial Modernity in Egypt [Infância e modernidade colonial no Egito](Palgrave, 2015).

Fonte: https://www.counterpunch.org/2022/03/29/what-is-unbelievable-violence, publicada e acedida em 29.03.2022

Tradução de TAM

Imagem: A capital iemenita Sanaa depois de bombardeamentos aéreos. Fonte da fotografia: Almigdad Mojalli/VOA

Publicado em Pelo Socialismo

“O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU”: ZELENSKY NO PARLAMENTO PORTUGUÊS


A escassos dias de se completarem 48 anos sobre o 25 de Abril, a célebre frase que o capitão Salgueiro Maia dirigiu naquela madrugada às suas tropas, antes de marcharem sobre Lisboa, mostra-se absoluta e infelizmente actual: “Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os Estados Sociais, os Estados Corporativos e o estado a que isto chegou.”[1]

Vivemos, efectivamente, tempos particularmente perigosos e até dolorosos. 

As verdades oficiais e a perseguição aos divergentes

Não só por virtude da invasão da Ucrânia (invasão essa que deve ser criticada e denunciada sem reservas ou ambiguidades) e daquilo em que ela pode degenerar (uma guerra a nível mundial com consequências catastróficas), como também por tudo aquilo que, de profundamente errado, mas à sua sombra, se vem tratando de justificar e de impor como o “novo normal”.

Refiro-me, como julgo ser evidente, à lógica da imposição das verdades absolutas do pensamento dominante, da censura, da ostracização e até da perseguição dos que ousem dizer, ou até simplesmente pensar, coisas diferentes daquelas que, à pior maneira inquisitorial, são apresentadas e impostas como axiomas indiscutíveis. Tudo isto através da execração pública e do incitamento ao insulto, ao ataque pessoal e ao ódio mais irracional contra os “divergentes” ou aqueles que, para conveniência dos poderes dominantes, como tal foram arvorados. 

Assim, é de imediato criticado e condenado quem quer que discorde de medidas censórias (como as do silenciamento, nos países ocidentais, incluindo Portugal, da estação televisiva RT–Russian Today ou da agência noticiosa russa Sputnik, silenciamento esse que transforma os seus autores e executores em iguais àqueles que dizem combater), ou quem manifeste alguma espécie de relutância em acreditar em tudo aquilo que os EUA e os governos que os seguem diariamente propagandeiam, ou quem simplesmente denuncie o cinismo e a hipocrisia de quantos agora clamam pelas terríveis perdas de vidas humanas na Ucrânia, mas nunca quiseram saber de outras tantas ou até mais numerosas vítimas noutros pontos do mundo (Iraque, Síria, Jugoslávia, Palestina, Somália, Iémen, etc.).

Como logo é violenta e odiosamente apelidado de “pró-putinista”, “cúmplice ou encobridor de crimes de guerra” ou até “whataboutistas” (assim ridicularizando e insultando todos os que entendem que criticar Putin e a invasão da Ucrânia não pode significar apoiar a Nato e incensar Zelensky) quem chame a atenção – e sempre sem que tal signifique justificar o que quer que seja da agressão militar russa! – para factos como o de, não obstante a promessa de não extensão para Oriente assumida pelas principais potências ocidentais em 1990, aquando da reunificação das Alemanhas, a Nato ter-se alargado sucessivamente para Leste com 14 novos Estados membros (e uma centena de bases militares, entre aeroportos e estações de lançamento de mísseis). Ou o facto de, após diversos ataques[2] e massacres[3] cometidos pelas tropas e milícias ucranianas contra as populações da região de Donbass (que aliás inicialmente falaram sempre em autonomia e auto-determinação, e não em independência), o governo de Zelensky ter aí concentrado um enorme contingente de soldados, milicianos (entre 100 e 150 mil) e material de guerra, numa evidente e mais que hostil ameaça àquelas populações. Ou ainda o facto de a Nato já estar, de facto, na Ucrânia, em particular a partir de 2014, através de um PfP (Partnership for Peace Programme) no âmbito do qual, por exemplo, foi criada a base de Yavoriv, onde instrutores americanos e canadianos têm treinado e armado milhares de militares e milicianos ucranianos e estrangeiros).

O facciosismo e fanatismo em curso são tais que, lá fora e também nesta democracia “à beira-mar plantada”, se proíbem atletas, artistas e músicos de actuarem, só por virtude da sua nacionalidade russa!? E até se chega ao ponto – que seria de rir até às lágrimas não fosse o significado e a gravidade do sucedido – de vários órgãos da comunicação social portugueses noticiarem, em alertas ou em grandes parangonas, que os autores de um assalto a uma ourivesaria em Aveiro eram russos, para depois “convenientemente” se calarem quando se apurou que eram afinal ucranianos e vindos para Portugal após a guerra!…

E mesmo muitos daqueles que se pretendem justos e com princípios, por ilusão (que é, porém, cada vez mais menos aceitável), conveniência ou medo, calam-se perante todas estas barbaridades e assim permitem e até legitimam este verdadeiro retrocesso anti-democrático e inquisitorial.

Depois de dois anos de pandemia e de massiva utilização do terror e da manipulação para melhor aquietar e governar as massas, eis que a guerra da Ucrânia “matou” a Covid-19, mesmo que continuem a morrer pessoas com ela. E, mais grave e simultaneamente mais ridículo do que isso, a maior parte dos “especialistas” em Covid-19 transformou-se mesmo numa verdadeira legião de “especialistas” (pró-Nato, quase todos) naquela mesma guerra. 

Deste modo, todos os dias temos, durante horas e horas a fio, a “informação” que a Nato quer, ou melhor, que os EUA querem que nós tenhamos. E quase ninguém discute questões, e menos ainda consegue ser ouvido sobre elas, como as do completo desaparecimento da ONU neste conflito, da infeliz e definitiva demonstração da completa dependência da diplomacia europeia relativamente aos EUA, e menos ainda da ausência de quaisquer esforços, reais e efectivos, para se alcançar a paz e pôr fim à guerra (que é, como sempre, um enorme negócio para os fabricantes de armas).

GOLPE DE ESTADO EM PORTUGAL! -- “SOMOS (QUASE) TODOS UCRANIANOS”

“SOMOS (QUASE) TODOS UCRANIANOS”

Martinho Júnior, Luanda 

MUDANÇA DE PARADIGMA INTRAGÁVEL PARA "GALINHAS SEM CABEÇA", AO NÍVEL DE MARCELENSKI & CIA.

EM PORTUGAL QUASE TODOS SÃO UCRANIANOS...

SERÁ QUE OS UCRANIANOS DERAM UM GOLPE EM PORTUGAL?

PELOS VISTOS SÓ OS COMUNISTAS SÃO MESMO PORTUGUESES!

COMO VAI FICAR A CPLP COM TANTOS UCRANIANOS COMO INTERLOCUTORES?

COMO VAI FICAR "A LÍNGUA DE CAMÕES", CADA VEZ MAIS ESTROPIADA?

ASSIM SENDO O 25 DE ABRIL DE 2022 AFINAL VAI SER UCRANIANO, OU PORTUGUÊS?

AS REDES STAY BEHIND DA NATO, SENTEM O CHÃO A TREMER DE TAL MANEIRA QUE ATÉ O REGIME DE MARCELOS, QUE ESTABELECE A PONTE ENTRE COLONIAL-FASCISMO E NEONAZISMO, ESTÁ INCAPAZ DE DESCOLONIZAÇÃO MENTAL E ENTRA EM DESEQUILÍBRIOS ATÉ DE NACIONALIDADE...

NÃO É APENAS UMA QUESTÃO DE SENILIDADE: AO HAVER UM GOLPE DE ESTADO UCRANIANO EM PORTUGAL, FOI FEITO PELO REGIME DE MARCELOS! 

MJ

Ucrânia 2014/21 | DETENÇÃO ARBITRÁRIA, TORTURA E MAUS-TRATOS - ONU

NO CONTEXTO DE CONFLITO ARMADO INTERNO NO LESTE DA UCRÂNIA

Relatório da ONU sobre direitos humanos em 2021, antes do eclodir da agressão militar russa, numa altura em que no Ocidente até se chegou a afirmar que a Ucrânia vivia em paz

«Relatório temático do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) examina: 1) a escala de detenção no contexto do conflito armado no leste da Ucrânia por atores governamentais e grupos armados e outros atores em território controlado pelo autoproclamada 'República Popular de Donetsk' e a autoproclamada 'República Popular de Luhansk' de 14 de abril de 2014 a 30 de abril de 2021; 2) a prevalência e os padrões de detenção arbitrária relacionada a conflitos, incluindo detenção secreta e incomunicável; 3) a prevalência e os padrões de tortura e maus-tratos relacionados a conflitos, incluindo violência sexual relacionada a conflitos; e 4) responsabilização por essas violações, incluindo reparação e reparação às vítimas»

«O ACNUDH estima que desde o lançamento da ATO em meados de abril de 2014 até 30 de abril de 2021, atores do governo detiveram de 3.600 a 4.000 indivíduos no contexto do conflito armado. Números estimados de detenções relacionadas a conflitos por atores do governo, 2014-2021».

«Tortura e maus-tratos. Desde o início do conflito armado, os detidos relacionados ao conflito enfrentaram tortura e maus-tratos por parte de atores governamentais. De abril de 2014 a 30 de abril de 2021, o ACNUDH documentou a detenção de 767 indivíduos (655 homens e 112 mulheres), 68,8% dos quais (528, incluindo 456 homens e 72 mulheres) foram submetidos a tortura ou maus-tratos, inclusive relacionados a conflitos. violência sexual. A extrapolação dessas proporções para o número total estimado de detenções arbitrárias relacionadas a conflitos por atores governamentais durante todo o período do conflito (2.300) indica que teria havido aproximadamente 1.500 vítimas de tortura e maus-tratos relacionados ao conflito.»

«Perpetradores. O ACNUDH identificou uma ampla gama de atores governamentais envolvidos em detenções arbitrárias relacionadas a conflitos, tortura e maus-tratos, incluindo: SBU; várias unidades (muitas vezes não especificadas) das Forças Armadas Ucranianas (UAF); Guarda Nacional; Polícia Nacional; Serviço de Guarda de Fronteiras do Estado; batalhões voluntários antes e depois de sua incorporação formal na UAF, Guarda Nacional ou Polícia Nacional (como o batalhão 'Aidar', batalhão 'Artemivsk', batalhão/regimento 'Azov'; batalhão 'Dnipro-1'; 'Dnipro-2' batalhão, batalhão 'Donbas', batalhão 'Kharkiv-1' e batalhão 'Poltava'); e outras unidades armadas que participaram das hostilidades ou estiveram presentes nas regiões de Donetsk e Luhansk no contexto do conflito armado sem serem formalmente incorporadas à UAF, Guarda Nacional ou Polícia Nacional (como 'Setor Direito').»

«Aeroporto de Mariupol Em 2014, após a eclosão do conflito armado no leste da Ucrânia, o aeroporto de Mariupol foi transformado em uma base militar usada pela UAF, SBU e alguns batalhões voluntários, e partes de suas instalações foram usadas como centro de detenção. Até o momento, o ACNUDH documentou 21 casos individuais (19 homens e duas mulheres) de detenção arbitrária e incomunicável, tortura e maus-tratos ocorridos no aeroporto de Mariupol de 2014 até o primeiro semestre de 2016. O ACNUDH acredita que centenas de detidos foram mantidos lá antes ser transferido para outras instalações de detenção, oficiais ou não, ou serem libertados. Durante 2014, a duração da detenção no aeroporto variou de várias horas a um mês. Depois, os detidos eram mantidos apenas por períodos até 24 horas.»

«Durante a sua visita à Ucrânia em junho de 2015, o Secretário-Geral Adjunto das Nações Unidas para os Direitos Humanos tentou obter acesso ao aeroporto de Mariupol sem aviso prévio, mas foi impedido de entrar pelos militares. Em 2017, o HRMMU visitou o território do aeroporto e não encontrou indícios de que as suas instalações ainda fossem utilizadas como centro de detenção.»

VER DOCUMENTO DE NAÇÕES UNIDAS - DIREITOS HUMANOS

https://www.ohchr.org/sites/default/files/Documents/Countries/UA/UkraineArbDetTorture_EN.pdf?fbclid=IwAR0HXbXCuu5h1L0fP2SD-2qBYlknSlkn9ySRznvXWkzl5Y_OJEaJDpK0K9E

A LUTA DA RÚSSIA CONTRA A PRESSÃO OCIDENTAL

Elizaveta Naumova* 

O número de sanções impostas à Rússia pelos EUA e UE atinge uns astronómicos 8.500. É muito mais do dobro das aplicadas ao segundo país mais sancionado, o Irão. Já existem indícios de efeitos de ricochete e outros, e sobretudo de, na complexidade do actual xadrez mundial, os sancionadores terem de tentar recorrer a outros sancionados, como a Venezuela e o próprio Irão. O caso deste merece ser melhor conhecido, nomeadamente nas formas que encontrou para rodear as sanções. O capitalismo internacional gera redes que os próprios poderes dominantes têm dificuldade em controlar.

O turbilhão de sanções contra a Rússia intensificou-se a tal ponto que as consequências estão a ser sentidas muito para além das agências governamentais envolvidas na ofensiva militar da Rússia na Ucrânia. Os preços do petróleo dispararam em antecipação à escassez, empresas anunciaram boicotes, atletas estão a ser excluídos das competições e alguns russos estão a fugir do país, perdendo o conforto a que se acostumaram.

Moscovo perdeu, pelo menos por enquanto, o acesso a US$ 300 mil milhões das suas reservas de ouro e divisas, e sete bancos russos foram desligados do sistema internacional de pagamentos SWIFT. O número de sanções impostas ao país é sem precedentes – 5.787 novas restrições foram impostas contra pessoas jurídicas e pessoas individuais russas desde 22 de Fevereiro, e seu número atingiu mais de 8.500 no total. Nenhum outro país teve alguma vez tantas restrições impostas. Até o Irão, que está sob sanções há mais de 40 anos, vem num distante segundo lugar, com apenas 3.600.

“Isto é guerra nuclear financeira e o maior evento de sanções na história. A Rússia deixou de ser parte da economia global para passar a ser o maior alvo de sanções globais e um pária financeiro em menos de duas semanas”, disse Peter Piatetsky, ex-funcionário do Ministério das Finanças nas administrações de Barack Obama e Donald Trump nos EUA.

Isso convida à comparação entre o histórico de sanções do Irão e as mais recentes medidas anti-Rússia. Embora a posição desses dois países na economia e na política global seja muito diferente, há uma aparente semelhança na sua situação actual. Durante muito tempo, a República Islâmica do Irão foi o país pária mais sancionado do mundo, cortado de uma fonte de rendimento criticamente importante – o seu fornecimento de energia para a Europa. Há rumores de que algumas das restrições impostas ao Irão poderiam agora ser revertidas para reduzir os fornecimentos de petróleo e gás russo e evitar uma crise de energia na UE. Esses sinais são essenciais para entender quais são as prioridades do Ocidente neste momento. Estamos a lidar aqui com o princípio segundo o qual os responsáveis ​​devem ser punidos, ou é isto justiça objectiva? Essas e outras questões foram abordadas por especialistas entrevistados pela RT.

Embora até agora pareça não haver pânico e a procura por bens individuais esteja a crescer, os especialistas ainda temem o início iminente de uma grave crise económica – não apenas na Rússia mas em todo o mundo. Como parte do quinto pacote de sanções, os países da UE estão a contemplar a proibição de importar petróleo e gás russos, mesmo apesar de a Rússia fornecer aos países da UE cerca de 40% do seu gás e 25% do seu petróleo. Camionistas em Espanha estão a sair à rua em comícios para protestar contra o aumento dos preços dos combustíveis, e manifestações semelhantes podem em breve varrer toda a Europa.

Na história recente, houve o caso de um relativamente importante actor económico incorrer num pesado regime de sanções que levou a dificuldades para os próprios iniciadores das restrições. Muitos agora recordam a experiência do Irão, um veterano no campo do isolamento internacional.

O PESCADOR VENDENDO SEU PEIXE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje vou vender o meu peixe, pescado por mim em 1985. A pescaria, intitulada Vigarices & Sacanices, foi dedicada a Mário Soares por tudo o que deu à causa. Já me tinha esquecido da sua existência quando me apareceu uma referência na internet que me deixou sem cana, linha e anzol. Dizem da minha safra que são “histórias mirabolantes e incríveis de patifarias, partidas e vigarices”. E revelam os capítulos, desde a garopinha das pedras ao honesto carapau da Baía Farta. Primeiro capítulo: Para Uma Sociologia da Vigarice”.

Os capítulos seguintes são mais terra a terra: Os Homens que Venderam a Torre Eiffel Duas Vezes, O Marechal Potemkin, Um Cão Português no Espaço, Alves dos Reis (o rei dos reis, depois de Mário Soares), Bunga-Bunga, O Conde Saint Germain. Bertedo e Figueirino, O Cavaleiro D’Éon, Os Árabes que Queriam Inundar Portugal de Petróleo e O Homem que Vendeu o Palácio de Belém. Atenção, esta vigarice não mete o Tio Célito.

Odessa foi fundada oficialmente em 1794, quando a Rússia anexou territórios anteriormente pertencentes à Turquia, por força do Tratado de Jassy. O nome da cidade provém da antiga colónia greco-romana de Odesos na Trácia, que conheci graças a um guia turístico chamado Homero e me contou coisas fabulosas. O seu rei, Rhesus, participou na Guerra de Tróia em auxílio a Príamo. Chegou com as suas tropas montadas em cavalos mais velozes que o vento e mais brancos do que a neve. Logo, não eram os cavalinhos cuanhamas. 

Para queimar etapas sempre vos digo que Rhesus foi morto enquanto dormia, ao mesmo tempo que Ulisses roubava os  seus brancos e velozes  cavalos. Já sem Homero fui a Odessa e vi, com estes olhinhos que a terra há-de comer, uma monumental estátua da Czarina Catarina a Grande, na Mutamba da belíssima cidade.

A Grande Catarina tem uma ligação muito forte a Odessa mas sobretudo à Crimeia. Aqui é que entra o meu peixe Vigarices & Sacanices, capítulo dedicado ao marechal Potemkin que antes de ser nome de filme do grande cineasta Serguei Eisenstein, foi governador da Crimeia e o amante favorito da czarina. 

Naquele tempo, o príncipe Potemkin preguiçava em São Petersburgo namorando as aias da czarina, mas clandestinamente e com muito cuidado, porque ele era o amante favorito da Grande Catarina. Os nobres que vegetavam à volta da soberana começaram a fazer intrigas contra o fogoso amante. E acabaram por convencê-la a afastá-lo do palácio real. Mas o amante favorito da líder de todas as Rússias não podia ser afastado de qualquer maneira. E ela nomeou-o governador da Crimeia, um deserto, onde até os rochedos eram pobres. Catarina mandava todos os meses carradas de dinheiro para o amante transformar aquele lugar deserdado num florido jardim russo.

ASSIM VAI A GUERRA NA UCRÂNIA DESTA PÁSCOA ORTODOXA

Zelensky fala de esperança no domingo de Páscoa dos ortodoxos. Membros da OSCE detidos no Donbass

No dia em que passam dois meses desde o início do conflito, os dados mais recentes da ONU indicam que mais de 5,16 milhões de pessoas fugiram para fora da Ucrânia.

OSCE revela que membros da sua missão foram detidos no Donbass

Vários membros locais da missão de observação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) foram detidos na região de Donbass, no leste da Ucrânia, anunciou este domingo oje a organização.

"A OSCE está profundamente preocupada com o facto de vários membros nacionais da Missão Especial de Monitorização da OSCE em Donetsk e Luhansk terem sido privados da sua liberdade e está a utilizar todos os canais à sua disposição para facilitar a libertação", revelou organização numa mensagem publicada na rede social Twitter.

Já na sexta-feira, a embaixadora adjunta da missão britânica na OSCE, Deirdre Brown, tinha notado, num discurso numa reunião da organização em Viena, a existência de "relatórios" de membros da equipa encarcerados.

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Seis crianças ucranianas com cancro chegaram a Portugal para receber tratamento

Seis crianças ucranianas com cancro chegaram no sábado à noite a Portugal e vão receber tratamento em quatro hospitais públicos em Lisboa, Porto e Coimbra, anunciou o Ministério da Saúde.

O Ministério da Saúde (MS) adianta em comunicado que as crianças chegaram com 10 adultos, acompanhados por uma equipa do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), composta por um médico, um técnico assistente que fala ucraniano e um psicólogo.

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Guterres em Ancara este domingo antes de reunir com presidentes russo e ucraniano

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, visita a Turquia este domingo, antes dos encontros agendados com os presidentes russo e ucraniano.

António Guterres vai reunir-se em Ancara com o Presidente, Recep Tayyip Erdogan, informou o porta-voz do líder da ONU.

O secretário-geral das Nações Unidas visita Moscovo, na Federação Russa, na segunda-feira, onde irá encontrar-se com o Presidente russo, Vladimir Putin.

Fim do conflito? Ainda não está à vista. Os dois meses de guerra na Ucrânia

Faz, este domingo, dois meses que o mundo mudou. As sirenes ecoaram em Kiev. Putin acabara de anunciar uma operação militar especial na Ucrânia. O pretexto? Desmilitarizar e desnazificar o país. "Libertar" a região do Donbass.

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TSF | Lusa

A Grã-Bretanha rica enviar refugiados para Ruanda não é 'partilha de fardos'

ISSO É UMA EXPLORAÇÃO

# Traduzido em português do Brasil

Joshua Surtees* | The Guardian | opinião

Estamos sendo enganados por um PM desesperado para vender uma política perversa. Ruanda, por cabeça, abriga cinco vezes mais refugiados do que o Reino Unido

Em meu tempo trabalhando para o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, um fato gritante foi mencionado com frequência: a grande maioria das pessoas deslocadas do mundo está hospedada nos países mais pobres do mundo. Hoje, 85% dos refugiados vivem em países em desenvolvimento, enquanto as nações mais ricas abrigam apenas 15%.

Embora Ruanda possa estar se desenvolvendo economicamente, ainda está entre os 25 países mais pobres do mundo . O Reino Unido está entre os 10 países mais ricos do mundo. Reconhecer a disparidade de riqueza entre as duas nações e decidir que Ruanda é mais capaz de acomodar as pessoas que tentam a traiçoeira jornada através do Canal dá um grande salto de imaginação. O acordo anunciado pelo secretário do Interior Priti Patel em Kigali na quinta-feira demonstra o compromisso tenaz do governo em posicionar a Grã-Bretanha como um país fechado ao mundo e àqueles que mais precisam de seu santuário.

Houve muito debate político e condenação desde que a política foi anunciada, e o governo providenciou a chegada a Ruanda da mídia britânica que julgou melhor colocada para ajudá-lo a anunciar essa manobra a tempo das eleições locais. Mas ainda há perguntas que devemos fazer para verificar se esta é uma manobra cínica ou uma política pensada.

Será porque Ruanda tem mais capacidade geográfica, talvez? Mais terra livre ou infraestrutura habitacional? A Grã-Bretanha está realmente rebentando pelas costuras? A densidade populacional de Ruanda é quase o dobro da da Grã-Bretanha. É um país quase duas vezes mais populoso que o nosso. No entanto, per capita já acolhe cinco vezes mais refugiados do que o Reino Unido . Além de acolher refugiados congoleses e burundineses, Ruanda recentemente se ofereceu como país anfitrião para a evacuação de emergência de refugiados presos em condições precárias na Líbia.

RU | Três ministros de Boris Johnson enfrentam acusações de má conduta sexual

# Traduzido em português do Brasil

Os ministros estão entre os 56 parlamentares acusados ​​de má conduta sexual depois de serem encaminhados ao órgão de vigilância parlamentar

Três ministros do gabinete estão entre os mais de 56 parlamentares que supostamente enfrentam alegações de má conduta sexual depois de serem encaminhados a um órgão de vigilância parlamentar.

Um total de 56 deputados – incluindo dois ministros-sombra – foram reportados ao Esquema Independente de Queixas e Queixas (ICGS), de acordo com o Sunday Times .

O ICGS, que está lidando com 70 queixas separadas desde 2018, foi criado na esteira do movimento #MeToo e depois que parlamentares como Sir Michael Fallon e Charlie Elphicke enfrentaram uma série de alegações relacionadas a desprezo e má conduta sexual.

Os 56 deputados não foram nomeados. Acredita-se que pelo menos uma das queixas feitas esteja relacionada a uma ofensa criminal.

Isso acontece pouco mais de uma semana depois que Imran Ahmad Khan, o ex-parlamentar conservador desonrado, renunciou depois de ser condenado por agredir sexualmente um menino de 15 anos em 2008, provocando uma eleição parcial em sua sede em Yorkshire, Wakefield. Khan está apelando contra a condenação.

Hoje eleitores franceses vão votar de rastos para escolher Macron, o mal menor

Hoje há eleições presidenciais em França. É a segunda volta entre Macron e Marine Le Pen, a fascista lá do burgo – assim uma “coisa” em algo semelhante a André Ventura em Portugal, salvo ainda a pequenez deste último. 

Diz-se que Mácron será vencedor se o eleitorado de esquerda – que votou à esquerda na primeira volta – votar em Macron. Pierre Larousse, um amigo, comentou há pouco que está a caminhar para a secção eleitoral (embaixada de França em Lisboa) quase de rastos porque vai ter de engolir um mamute só para “evitar que a fascista Le Pen vá ocupar o Eliseu na presidência da República de França”. Salienta que “não é isto que quero mas os franceses mesmo de esquerda quase já não existem, devido à inexistência de candidatos que efetivamente defendam os valores de esquerda. Esses já não existem.” Pobre amigo. Pobres franceses que andam como baratas tontas a depositar votos para neoliberais fascizantes ou até mesmo autênticos fascistas, racistas e xenófobos. Nesyas referências últimas até nos atravessa nas visões um tal André Ventura, do Chega, em Portugal.

A seguir deixamos uma peça do Diário de Notícias sobre o tema. Em França, se os eleitores não “engolirem o mamute (Macron)" estarão ainda muito mais tramados e a União Europeia também, porque Le Pen não hesitaria no seu prometido “brexit”. Até parece que os cidadãos do mundo trocaram o lugar do cu pelo da cabeça. "Merde idéalismes obligent et nous sommes pris en otage” -diz o pobre Pierre e tantos outros franceses. (PG)

Eleitorado à esquerda decisivo na luta entre Macron e Le Pen

Quase 50 milhões de franceses vão hoje às urnas para escolher o próximo inquilino do Eliseu numa repetição da segunda volta de 2017.

De um lado está o presidente, de 44 anos, à procura da reeleição, cinco anos após ter vencido com o apoio de uma plataforma de centro, mas acusado de no poder ter virado à direita. Do outro, a candidata da extrema-direita, de 53 anos, que segue nas pegadas do pai, mas que, depois da derrota nas últimas presidenciais, procurou suavizar ainda mais a imagem na esperança de levar o seu partido ao poder.

As sondagens colocam-nos a 10 pontos de diferença, mas há ainda muitos indecisos e a decisão pode estar nas mão dos 7,7 milhões de eleitores que na primeira volta votaram em Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical. Em teoria, Emmanuel Macron está mais próximo no espectro político, mas Marine Le Pen tem conseguido atrair esse eleitorado. E o presidente pode sair prejudicado pelo voto de protesto e pela abstenção.

Portugal | ESCALADA DE PREÇOS NÃO PODE SER SUBESTIMADA

Fernando Marques* | opinião

Pretende-se a todo o custo ser bom aluno europeu, cumpridor das desacreditadas regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento, custe o que custar a assalariados, pensionistas e parte significativa das chamadas «classes médias».

No debate sobre o Programa de Governo, o primeiro-ministro minimizou a escalada de preços no consumidor ao afirmar que a inflação tem uma origem externa e uma tendência tendencialmente conjuntural. O que está mais em consonância com a situação vivida no contexto da retoma económica após os piores efeitos da crise pandémica, onde se antevia o esbatimento das tensões inflacionistas ao longo de 2022, do que com o contexto de guerra na Ucrânia, de sanções económicas dirigidas à Rússia, mas que têm também consequências nos países europeus e de mudanças na política energética com efeitos na formação dos preços. Não é claro que a inflação seja uma nuvem passageira, sendo fraca consolação dizer que nada é claro no estado actual do mundo.

A previsão de inflação para este ano apontada no Programa de Estabilidade 2022-2026 é de 2,9%, abaixo do valor projectado pelo Banco de Portugal (4%), supondo, nos dois casos, um cenário económico menos adverso. Num cenário pior a inflação pode atingir 5,9%, segundo o banco central.

O Governo corrigiu entretanto, na Proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2022, a previsão de inflação, que é agora de 3,7%. Mas continua a recusar a actualização de rendimentos, particularmente de salários e de pensões, invocando o risco de «espiral inflacionista».

Os valores de Março confirmam que a inflação (5,3% em variação homóloga, ou seja em comparação com Março de 2021), ainda que impulsionada pelos produtos energéticos, se tem propagado às várias classes de produtos e de serviços. A dos transportes (11%) continua a ser a que mais contribui para a variação homóloga, o que está associado ao aumento dos preços da energia de quase 20%, vindo a seguir os produtos alimentares e bebidas (7,2%), os restaurantes e hotéis (6,6%) e a habitação (5,4%). Há também aumentos noutras classes, embora mais moderados (como na educação). Curiosamente, o vestuário e calçado, apesar de ser a que mais subiu em Março face a Fevereiro (22,6%), registou uma diminuição homóloga. A forte subida em variação mensal foi causada pelo início da nova colecção, mas num valor inferior ao registado em 2021.

Os transportes, a alimentação e a habitação são os agregados mais representativos das despesas das famílias (mais de 60% em 2015/2016). Os efeitos da inflação variam com as classes e os grupos sociais. A despesa com a alimentação, por exemplo, que pesa 14,3% na média da despesa das famílias, tem o valor de 19,3% nos 20% de rendimentos mais baixos face a 11% nos 20% de rendimentos mais elevados1. Ou seja, o aumento dos bens alimentares penaliza sobretudo os trabalhadores e os pensionistas de mais baixos rendimentos.

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