Várias investigações levadas a
cabo por alguns dos mais importantes órgãos de comunicação do Canadá,
publicadas ainda antes da invasão russa, alertavam para a presença de
elementos de extrema-direita nas acções de treino do exército canadiano na Ucrânia.
Ignorando as denúncias, o Canadá persistiu no apoio, formação militar
e financiamento desses movimentos.
Em Outubro de 2021, a CTV
National News dirigiu um pedido de informação ao exército canadiano, após
a divulgação de mais um relatório alertando para sucessivos
casos em que extremistas ucranianos se gabavam do treino e
apoio concedido por forças canadianas.
Os treinos terão ocorrido
ao abrigo da operação UNIFIER, que desde Abril de 2015
apoia activamente as forças militares da Ucrânia, após o golpe de
estado de 2014. Só entre 2015 e 2018, mais de dez mil efectivos ucranianos
foram armados, treinados e preparados por algumas centenas de militares do
Canadá.
Esta operação é coordenada
internacionalmente com as forças enviadas, para o mesmo efeito, pelos Estados Unidos da América, Reino Unido, Suécia, Polónia,
Lituânia e Dinamarca.
Em resposta à CTV National
News, o exército do Canadá negou estar a par da participação de elementos
extremistas, de extrema-direita ou mesmo neo-nazis, nas suas operações.
Reconhecem, no entanto, não ter mandato para fazer qualquer averiguação sobre
as dezenas de milhares de soldados que treinaram. É um imenso cheque em branco
passado às instituições ucranianas.
Vários relatórios e
reportagens comprovam a relação entre o Canadá e forças neo-nazis
Uma investigação do diário Ottawa
Citizen, publicada em Novembro de 2021, dá conta de vários momentos em que oficiais do exército do Canadá se encontraram com elementos do
batalhão Azov. Tudo isto, apesar das conclusões da Task Force, criada
especificamente para supervisionar a sua actividade na Ucrânia, alertarem para
o facto de «vários membros do Azov se declararem nazis».
Os encontros, promovidos e
organizados pelo governo ucraniano, só vieram a público através de publicações
nas redes sociais do grupo neo-nazi. Recorrendo a fotografias de soldados
canadianos, o Azov legitimou o seu discurso de ódio, assinalando a disponibilidade
do exército ucraniano em «continuar a desenvolver uma colaboração proveitosa»
para ambos os lados.
Ao Ottawa Citizen, Bernie
Farber, da Rede Contra o Ódio no Canadá, lamentou o «tenebroso
erro» cometido pelo exército do seu país, «é perturbante saber que o
batalhão Azov vai usar canadianos para branquear a sua ideologia de
extrema-direita».
Segundo
comunicações internas do exército canadiano, divulgadas publicamente
pelo diário daquele país, a principal preocupação das forças armadas não
era impedir que grupos neo-nazis voltassem a receber apoio do Canadá, mas
sim evitar que a informação fosse tornada pública.
Mesmo após
as denúncias, forças armadas canadianas continuaram a treinar
neo-nazis
A rádio pública do Canadá, Radio
Canada, conseguiu identificar outras situações em que oficiais canadianos estiveram
envolvidos no treino de membros do Azov, apesar da promessa assumida
publicamente pelo governo de não voltar a apoiar estes grupos.
Em 2020, dois anos depois dos
primeiros casos identificados, foram promovidas sessões conjuntas entre o
exército e o batalhão, no centro de treino da cidade de Zolochiv, na zona oeste
da Ucrânia.
Por esta altura, o carácter
supremacista, racista e nazi do Azov, integrado na Guarda Nacional da
Ucrânia, era sobejamente conhecido em todo o mundo, reiterado em numerosas
reportagens e denunciado por várias organizações de direitos humanos por todo o
mundo. As instituições canadianas não foram excepção.
Nas redes sociais do líder de um
regimento do batalhão Azov, Kyrylo Berkal, a CTV National News conseguiu
identificar imagens de 2019 que mostram, uma vez mais, soldados canadianos numa
sessão de formação promovida para nazis do Azov. Para além desse encontro,
Berkal partilha frequentemente imagens com simbologia nazi.
Face a estas informações, um
porta-voz do exército do Canadá reiterou as desculpas dadas
anteriormente: «todos os membros da operação UNIFIER receberam
formação para identificar insígnias usadas pela extrema-direita», mas «a
Ucrânia é um estado soberano a quem cabe decidir quem é aceite nas suas
forças armadas».
O facto de a Ucrânia
integrar elementos de extrema-direita, anti-semitas, racistas, homofóbicos
e neo-nazis nas suas forças armadas, não vai impedir o Canadá de
continuar a dar formação a estes grupos.
Para além dos 900 milhões de
dólares investidos na operação UNIFIER, o Canadá continua, e vai continuar, a
fornecer armas à Ucrânia, plenamente consciente (porque os treinou e o
reconheceu) que um número significativo dos seus membros perfilha ideologias de
ódio.
AbrilAbril
Imagem: Nas redes socias de
Kyrylo Berkal, líder de um destacamento do batalhão Azov, estão várias
publicações em apoio ao Exército Insurgente da Ucrânia (UPA), que
colaborou com os nazis durante a segunda guerra mundial e participou no
massacre de milhares de judeus na Polónia. Por entre saudações a
colaboradores como Taras Dmytrovych Borovets, memórias da sua participação
em marchas da UPA e apologia ao nazismo, está uma foto tirada com oficiais do
exército do Canadá, em 2019.Créditos/ ctvnews