sexta-feira, 22 de julho de 2022

Angola | ALERTA GERAL CONTRA O ESQUECIMENTO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Angola há 47 anos era apenas uma colónia portuguesa. Há 64 anos o MPLA dirigia a luta armada de libertação nacional. Parece que foi ontem. No dia 1 de Dezembro de 1962 teve lugar a primeira Conferência Nacional do movimento em Kinshasa, da qual Agostinho Neto saiu o líder eleito. Cá dentro era o trabalho escravo, eram as prisões arbitrárias, as torturas, os assassinatos. A mensagem de Agostinho Neto aos seus camaradas que participaram na Conferência Nacional foi muito clara:

“O Governo colonial-fascista português, incapaz de compreender a inutilidade do genocídio que pratica sistematicamente no nosso País, começa a dar sinais da sua impotência diante da onda que destruiu impérios coloniais instalados durante séculos no Continente Africano. Mas as medidas reformistas anunciadas recentemente não evitarão o sofrimento do Povo Angolano, a repressão policial e militar, a exploração económica, a opressão social, o obscurantismo e todos os males do colonialismo, mais evidentes ainda, na situação de guerra em que nos encontramos”. 

Uma das reformas de Lisboa foi a criação dos Estudos Gerais Universitários. Até 1962, Angola não tinha ensino superior! E Universidade, só em 1968.

Na sua alocução aos militantes e dirigentes na primeira Conferência Nacional do MPLA, Agostinho Neto traçou o plano de acção: 

“A única atitude que o Nacionalismo Angolano pode hoje assumir é endurecer ainda mais a luta, de modo a fazer vergar o inimigo no mais curto prazo possível”. Falou aos seus, mas falou também para Holden Roberto e a UPA. Neto queria a unidade do Nacionalismo Angolano. Holden, enredado nos compromissos externos, prisioneiro dos EUA, recusou a unidade.

A luta armada de libertação nacional obrigou os colonialistas a eliminar o trabalho escravo. Fizeram reformas nesta área para inglês ver. As grandes roças de café no Norte e no Cuanza Sul continuavam a recrutar os “contratados” aos traficantes, chamados de “angariadores”. Lisboa teve que apostar no ensino. Enquanto durou a guerra colonial, o panorama mudou visivelmente. Em 1971, já existiam mais escolas de todos os níveis e milhares de alunos. Mas insuficientes. Eta tudo fachada. A saúde também sofreu um impulso e no interior os médicos militares jogaram um papel importante. 

Hospitais preparados para nos guardar nos frigoríficos das morgues e pouco mais…

PORTUGAL PÁTRIA MADRASTA

O Curto do Expresso por Miguel Cadete. É p’ra já. Sem espinhas, sem preâmbulos, sem considerações disto ou daquilo. Hoje já estamos de fim-de-semana e com uma calaceira digna do verão. Verão que aqui no PG iremos “incomodar” muito pouco. Quase nada. Bom dia e torrem-se bem ao sol, cancro na pele é o que está a dar. Agora com efeitos cadavéricos mais breves no tempo… Porque não há médicos, porque as “máquinas” para os exames e prováveis curas estão avariadas e existem muito poucos para as necessidades… Porque já lá vão muitos anos que os mesmos de sempre (PS-PSD-CDS) vêm fazendo as maiores tropelias para rebentar com o SNS – Serviço Nacional de Saúde. Fiquem-se com esta, que até já tinham esquecido. Os hospitais estão preparados para nos guardar nos frigoríficos das morgues e pouco mais… Saúde para vós e um queijo. Sem ela e ele estamos lixados. Bem, um carrascão pomadoso e guloso de Borba a acompanhar é mais de meia-saúde. Pois. 

Quanto ao resto, às desgraças do povoléu, todos sabemos muito bem que os que se governam em Portugal fazem do país Pátria Madrasta, fecham-se em copas e em grupelhos como súcias de malfeitores, tratam-se do bom e do melhor que é de todos... mas só para eles. Era assim antes e é assim agora. E ainda dizem com grande descaramento que vivemos em democracia. Vivemos? Pois.

Um som: FIM DE SEMANA PARA GANHAR CORAGEM -- A vida é feita de pequenos nadas - Sérgio Godinho

MM | PG


Hospitais não estão preparados para o calor. Montenegro promete "banho de realidade" a Costa. Vamos passar frio devido à guerra do gás?

Miguel Cadete | Expresso (curto)

Bom dia!

Já está nas bancas a edição do Expresso com data de 22 de julho de 2022. Se ainda não é assinante, pode fazê-lo aqui.

Na manchete pode ler-se que os hospitais portugueses estão sem proteção contra as vagas de calor. As autoridades sabem que, a para da gripe sazonal, os picos de calor e de frio são os principais responsáveis pelo excesso de óbitos nas instituições hospitalares públicas. Segundo o Instituto Ricardo Jorge, terão sido em número de mil as mortes acima do normal para esta época provocadas pela vaga de calor que nos últimos dias assolou o país. A ausência de aparelhos de ar condicionado – ou a sua não verificação técnica – terá feito entre os idosos e os doentes crónicos as suas vítimas predilectas. Um estudo de 2003 produzido pelo mesmo Instituto Ricardo Jorge demonstrou que a mortalidade aumenta 60% no caso de não existência de sistemas de climatização adequados.

Luís Montenegro promete “dar um banho de realidade” a António Costa. O presidente do PSD, que hoje se encontra com o primeiro-ministro, comentava ao Expresso a prestação de Joaquim Miranda Sarmento, enquanto novo líder da bancada do maior partido da oposição, afirmando que esta contrastava com a de Costa, que durante o debate do Estado da Nação “foi só forrobodó e folclore retórico”. Na agenda da reunião de hoje encontra-se, entre outros, o tema do novo aeroporto de Lisboa. Montenegro promete também endurecer a oposição ao governo.

A visão do Guardian sobre a economia do Reino Unido: que bagunça toda-poderosa

#Traduzido em português do Brasil

The Guardian | editorial

Um número sem precedentes passará este inverno escolhendo entre congelar e passar fome. A Grã-Bretanha precisa de um estado ativo para ajudar

Para citar apenas algumas das histórias desta semana: a inflação subiu na quarta-feira para um novo recorde de 40 anos , e o presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey, alertou que enfrentava “maior desafio” para manter os preços sob controle, e as taxas de juros podem subir meio ponto percentual no próximo mês. Enquanto isso, economistas do UBS Global Wealth Management acreditam que 99% dos trabalhadores britânicos estão piorando, seus salários não acompanham o preço dos alimentos, energia e gasolina.

A gravidade deste momento não pode ser exagerada. Até o final de agosto, o órgão fiscalizador de energia Ofgem definirá seu novo limite de preço para as contas de combustível. Nas tendências atuais do mercado, é provável que aumente o limite anual da conta de energia doméstica média para incríveis £ 3.244. Isso representa um aumento de 65% no limite atual, portanto, uma família que pague £ 100 por mês pagará £ 165. Analistas de mercado acreditam que poderia facilmente continuar subindo no ano novo. Isso vai mais do que engolir a doação de energia planejada pelo governo de £ 400. E para onde vão os preços da energia, também vão os preços dos alimentos e o custo de outros bens e serviços. Para um governo que passou a maior parte deste ano na gestão de crises e que emergirá em setembro com um novo primeiro-ministro e gabinete, lidar com uma agenda política tão urgente e abrangente será tão esmagadora quanto resgatar um bote em um furacão. O resultado mais provável deve ser que afunde.

Longe de Westminster, um número sem precedentes de famílias passará este inverno escolhendo entre congelar e passar fome. Muitos mais não terão escolha a não ser reduzir a recarga do carro e comprar itens de uniforme escolar ou fraldas. O especialista em finanças pessoais Martin Lewis não está se entregando à hipérbole quando alerta sobre distúrbios civis, sobre famílias que simplesmente não pagam suas contas de serviços públicos. A Grã-Bretanha pós-acidente não teve um protesto não-pagar-não-pagar semelhante aos coletes amarelos da França, mas – após 15 anos de repetidos apertos nos padrões de vida, a turbulência do Covid e a ignomínia em que Westminster está agora realizada – a perspectiva de um deve concentrar as mentes de políticos e formuladores de políticas.

O que é tão preocupante é que a classe política e econômica do Reino Unido parece estar vendo essa nova situação através das mesmas velhas lentes arranhadas e embaçadas de sempre – e sugerindo as mesmas velhas soluções fracassadas. Na Threadneedle Street, Bailey alerta para uma espiral de preços e salários – mesmo quando os salários estão caindo. Ele e sua equipe estão aumentando as taxas de juros, o que não fará nada para suprimir o aumento dos preços globais do petróleo, mas sufocará a demanda no Reino Unido.

Em Whitehall, ministros e mandarins do Tesouro parecem incapazes de ver que o que é necessário agora são gastos, direcionados primeiro às famílias mais pobres do Reino Unido e depois para oferecer aos setores públicos um aumento salarial justo. Em vez disso, eles estão oferecendo austeridade e aumentos salariais escassos que terão de ser pagos com cortes nos serviços públicos.

Por mais sombrio que tudo isso pareça, vale lembrar uma coisa: o Reino Unido e a Europa passaram por situações piores nos últimos 100 anos, e o fizeram rompendo com o dogma econômico e político. Isso é o que é necessário agora: o fim do thatcherismo no piloto automático e um estado ativo, imaginativo e compassivo.

Imagem: Na Threadneedle Street, Andrew Bailey alerta para uma espiral de preços e salários – mesmo quando os salários estão caindo.' O governador do Banco na reunião de finanças do G20 em Bali na semana passada. Fotografia: Made Nagi/AFP/Getty Images

HASTA LA VISTA, BABY!


Henrique Monteiro | Henricartoon

VERDE SUJO

Para a Comissão Europeia como para o capitalismo em geral, o que hoje é branco amanhã é preto e não existe nenhum problema nisso. É assim que o nuclear passou a ser “verde”. É tudo uma questão de designações. Se nazis passam a «combatentes da liberdade», fascistas a «defensores da democracia», porque não pode o nuclear passar a «ambientalmente inócuo»? Todavia, o nuclear é como o capitalismo, deixa resíduos e lixo que demorarão muito tempo a limpar…

Anabela Fino*

Se um destes dias nos vierem dizer que a Terra é plana, a Lua hexagonal e o Sol um carro de fogo que corre no firmamento dirigido por um cientista louco, não há motivo para duvidar, a menos que se queira fazer parte – vá de retro, satanás – da escória descrente das virtudes do sistema capitalista e do regime dito democrático que nos rege.

Na sua dinâmica própria da incessante busca de lucro e permanente acumulação de riquezas pode suceder, contingências da vida, que o branco de ontem seja preto hoje, que terroristas passem a combatentes da liberdade, que a precariedade seja afinal sinal de prosperidade, que o desemprego signifique justiça social, só para dar alguns exemplos, que a questão dá pano para mangas.
A mais recente reviravolta – façam rufar os tambores, sff – é “Abaixo o CO2, viva o nuclear!”.

Dito de outra forma, o nuclear é verde, decidiu há dias o Parlamento Europeu, secundando uma proposta da Comissão Europeia para o classificar como energia limpa ou sustentável, alegadamente em nome da defesa do meio ambiente. De uma penada, Bruxelas promete pôr fim ao eterno debate sobre o nuclear, sendo de esperar para breve a campanha sobre os seus benefícios: a maioria dos reactores nucleares emite apenas vapor de água para a atmosfera, é limpinha, não enche os ares de dióxido de carbono, nem metano, nem nenhum dos gases poluentes provocados pelos combustíveis fósseis, e ainda por cima é barata, praticamente inesgotável e rende milhões.

Nas actuais circunstâncias de domínio desta tecnologia, incluindo no nosso país, o busílis da questão, impossível de varrer para debaixo do tapete, é o lixo. Pois é, o lixo produzido pela energia nuclear é extremamente perigoso para a saúde pública e para o meio ambiente, já que os resíduos radioactivos são altamente poluentes, mortais e levam milhares de anos a degradar, o que torna a sua gestão particularmente difícil e arriscada. E também as questões de segurança, de que os acidentes registados nas centrais de Three Mile Island nos Estados Unidos, Chernobyl na antiga União Soviética ou Fukushima no Japão são apenas três exemplos do que pode acontecer.

Nada que pareça perturbar a senhora Von der Leyen e os seus pares, que nesta caminhada “ecológica” também passaram alforria ao gás natural, combustível fóssil que produz emissões de efeito estufa, reconvertido em energia limpa, verde que te quero verde….

Ao contrário do que possa parecer não se trata de um delírio fruto da vaga de calor, nem um efeito da guerra na Ucrânia, de costas tão largas que “explica” tudo. O processo vem de longe, como prova o caso francês: eleito pela primeira vez com a promessa de acabar com o nuclear, Macron promete agora gastar mil milhões de euros até 2030 em “inovação disruptiva” para produzir energia atómica.

Quem não entender a lógica, ou é daltónico ou não percebe nada de política.

*Publicado em O Diário.info

*Fonte: https://www.avante.pt/pt/2537/opiniao/168314/Verde-sujo.htm?tpl=179

E LAGARDE, DEMITE-SE?

Domingos de Andrade | TSF | opinião

Há na política, portuguesa e europeia, uma permanente desresponsabilização quando a inação, ou a ação errada, tem consequências graves para as pessoas, encontrando bodes expiatórios em acontecimentos externos. A guerra na Ucrânia é um desses casos de passa-culpas da inflação, que come o salário dos portugueses a uma velocidade vertiginosa. Segue um drama em três atos.

A má avaliação. Recuar a maio do ano passado e olhar para os números do Eurostat, o serviço de estatística da União Europeia, é perceber o início da caminhada inflacionista até chegar aos 4,9% em novembro, acima da meta do Banco Central Europeu, que é de 2%. É o momento em que a instituição começa a levar as coisas a sério, porque até aí os sinais foram todos errados e contraditórios.

Atraso na terapia. Enquanto, em julho do ano passado, os Estados Unidos anunciavam políticas de controlo da moeda e aumento das taxas de juro, o BCE divulgava a sua nova estratégia situando nos 2%, nem mais nem menos, o limite da inflação, justificando que a anterior representava um viés deflacionista. Do lado de lá do Atlântico, acautelam, do lado de cá Christine Lagarde apontava uma trajetória para a correção da inflação que se revelava desastrosa, dizendo há meio ano que não previa a subida das taxas de juro antes de 2023, desdizendo-se agora quando com desplante afirma que tão cedo não vamos regressar aos níveis anteriores. A perda de credibilidade da presidente do BCE, perante o que está a acontecer e a hecatombe que se aproxima para as famílias, deveria levá-la a pedir a demissão. Mas não.

Das consequências. Não parece haver dúvidas de que o BCE avançará para políticas monetárias mais fortes, que levarão a uma recessão violenta e mais prolongada do que aquela que teríamos se as medidas tivessem sido tomadas em tempo. Nem parecem restar dúvidas de que a conflitualidade social e geracional, de novos a não quererem pagar os aumentos das pensões dos mais velhos, tem um pasto enorme para lavrar. Como não devemos ter dúvidas do que isso pode representar politicamente: um crescimento imparável dos extremismos.

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